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4 PRÁTICAS E ESCOLHAS DE LEITURAS LITERÁRIAS DOS JOVENS

4.13 A relação dos nossos jovens com as bibliotecas públicas

4.13.4 A participação em atividades de leitura literária

As atividades de leitura literária promovidas pelas bibliotecas pesquisadas fazem parte do projeto “Promoção da Leitura”, também apresentado no capítulo de metodologia. Essas atividades são ofertadas através da programação mensal das unidades e são destinadas a públicos de diferentes faixas etárias, porém algumas delas são pensadas especialmente para os jovens.

Diferentemente dos resultados da pesquisa de Bortolin (2001), a partir do exame das programações e, também, da observação do cotidiano das bibliotecas deste estudo, de modo geral, nota-se que as propostas de incentivo à leitura das bibliotecas pesquisadas têm como objetivo central a aproximação dos leitores com os textos, especialmente, os literários.

Essas propostas também buscam apresentar o acervo das bibliotecas, bem como divulgar as novas aquisições. Algumas vezes, as leituras são feitas antecipadamente, como é o caso dos clubes de leitura, outras vezes, elas acontecem no momento da atividade, como as rodas e oficinas de leitura. Mas, essa dinâmica é bem flexível e pode ser alterada de acordo com a especificidade do grupo ou a percepção dos mediadores.

Outro aspecto observado no desenvolvimento dessas atividades é a seleção do acervo, percebe-se que as escolhas das obras são bem criteriosas e pautadas pelo princípio da diversidade textual, por exemplo: as programações incluem a leitura de “Haroun e o mar de

histórias”, de Salman Rushdie; “Antologia Quimera: contos fantásticos”, organização de

Alex Mir, e, também, “Pé de cobra, asa de sapo: quadrinhas monstruosas”, de Rafael Soares de Oliveira.

Nota-se ainda que algumas dessas atividades procuram conciliar discussões sobre obras da preferência dos jovens, assim como aproximá-los da literatura contemporânea e dos clássicos da literatura brasileira e estrangeira. Um exemplo disso é a presença, em uma mesma

programação, da oficina “Histórias de mistério, medo e morte”, que propõe a leitura e discussão de trechos de clássicos literários de suspense e terror, ao lado de “Cantinho do leitor: Jogos vorazes”, que se apresenta como opção de debate sobre essa saga, muito popular entre o público jovem.

Os depoimentos seguintes mostram a participação de nossos leitores nas atividades de leitura promovidas pelas bibliotecas públicas:

237.P: Você falou que antes você vinha aqui na biblioteca, mas quando você vinha pra biblioteca você vinha pra ler?

Inês: Às vezes, porque tinha também “A hora da leitura” e o bibliotecário contava,

lia um livro pra gente e quando não tinha nenhuma atividade a gente ia ler. Mexer no computador. (Leitora/BBA – 17 anos, entrevista, 2014).

238.P: ...Tinha alguma atividade na biblioteca que chamava mais atenção que tinha interesse?

Luíza: É em quadrinhos, tanto eu quanto ele (irmão), nos gostamos muito de

quadrinhos, eu gosto mais de turma da Mônica, de quadrinhos mais infantis que eu

gosto, ele já gosta mais de “Batman, "Super-Man”, é isso (Leitora/BCS – 16 anos,

entrevista, 2014).

A participação de Inês é na roda de leitura mediada pelo bibliotecário, além disso, seu depoimento também explicita a realização de leitura local na biblioteca: “...o bibliotecário

contava, lia um livro pra gente e quando não tinha nenhuma atividade a gente ia ler...”.

Luíza e seu irmão participam do “Leitura em quadrinhos”, que acontece quinzenalmente na biblioteca Centro-Sul, evento que conta com a participação do público jovem, todos os meses essa instituição recebe um quadrinista.

Como Patte (2012, p.229), entendemos que a ação bibliotecária transita em torno de ações programadas e, também, menos formais, mais flexíveis, de modo a acolher as variadas trajetórias leitoras eleitas pelos usuários. Para a autora, uma programação repleta de atividades, pode desfavorecer a possibilidade dos leitores terem reconhecidas suas propostas e a “espontaneidade de suas perguntas”. De certo modo, o depoimento de Inês parece refletir esse pensamento: “...quando não tinha nenhuma atividade a gente ia ler” (Leitora/BBA – 17

anos). Ou seja, verifica-se que esses momentos menos direcionados contribuem para as

leituras subjetivas nesses espaços.

Entre as unidades participantes de nosso estudo, a biblioteca Centro-Sul é a que possui a programação mais extensa, que inclui lançamentos de livros, encontros com autores, oficinas,

rodas e clubes de leitura e, também, palestras de formação de mediadores de leitura. Essa unidade também oferece semanalmente o “Era uma vez jovem” em que o grupo de contadoras faz narração de histórias para os jovens. E, ainda, o clube de leitura, que se encontra mensalmente para fazer leituras compartilhadas de textos literários diversos.

Na Biblioteca do Barreiro, também, temos outro exemplo de conciliação de leituras de interesse dos jovens com clássicos da literatura. Durante o período de observação, os jovens participantes do clube de leitura dessa unidade estavam lendo o primeiro título da série “The walking dead”88

. Segundo o bibliotecário, essa proposta foi feita pelos leitores, que gostam de temáticas de terror (Diário de Campo, 06-03-2014).

Além da discussão do texto entre os participantes, mediada pelo bibliotecário, há o estímulo da produção de um “Diário de bordo”, no qual os jovens podem anotar dúvidas, questionamentos e sensações e, também, desenhar. Durante o encontro, esse profissional chama atenção para alguns recursos linguísticos utilizados no texto, como a metáfora e epígrafe, buscando exemplificá-los. Busca ainda fazer conexões entre a temática da obra e o acervo da biblioteca, chamando atenção para outros autores que também escrevem literatura de terror, tais como: H.P. Lovecraft, Ernest Hemingway, Washington Irving, além de destacar a obra “Um hino de natal”, de Charles Dickens (Diário de Campo, 11-02-2014).

O bibliotecário ainda propõe a leitura de alguns trechos em voz alta e destaca o uso do

flashback como recurso literário. É, também, nesse momento que os jovens têm oportunidade

de partilhar e discutir as dúvidas no grupo. A partir da fala dos leitores, esse profissional busca estabelecer relações com o texto lido (Diário de Campo, 11-02-2014). Consideramos que esses encontros são espaços cujos sentidos e significados do texto são negociados entre os participantes. Ou seja, promovem a reflexão coletiva em torno das obras lidas.

Encontramos entre nossos leitores, dois jovens que participam desse clube de leitura, eles explicitam impressões acerca dessa proposta:

239.P: /.../ Você participa aqui /.../do clube de leitura? Você acha que essa atividade é bacana? Como é que você avalia?

Roger: Entre boa, ruim e ótima? P: Sim. Pode ser.