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Anexo 11. Termo de Responsabilidade e Autorização de Veiculação de Imagens e

4. A INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA – APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS E

4.3 A Casa Familiar Rural e o Projeto Profissional de Vida: Contribuições para a

A implementação do Projeto Profissional do Jovem é, talvez, um dos maiores desafios da Casa Familiar Rural. Ele aporta em si um potencial de empreendimento, possibilidade de geração de renda, emprego e, consequentemente, perspectiva de qualidade de vida no meio rural ou onde quer que o jovem esteja.

O Projeto Profissional de Vida do Jovem é o resultado de uma análise minuciosa da situação histórico-familiar da infraestrutura para a produção agropecuária, do planejamento produtivo, das condições ambientais e climáticas, das políticas públicas, da realidade do comércio e do mercado consumidor, dos aspectos cultural-artísticos, entre outros, que caracterizam a realidade do jovem, no âmbito familiar, do seu município e de sua região que,

aliados aos conhecimentos proporcionados pela proposta metodológica da CFR, a aptidão do jovem, a motivação e planejamento, constituem sua proposta de inserção profissional.

Para desenvolver este estudo, foram estabelecidos alguns objetivos específicos, entre estes: destacar a importância do Projeto Profissional de Vida como um elemento articulador entre a formação do jovem e sua atuação no meio rural e analisar a relação entre o Projeto Profissional de Vida do Jovem e a permanência deste no meio rural.

Para isso, fez-se uma pesquisa de campo do tipo exploratória, visando analisar o Projeto Profissional dos jovens formandos da Casa Familiar Rural. Foi realizado um levantamento junto às famílias dos jovens, através de visitas às mesmas, verificando se os jovens estão aplicando o Projeto Profissional, quais temáticas abordadas pelos mesmos e se estes permanecem e ou pretendem permanecer no meio rural.

A partir da vivência entre os jovens, durante o acompanhamento de algumas alternâncias na Casa Familiar Rural, no período de 2010 a 2012, mais as entrevistas realizadas com os jovens da CFR e seus familiares, foi possível estabelecer uma investigação entre a pesquisadora, os jovens e integrantes da CFR (monitores, governanta, familiares, etc). O processo de pesquisa suscitou em material empírico significativo (observações, depoimentos, registros do cotidiano dos jovens na CFR e nas suas propriedades).

Para a realização deste estudo foram analisados dez Projetos Profissionais de Vida dos Jovens da Casa Familiar Rural de Três Vendas – Catuípe, listados no Quadro 02:

Quadro 2: Projetos Profissionais de Vida dos Jovens da Casa Familiar Rural, analisados.

Projeto Profissional Jovem (Família) Localidade

01 Melhoria no Manejo da Pecuária Leiteira na

Agropecuária de Conto Leandro de Conto

Linha Pedreira Cel. Barros/2008

02 Regulagem e Manutenção de Equipamentos

Agrícolas

Cléia M. Lambrecht Juliano M. Lambrecht

Linha 2 Norte – Ijuí/2010

03 Hortifrutigranjeiros Megier Fabio A. Kusiak Megier Linha Santana-

Ijuí/2012

04 Criação de Terneira Futura Matriz Jonas André Ruppel Linha 26 –

Ajuricaba

05 Implantação de Criação de Galinhas Poedeiras Camila Rafaela Ribas

Gabriel Lorenzo Ribas

Linha 20 – Ajuricaba

06 Áviário Bela Vista – Aves Poedeiras Juciê F. Libardi Andreatta

Cristiano Fritz Golardt

São João da Bela Vista – Jóia/2012 07 Implantação de Pastagem Perene e Melhoramento

Genético Tiago Ataídes Hoffmann

Linha 24 Norte Ajuricaba/2012

08 Agroindústria de Cana-de-açúcar Samoel Zaqueu do Amaral Linha 21 Norte-

Ajuricaba/2012

09 Melhoramento de Solos – Agricultura de Precisão Diéssica Mai Lambrecht Linha 2 Norte-

Ijuí/2012

10 Hidroponia Benetti Guilherme G. Benetti Vista Alegre –

Catuípe/2012

Entretanto, dentre os dez Projetos analisados, para fins de estudos aprofundados, caracterização e descrição das unidades de produção, foram selecionados quatro projetos, considerados relevantes para exposição individual.

Os recortes dos Projetos Profissionais de Vida dos Jovens: Leandro de Conto, Camila e Gabriel Ribas, Samoel do Amaral e Guilherme G. Benetti encontram-se em ANEXO.

Conforme exposto anteriormente, para verificar se os jovens da CFR conseguiram implantar seus Projetos Profissionais de Vida nas propriedades e se permanecem no meio rural, realizou-se visitas in loco nas propriedades, além de conversas com os jovens e seus familiares.

