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Anexo 11. Termo de Responsabilidade e Autorização de Veiculação de Imagens e

2.3.1 Desenvolvimento Sustentável

O termo “desenvolvimento sustentável” surgiu a partir de estudos da Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, como uma resposta para a humanidade perante a crise social e ambiental pela qual o mundo passava a partir da segunda metade do século XX. Na Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), também conhecida como Comissão de Brundtland, presidida pela norueguesa Gro Haalen

Brundtland, no processo preparatório a Conferência das Nações Unidas – também chamada

de “Rio 92” foi desenvolvido um relatório que ficou conhecido como “Nosso Futuro Comum”. Tal relatório contém informações colhidas pela comissão ao longo de três anos de pesquisa e análise, destacando-se as questões sociais, principalmente no que se refere ao uso da terra, sua ocupação, suprimento de água, abrigo e serviços sociais, educativos e

sanitários, além de administração do crescimento urbano. Neste relatório está exposta uma das definições mais difundidas do conceito: “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (BARBOSA, 2008).

O Relatório Brundtland considera que a pobreza generalizada não é mais inevitável e que o desenvolvimento de uma cidade deve privilegiar o atendimento das necessidades básicas de todos e oferecer oportunidades de melhora de qualidade de vida para a população. Um dos principais conceitos debatidos pelo relatório foi o de “equidade” como condição para que haja a participação efetiva da sociedade na tomada de decisões, através de processos democráticos, para o desenvolvimento urbano.

O relatório ainda ressalta, em relação às questões urbanas, a necessidade de descentralização das aplicações de recursos financeiros e humanos, e a necessidade do poder político favorecer as cidades em sua escala local. No tocante aos recursos naturais, avalia a capacidade da biosfera de absorver os efeitos causados pela atividade humana, e afirma que a pobreza já pode ser considerada como um problema ambiental e como um tópico fundamental para a busca da sustentabilidade.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi firmado na Agenda 21, documento desenvolvido na Conferência “Rio 92”, e incorporado em outras agendas mundiais de desenvolvimento e de direitos humanos, mas o conceito ainda está em construção segundo a maioria dos autores que escrevem sobre o tema, como por exemplo, Sachs (2004) e Veiga (2005).

Apesar de ser um conceito questionável por não definir quais são as necessidades do presente, nem quais serão as do futuro, o Relatório de Brundtland chamou a atenção do mundo sobre a necessidade de se encontrar novas formas de desenvolvimento econômico, sem a redução dos recursos naturais e sem danos ao meio ambiente. Além disso, definiu três princípios básicos a serem cumpridos: desenvolvimento econômico, proteção ambiental e equidade social. Mesmo assim, o referido relatório foi amplamente criticado por apresentar como causa da situação de insustentabilidade do planeta, principalmente, o descontrole populacional e a miséria dos países subdesenvolvidos, colocando somente como um fator secundário a poluição ocasionada nos últimos anos pelos países desenvolvidos.

O III Relatório do Clube de Roma (1976) afirma que “muito antes de esgotarmos os limites físicos do nosso planeta ocorrerão graves convulsões sociais provocadas pelo grande desnível existente entre a renda dos países ricos e dos países pobres”.

Em 1986 a Conferência de Ottawa (Carta de Ottawa, 1986) estabelece cinco requisitos para se alcançar o desenvolvimento sustentável:

- integração da conservação e do desenvolvimento; - satisfação das necessidades básicas humanas; - alcance de equidade e justiça social;

- provisão da autodeterminação social e da diversidade cultural; - manutenção da integração ecológica.

Conforme a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988, 1991) os objetivos que derivam do conceito de desenvolvimento sustentável estão relacionados com o processo de crescimento das cidades e objetiva a conservação do uso racional dos recursos naturais incorporados às atividades produtivas. Entre esses objetivos estão:

- crescimento renovável;

- mudança de qualidade do crescimento;

- satisfação das necessidades essenciais por emprego, água, energia, alimento e saneamento básico;

- garantia de um nível sustentável da população; - conservação e proteção da base de recursos;

- reorientação da tecnologia e do gerenciamento de risco;

- reorientação das relações econômicas internacionais (CMMAD, 1988, 1991).

Neste debate emerge outra dimensão: a relação entre educação e desenvolvimento sustentável. A Educação, em todas as suas formas, pode moldar o mundo de amanhã, instrumentalizando indivíduos e sociedades com as habilidades, perspectivas, conhecimento e valores para se viver e trabalhar de maneira sustentável. O debate dos últimos anos abre portas para se questionar/investigar a natureza das experiências de articulação das ações educacionais desenvolvidas na escola com o conceito de desenvolvimento sustentável.

