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Anexo 11. Termo de Responsabilidade e Autorização de Veiculação de Imagens e

2.4 Pedagogia da Alternância: A Origem do Modelo Pedagógico

2.4.3 A Pedagogia da Alternância e a Legislação Brasileira

A educação rural na sociedade encontra-se desvinculada da realidade e da vida dos agricultores. Porém, isso não é recente, mas vem ao longo da história, em que as demandas escolares eram predominantemente oriundas das classes médias, que buscavam, através da educação escolar, a ascensão social e o ingresso no processo de industrialização da sociedade, sendo totalmente diferentes as expectativas da população do campo em que “a ausência de uma consciência a respeito do valor da educação no processo de constituição da cidadania, ao lado das técnicas arcaicas do cultivo que não exigiam dos trabalhadores rurais preparação alguma, nem mesmo a alfabetização, contribuíram para a ausência de uma proposta de educação escolar voltada aos interesses dos camponeses” (Resolução CNE/CEB nº1, de 3 de abril de 2002).

Diante desse cenário, a introdução da educação rural no ordenamento jurídico brasileiro foi, nas primeiras décadas do século XX, “incorporando, no período, o intenso debate que se processava no seio da sociedade a respeito da importância da educação para conter o movimento migratório e elevar a produtividade no campo” (Resolução CNE/CEB nº1, de 3 de abril de 2002).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394 de 20 de dezembro de 1996, estabelece a necessidade de contextualizar a educação, adaptando às necessidades e realidades locais e regionais. Também explicita que a educação é “dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana” e deve proporcionar o “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” e “igualdade de condições para o acesso e permanência para todos”.

Assim, percebe-se que a educação não deve ser mero instrumento de “adestramento” do educando, mas sim de inseri-lo no contexto de criticidade e liberdade de escolha, proporcionando condições de saber posicionar-se como um ser consciente de seu papel na sociedade. Entretanto, Demo (2004) afirma que a atual LDB não é inovadora, mas continua numa visão tradicionalista. Não foge da educação para a manutenção do status quo, na medida em que sugere uma educação voltada à aquisição de conhecimentos úteis para o mercado. Para Demo, “a visão de educação não ultrapassa a do mero ensino” (DEMO, 2004, p. 68) e o termo ensino está apenas relacionado ao treinamento, à técnica, ao adestramento.

Especificamente sobre a educação no campo, a LDB estabelece o Art. 28:

Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:

I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;

II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (LDBN, Art. 28)

O conteúdo desse artigo deixa transparecer uma das características positivas advindas dessa lei que é a flexibilidade na organização dos sistemas educacionais, além da autonomia pedagógica. Evidenciando que a educação no meio rural, deve identificar o modo próprio de vida social e de utilização do espaço, diferenciando assim, o que é o rural e o urbano, sem ignorar o global.

Nesse entender, é válido destacar que a Pedagogia da Alternância, que possui uma metodologia própria e que é aplicada nas Casas Familiares Rurais, é contemplada na LDB em seu artigo 23, quando assegura:

A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base

na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

Assim, pensar uma educação para o meio rural exige o conhecimento das necessidades dos envolvidos no processo educativo. Incluindo a diversidade sociocultural, o direito à igualdade e à diferença.

Esse aspecto também pode ser observado no Plano Nacional de Educação – PNE. O Plano traça as diretrizes e ações estratégicas com respeito à educação e inclui também a educação do campo:

A escola rural requer um tratamento diferenciado, pois a oferta de ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do País e a ampliação da oferta de quatro séries regulares em substituição às classes isoladas unidocentes é meta a ser perseguida, consideradas as peculiaridades regionais e a sazonalidade.

Prever formas mais flexíveis de organização escolar para a zona rural, bem como a adequada formação profissional dos professores, considerando a especificidade do alunado e as exigências do meio.

