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Educação empreendedora e pedagogia da alternância na perspectiva do desenvolvimento local sustentável: a experiência de jovens da Casa Familiar Rural (CFR)

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento

Gestão de Organizações e Desenvolvimento

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA e PEDAGOGIA da ALTERNÂNCIA na

PERSPECTIVA do DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: A

Experiência de Jovens da Casa Familiar Rural (CFR)

Sandra Puhl dos Santos

Orientador: Profº Dr. Telmo Rudi Frantz

IJUÍ

2013

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento

Gestão de Organizações e Desenvolvimento

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA e PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: A Experiência de Jovens da Casa Familiar Rural (CFR)

Dissertação apresentada ao Curso de

Pós-Graduação Stricto Sensu em

Desenvolvimento, como requisito parcial para obtenção do título de mestre, na área de concentração: Gestão de Organizações e Desenvolvimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI

Sandra Puhl dos Santos

Orientador: Profº Dr. Telmo Rudi Frantz

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S237e Santos, Sandra Puhl dos.

Educação empreendedora e pedagogia da alternância na perspectiva do desenvolvimento local sustentável : a experiência de jovens da Casa Familiar Rural (CFR) / Sandra Puhl dos Santos. – Ijuí, 2013. –

222 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Dr. Telmo Rudi Frantz”.

1. Educação empreendedora. 2. Casa Familiar Rural. 3. Pedagogia da alternância. 4. Desenvolvimento local sustentável. I. Frantz, Telmo Rudi. II. Título. III. Título: A experiência de jovens da Casa Familiar Rural (CFR). CDU: 37:658 37.013 Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB 10/1879

(4)

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

E EDDUUCCAAÇÇÃÃOOEEMMPPRREEEENNDDEEDDOORRAAEEPPEEDDAAGGOOGGIIAADDAAAALLTTEERRNNÂÂNNCCIIAANNAA P PEERRSSPPEECCTTIIVVAADDOODDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOOLLOOCCAALLSSUUSSTTEENNTTÁÁVVEELL::AA E EXXPPEERRIIÊÊNNCCIIAADDEEJJOOVVEENNSSDDAACCAASSAAFFAAMMIILLIIAARRRRUURRAALL((CCFFRR) ) elaborada por

SANDRA PUHL DOS SANTOS

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Telmo Rudi Frantz (UNIJUÍ): ___________________________________________ Prof. Dr. Maurício João Farinon (UPF): ___________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Luís Allebrandt (UNIJUÍ): ________________________________________

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela presença constante em todos os momentos e por tudo aquilo de bom que tem proporcionado em minha vida...Obrigada Senhor!

Ao Elso, pelo amor, cumplicidade e compreensão nos momentos de ausência durante a realização deste trabalho.

À Enio e Janice, pela amizade, incentivo e apoio incondicional em todos os momentos. Obrigada!

Aos amigos, colegas ... pessoas presentes nos momentos da minha vida ... pela amizade, compartilhamento de angústias, palavras de apoio ...valeu pela torcida!

Ao professor Telmo Rudi Frantz, pelo entusiasmo contagiante que me levou a trilhar pelos caminhos da Pedagogia da Alternância, pela orientação, pelo carinho.

À professora Lori Frantz, por compartilhar sua sabedoria e colaborar para o desenvolvimento deste trabalho.

A todos os meus professores do Mestrado em Desenvolvimento pelo conhecimento transmitido, pela contribuição para a minha formação acadêmica.

À Equipe da Casa Familiar Rural de Três Vendas:

Aos monitores Venildo Turra e Fabiana Barrichelo Pinto, pela convivência, pela receptividade e colaboração com o nosso trabalho de pesquisa.

À Ana Turra e Jomara Somavila pela acolhida e generosidade nos momentos de convívio na Casa Familiar Rural.

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Aos jovens e suas famílias, por partilharem conosco suas aprendizagens, seus saberes, suas conquistas.

Ao Curso de Pós-graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento – UNIJUI, pelo apoio institucional.

À Capes pela concessão de uma bolsa de pesquisa durante a elaboração dessa Dissertação.

A todos que colaboraram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho, quer seja através de entrevistas, informações e indicações, quer seja com um gesto de apoio e confiança.

(7)

Educação não transforma o mundo.

Educação muda pessoas.

Pessoas transformam o mundo.

(Paulo Freire)

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RESUMO

O ensino tradicional praticado atualmente nas escolas no meio rural apresenta falhas de concepção, uma vez que não oferece em sua maioria um currículo diferenciado e que leve em consideração as particularidades do seu meio e as características sociais, ambientais e culturais do homem do campo. A educação praticada no meio rural foi uma adaptação da educação praticada nas escolas urbanas. Educação esta, que não visa aumentar o nível de escolaridade das pessoas residentes no meio rural, nem tampouco, desenvolver um ensino voltado à promoção da melhoria de condições de vida desses agricultores e suas famílias. Em decorrência desse fato, uma grande parte dos jovens nas zonas rurais está deixando suas famílias e propriedades, migrando para os centros urbanos em busca de instrução e profissionalização que não são oportunizados em suas comunidades de origem. Embora se saiba que as deficiências da educação não são as responsáveis únicas pelos problemas apontados, poderia contribuir para minimizá-los e colaborar para melhorar a qualidade de vida no campo. Diante desse contexto, surge a necessidade de estudar modelos educacionais alternativos que considerem as peculiaridades regionais e valorizem o modo de vida de homens e mulheres do campo. A Pedagogia da Alternância emerge como uma possibilidade, através de uma educação integral voltada para o desenvolvimento sustentável agrário, contribuindo para diminuir o fluxo migratório dos jovens do meio rural para o meio urbano. Diante desse contexto, o objetivo central desta pesquisa, é avaliar a Pedagogia da Alternância como prática educativa e empreendedora, analisando os resultados da formação em alternância na vida de jovens de uma Casa Familiar Rural e identificando suas principais contribuições para o processo de desenvolvimento local sustentável. Após pesquisa, concluímos que a Pedagogia da Alternância adotada na Casa Familiar Rural de Três Vendas – Catuípe/RS tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos jovens, suas famílias e as comunidades onde os mesmos estão inseridos, além de elevar a autoestima destes em relação à sua profissão de agricultores e colaborar com a possibilidade da permanência no campo e a continuidade dos seus estudos, diminuindo, com isso, o êxodo rural e o alto índice de analfabetismo no meio rural.

Palavras-chave: educação empreendedora; casa familiar rural; pedagogia da alternância; desenvolvimento local sustentável.

(9)

ABSTRACT

The traditional teaching currently practiced in schools in rural areas presents design faults, since no offers mostly a differentiated curriculum that takes into account the particularities of their environment and the social, environmental and cultural man of the field. The education practiced in rural areas was an adaptation of education practiced in urban schools. Education this, not that aims to increase the educational level of people living in rural areas, nor develop an education aimed at promoting the improvement of living conditions of these farmers and their families. Due to this fact, a large proportion of young people in rural areas are leaving their families and property, migrating to urban centers in search of education and professionalization oportunizados that are not in their home communities. Although it is known that deficiencies of education are not the only ones responsible for the problems pointed out, it could help to minimize them. Furthermore, should collaborate to improve the quality of life in the countryside. In this context, the need arises to study alternative educational models that consider the regional peculiarities and values the way of life of men and women from the countryside. The Pedagogy of Alternation emerges as a possibility, through a holistic education focused on sustainable agricultural development, contributing to reduce the migration of young people from rural to urban areas. Given this context, the objective of this research is to evaluate the Pedagogy of Alternation as entrepreneurial and educational practice, analyzing the results of the work and training of young people in the life of a Rural Family House and identifying their major contributions to the process of sustainable local development . After research, we conclude that the Pedagogy of Alternation adopted the Rural Family House Three Sales - Catuípe / RS has contributed to improving the quality of life of young people, their families and the community where they are inserted, and raise self-esteem in these relation to their profession and farmers collaborate with the possibility of permanency and continuity in the field of their studies, reducing thereby the rural exodus and the high rate of illiteracy in rural areas.

