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Anexo 11. Termo de Responsabilidade e Autorização de Veiculação de Imagens e

4. A INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS E

4.4 A Casa Familiar Rural de Três Vendas na Visão dos Jovens

Os resultados descritos neste subcapítulo foram obtidos através de uma pesquisa exploratória para a qual foram escolhidos como população de amostra a turma do 3º ano (13 jovens), selecionada tendo em vista a experiência que estes jovens já possuem com o método da alternância, o que possibilita a capacidade de avaliar a trajetória das mudanças ocorridas no seu dia-a-dia após o tempo de dois anos na Casa Familiar Rural, e ainda por estarem ligados diretamente ao processo formativo.

Para a coleta dos dados foram utilizados questionários contendo várias questões, abrangendo: dados sócio-demográficos do grupo familiar, motivos que levaram os jovens a frequentar a CFR, diferencial da CFR para outras escolas, o método educativo da

alternância, Projeto Profissional de Vida do Jovem, resultados alcançados, tanto em relação ao desenvolvimento dos jovens enquanto pessoa, como o desenvolvimento de seu local de inserção.

Quanto à análise dos dados, estes foram sistematizados em categorias, visando uma melhor identificação dos resultados da Casa Familiar Rural e da Pedagogia da Alternância no processo de desenvolvimento sustentável do jovem e do meio onde vive. Serão apresentados somente os dados considerados relevantes para atingir os objetivos do estudo.

No que diz respeito à idade dos jovens formandos, variam entre os 17 e 25 anos. Todos ainda são solteiros e moram com a família no meio rural. Dos 13 formandos, 04 são do sexo feminino.

Figura 63: Formandos 2012.

Fonte: Casa Familiar Rural, 2012.

Apesar da questão de gênero ter evoluído nos últimos anos na sociedade, percebemos que no meio rural, a situação em relação às mulheres, pouco mudou. Compete às mulheres (filhas e esposas) o desempenho das tarefas relacionadas a casa, quintal, horta, ordenha, educação dos filhos e ainda auxiliam nas tarefas da lavoura. Essa situação de dependência é decorrente de uma questão cultural no seio da própria família, onde mulher é educada para assumir todas as responsabilidades da casa, não trabalham fora e na maioria das vezes, abandonam ainda muito cedo a escola para se casarem. Quanto aos meninos são educados para serem os provedores da família, tomando para si a posse da esposa e filhos.

Durante as visitas às propriedades e familiares dos jovens em formação na CFR, através das falas, podemos perceber uma mudança comportamental naquelas famílias que

participam dos encontros na CFR. A mulher combina diferentes formas de atividades, incluindo a função de administradora da propriedade em relação à produção e à participação ativa ao lado dos filhos e marido.

(...) eu terminei o ensino fundamental numa escola do interior, perto de casa. Daí para fazer o segundo grau eu teria que ir para cidade. Meu pai não deixou. Aí surgiu a oportunidade de vir estudar na CFR, no começo ele não queria, imagine dormir uma semana fora de casa! (...) Daí ele e minha mãe vieram conhecer a CFR, gostaram do lugar, acharam diferente e me deixaram vir pra cá. Hoje eles participam dos encontros de família e com as conversas com os monitores, já tão mais abertos à novas ideias (depoimento de uma jovem da CFR)

A escolaridade dos jovens varia do ensino fundamental completo a curso superior incompleto. Alguns cursam concomitantemente a escola tradicional e a formação na CFR.

Quanto à pergunta se “os jovens perceberam algum diferencial da CFR para outras escolas”, 100% dos entrevistados responderam que sim.

(...) o ensino não é vago como nas outras escolas tradicionais, aqui é voltado de acordo com nossa propriedade, pras necessidades de nossas famílias (...) a CFR me fez enxergar com outros olhos ser agricultora.

(...) a CFR me influenciou à permanecer na propriedade com minha família. (...) o modo de se “dar aula” na CFR e as informações são passadas pra nós numa forma simples e de fácil entendimento.

(...) fala sobre nosso dia a dia, sobre o que nós queremos ouvir pra ficar no campo. (...) reúne as famílias e faz os jovens ficarem no campo, a gente dá mais valor pro trabalho de nossos pais.

(...) ajuda a gente a desenvolver um projeto pra implantar na propriedade e permanecer no campo com qualidade de vida.