Ampliar a oferta de programas de formação a distância para a educação de jovens e adultos, especialmente no que diz respeito à oferta de ensino fundamental, com especial consideração para o potencial dos canais radiofônicos e para o atendimento da população rural.

Como face da pobreza, as taxas de analfabetismo acompanham os desequilíbrios regionais brasileiros, tanto no que diz respeito às regiões político-administrativas, como no que se refere ao corte urbano/rural. Assim, é importante o acompanhamento regionalizado das metas, além de estratégias específicas para a população rural.

Ampliar a oferta de programas de formação a distância para a educação de jovens e adultos, especialmente no que diz respeito à oferta de ensino fundamental, com especial consideração para o potencial dos canais radiofônicos e para o atendimento da população rural (PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO).

Igualmente percebe-se a visão de educação para todos, flexibilidade de currículo, autonomia pedagógica, respeito à sazonalidade, formação de professores mostrando a tendência progressista de educação. Entretanto, no geral, não é o que acontece na realidade, no que se refere à educação do campo.

Ante esse contexto, foram elaboradas as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, aprovada pela Resolução 01 CNE/CEB, de 03 de abril de 2002. Sobre as Diretrizes, compete mencionar que as mesmas estão em consonância com a LDBN. Destaca-se o Art. 3º que propõe:

O Poder Público, considerando a magnitude da importância da educação escolar para o exercício da cidadania plena e para o desenvolvimento de um país cujo paradigma tenha como referências a justiça social, a solidariedade e o diálogo entre todos, independente de sua inserção em áreas urbanas ou rurais, deverá garantir a universalização do acesso da população do campo à Educação Básica e à Educação Profissional de Nível Técnico (CNE/CEB, Art. 3o).

Nessa perspectiva, ressalta-se o compromisso com o respeito às diversidades sociais, culturais, políticas e econômicas, de gênero, geração e etnia das populações rurais. Também são aspectos importantes das diretrizes, a obrigatoriedade da atenção ao desenvolvimento sustentável, a participação da comunidade na gestão escolar e a participação de movimentos sociais no auxílio educacional, notadamente na educação profissional e técnica. Não se pode deixar de mencionar também, a importância dada à formação de um profissional que esteja realmente preparado para lidar com as questões do campo, sem “urbanizar” o espaço rural.

Diante do exposto, pode-se dizer que grandes avanços aconteceram em favor da educação do campo no Brasil, dos quais, o principal deles pode ser considerado o fato de a educação no campo ser realmente tratada como uma educação do ser e não apenas o ensino de técnicas. Quanto aos documentos que norteiam a Educação no Campo e a Pedagogia da Alternância, percebe-se uma forte influência dos pensamentos de Paulo Freire expressos na Pedagogia da Autonomia. A criticidade, a pesquisa, o respeito aos saberes do educando, a reflexão sobre a prática, o reconhecimento da identidade cultural, o bom senso, a valorização dos educadores, a convicção de que a mudança é possível, o comprometimento, a educação é uma forma de mudar o mundo, a tomada consciente de decisão, o saber ouvir o outro, a disponibilidade para o diálogo e o querer bem aos educandos são aspectos presentes nas discussões propostas por Paulo Freire.

A busca da realidade como objeto de análise por parte da escola envolve a investigação do próprio pensar do povo. Este pensar não se dá fora dos homens, nem num homem só, nem no vazio, mas nos homens e entre os homens, e sempre se referindo à realidade vivida. Educação e problematização é tarefa do educador dialógico, que tem a realidade do educando como ponto de partida (FREIRE, 1999).

Nesta perspectiva, tanto a proposta de Freire, como a Pedagogia da Alternância identificam o educando como sujeito da aprendizagem, portador de um conhecimento, de uma aprendizagem que ocorre a partir das experiências, do diálogo, da leitura do mundo, enfim, de um sujeito partícipe de uma educação como ato político que sonha com um mundo novo humanizado construído na relação com o seu meio sociocultural.