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Anexo 11. Termo de Responsabilidade e Autorização de Veiculação de Imagens e

2.3.2 Desenvolvimento Local

Nos últimos anos, a noção de desenvolvimento local passou a ocupar um grande espaço nas discussões governamentais e acadêmicas, assim como nas estratégias de ação por parte da sociedade civil. O conceito de desenvolvimento local começou a ganhar relevância no debate sobre os modelos de desenvolvimento, particularmente, após o reconhecimento do

fenômeno da globalização. Porém, na mesma medida de sua expansão, o fenômeno da globalização provoca reações e formas de resistência. É exatamente nesse contexto que emerge uma tendência de afirmação do local, seja como resposta à exclusão, seja como tentativa de uma integração não subordinada à economia global.

A temática do desenvolvimento local tem gerado contestações entre os pesquisadores. Porém, na concepção geral, não está relacionado unicamente com o crescimento econômico, mas, com a afirmação de uma identidade territorial, com o reconhecimento de elementos distintivos, de uma reputação própria, de uma singularidade que distingue e diferencia o território. O desenvolvimento local resulta do esforço de identificar, reconhecer e valorizar os ativos locais; de aproveitar e desenvolver as potencialidades, as vocações, as oportunidades, as vantagens comparativas e competitivas de cada território.

Os diferentes conceitos sobre desenvolvimento local são frutos de diversos fatores da realidade que, certamente, estão condicionados por determinados processos históricos. Os conceitos são elaborados tendo como premissa os objetivos aos quais se destina. Assim, se a proposta é enfatizar o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população, pode-se conceituar desenvolvimento local conforme definição de Buarque (1999, p. 23):

Um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos, capaz de promover a dinâmica econômica e melhoria da qualidade de vida da população. Representa uma singular transformação nas bases econômicas e na organização social em nível local, resultante da mobilização das energias da sociedade, explorando suas capacidades e potencialidades específicas.

Sob outro enfoque, Martins (2002) aponta que a valorização local permite ao ser humano uma participação efetiva na busca da sustentabilidade da cultura, da identidade e do território. Nesse sentido, declara que:

(...) desenvolvimento local, todavia, não equivale a geração de emprego e renda, não obstante tem sido esta a tônica de grande parte dos projetos (não raro, práticas sem fundamento teórico) que levam a rubrica de desenvolvimento local. O desenvolvimento deve ser uma ação de enfrentamento real às piores manifestações de pobreza, objetivando a igualdade de opções e não de renda.

Para Marirrodriga e Calvó (2010) o “local” não deve ser visto somente como mera demarcação administrativa ou geográfica, com características similares que traduzem uma problemática socioeconômica comum. O desenvolvimento local sustentável favorece o surgimento de pessoas que se propõe promover iniciativas para melhorar sua situação econômica e profissional, e/ou valorizarem determinados recursos locais disponíveis, ou suas próprias potencialidades pessoais, no caso dos jovens principalmente. Enquanto que, para Caliari (2002, p. 27), o desenvolvimento pode ser definido como um processo de transformação via realização de propostas, obtidas mediante a participação da coletividade. “Prepondera aí o relacionamento entre sujeito, comunidade, cultura local e meio ambiente”.

Nessa perspectiva, a materialização do desenvolvimento local se dá por meio de ações coordenadas dos objetivos traçados pelo coletivo, empreendidos pelos atores sociais. Implica na construção de um ato de harmonia entre crescimento econômico, redução das desigualdades e preservação cultural e ambiental.

Sen (2000) assenta na base do desenvolvimento, o desenvolvimento social, por este criar as condições de redução das taxas de mortalidade e aumento da expectativa de vida da população, “incluindo também sua influência sobre as habilidades produtivas das pessoas e, portanto, sobre o crescimento econômico em uma base amplamente compartilhada”. Nessa perspectiva o desenvolvimento implica na criação de oportunidades sociais geradas para assegurar a expansão do acesso a uma educação de qualidade social, dos serviços de saúde condizentes com as necessidades da população, aos espaços para o lazer, à garantia de absorção de força de trabalho, a geração de espaços de expressão e à intervenção, ou seja, para o autor o que as pessoas conseguem positivamente realizar é diretamente influenciado pelas oportunidades econômicas, poderes sociais e por condições habilitadoras:

As disposições institucionais que proporcionam essas oportunidades são ainda influenciadas pelo exercício das liberdades das pessoas, mediante a liberdade para participar da escolha social e da tomada de decisões públicas que impelem o progresso dessas oportunidades (Sen, 2000, p. 18).

Dito de outra forma, ter mais liberdade permite com que as pessoas tenham mais potencial para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo.

Deste modo, é imprescindível entender o desenvolvimento como uma combinação de distintos processos e não como uma simples ampliação do crescimento da renda e intensificação da produção, uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito

além da acumulação da riqueza e do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis relacionados a renda. “Sem desconsiderar a importância do desenvolvimento econômico, precisamos enxergar além dele” (Sen, 2000, p. 28). Visto desta forma, o desenvolvimento local não pode ser entendido de forma descontextualizada, mas, relacionado com outras dimensões, notadamente, sociais, ecológicas e vida comunitária. Pode ser entendido a partir do que as pessoas devem ser e fazer com base nas suas potencialidades/capacidades.

A abordagem das capacidades, com Sen (1997) e Nussbaum (2000), mostrou-se um interessante caminho teórico para ultrapassar a perspectiva estritamente econômica com a qual se avaliara o desenvolvimento das sociedades e observar as diferentes dinâmicas que perpassam a vida dos sujeitos e interferem na qualidade de como vivem e sentem, almejam ou ignoram possibilidades de futuro.

A abordagem das capacidades, todavia, surge e se populariza com a obra de Amartya Sen (1997). Para este autor, a liberdade é o valor fundamental para o desenvolvimento e só será alcançado quando forem eliminados os entraves que impedem os sujeitos de optar e viver em um ambiente sadio. A obra de Sen é um marco para que o produto nacional bruto deixe de ser visto como um único medidor de desenvolvimento de uma nação. Mais do que gerar riqueza, a distribuição e as oportunidades de ação e escolha devem estar garantidas aos indivíduos, os quais devem estar satisfeitos.

A ligação entre liberdade individual e a realização de desenvolvimento social vai muito além da relação constitutiva - por mais importante que ela seja. O que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras, como boa saúde, educação básica e incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas (SEN, 1997, p.19)

Com base nas ideias de Ávila (2003), o desenvolvimento local tem como princípio elementos como solidariedade e participação, tendo como alicerce o respeito pela identidade da população local e de cada grupo e pessoa que a integram, incluindo a valorização da sociedade multicultural. O aproveitamento do potencial da comunidade resgata e valoriza a cultura, fazendo com que as pessoas sintam-se responsáveis e envolvidas na busca das soluções dos problemas locais, promovendo mudanças no comportamento.

Nessa perspectiva, educação e desenvolvimento não podem ser pensados separadamente. A educação torna-se fator influente na reconstrução social. “A educação é,

como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sociedade” (BRANDÃO, 1995, p. 10).

Dowbor (2003) corrobora com esta ideia ao assegurar que:

A ideia de educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada à compreensão de que pode tomar o seu destino em suas mãos e à necessidade de se formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno e de gerar dinâmicas construtivas.

Diante destes fatores, é essencial compreender as implicações da educação, em suas diferentes modalidades, no fomento do desenvolvimento local sustentável. Enfim, a geração de conhecimentos sobre a realidade local faz da educação um fator evidente de transformação com vistas ao desenvolvimento.