(Questionário de pesquisa – Formandos/2012).

Os jovens que responderam ao questionário ressaltaram, repetidas vezes, o diferencial da CFR em relação às outras escolas, principalmente nos aspectos relacionados à relação monitor/jovem, maior participação da família, convivência em grupo, aplicação prática na propriedade da teoria que aprenderam na CFR, elaboração/ implantação do projeto Profissional como meio de gerar renda, melhorar a qualidade de vida e permanecer no campo.

Questionou-se aos jovens, sobre as principais razões que os levaram a frequentar a Casa familiar Rural de Três Vendas – Catuípe/RS. Algumas das respostas obtidas foram:

(...) eu não gostava da escola tradicional, aí ouvi falar da CFR, vim atrás de novas possibilidades de estudo e aprendizagens mais úteis pra minha vida.

(...) eu tinha curiosidade de conhecer essa Pedagogia da Alternância e como funcionava na Casa Familiar Rural.

(...) aprender novos conhecimentos para aplicar na agricultura e melhorar a produção da propriedade.

(...) aprender meios de melhorar a qualidade de vida, gerar renda e ficar na propriedade ajudando minha família.

(Questionário de pesquisa – Formandos/2012).

Nas respostas obtidas, percebeu-se a visão que a maioria dos jovens tem da escola tradicional, de que é um local onde ocorre tão somente o repasse da transmissão de conhecimento científico, enquanto que na CFR o método da alternância constrói o conhecimento científico com base na realidade do aluno. Nesse sentido, Freire (2000, p. 24 - 25) complementa que “não há uma escola que ensine tudo e para toda a vida. A educação na escola constitui apenas uma parte de todo esse processo que é a educação (...) ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua produção ou sua construção”.

Quanto ao processo de formação em alternância, se este é suficiente para se conseguir a sustentabilidade na propriedade e a permanência no meio rural, a maioria respondeu afirmativamente.

(...) o ensino na CFR nos proporciona uma boa base de como atuar como um empreendedor rural.

(...) com o que aprendemos na CFR, se a gente colocar em prática em nossa propriedade, teremos boas condições de sobreviver no campo e ainda obter lucros. (...) com os cursos aprendidos na CFR a gente melhorou na propriedade o manejo de plantas e animais.

(...) na CFR aprendemos estudar nossa propriedade e saber desenvolver o que nos vai dar lucro, ou ainda, com os cursos a gente aprende a fazer novos produtos e vender, gerando renda e melhorando nossa qualidade de vida.

(...) na CFR eu aprendi que dá pra viver no campo com dignidade e com qualidade de vida, se a gente souber produzir a propriedade e gerar renda, podemos ter o mesmo conforto que a gente teria na cidade.

(Questionário de pesquisa – Formandos/2012).

Na alternância o jovem cumpre a etapa pedagógica e, ao mesmo tempo, melhora sua qualidade de vida e de sua família, desenvolve trabalhos que são planejados no convívio familiar, aproximando a relação pai e filho através do diálogo, das trocas de experiências. Quando perguntados sobre quais mudanças ocorridas nas suas propriedades ou que impactaram suas vidas, após participarem da formação na CFR, a maioria respondeu:

(...) a gente tinha um jeito diferente de plantar, a propriedade tava mal cuidada e a terra era usada sem muitos conhecimentos de preparo e de preservação do meio ambiente.

(...) se trabalhava muito e se produzia pouco porque a gente plantava sem planejamento dos gastos com a produção, nem sabia qual o preço de custo dos produtos,

(...) a gente plantava sem se preocupar com a terra, os rios e as matas, se tava poluindo ou não, hoje na CFR a gente aprende a ter consciência ambiental e a plantar de modo sustentável.

(...) na CFR aprendi a importância de proteger o meio ambiente e desenvolver práticas agrícolas sustentáveis.

(...) na CFR aprendi a conviver melhor com os outros, com minha família e expor minhas ideias.

(...) passei a valorizar a luta dos meus pais e enxergar a agricultura familiar com outros olhos.

(...) melhorou nossa autoestima, hoje temos orgulho de dizer que a gente é “colono”.

(...) a propriedade ficou mais organizada, diversificamos a produção e passamos a trabalhar mais em família.