Keywords: entrepreneurship education, rural family home; pedagogy of alternation; sustainable local development;

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LISTA DE ANEXOS

Anexo 1. Projeto Profissional de Vida da Família de Conto: Melhoria no Manejo da Pecuária

Leiteira na Agropecuária de Conto...163

Anexo 2. Projeto Profissional de Vida da Família Ribas: Implantação de Criação de Galinhas Poedeiras...170

Anexo 3. Projeto Profissional de Vida da Família Amaral: Agroindústria de Cana-de-açúcar/Aumento da Produção...183

Anexo 4. Projeto Profissional de Vida da Família Benetti: Hidroponia Benetti...198

Anexo 5. Questionário Sócio Demográfico: Jovens Formandos da Casa Familiar Rural...209

Anexo 6. Roteiro de Pesquisa: Casa Familiar Rural...213

Anexo 7. Roteiro de Entrevista: Jovens/Egressos da Casa Familiar Rural...216

Anexo 8. Roteiro de Entrevista: Monitores da Casa Familiar Rural...218

Anexo 9. Roteiro de Entrevista: Governanta da Casa Familiar Rural...219

Anexo 10. Roteiro de Entrevista: Pais/Responsáveis ...220

Anexo 11. Termo de Responsabilidade e Autorização de Veiculação de Imagens e Informações...221

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Mapa de Localização da Região Noroeste do Rio Grande do Sul...90

Figura 2. Localização do Universo Empírico da Pesquisa:Região Noroeste Colonial...98

Figura 3. Imagem de Satélite do Município de Catuípe – RS...102

Figura 4: Imagem de Satélite da Localidade de Três Vendas de Catuípe/RS...104

Figura 5. Integrante do Comitê Gestor da Casa Familiar Rural...105

Figura 6. Casa Familiar Rural da Região de Ijuí – Três Vendas/Catuípe-RS...105

Figura 7. Normas de Convivência na Casa Familiar Rural...107

Figura 8. Equipe de Trabalho da Casa Familiar Rural no ano de 2012...107

Figura 9. Equipe da Espiritualidade ...108

Figura 10. Momento de Lazer na Casa Familiar Rural...108

Figura 11. Equipe da Limpeza Casa Familiar Rural...108

Figura 12. Equipe da Limpeza da Casa Familiar Rural...108

Figura 13. Equipe da Alimentação Casa Familiar Rural...109

Figura 14. Equipe da Alimentação da Casa Familiar Rural...109

Figura 15. Integrante da Equipe da Limpeza da Cozinha...109

Figura 16. Equipe da Horta da Casa Familiar Rural...109

Figura 17. Assessora Pedagógica da Casa Familiar Rural (com monitora da CFR)...111

Figura 18. Assessora Pedagógica com jovens da Casa Familiar Rural...111

Figura 19. Sala de Aula na Casa Familiar Rural...112

Figura 20. Sala da Direção da Casa Familiar Rural...112

Figura 21. Biblioteca Casa Familiar Rural...113

Figura 22. Dormitório Feminino Casa Familiar Rural...113

Figura 23. Refeitório Casa Familiar Rural...113

Figura 24. Sala de Informática Casa Familiar Rural...113

Figura 25. Governanta Casa Familiar Rural...114

Figura 26. Encontro das Famílias – Momento de Confraternização na CFR...115

Figura 27. Casa Familiar Rural antes das Reformas...115

Figura 28. Casa Familiar Rural após as Reformas...115

Figura 29. Automóvel da Casa Familiar Rural...116

Figura 30. Laboratório de Ciências Físicas e Biológicas da Casa Familiar Rural...116

Figura 31. Ato Inaugural das Novas Instalações da Casa Familiar Rural 2012...116

(12)

Figura 33. Esquema do Desenvolvimento do Plano de Formação...119

Figura 34. Organização Curricular de uma Alternância...121

Figura 35. Pesquisas Realizadas junto às Famílias...123

Figura 36. Aprendizagens Realizadas junto às Famílias...123

Figura 37. Pesquisa Participativa: Escolha dos Temas Geradores...124

Figura 38. Tema Gerador: Correção de Solos...124

Figura 39. Cadernos da Realidade: Jovens CFR...125

Figura 40. Atividade de Tutoria: Monitor e Aluno...126

Figura 41. Momentos do Serão na Casa Familiar Rural...127

Figura 42. Momentos do Serão na Casa Familiar Rural...127

Figura 43. Intervenções Externas na Casa Familiar Rural: Palestras...128

Figura 44. Intervenções Externas na Casa Familiar Rural: Aulas Práticas...128

Figura 45. Intervenções Externas na Casa Familiar Rural: Cursos...128

Figura 46. Intervenções Externas na Casa Familiar Rural: Práticas...128

Figura 47.Viagens de Estudos...129

Figura 48. Visitas às propriedades...129

Figura 49. Viagens de Estudos: Estação de Alevinos e Universidade ...129

Figura 50. Visita dos Monitores aos Jovens da Casa Familiar Rural e suas Famílias...130

Figura 51. Visita dos Monitores aos Jovens da Casa Familiar Rural e suas Famílias...130

Figura 52. Visita dos Monitores aos Jovens da Casa Familiar Rural e suas Famílias...131

Figura 53. Visita dos Monitores aos Jovens da Casa Familiar Rural e suas Famílias...131

Figura 54. Atividade de Estágio: Escolha da propriedade...131

Figura 55. Atividade de Estágio: Prática...131

Figura 56. Jovem na CFR: Avaliação...132

Figura 57. Projeto Profissional de Vida dos Jovens da CFR: Aviário...134

Figura 58. Projeto Profissional de Vida dos Jovens da CFR: Pecuária Leiteira...134

Figura 59. Projeto Profissional de Vida dos Jovens da CFR: Hidroponia...134

Figura 60. Projeto Profissional de Vida dos Jovens da CFR: Poedeiras...134

Figura 61. Visita à Propriedade da Família De Conto...136

Figura 62. Visita à Propriedade da Família Ribas...136

Figura 63. Turma de Formandos / 2012...139

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(14)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Distribuição Territorial no Corede Noroeste Colonial...100 Quadro 2. Projetos Profissionais de Vida dos Jovens da Casa Familiar Rural Analisados....135

(15)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...15 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ...17 1.1 Apresentação do Tema...18 1.2 Problema...21 1.3 Objetivos...23 1.3.1 Objetivo geral...23 1.3.2 Objetivos específicos...23 1.4 Justificativa...24 2. REFERENCIAL TEÓRICO...28 2.1 Empreendedorismo...28 2.1.1 Características do Empreendedor...35 2.2 Educação ...38 2.2.1 Educação e Empreendedorismo...44

2.3 Desenvolvimento: Conceito em Evolução...51

2.3.1 Desenvolvimento Sustentável...55

2.3.2 Desenvolvimento Local...62

2.4 Pedagogia da Alternância: A Origem do Modelo Pedagógico...66

2.4.1 A Formação em Alternância no Brasil...70

2.4.2 A Pedagogia da Alternância Como Sistema Educativo...73

(16)