Figura 61: Visita à Família De Conto Figura 62: Visita à Propriedade Ribas

Fonte: Acervo da pesquisadora, 2012. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2012.

Pode-se afirmar que a Casa Familiar Rural, enquanto espaço educativo, não pretende ficar somente na observação e na análise crítica, mas estimular também os jovens a buscarem soluções aos problemas, transformando-os em atores do seu próprio desenvolvimento, mediante a verificação e a experimentação. Quando se fala em desenvolvimento sustentável da propriedade, está se considerando, principalmente elementos, tais como: a estabilidade, a permanência e viabilidade.

Analisando as propriedades dos sujeitos da pesquisa que implantaram seus projetos, pode-se assegurar que estes têm contribuído para a permanência dos jovens no meio rural. Além do mais, observa-se que as propriedades estão mais organizadas, mais estruturadas com atividades que geram renda às famílias, contribuindo para o desenvolvimento local. Na maioria das vezes, os jovens sentem orgulho em mostrar sua propriedade, suas atividades e

demonstrar também, que possuem capacidade para desenvolver a profissão de agricultor e implantar seu projeto de vida.

Pelo que se tem pesquisado sobre os Projetos Profissionais de Vida, construídos na CFR de Três Vendas, pode-se dizer que estes contribuíram significativamente para a melhoria da qualidade de vida dos jovens, de suas famílias e comunidades onde os mesmos estão inseridos, uma vez que, por meio dos conhecimentos e das experiências obtidos durante a permanência da CFR, o jovem adquire o desenvolvimento do senso crítico e da atitude empreendedora, mantendo-se no campo e desenvolvendo o seu Projeto.

O sucesso da implantação do Projeto Profissional de modo a gerar renda e sustentabilidade na propriedade depende do jovem e do apoio de sua família. A CFR acompanha e orienta.

(...) a CFR me fez perceber que é possível ter uma vida digna residindo no meio rural, me fez enxergar melhor minhas possibilidades e também o que podia fazer na minha propriedade para transformar minha realidade, da minha família e também da comunidade onde moramos (depoimento de uma jovem da CFR).

(...) quando tava estudando na CFR e fui desenvolver meu Projeto de Vida, falei com meu pai: eu quero fazer um projeto aqui que vai servir pra mim e pra nossa família melhorar de vida (...) mas preciso que o senhor me apoie, senão ele vai ficar só no papel. Aí fui conversando com ele e com a ajuda do pessoal da CFR, ele aceitou. Hoje o Projeto tá implantado e rendendo lucros (depoimento de um jovem da CFR).

A partir desses depoimentos, ficam evidentes as várias contribuições da Pedagogia da Alternância para o desenvolvimento sustentável, especialmente nas pequenas propriedades, onde a diversificação melhorou a qualidade da produção, diminuindo custos e gerando renda às famílias dos jovens.

(...) Hoje não basta plantar, colher de qualquer jeito. Tem que saber como cuidar da terra e como plantar. Precisa saber fazer a terra produzir, quanto custa a produção (...) tem que saber administrar a propriedade pra poder conseguir um bom produto e ainda ter lucro (fala de um jovem da CFR).

(...) antes de participar da CFR e utilizar as técnicas aprendidas, a gente só tinha um produto pra vender, que era a soja. Depois aprendemos a diversificar a produção, a gente notou que aumentou a renda. Se você souber trabalhar com a terra, tudo dá (fala de um jovem da CFR).

Quanto à percepção dos pais, a Pedagogia da Alternância é importante porque recupera o trabalho como virtude, pois o jovem além de estudar, também trabalha na CFR, participando das atividades desenvolvidas na Casa pelas equipes: alimentação, horta, limpeza, etc. Articula teoria e prática, trabalho e educação. A alternância permite a aproximação da CFR com a propriedade, onde não acontece simplesmente o repasse de conhecimento científico, mas a construção do conhecimento com base científica valorizando a realidade do jovem.

Enfim, é possível afirmar que os jovens que participam da Casa Familiar Rural, juntamente com suas famílias, passam a ser os grandes defensores e difusores da Pedagogia da Alternância, a partir, principalmente, da implantação e execução de seus projetos vivenciais.

Certamente o aumento da renda alcançado a partir da implantação dos projetos tem real impacto sobre o desenvolvimento local sustentável, porque melhoram a qualidade de vida das famílias e comunidades e contribuem para a criação de entrelaçamento social, mediante atitudes de trabalho cooperativo, associativo, solidário e a defesa do valor da família e o equilíbrio do meio ambiente.

Constatou-se que, em relação às famílias visitadas, a maioria dos pais são associados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, líderes sindicais, participantes das associações religiosas; as mães participam de Clubes de Mães das comunidades, da associação de mulheres agricultoras. Algumas se destacam enquanto líderes sindicais, voluntariado e na política, como é o caso da mãe de um egresso da CFR, eleita pela terceira vez consecutiva como vereadora.