Educação para o desenvolvimento sustentável é um conceito dinâmico que compreende uma nova visão da educação que busca empoderar pessoas de todas as idades para assumir a responsabilidade de criar e desfrutar um futuro sustentável. Esta educação integra conceitos e ferramentas analíticas de uma variedade de disciplinas para auxiliar pessoas a compreenderem melhor o mundo em que vivem. Perseguir o desenvolvimento sustentável através da educação requer que educadores e educandos reflitam criticamente em suas próprias comunidades, identifiquem elementos inviáveis em suas vidas, e explorem tensões entre valores e objetivos conflitantes. A educação para o desenvolvimento traz uma

nova motivação para o aprendizado na medida em que os educandos tornam-se empoderados para desenvolver e avaliar visões alternativas de um futuro sustentável e concretizá-las coletivamente (UNESCO, 2002).

Para Veiga (2005), o desenvolvimento sustentável é considerado um enigma que pode ser dissecado, mesmo que ainda não resolvido. Em seu livro “Desenvolvimento Sustentável: o desafio para o século XXI”, o autor afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável é uma utopia para o século XXI, apesar de defender a necessidade de se buscar um novo paradigma científico capaz de substituir os paradigmas do “globalismo”.

Uma outra definição para “desenvolvimento sustentável” foi descrita por Satterthwaite (2004) como sendo a resposta às necessidades humanas nas cidades com o mínimo ou nenhuma transferência dos custos da produção, consumo ou lixo para outras pessoas ou ecossistemas, hoje e no futuro.

Além da Agenda 21, outro importante documento que foi escrito na “Rio 92”, com uma grande participação de organizações não governamentais e representantes da sociedade civil foi “A Carta da Terra”. Ela trás importantes ressalvas sobre o meio ambiente e foi retificada pela UNESCO e aprovada pela ONU em 2002:

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações (A CARTA DA TERRA, 2002).

Foram organizadas outras conferências mundiais a partir da Rio-92, como a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Johanesburgo, realizada dez anos mais tarde, na África do Sul.

Ante este cenário, Camargo (2004), faz um retrospecto sobre os dez anos que se passaram entre a Conferência do Rio e a da África do Sul e destaca que muitas foram as frustrações quanto as perspectivas positivas da Rio-92, mas o que avançou foi o

reconhecimento do desenvolvimento sustentável como uma possível e aceitável solução para os problemas ambientais e sociais enfrentados pelo mundo.

Entretanto, para Fernandes (2003), o conceito de desenvolvimento sustentável, como hoje é apresentado à sociedade, acaba por obscurecer aquele que deveria ser o verdadeiro foco do debate atual em todos os aspectos e não apenas no ambiental, a saber, as diferenças, entre grupos sociais e entre nações, causadas pela atual forma de organização social de produção, ou seja, o atual sistema econômico de mercado.

Lima (2003) contribui com tal visão, ao apontar que não há sustentabilidade possível sem a incorporação das desigualdades sociais e políticas e de valores éticos de respeito à vida e às diferenças culturais.

Nessa direção, Fernandes (2003) analisa o presente debate sobre a busca pelo desenvolvimento sustentável como uma forma de legitimação e manutenção do poder pelos países dominantes, uma vez que o discurso prevê a necessidade de controle e manutenção do meio ambiente sem apontar que no presente a grande massa de países do globo apresenta preponderância de baixas rendas, níveis inaceitáveis de acesso à saúde, baixos níveis de escolaridade e baixas quantidades diárias de consumo per capita de proteínas.

Para Sachs (2004), o desenvolvimento sustentável está estruturado a partir de cinco pilares:

a) o Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso planeta;

b) o Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como “recipientes” para a disposição de resíduos); c) o Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades;

d) o Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que as coisas aconteçam;

e) a Política, pois a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem, a liberdade faz toda a diferença. (SACHS, 2004, p. 15-16).

Segundo o autor, o pilar social é extremamente importante, pois ele abrange a visão de que as más situações sociais em muitos lugares do mundo estão relacionadas ao descaso das autoridades, frente à desigualdade social acumulada ao longo dos anos. A questão ambiental, considerada o segundo pilar, é importante por causa de duas dimensões: a de fornecedor de recursos para a sustentação da vida e a de agente recebedor dos resíduos que voltam para a natureza. O pilar territorial está ligado à distribuição espacial de recursos

naturais, da população e das atividades desenvolvidas. É nessa questão que estão caracterizados a má distribuição de terra e o crescimento urbano desordenado.

A questão econômica é importante, pois é ela que viabiliza o acontecimento dos fatos. O crescimento econômico não deve ser tratado apenas como meio de acúmulo de capital; ele deve ter a principal finalidade de viabilizar a melhora na qualidade de vida das pessoas e proporcionar a instalação do desenvolvimento sustentável. O último pilar, de acordo com Sachs (2004), é o político, um governo democrático é de extrema importância para viabilizar os acontecimentos. Esses cinco pilares formam um conjunto de ações que, quando progridem simultaneamente, são capazes de reger a evolução do desenvolvimento sustentável, trazendo benefícios para a população e também para a natureza.