3. METODOLOGIA ...80

3.1 Classificação da Pesquisa...81

3.2 Objeto de Estudo...84

3.3 Sujeitos da Pesquisa...85

3.4 Plano de Coleta de Dados...86

3.5 Plano de Análise e Interpretação dos Dados...88

4. A INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS E DISCUSSÕES...90

4.1 Caracterização da Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul...90

4.1.1 O Processo de Ocupação do Rio Grande do Sul e a Evolução Agrária...91

4.1.2 O Processo de Colonização e Estrutura Produtiva da Região Noroeste Colonial do Rio Grande do Sul...94

4.1.3 Caracterização e Localização do Universo Empírico da Pesquisa: Corede Noroeste Colonial do Rio Grande do Sul...98

4.1.4 Localização e Breve Contextualização do Município de Catuípe/RS...101

4.1.5 Localização e Origem da Comunidade de Três Vendas - Catuípe/RS...103

4.2 A Casa Familiar Rural de Três Vendas – Catuípe/RS...104

4.2.1 A Casa Familiar Rural e a Metodologia da Pedagogia da Alternância...116

4.2.2 A Casa Familiar Rural e os Instrumentos da Pedagogia da Alternância...122

4.3 A Casa Familiar Rural e o Projeto Profissional de Vida: Contribuições para a Permanência do Jovem no Campo...134

4.4 A Casa Familiar Rural de Três Vendas na Visão dos Jovens...138

4.5 A Casa Familiar Rural e a Formação por Alternâncias: Evidências de Desenvolvimento Local Sustentável...144

CONSIDERAÇÕES FINAIS...149

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...155

(17)

INTRODUÇÃO

A sociedade está vivendo um momento de intensa necessidade de aperfeiçoar os conhecimentos e de lutar por uma educação que tenha como princípios a formação integral do educando, ética, equidade e desenvolvimento sustentável pautado numa filosofia humanista que acredita nas pessoas e em sua capacidade de construir o conhecimento através da própria experiência, respeitando a singularidade de cada ser humano.

Se tivermos como objetivo o desenvolvimento integral dos alunos numa realidade plural, é necessário que passemos a considerar as questões e problemas enfrentados por homens e mulheres de nosso tempo como objeto de conhecimento. O aprendizado e vivência das diversidades de raça, gênero, classe, a relação com o meio ambiente, a existência equilibrada da afetividade, o respeito à diversidade cultural, entre outros, são temas cruciais com que, hoje, todos nós nos deparamos e, como tal, não podem ser desconsiderados pela escola (ARROYO, 1994).

Esta dissertação tem como tema a Educação Empreendedora e a Pedagogia da Alternância na Perspectiva do Desenvolvimento Local Sustentável: A experiência de jovens da Casa Familiar Rural. Muito embora essas escolas estejam se expandindo em todo o país, são poucos os estudos e pesquisas educacionais acadêmicos que discutem o significado da sua atuação e sua significativa inserção no cenário do campo brasileiro. Acreditamos que dentro da diversidade do debate da Educação do Campo, o contexto socioambiental das Casas Familiares é uma discussão de relevância acadêmica que se faz urgente.

A presente pesquisa está estruturada em cinco partes. A primeira apresenta a contextualização do estudo, contendo a apresentação do tema, o problema, a justificativa e os objetivos.

A segunda parte se compõe do referencial teórico que dá embasamento ao tema, apoiado em estudiosos dessa temática e está organizado em quatro subtítulos: Empreendedorismo, Educação Empreendedora, Desenvolvimento Sustentável e Pedagogia da Alternância.

Os procedimentos metodológicos quanto à classificação da pesquisa, definição da organização, objeto de estudo, sujeitos da pesquisa, plano de coleta de dados, plano de análise e interpretação dos dados encontram-se na terceira parte.

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A quarta parte apresenta o processo de investigação empírica realizada ao longo da dissertação, descrevendo o processo de implantação, os fundamentos, as concepções teórico-metodológicas que sustentam as práticas de formação na Casa Familiar Rural de Três Vendas – Catuípe/RS. Contextualiza o território da pesquisa, apresentando autores e estudos que fundamentam os conceitos, e dialogam com os saberes e fazeres dos sujeitos envolvidos neste estudo: jovens, CFR, associações sindicais, famílias e comunidades.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

O ensino tradicional - padronização do conhecimento - praticado atualmente nas escolas rurais apresenta falhas de concepção, uma vez que não oferece em sua maioria um currículo diferenciado e que leve em consideração as peculiaridades do seu meio e as características sociais, ambientais e culturais do homem do campo. A educação praticada no meio rural foi uma adaptação da educação praticada nas escolas urbanas. Educação esta, que não visa aumentar o nível de escolaridade das pessoas residentes no meio rural, nem tampouco, desenvolver um ensino voltado à promoção da melhoria de condições de vida desses agricultores e suas famílias (SAVIANI, 1987; FRIGOTTO, 1997; ARROYO; CALDART; MOLINA, 2004).

Nesse contexto, uma grande parte dos jovens nas zonas rurais está deixando suas famílias e propriedades, migrando para os centros urbanos em busca de instrução e profissionalização que não são oportunizados em suas comunidades de origem.

De acordo com o Censo Demográfico divulgado pelo IBGE/2010, a população rural perdeu 2 milhões de pessoas entre 2000 e 2010 e, representa 15,6% da população total do país (29,8 milhões de um total de 190,8 milhões). Na década de 1940, aproximadamente 69% da população vivia em zonas rurais. O aumento de quase 23 milhões de pessoas que vivem nas cidades (num total de 160,9 milhões de pessoas) resultou em um grau maior de urbanização, que passou de 81,2% em 2000, para 84,4% em 2010. A região Sul têm hoje 84,9% de população urbana e 15,10% de população rural.

Embora se saiba que as deficiências da educação não são as responsáveis únicas pelos problemas apontados, o ensino poderia contribuir para minimizá-los além de melhorar a qualidade de vida no campo.

Diante desse contexto, surge a necessidade de estudar modelos educacionais alternativos que considerem as peculiaridades regionais, valorizem o modo de vida de homens e mulheres do campo, seus costumes e valores, conseguindo adequar-se às complexidades existentes na Agricultura Familiar, diferenciando-se da educação urbana. Uma escola voltada para a educação rural, com formação integral, visando buscar soluções para os problemas enfrentados pelos jovens que residem nas propriedades rurais, com interesse em desenvolver práticas empreendedoras sustentáveis no campo e que desejam dar continuidade aos estudos.

Uma das propostas educacionais que visa promover a formação integral do jovem residente no meio rural é denominada de Pedagogia da Alternância (GRANERAU, 1935;

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DUFFAURE, 1955; NOSELLA, 1977; GIMONET, 1984; BACHELARD, 1994), que emerge como uma possibilidade, através de uma educação voltada para o desenvolvimento sustentável agrário, contribuindo para diminuir o fluxo migratório dos jovens do meio rural para o meio urbano.

No Brasil, o Ensino em Alternância constitui um campo educativo em expansão e um conceito em difusão na literatura pedagógica. O conceito de alternância encontra-se inserido nas discussões sobre inovação pedagógica, modalidade de formação profissional de adolescentes, jovens e adultos, inserção socioprofissional, e integração entre o meio de vida escolar e o meio de vida socioprofissional.

Portanto, pensar uma proposta de educação para o campo pressupõe a sua sustentabilidade em termos econômicos, sociais e culturais.

1.1 Apresentação do Tema

O termo “empreendedorismo” geralmente está associado à capacidade de criar e gerir empresas, aproveitar oportunidades, ter sucesso, gerar emprego, renda e riqueza. No entanto, “empreendedorismo” vai muito além do que tudo isso: pressupõe a realização do indivíduo por meio de atitudes de inquietação, ousadia e proatividade na sua relação com o mundo (DOLABELA, 2008).