(Questionário de pesquisa – Formandos/2012).

É possível perceber que as mudanças mencionadas pelos jovens baseiam-se principalmente nos aspectos de melhoria da qualidade de vida das famílias, estruturação das propriedades, geração de renda, consciência da utilização da terra e preservação ambiental. Estas mudanças estão embasadas no entendimento construído num processo educacional e sócio-profissional diretamente ligado à Pedagogia da Alternância, onde os jovens e suas famílias passam a ser agentes de mudanças e de desenvolvimento estimulados pelas relações que estes estabelecem em seu meio.

Quanto ao Projeto Profissional de Vida perguntou-se aos jovens como estes avaliavam esse instrumento pedagógico e se conseguiram implantar projetos sustentáveis nas propriedades e quais os temas geradores.

(...) meu projeto é sobre a produção artesanal de queijo colonial, já está em andamento, é melhor vender o queijo, pode-se agregar maior valor ao produto que o leite in natura.

(...) sim, conseguimos implantar na nossa propriedade, é um projeto de galinhas poedeiras e produção de ovos.

(...) meu projeto de hidroponia já está rendendo muitos frutos, estamos pensando em ampliar e diversificar ainda mais a propriedade, com produção de suco de uva e turismo rural.

(...) a ideia do meu projeto já existia antes de eu participar da CFR, então fui buscar conhecimentos pra poder implantar na propriedade.

(...) o meu projeto tá implantado, era melhoria no gado leiteiro e estrutura das instalações, na verdade a gente já trabalhava com o leite, o que fizemos foi melhorar a produção da propriedade.

(...) lá em casa já trabalhávamos com cana de açúcar, mas com os conhecimentos que aprendi na CFR, passamos a cortar custos, agregar mais valor aos produtos e ampliar os negócios.

(...) na nossa propriedade desenvolvemos o projeto de elaboração de vinho e também venda in natura do produto, reestruturamos todo o parreiral de uva. (Questionário de pesquisa – Formandos/2012).

A grande maioria das famílias utiliza a mão de obra familiar para tocar seus projetos e a produção na propriedade. Praticamente todos os jovens entrevistados conseguiram implantar ou estruturar projetos sustentáveis. A formação em alternância amplia as possibilidades de trabalho e de uma vida melhor para os agricultores familiares.

Outro dado relevante diz respeito à participação social do jovem em atividades comunitárias. A grande maioria, 10 jovens dos 13 entrevistados, afirmaram que após a formação na Casa Familiar Rural começaram a frequentar e a participar em maior número de vezes, de reuniões de sindicato, associação, igreja, movimentos sociais, etc. Os outros três jovens entrevistados disseram que já eram atuantes em suas comunidades.

Ao término da entrevista, indagou-se aos jovens se ainda gostariam de declarar algo mais sobre a formação na Casa Familiar Rural. Algumas respostas surgiram espontaneamente.

(...) todos os jovens agricultores deveriam conhecer a CFR, saber como é a formação por alternância e como se pode mudar a vida de uma família, de uma propriedade.

(...) com os conhecimentos que aprendi na CFR e aplicamos na propriedade, estamos tirando um bom dinheiro, dá até pra investir em lazer da família.

(...) resgatou nossa estima de agricultor, aproximou mais nossa família e estamos podendo sair mais pra se divertir.

(...) me estimulou a ficar na propriedade e a me comunicar melhor com outras pessoas.

(...) viajei e fiz muitos cursos, também fiz amizades aqui na CFR e em outros lugares que visitamos.

(...) conheci muitas pessoas, melhorei de vida.

(...) o tempo que passei na CFR foi uma das maiores contribuições para meu crescimento pessoal e profissional. O pessoal da CFR me ajudou a melhorar a vida em família, ter produção e renda na propriedade.

Observou-se que na alternância destaca-se como princípio o processo educativo vinculado ao meio familiar, profissional e social, dividido em períodos formativos que se alternam entre a vivência na propriedade e o ensino na Casa Familiar. A Casa Familiar se assemelha à vida na família, reproduzindo os comportamentos familiares. Os resultados dessa convivência foram percebidos nos avanços significativos no comportamento dos jovens que relataram essas mudanças durante a pesquisa.

4.5 A Casa Familiar Rural e a Formação por Alternâncias: Evidências de