Silva (2005, p. 38), acerca do desenvolvimento sustentável, conclui que:

O conceito de desenvolvimento sustentável deve ser visto como uma nova forma de enxergarem, teoricamente, os fatos. A sociedade evolui esteada em sua inter- relação nas dimensões sociais, ambientais, culturais, econômicas e espaciais e, por isso, não se pode analisar, parcialmente, o processo de desenvolvimento. Visto esse processo como um sistema adaptativo complexo, nota-se que as mudanças são irreversíveis e contínuas, ampliando a responsabilidade de toda sociedade com o seu presente e com o das futuras gerações. Essa responsabilidade demanda ações construtivas de uma base de discussão teórica e aplicada que se sustenta na busca contínua da evolução da sociedade e das alternativas decisórias, com as quais conta para otimizar os recursos existentes, considerando as dimensões inter- relacionadas, com a intenção de avançar de forma harmoniosa para o objetivo da sustentabilidade.

Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento em longo prazo e do reconhecimento de que os recursos naturais do planeta são finitos e de todos. Em suma, o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento economicamente viável, ambientalmente adequado e socialmente justo para toda a humanidade. No entanto, isto não significa interromper o crescimento econômico, mas de eleger um caminho que garanta o desenvolvimento integrado e participativo e que considere a valorização e o uso racional dos recursos naturais.

O desenvolvimento sustentável sugere a necessidade de mudanças de paradigmas, desafio da mudança dos padrões de consumo atuais e produção, melhoria da qualidade de vida das pessoas, da redução do uso de matéria primas e produtos e do aumento da reutilização e da reciclagem.

Em outro sentido, para os defensores do modelo econômico atual, as tragédias ou problemas mencionados são apresentados como fatalidades ou “acidentes de percurso" do processo necessário de desenvolvimento industrial. Entretanto, o agravamento dos problemas ambientais está ligado a escolhas feitas no que diz respeito à forma como o conhecimento técnico-científico vem sendo aplicado no processo produtivo. Sendo assim, as catástrofes e danos ao meio ambiente não são acontecimentos inesperados e sim uma característica inerente à modernidade que mostra, acima de tudo, a incapacidade do conhecimento construído neste século de controlar os efeitos gerados exatamente pelo desenvolvimento industrial.

Ulrich Beck (1992), no trabalho denominado Risk Society, towards a new modernity (Sociedade de Risco, em direção a uma nova modernidade), apresenta uma nova perspectiva para a compreensão dos impactos dos danos ambientais para a modernidade. Para o autor, a produção social da riqueza na modernidade é acompanhada por uma produção social do risco. O processo de industrialização é indissociável do processo de produção de riscos, uma vez que uma das principais consequências do desenvolvimento científico industrial é a exposição da humanidade a riscos e a inúmeras modalidades de contaminação nunca observados anteriormente, constituindo-se em ameaças para os habitantes e para o meio ambiente (DEMAJOROVIC, 1995).

Agrava o problema a percepção de que os riscos gerados hoje não se limitam à população atual, uma vez que as gerações futuras também serão afetadas e talvez de forma ainda mais dramática. A multiplicação das ameaças de natureza socioambiental, argumenta Beck (1992), faz com que a clássica sociedade industrial esteja sendo substituída pela nova Sociedade de Risco. Se a primeira era caracterizada pelos conflitos em relação à produção e distribuição da riqueza, a segunda está baseada no conflito em torno da produção e distribuição de riscos.

Porém, ao se definir desenvolvimento sustentável também está se discutindo o que é sustentabilidade.

Para alguns autores como Cavalcanti (2003), sustentabilidade significa a possibilidade de se obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado ecossistema. Para este autor, as discussões atuais sobre o significado do termo desenvolvimento sustentável mostram que se está aceitando a ideia de colocar um limite para o progresso material e para o consumo, antes visto como ilimitado, criticando a ideia de crescimento constante sem preocupação com o futuro.

Nesta perspectiva, Cavalcanti (2003), afirma que o Desenvolvimento Sustentável tem seis aspectos prioritários que devem ser entendidas como metas:

a) A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, etc);

b) A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver);

c) A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal);

d) A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc);

e) A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo, os índios);

f) A efetivação dos programas educativos.

Para ser sustentável, com efeito, o sistema econômico deve possuir uma base estável de apoio. Isto requer que as capacidades e taxas de regeneração e absorção sejam respeitadas. Se não for assim, o processo econômico vai se tornar irremediavelmente insustentável. Uma estratégia de desenvolvimento sustentável é, portanto, na visão de Cavalcanti (2003), necessária para a formulação de política que leve a natureza em conta como um fator restritivo, cuja produtividade deve ser maximizada no curto prazo, cuja disponibilidade deve ser preservada no futuro distante e cuja integridade não pode ser deformada.

Enfim, a sustentabilidade consiste em encontrar meios de produção, distribuição e consumo dos recursos existentes de forma mais coesiva, economicamente eficaz e ecologicamente viável.