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que o empreendedorismo não podia ser ensinado. Empreendedores eram indivíduos que possuíam um dom inato, tendo nascido com características especiais que favoreciam o sucesso no mundo dos negócios. Contudo, os resultados de diferentes estudos desenvolvidos ao longo das duas últimas décadas, indicam em outra direção: embora características pessoais possam facilitar a atuação individual à frente de um novo negócio, o processo empreendedor pode, sim, ser ensinado e aprendido (DORNELAS, 2001; DOLABELA, 2008).

A escola, espaço de vida, socialização e formação dos sujeitos, surge neste contexto como instituição promotora da educação empreendedora e, inserida nela, o professor, empreendedor por natureza e agente determinante na construção dos saberes e das novas competências. Promover uma educação empreendedora impulsiona a transformação e o desenvolvimento socioeconômico. Isso porque, possibilita aos indivíduos ampliar a capacidade de protagonizar o presente e o futuro, despertar a criatividade e a inovação para construir uma sociedade melhor.

(21)

A educação é um fenômeno social presente somente nas sociedades humanas. Pois só o ser humano, consciente de sua condição histórica e cultural é portador dos princípios da educabilidade, ou seja, da capacidade de aprender, agir e refletir sobre a ação. Porém, como expressa Freire (2000, p. 24 -25):

Não há uma escola que ensine tudo e para toda a vida. A educação na escola constitui apenas uma parte de todo esse processo que é a educação. É preciso que o jovem na sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua produção ou sua construção.

Nesse sentido, é preciso que a escola reveja seus objetivos e que se reorganize, a partir de uma reflexão sobre uma proposta de educação que gera no educando a autonomia de pensamento, sentimento, valoração, iniciativa e ação para empreender a própria vida, participando de forma consciente, efetiva e criativa na transformação da sociedade em que vive.

O educador Marques (1996, p.10), contribui com essa visão, ao afirmar que a aprendizagem – característica distintiva do ser humano – é entendida não como uma simples adaptação ao que já existe, mas como uma capacidade de reconstruir ou mudar o existente, sem deixar de valorizar as conquistas já feitas, em direção à construção do humano.

No processo pedagógico está a intencionalidade da educação. Assim, toda prática educativa corresponde uma pedagogia. O pedagógico é a formulação, a direção do sentido que se dá para o educativo. Nesse processo, a educação é um fenômeno complexo da existência humana. Por conseguinte, também tem muitas definições, compreensões ou explicações e acontece em diferentes lugares e de diversos modos (BRANDÃO, 1995).

O estudo de problemas locais, inseridos nos conteúdos escolares é uma ação pedagógica que, ao mesmo tempo em que amplia os horizontes conceituais dos alunos, forma-os reflexivamente para compreender e fazer frente aforma-os problemas de sua localidade.

Nesse contexto, a Pedagogia da Alternância enquanto princípio pedagógico, é uma modalidade de ensino a ser melhor conhecida, tendo em vista que as experiências educativas em alternância ainda continuam restritas ao meio rural.

Entretanto, não se trata da simples transplantação da escola urbana para o campo, mas de uma escola que organize sua prática educativa a partir da cultura, modo de vida e trabalho dos agricultores e/ou camponeses. Na Pedagogia da Alternância busca-se realizar um trabalho

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pedagógico interdisciplinar e desenvolver os conteúdos curriculares contextualizados na realidade do aluno.

A Pedagogia da Alternância, na visão de Gnoatto (2006), vincula o conhecimento empírico dos agricultores com o conhecimento científico, alternando períodos na propriedade e períodos na escola. A metodologia de ensino não desvincula o estudante da família e nem da escola, pois dentro da estrutura metodológica prevista, as atividades curriculares têm parte desenvolvida na escola e parte na família. No tempo em que o aluno permanece na escola ocorre um aprofundamento do que acontece no meio familiar e consequentemente, ampliando os conhecimentos e relacionando a acontecimentos globais, esta metodologia de ensino busca superar a dicotomia entre a teoria e prática, o saber intelectual e saber popular.

A formação em alternâncias teve sua origem no interior da França, em cujas comunidades o predomínio era o da pequena propriedade, no ano de 1935, como uma alternativa de educação que respondesse aos anseios, às necessidades reais e aos problemas vivenciados no meio rural daquela época, tendo como idealizador o padre Abbé Granereau. A expansão para outros países da Europa e outros continentes aconteceu a partir da década de 1950. Na França, a experiência foi denominada por Maison Familiale Rurale (Casas Familiares Rurais), na Espanha e na Itália recebeu a denominação de Escola Família Agrícola (EFA).

No Brasil, a Pedagogia da Alternância foi implantada com o nome de Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs), no final da década de sessenta, no Estado do Espírito Santo. O movimento brasileiro nasceu sob a influência italiana, tendo como líder o padre jesuíta Humberto Pietrogrande. Com o passar dos anos, a Pedagogia da Alternância se expandiu para outros estados brasileiros.

Dentre as diversas experiências educativas que integram este movimento, destacam-se as Escolas Famílias Agrícolas (EFA) e as Casas Familiares Rurais (CFRs).

Os Centros Familiares de Formação por Alternâncias tem por finalidade, ajudar comunidades a adquirirem os conhecimentos técnico-científicos e os meios necessários para fixação do homem no campo a partir do uso racional dos recursos naturais e da terra. Utilizando os conhecimentos adquiridos para produzir bens, produtos e serviços; não só visando o seu auto-sustento, mas também a geração de renda, contribuindo para a promoção do desenvolvimento sustentável(GNOATTO, 2006).

Nessa perspectiva, por empregar, na execução do processo ensino-aprendizagem, princípios educativos modernos, tais como o envolvimento e a participação dos pais na educação formal dos filhos e na gestão da escola, a Pedagogia da Alternância constitui-se

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numa proposta educacional inovadora e um procedimento pedagógico que poderá representar um diferencial positivo na formação profissional rural.

Diante do exposto, o tema da Dissertação é: Educação Empreendedora e Pedagogia da Alternância na Perspectiva do Desenvolvimento Local Sustentável – A Experiência de Jovens de uma Casa Familiar Rural.

1.2 Problematização

Um dos principais desafios da Educação, enquanto processo de formação humana, é estimular mudanças de atitudes e comportamentos dos indivíduos, uma vez que educar compreende avivar os meios intelectuais de cada sujeito para que ele seja capaz de assumir o pleno uso de suas potencialidades físicas, intelectuais e morais para conduzir a continuidade de sua própria formação. A Educação possibilita a cada indivíduo que adquira a capacidade de auto-conduzir o seu próprio processo formativo.

Nesse sentido, a cultura definida como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade é apontada como uma variável decisiva no processo de mudança de paradigmas que ocorre por meio do universo da educação; considerada um instrumento de formação e transformação do ser humano (SANTOS 2005).

Ante esse contexto, a educação é também o instrumento principal para o desenvolvimento da cultura empreendedora na sociedade. Por definição, empreendedores são indivíduos e não organizações, logo, é natural que sejam influenciados por aspectos culturais relacionados à sua formação ou pelo contexto em que vivem. Portanto, quanto mais cedo se começar a estimularnos jovens, os valores e o pensamento empreendedor, tanto mais efetivos serão os resultados. Dolabela (2003, p.15) assegura que o processo empreendedor pode, sim, ser ensinado e aprendido: “a educação empreendedora deve começar na mais tenra idade, porque diz respeito à cultura, que tem o poder de induzir ou de inibir a capacidade empreendedora”.

