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4 PRÁTICAS E ESCOLHAS DE LEITURAS LITERÁRIAS DOS JOVENS

4.8 Práticas de leituras literárias

4.8.3 Leitura literária fora do ambiente escolar

A partir da concepção de leitura como prática sociocultural multifacetada, realizada em diferentes espaços, buscamos também identificar a avaliação dos jovens em relação às experiências de leituras literárias realizadas fora do ambiente escolar.

4.8.3.1 Aspectos positivos

Um dos aspectos positivos destacados pelos nossos jovens em relação ao exercício das práticas de leitura literária fora do ambiente escolar é liberdade de escolha dos textos:

192.Bruno: ...Os temas que os professores geralmente indicam são temas mais

chatos, como eu disse: eu fico mais com a literatura estrangeira, não sei, a linguagem é mais fácil /.../ (posso) escolher os livros pela temática que eu quero, é isso.

P: Entendi. Então essa questão de poder escolher os livros que você vai ler, pra você é importante.

Bruno: Sim... (Leitor/BVN – 15 anos, entrevista, 2014).

193.Renata: ...Fora dali (da escola), eu posso chegar aqui (na biblioteca pública)

P: E isso pra você escolher de acordo com o seu gosto é importante?

Renata: “Humhum”, porque se me der um livro que não é do meu interesse, eu não

vou ficar muito concentrada naquilo, eu vou ler, mas depois se me perguntar eu nem vou saber explicar (Leitor/BVN – 17 anos, entrevista, 2014).

194.Marina: ...Quando é livre a escolheu acho que não tem esse peso, sabe? De

você terminar de ler o livro e pensar no que o personagem fez ou então se chegou um momento, sei lá, que você precisa analisar um trecho. Eu acho que não tem esse tipo de coisa, sabe? (Leitor/BVN – 13 anos, entrevista, 2014).

Para Bruno, essa liberdade relaciona-se à possibilidade de fazer escolhas subjetivas pelas temáticas de sua preferência dentro da literatura estrangeira: “...eu fico mais com a literatura

estrangeira /.../ a linguagem é mais fácil...”. Assim como Bruno, Renata também revela que a

opção pelos assuntos de seu interesse é importante, favorece a interação leitor/texto, contribuindo para a produção de sentidos: “...se me der um livro que não é do meu interesse,

/.../ depois se me perguntar eu nem vou saber explicar...”. O testemunho de Marina ressalta

que as leituras subjetivas, para além do ambiente escolar, permitem a compreensão global dos textos, fato que parece tornar a leitura prazerosa: “...eu acho que não tem esse peso /.../ De

você terminar de ler o livro e pensar no que o personagem fez /.../ que você precisa analisar

um trecho...”.

Nesse cenário de práticas de leituras literárias para além do ambiente escolar, as bibliotecas públicas são destacadas:

195.Inês: ...Fora da escola, tipo aqui na biblioteca, eu acho muito legal... Eu vejo o Darlan (bibliotecário) brincando com os meninos, os gestos que ele faz .

Interessa mesmo na leitura e quer levar além /.../ tem que saber o que você fala com uma pessoa, porque tem hora que você conta uma história e a pessoa não tá nem aí. Mas eu acho bem legal a leitura na biblioteca /.../ o Darlan faz os gestos /.../ e você acaba entendendo e na escola você não entende (Leitora/BBA – 17 anos, entrevista, 2014).

196.Brian: ...a biblioteca, por exemplo, aqui /.../ São quatro jovens comigo, eles

tem um gosto particular de livros. São livros atuais, histórias atuais, um mundo bem fictício e, normalmente, o que eles gostam, eu gosto também desses livros, irreal. Fugir um pouco do que acontece. E tem esses espaços aqui /.../ pra gente

discutir um pouco desses livros e tal. E a pessoa colocar um pouco da sua opinião da história e indicar outros livros com o mesmo assunto, entendeu? /.../ Eu acho

muito legal, principalmente, porque eu não gostava muito /.../ do “The walking

dead” /.../ Eu comecei a participar da oficina e comecei a gostar, fui vendo o lado

literário da história, sabe? /.../ Então, eu acho que isso abre porta pra gente

gostar, vamos dizer, novos ambientes na literatura (Leitor/BBA – 16 anos,

entrevista, 2014).

O depoimento de Inês revela a importância do bibliotecário na mediação das leituras: “...Eu

testemunho de Brian evidencia que o clube de leitura da biblioteca do Barreiro é um espaço de interações dialógicas em torno das leituras literárias: “...tem esses espaços aqui /.../ pra

gente discutir um pouco desses livros /.../ a pessoa colocar um pouco da sua opinião...”. Seu

relato ainda deixa ver que essa atividade contribui também para a ampliação dos repertórios leitores: “...eu acho que isso abre porta pra gente gostar /.../ (de) novos ambientes na literatura...”.

4.8.2.2 Aspectos negativos

O aspecto negativo explicitado em relação às práticas de leitura literária fora do ambiente escolar é a impossibilidade do compartilhamento das leituras:

197.Henrique: Fora da escola é melhor que você tem mais liberdade e na escola

tem os dias que eles controlam, cada um vai ler o mesmo livro pra falar dele. Eu prefiro ler fora, que você pega o livro que cê quer e dá a sua crítica nele. Só é

ruim, porque não tem ninguém pra contar, que a pessoa não vai ler aquele livro

(Leitor/BNE – 16 anos, entrevista, 2014).

Embora Henrique assinale sua preferência pelas práticas de leitura fora da escola, porque há liberdade de escolha dos livros e não há determinação de prazos para a leitura, a falta do compartilhamento com os pares desagrada-o: “...Só é ruim porque não tem ninguém pra contar...”. Lebrun (2013, p.134) considera que essa partilha nas comunidades leitoras propicia a apropriação da obra: “a leitura torna-se então um prazer de gourmet, ainda mais apreciada por ser convival”. Mesmo preferindo as práticas leitoras realizadas fora da escola, esse relato dá indícios de que práticas menos diretivas na escola seriam bem aceitas, porque faz falta ter com quem falar sobre os livros. Isto é, a socialização nas comunidades leitoras mostra-se importante.