Assim, ao pressupor ações como saber identificar, aproveitar ou criar oportunidades e elaborar projetos para a consecução de metas, objetivos e sonhos, o empreendedorismo não pode ficar fora do processo educacional. Entretanto, desde que essa educação não se afaste de seu objetivo essencial, que é promover o domínio pleno do conhecimento e a capacidade de reflexão, nem a transforme, na concepção de Adorno (1995), em simples instrumento a serviço da indústria cultural, que trata o ensino como uma mera mercadoria pedagógica em

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prol da "semiformação". Essa perda dos valores, segundo o autor, anula o desenvolvimento da autorreflexão e da autonomia humana, deformando a consciência.

Deste modo, para que um sujeito seja capaz de empreender a própria vida, no todo ou em algum aspecto, deve ser estimulado e orientado, através de vivências e conhecimentos diversos, a exercer sua criatividade, utilizando, desde a concepção das ideias até sua completa realização, a multiplicidade de sua inteligência, suas competências e habilidades que colaborem para o fortalecimento da autonomia e da liberdade de decidir sobre o próprio destino (ANDRADE, 2004).

Entretanto, as escolas, de modo geral, ainda não encontraram um eixo orientador para promover as inovações necessárias de forma integrada, contemplando as teorias de aprendizagem e respondendo às necessidades da realidade atual. Espera-se que na escola os conhecimentos tácitos e as experiências vividas em conjunto venham a auxiliar a construção de conteúdos para formar alunos com habilidades (pessoais, relacionais, cognitivas, produtivas) e atitudes empreendedoras. Por isso, é fundamental investir na educação que estimule a participação, cooperação, criatividade e inovação, desde a infância, pode contribuir para construir uma sociedade mais preparada para transformar desafios em soluções. Logo, a educação empreendedora atinge o aluno e a comunidade da qual ele faz parte.

A Pedagogia da Alternância surge como uma possibilidade inspiradora de Projeto Pedagógico, em especial para o campo, ao se constituir em uma forma alternativa de organização do currículo escolar e do cronograma de execução das atividades dividido em tempos diferentes, sendo: um tempo escola, no qual o aluno em regime de internato permanece na escola recebendo as informações, os conhecimentos e o atendimento pedagógico direto da equipe escolar; e um tempo comunidade, no qual o aluno retorna à sua casa com a missão de desenvolver atividades previamente programadas, além de voltar ao seu cotidiano e reassumir suas atividades domésticas.

Esse modelo pedagógico tem a ver com a realidade concreta da área rural. A presença de uma Casa Familiar Rural (CFR), como instituição de formação profissional, pode contribuir para o processo de desenvolvimento local e regional, através da oferta de possibilidades educacionais e de profissionalização, bem como de formação humana dos seus sujeitos. É considerada uma escola-residência, na qual os jovens, além de estudarem os conteúdos da educação básica, também recebem conhecimentos de formação geral e profissional.

Para analisar esta prática educativa e suas contribuições para o desenvolvimento sustentável, julgou-se necessário, pesquisar, descrever e analisar as trajetórias de jovens de

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uma Casa Familiar Rural (CFR), no caso, da Comunidade de Três Vendas – Catuípe/RS, buscando uma compreensão da participação social e empreendedora dos sujeitos desta pedagogia.

Considerando que as CFRs utilizam a noção de empreendedorismo como instrumento chave para oferecer uma perspectiva de desenvolvimento e permanência do jovem no campo e que esta noção traz um conjunto de novos valores e demandas para o jovem rural, este trabalho de pesquisa define o seguinte questionamento:

- Até que ponto a Pedagogia da Alternância pode se constituir numa proposta pedagógica viável para a implementação do empreendedorismo rural, de forma a contribuir com o desenvolvimento local sustentável?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Avaliar a Pedagogia da Alternância como prática educativa e empreendedora, analisando os resultados da formação em alternância na vida de egressos de uma Casa Familiar Rural e identificando - mediante atitudes de trabalho cooperativo, associativo e dos Projetos Profissionais dos Jovens - suas principais contribuições para o processo de desenvolvimento local sustentável.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Revisar a bibliografia no que se refere ao Empreendedorismo, a Educação Empreendedora, ao Desenvolvimento Sustentável e a Pedagogia da Alternância;

b) Examinar a Legislação Brasileira e a implementação da Pedagogia da Alternância como proposta pedagógica;

c) Caracterizar os Centros Familiares de Formação por Alternâncias (CEFFAs);

d) Traçar o perfil dos jovens que participam da formação por alternância e verificar se conseguiram implantar projetos empreendedores sustentáveis nas propriedades;

e) Descrever e analisar a trajetória de jovens da CFR de Três Vendas – Catuípe/RS, examinando sua inserção nos contextos familiar e local e as razões que os levaram a ingressar na CFR;

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f) Verificar se os jovens têm permanecido no meio rural e de que forma expressam ações que contribuem para o processo de desenvolvimento local sustentável.

1.4 Justificativa

Com a evolução da sociedade, o sistema educacional precisa tornar mais flexíveis, criativas e inovadoras as metodologias de ensino. Nesse sentido, Malheiros (2004), defende que para o ensino do Empreendedorismo ser eficiente, é necessário que o professor adote metodologias de ensino diferentes das metodologias adotadas no ensino tradicional. Sendo que essas metodologias devem levar os alunos a perceberem sobre si mesmos, reconhecendo a necessidade de desenvolverem competências que sejam capazes de identificar caminhos que os levem ao sucesso, seja em suas vidas particular, social ou de negócios.

A inclusão do empreendedorismo no currículo escolar pode ser feita por meio de projetos de trabalho, que incentivam a formulação e a resolução de problemas, a interação, a inventividade, a investigação e a globalização, permitindo maior compreensão da realidade pessoal e coletiva, aproximando a escola da vida e considerando o aluno como agente de seu processo de aprendizagem (DOLABELA, 2008).

Ante esta perspectiva, a Pedagogia da Alternância surge como uma proposta educativa diferenciada, que tem como propósito contribuir para a manutenção do jovem no campo e para o desenvolvimento local sustentável. Trata-se de uma metodologia que inclui o jovem no processo educativo, valorizando o conhecimento prévio de cada um, e fazendo-o participar do processo. Gimonet (2007, p. 9), afirma que “visto de maneira mais global, o processo pedagógico baseado na alternância torna o jovem ator e não mero espectador de sua formação, sujeito ativo e não um simples objeto de ensino”. Uma educação que leva em consideração o indivíduo como um ser que constrói a sua própria história respeitando a autonomia e a dignidade de cada sujeito.

O processo ensino-aprendizagem é complexo, apresenta um caráter dinâmico e não acontece de forma linear O ato de ensinar-aprender deve ser um conjunto de atividades articuladas, nas quais os diferentes atores (professor e aluno) compartilham, cada vez mais, parcelas de responsabilidade e comprometimento. O estudante precisa assumir um papel cada vez mais ativo, descondicionando-se da atitude de mero receptor de conteúdos, buscando efetivamente conhecimentos relevantes aos problemas e aos objetivos da aprendizagem. O professor, enquanto facilitador do processo ensino-aprendizagem necessita desenvolver novas

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habilidades, como a vontade e a capacidade de permitir ao aluno participar ativamente de seu processo de aprendizagem.

Nesse contexto, a pedagogia da alternância tem como objetivo, priorizar a dignidade da pessoa como sujeito, levando em conta a sua totalidade como indivíduo e o que ela representa na sua história e no seu meio. Entretanto, somente por meio da disponibilidade e do respeito pelo potencial de cada ator será possível uma verdadeira transformação.

Na percepção de Arroyo (2004), a educação no meio rural passou a ser tratada como resíduo do sistema educacional brasileiro e, consequentemente, à população do campo foi negado o acesso aos avanços ocorridos nas últimas décadas no reconhecimento e garantia do direito à educação básica.

Embora mudanças tenham ocorrido, a educação praticada no meio rural foi uma adaptação da educação exercida nas escolas urbanas, pois não levou em consideração as peculiaridades do seu meio e as características sociais, ambientais, culturais do homem do campo.

Diante do exposto, a formação por alternância emerge como uma ação para ressignificar os conhecimentos, saberes e fazeres das realidades do campo, remetendo a possibilidade de superar as discrepâncias sociais e econômicas entre a escola urbana e rural. Nesse sentido, Estevam (2003, p. 13), alega que “a fórmula encontrada por agricultores e lideranças foi a criação de Casas Familiares Rurais, que têm como objetivo a formação profissional e pessoal do jovem agricultor, é uma proposta voltada para a defesa de uma formação escolar ligada à realidade local”.

Incluem-se também, nessa discussão, a importância e o papel da agricultura familiar, que vem ganhando força impulsionada através de debates embasados no desenvolvimento sustentável e na geração de emprego e renda. A Agricultura Familiar é uma forma de produção através da interação entre gestão e trabalho; são os próprios agricultores que dirigem o processo produtivo, trabalhando com a diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo trabalho assalariado.

No Brasil, cerca de quatro milhões de pequenas propriedades rurais empregam cerca de 80% da mão de obra do campo e produzem aproximadamente 60% dos alimentos consumidos pela população. Além disso, a agricultura familiar ocupa 30,5% da área total dos estabelecimentos rurais e produz 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) nacional (PRONAF, 2008).

Perante esse cenário, Gnoatto (2000) assegura que a pequena propriedade, denominada de agricultura familiar, se identifica plenamente com os princípios da Pedagogia da

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Alternância porque possibilita aos jovens aliarem períodos de trabalho na propriedade e de estudo na escola, fazendo com que esses agricultores permaneçam junto à família e continuem tendo acesso à escolarização, a novas tecnologias, bem como, a outras atividades econômicas que proporcionem aumento de renda na propriedade e uma melhor qualidade de vida.

Abramovay (1998) julga ser a agricultura familiar o viés para o desenvolvimento das famílias agricultoras, num processo de modernização e entrada no mercado. O autor defende alternativas que possibilitem não apenas a opção de ficar no campo, mas um ambiente capaz de estimular projetos inovadores e consistentes, cujas chances de afirmação em mercados dinâmicos sejam elevados. Nessa perspectiva, sugere que os futuros agricultores serão cada vez mais pluriativos, suas rendas dependerão da agricultura e de outras atividades, entre as quais, as voltadas à valorização da própria biodiversidade existente no meio rural. Quanto mais os jovens estiverem preparados, maiores serão suas chances de realização pessoal e profissional.

A Pedagogia da Alternância adotada nas Casas Familiares Rurais deve estar vinculada e inserida na dinâmica de desenvolvimento local sustentável. A integração Escola-Comunidade é importante porque existe uma interligação entre a escola, o desenvolvimento e o projeto de vida do aluno. A família do agricultor e do jovem, ou a comunidade em que ela está inserida, só progride ou se desenvolve se os seus membros receberem uma preparação adequada. Logo, uma educação de qualidade favorece a inserção do jovem no meio e leva-o a gerar mudanças. Nascimento (2001, p. 98) considera que: “a educação cria condições indispensáveis ao desenvolvimento. Por sua vez, este obriga que o processo de aprendizagem se modifique. Enfim, educação e desenvolvimento podem desempenhar papéis vitais na sua relação”.

Portanto, a educação rural hoje assume um importante papel para o desenvolvimento das comunidades rurais, pois é através de sua ação-construção educativa que as comunidades escolares do campo buscam uma maior integração social, cultural e econômica além de ser um veículo difusor de conhecimento e saberes sociais. Neste contexto, a escola deve assumir o seu papel como elo integrador das trocas dos saberes e técnicas que apontem para uma nova proposta de desenvolvimento: o desenvolvimento rural sustentável.

Considerando as afirmações já citadas, a realização do estudo a que se propõe esse trabalho, contribuirá para as discussões sobre a educação do campo, educação empreendedora, desenvolvimento sustentável, juventude rural e Pedagogia da Alternância. Além de servir como subsídio para fomentar outros trabalhos relacionados à área em questão

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ou suscitar novos projetos relacionados ao tema proposto e à linha de pesquisa do Mestrado. A temática em questão também se insere nos interesses do Grupo de Estudos e Pesquisas em Organizações, Gestão e Aprendizagem – GEPOG.

A elaboração deste trabalho encontra-se embasado em estudos já realizados – periódicos, livros, dissertações e teses - abordando a temática em questão, dentre estes destacam-se: NOSELLA (1977); GIMONET (1984); GNOATTO (2000); SILVA (2000); ZAMBERLAN (2003); BEGNAMI (2003).

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

A revisão da literatura tem como principal finalidade construir o referencial teórico que serviu para fundamentar a compreensão da área em estudo, evidenciar como o assunto foi abordado e analisado em estudos anteriores e que embasaram a busca das variáveis e da solução do problema proposto.

A investigação bibliográfica está dividida em quatro subtópicos: Empreendedorismo, Educação Empreendedora, Desenvolvimento Sustentável e Pedagogia da Alternância.

2.1 Empreendedorismo

O conceito de Empreendedorismo é bastante amplo e pode ser visto de diferentes perspectivas.

Apesar de ser um assunto em voga, de grande interesse científico e econômico atual, pesquisas indicam que as raízes de sua origem estão no século XVI, provavelmente na França, conforme afirma Friedlander (2004, p. 50):

O termo empreendedorismo teve sua origem na França e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo. Surgiu no início do século XVI designando os homens envolvidos na coordenação de operações militares. Mais tarde, por volta de 1700, o termo começou a ser utilizado naquele país para as pessoas que se associavam com proprietários de terras e trabalhadores assalariados. Contudo, este termo era também usado nessa época para denominar outros aventureiros tais como construtores de pontes, empreiteiros de estradas ou arquitetos, enfim, pessoa que criava e conduzia projetos e empreendimentos.

Enquanto que para Dolabela (2008, p. 59), Empreendedorismo é um neologismo derivado da livre tradução da palavra entrepreneurship, utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades, seu universo de atuação:

A palavra Empreendedor de emprego amplo é utilizada também para designar principalmente as atividades de quem se dedica à geração de riquezas, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do próprio conhecimento ou na inovação em áreas como Marketing, produção, organizações (...).

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Por sua vez, Barreto (1998, p.13) define Empreendedorismo como sendo uma habilidade de criar e constituir algo a partir de muito pouco ou de quase nada. É o desenvolver de uma organização em oposição a observá-la ou descrevê-la. Ainda, segundo o autor “empreendedorismo é também a sensibilidade individual para perceber uma oportunidade quando outros enxergam o caos, a contradição e a confusão”.

Na visão de Franco (2000), empreendedorismo é uma espécie de protagonismo social, que promove a ruptura de laços de dependência. É uma crença na própria capacidade de construir o desenvolvimento por meio da cooperação entre os diferentes âmbitos político-sociais. É assumir a responsabilidade pela construção de seu próprio destino. Aqui, estão embutidos dois conceitos importantes: a capacidade da comunidade de tornar dinâmicas as suas potencialidades e a localidade como palco do desenvolvimento, isto é, como espaço para o exercício de novas formas de solidariedade, parceria e cooperação. Um ambiente de preparação para a vida, e não de formação para um emprego.

Filion (1997, p. 63) entende que empreendedorismo é o campo que estuda o empreendedor, examinando suas características, seus efeitos socioeconômicos e os métodos utilizados para facilitar a expressão da atividade empreendedora. Para o autor, o significado da palavra empreendedor muda de acordo com o país e a época:

No fim do século XVII, empreender era “a firme resolução de fazer qualquer coisa”. No século XIX e inicio do século XX, o termo significava os grandes capitães de indústria, tais como Ford nos EUA, Peugeot na França, Cadbury na Inglaterra, Toyota no Japão. Atualmente, significa a atividade de toda pessoa que está na base de uma empresa, desde o franqueado ou o dono de uma oficina mecânica até aquele que criou e desenvolveu uma multinacional.

Na literatura sobre empreendedorismo, há muitas definições do termo empreendedor, em virtude das contribuições de estudiosos de diversas áreas do conhecimento, já que os diferentes especialistas utilizam os princípios de suas próprias áreas de atuação e estudo para construir o conceito.

Os economistas associam os empreendedores à inovação e ao seu papel fundamental no crescimento econômico. Os engenheiros de produção os veem como bons distribuidores e coordenadores de recursos. Os financistas os definem como alguém capaz de calcular riscos. Os especialistas em gerenciamento os consideram como organizadores competentes e desembaraçados. Os comportamentalistas atribuem-lhes as características de criatividade, persistência e poder de persuasão. Os profissionais de marketing os caracterizam como

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indivíduos que identificam oportunidades e preocupam-se com o consumidor (ANDRADE, 2004).

No entanto, duas correntes apresentam elementos comuns à maioria delas. São as correntes consideradas pioneiras no campo do estudo do empreendedorismo: os economistas, que associaram o empreendedor à inovação, e os comportamentalistas, que enfatizam aspectos atitudinais, como a criatividade e a intuição. Dois economistas, Cantilon (1755) e Jean-Baptiste Say (1803), dedicaram atenção à criação de novas empresas e seu gerenciamento.

No início do Século XVIII, quando surgiu a escola do “pensamento econômico”, havia a noção de que empreendedor era o proprietário capitalista, um fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que se interpõe entre o trabalhador e o consumidor, era alguém que visava somente produzir dinheiro. Na segunda metade do Século XVIII, o economista Cantillon foi o primeiro a definir as funções do empreendedor. Ele tinha uma noção que se assemelha às de muitos autores contemporâneos. O termo se referia à pessoas que compravam matérias-primas (geralmente um produto agrícola) e as vendiam a terceiros, depois de processá-las. Identificando, portanto, uma oportunidade de negócios e assumindo riscos. Say (1803) foi mais além e considerou o desenvolvimento econômico como resultado da criação de novos empreendimentos (DOLABELA, 2008).

Jean-Baptiste Say, autor da Lei de Mercados ou Lei de Say, escreveu o livro “Tratado de Economia Política” no qual define o empreendedor como o responsável por reunir todos os fatores de produção e descobrir no valor dos produtos a reorganização de todo o capital que ele emprega. Filion (1997) considera Say o pai do empreendedorismo. Say (1803) associou os empreendedores à inovação e os caracterizou como agentes de mudanças, concepção que permanece até hoje.

Entretanto, foi o economista Schumpeter (1930), com a publicação da obra “Teoria do Desenvolvimento Econômico” quem deu projeção ao tema, associando o empreendedorismo à inovação e apontando-o como o elemento que explica o desenvolvimento econômico. Na compreensão de Schumpeter, toda a constituição do desenvolvimento aparece na esfera da vida industrial e comercial, e não na contextura das necessidades dos consumidores de produtos finais:

(...) é o produtor que, via de regra, inicia a mudança econômica, e os consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daqueles que tinham o hábito de usar (SCHUMPETER, 1982; p.48).

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O desenvolvimento, para Schumpeter é, sobretudo, a realização de novas combinações produtivas descontínuas.

De acordo com Filion (1997), Max Weber (1930) foi um dos primeiros pesquisadores do grupo comportamentalista a mostrar interesse pelos empreendedores. Weber identificou o sistema de valores como um elemento fundamental para a explicação do comportamento empreendedor e enxergava os empreendedores como pessoas dotadas de inovação em suas ideias, profissionais independentes cujo trabalho de liderança nos negócios tornava-se uma fonte formal de autoridade.

No entanto, o pesquisador que verdadeiramente iniciou a contribuição das ciências do comportamento para o estudo do empreendedorismo foi David C. MacClelland (1961). Sua contribuição baseia-se no fato de que o ser humano tende a repetir modelos, o que em muitos casos influencia na motivação para alguém ser empreendedor. Partindo de exemplos de sucesso, como os heróis do passado, os indivíduos buscariam capacitar-se para superar obstáculos e aumentar os limites do possível, gerando uma forte necessidade de realização que era associada aos empreendedores. McClelland entendia que a necessidade de realização é “o desejo de fazer algo melhor ou mais eficientemente do que já tenha feito anteriormente” (McCLELLAND, 1976, p.100).

Porém, no entendimento de Dolabela (2008), há críticas em relação a essa teoria da necessidade de realização proposta por MacClelland, por não estarem explícitas as estruturas sociais que determinam as escolhas de cada indivíduo. Isso quer dizer que é difícil imaginar o êxito empreendedor baseando-se apenas na necessidade de realização, devido ao fato dessa necessidade ser definida por valores mutáveis, existentes em uma dada sociedade, em um dado momento. Alguns autores acham que a necessidade de realização é insuficiente para explicar a criação de novos empreendimentos, enquanto outros acham que ela não é o bastante para explicar o sucesso dos empreendedores.

Na concepção de Sen (2000) julgar o bem estar de uma pessoa exclusivamente a partir da felicidade ou da satisfação de desejos é fazê-lo de forma limitada e prejudicial.

Uma segunda crítica apontada à teoria de McClelland sobre a necessidade de realização, segundo Filion (1997), está relacionada à sua simplicidade. McClelland tentou explicar o desenvolvimento social e a prosperidade usando somente dois fatores principais: a necessidade de realização e a necessidade de poder. Enquanto estudos apontam para uma grande variedade de fatores que explicam o desenvolvimento das sociedades e civilizações.

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Entretanto, apesar de inúmeras críticas a McClelland, este estudioso proporcionou contribuições nas discussões sobre o tema, pois tentou mostrar que os seres humanos tendem a repetir seus modelos, o que, em muitos casos, tem influência na motivação para alguém ser empreendedor. Quanto mais o sistema de valores de uma sociedade distinguir positivamente a atividade empreendedora, maior será o número de pessoas que tenderão a optar por empreender:

(...) se tudo for igual, quanto mais empreendedores uma sociedade tiver e quanto maior for o valor dado, nessa sociedade, aos modelos empresariais existentes, maior será o número de jovens que optarão por imitar esses modelos, escolhendo o empreendedorismo como uma opção de carreira. (FILION, 1997, p. 9).

É interessante notar, que, nas várias tentativas de teorização do campo do empreendedorismo, ainda predomina a vinculação que Schumpeter fez entre empreendedor e inovação. Empreendedor é alguém que faz novas combinações de elementos criando novos produtos, novos métodos de produção, identificando novos mercados de consumo ou fontes de suprimento, criando novos tipos de organização e sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais caros. O empreendedor é o responsável pelo processo de destruição criativa, o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista:

Produzir novas coisas não é apenas um processo distinto, mas é um processo que produz consequências, as quais formam uma parte essencial da realidade capitalista. A completa história econômica do capitalismo seria diferente do que é se novas ideias tivessem sido regular e correntemente adotadas, naturalmente por todas as firmas para cujos negócios elas fossem relevantes. Mas isso não aconteceu. Na maioria dos casos, apenas um homem ou alguns deles veem as novas possibilidades e estão aptos a lutar contra as resistências e dificuldades com que a ação sempre se encontra, fora dos caminhos normais da prática (SCHUMPETER, 1976: 36).

Apesar do crescente interesse nacional e internacional nos empreendedores, em quem eles são e em como causam impacto em uma economia, ainda não surgiu uma definição concisa e internacionalmente aceita. Apesar de popularizado pela importação do inglês, empreendedorismo vem de entrepreneur, palavra francesa que, literalmente traduzida, significa “aquele que está entre” ou “intermediário”. No entendimento de Dornelas (2001, p.14), empreendedor quer dizer “aquele que assume riscos e começa algo novo”.

A definição de empreendedor evoluiu com o decorrer do tempo, à medida que a estrutura econômica mundial mudava e tornava-se mais complexa. Desde seu início, na

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Idade Média, quando era usada para se referir a ocupações específicas, a noção de empreendedor foi refinada e ampliada, passando a incluir conceitos relacionados com a pessoa, em vez de com sua ocupação.

Hisrich e Peters (2004, p.27-28) descrevem o desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor, desde o Período Inicial até o Século XX.

Período Inicial – Um exemplo inicial da primeira definição de empreendedor como “intermediário” é Marco Polo, que tentou estabelecer rotas comerciais para o Extremo Oriente. Como “Intermediário” Marco Polo assinava um contrato com uma pessoa de recursos para vender suas mercadorias. Um contrato comum na época oferecia um empréstimo para o comerciante aventureiro a uma taxa de 22,5%, incluindo seguro. Enquanto o capitalista corria riscos passivamente, o comerciante aventureiro assumia o papel ativo no negócio, suportando todos os riscos físicos e emocionais. Quando o comerciante aventureiro era bem sucedido na venda das mercadorias e completava a viagem, os lucros eram divididos, cabendo ao capitalista a maior parte (até 75%), enquanto o comerciante ficava com os 25%.

Idade Média – O termo empreendedor foi usado para descrever tanto um participante quanto um administrador de grandes projetos de produção. Em tais projetos, esse indivíduo não corria riscos: simplesmente administrava o projeto usando os recursos fornecidos, geralmente pelo governo do país. Um típico empreendedor da Idade Média era o clérigo – a pessoa encarregada de obras arquitetônicas, como castelos e fortificações, prédios públicos, abadias e catedrais.

Século XVII – A conexão de risco com empreendedorismo desenvolveu-se no século XVII, com o empreendedor sendo a pessoa que ingressava em um acordo contratual com o governo para desempenhar um serviço ou fornecer produtos estipulados. Como o valor do contrato era fixo, quaisquer lucros ou prejuízos eram do empreendedor. Um empreendedor desse período foi John Law, francês que conseguiu permissão para estabelecer um banco real. O banco evoluiu para uma franquia exclusiva, formando uma empresa comercial no Novo Mundo – a Mississipi Company. Infelizmente, esse monopólio sobre o comércio francês levou à ruína de Law quando este tentou aumentar o valor das ações das empresas para mais do que o valor de seu patrimônio, levando a mesma ao colapso.

Richard Cantillon, economista e escritor nos anos 1700, compreendeu o erro de Law. Cantillon desenvolveu uma das primeiras teorias do empreendedor e é considerado por alguns o criador do termo. Ele viu o empreendedor como alguém que corria riscos,

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observando que os comerciantes, fazendeiros, artesãos e outros proprietários individuais “compram a um preço certo e vendem a um preço incerto, portanto operam com risco”.

Século XVIII – Neste século a pessoa com capital foi diferenciada daquela que precisava de capital. O empreendedor foi diferenciado do fornecedor de capital. Uma das causas para tal diferenciação foi a industrialização. Muitas das invenções desenvolvidas durante esse período eram reações às mudanças no mundo, como foi o caso das invenções de Eli Whitney e de Thomas Edison. Tanto Whitney quanto Edison estavam desenvolvendo novas tecnologias e eram incapazes de financiar suas invenções. Os dois eram usuários de capital (empreendedores), e não fornecedores (investidores de risco). Um investidor de risco é um administrador profissional de dinheiro que faz investimentos de risco a partir de um montante de capital próprio para obter uma alta taxa de retorno sobre os investimentos.

Séculos XIX e XX – No final do século XIX e início do século XX, não se distinguia empreendedores de gerentes, e aqueles eram vistos a partir de uma perspectiva econômica. Andrew Carnegie é um dos melhores exemplos dessa definição. Carnegie adaptou e desenvolveu nova tecnologia na criação de produtos para alcançar vitalidade econômica. Carnegie, que descendia de uma família escocesa pobre, fez da indústria americana do aço uma das maravilhas do mundo industrial, primeiramente por intermédio de sua infatigável busca por competitividade, em vez de inventividade ou criatividade.

Em meados do século XX, estabeleceu-se a noção de empreendedor como inovador, conforme evidencia Schumpeter (1952) apud Hisrich e Peters (2004, p.28):

A função do empreendedor é reformar ou revolucionar o padrão de produção explorando uma invenção ou, de modo mais geral, um método tecnológico não experimentado, para produzir um novo bem ou um bem antigo de uma maneira nova, abrindo uma nova fonte de suprimento de materiais, ou uma nova comercialização para produtos, e organizando um novo setor.

Na concepção dos referidos autores, a inovação, o ato de lançar algo novo, é uma das mais difíceis tarefas para o empreendedor. Exige não só a capacidade de criar e conceitualizar, mas também a capacidade de entender todas as forças em funcionamento no ambiente. A novidade pode ser desde um novo produto e um novo sistema de distribuição, até um método para desenvolver uma nova estrutura organizacional.

Essa capacidade de inovar pode ser observada no decorrer da história, desde os egípcios, que criaram e construíram grandes pirâmides com blocos de pedra que pesavam

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toneladas, até o módulo lunar Apolo e os raios lasers. Embora as ferramentas tenham mudado com os avanços na ciência e na tecnologia, a capacidade de inovar está presente em todas as civilizações.

Drucker (2008, p.25), defende a ideia da prática da inovação entrelaçada ao empreendedorismo, ao expressar que:

A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente. Ela pode bem ser apresentada como uma disciplina, ser apreendida e ser praticada. Os empreendedores precisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação tenha êxito. E os empreendedores precisam conhecer e pôr em prática os princípios da inovação bem sucedida.

É a mudança que proporciona a oportunidade para o novo e o diferente. A inovação, portanto, consiste na busca deliberada e organizada de mudanças, e na análise sistemática das oportunidades que tais mudanças podem oferecer para a inovação econômica ou social.

2.1.1 Características do Empreendedor

Desde que o empreendedorismo emergiu como campo de estudo, a pergunta que os pesquisadores se fazem é: quais são as características dos empreendedores? Como, afinal, descobrir quem realmente é o empreendedor. Filion (1997) acredita que as características variam de acordo com as atividades que o empreendedor executa em uma dada época ou em função da etapa de crescimento da empresa. Isto explica por que os pesquisadores apresentam resultados diferentes em suas pesquisas.

Há várias décadas, os empreendedores vêm sendo descritos como indivíduos internamente motivados para atuar de maneira empreendedora, sendo mais autoconfiantes e mais desejosos de independência e autonomia do que as pessoas não-empreendedoras. Também demonstram forte predisposição pessoal para o progresso, sendo menos permeáveis a atitudes fatalistas sobre o futuro e sobre as próprias condições para enfrentar os fatores adversos do meio. Tendem a acreditar na capacidade do ser humano de forjar o próprio destino, melhorar o ambiente externo e encarar situações difíceis como desafios (ANDRADE, 2004).

Referências

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