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A Percepção dos Entrevistados sobre a Mudança da Renda nas

CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS

4.17. A Percepção dos Entrevistados sobre a Mudança da Renda nas

A realização de grandes obras públicas que objetivem promover o desenvolvimento sócio-econômico, em regiões que passaram por um longo processo histórico de 502 anos, que perpetrou e até acentuou as desigualdades sócio-econômicas, como o que aconteceu no Nordeste Brasileiro e, especialmente, no Estado do Ceará, deve estar absolutamente comprometida com o resgate dessa elevadíssima dívida social, no sentido de estabelecer metas claras e exeqüíveis para viabilizarem a distribuição da renda a ser gerada na região eleita para as inversões públicas. Essa condição de promover a distribuição da renda a ser gerada com a realização dos projetos de infra-estrutura, para ser eficaz e progressivamente alcançada, deve ser perseguida desde o seu início e, até a sua própria concepção, deveria espelhar tal propósito comum estabelecido pelos gestores do programa e também por agentes financiadores.

No caso em estudo do PRODETUR-NE e, por conseguinte do PRODETUR-CE, os vínculos maiores do financiador externo (ou seja, o BID), dos grupos políticos e econômicos que sustentavam e ainda sustentam o modelo neoliberal adotado pelo Governo Federal e pelos governos de todos os Estados nordestinos, quando da época da sua concepção, estavam intimamente ligados aos interesses econômicos dos megaempreendedores internacionais do setor de turismo, que provavelmente nunca estiveram, preocupados com a melhoria da qualidade de vida dos pobres (já que os ricos e abastados sempre mobilizaram vozes e instituições para os defenderem, manterem e até ampliarem seus privilégios). Especificamente não trabalham pela distribuição da renda gerada, começando pela falta de iniciativa em dividir seus próprios lucros com nenhuma das comunidades locais onde instalam suas megaempresas. O que se tem gerado é o inverso, traduzido em mais apartação social, degradação sócio-ambiental e aumento da concentração da renda, nesses lugares.

As pessoas entrevistadas se posicionaram, de forma clara, sobre as mudanças efetivas ocorridas em suas vidas e sobre a renda gerada durante os seis anos em que foram

desenvolvidos os projetos derivados do PRODETUR-CE 1a fase. Pelos relatos dessas pessoas, foi possível separar que a situação daqueles que receberam algum tipo de benefício do Governo Federal, como a Bolsa-Escola, a Bolsa-Renda, Vale-Gás, Seguro Desemprego no período do Defeso (janeiro a abril), e os pescadores e agricultores que passaram a receber a aposentadoria, a partir de 1995, são exatamente os mesmos que inclusive, pela falta de informação quanto à origem e os diferentes objetivos dos programas de combate à pobreza e de desenvolvimento regional (este último depois da extinção da SUDENE, nem existem mais), que são diferentes, porém complementares, foram confundidos como uma só coisa e, por terem as pessoas recebido alguma ajuda federal, consideram que a sua renda e condições de vida tiveram melhoras no período considerado. Os resultados obtidos neste item foram os seguintes (ver tabela 41):

• A maioria afirmou que houve uma pequena melhora da sua renda e das condições de vida, o que representou 76 pessoas ou 44,11% do total geral. O local de destaque foi Pecém, com 17 pessoas (ou 56,67% do total local), número este que causou um estranhamento e uma aparente falta de nexo, pela flagrante redução dos fluxos turísticos na localidade, como resultante da construção do Porto do Pecém e da colocação de molhes de proteção na praia que afugentaram os turistas e até os veranistas. Mas, em conseqüência, na época da construção do Porto e instalação de algumas empresas vinculadas ao mesmo, com a inclusão de algumas dessas pessoas nos programas sociais antes citados, favoreceu a performance de alguma melhora registrada.

• Uma parcela significativa dos entrevistados, representada por 60 pessoas ou 33,33% do total geral, afirmou que não houve alteração na renda e nas condições de vida no período escolhido, o que se traduziria na permanência do quadro deplorável de miséria e pobreza que existia antes de serem mobilizados os altíssimos volumes de recursos públicos contidos no PRODETUR-CE 1a fase. A comunidade destaque foi Baleia, com 14 pessoas (ou 46,67% do total local), que sendo a localidade mais distante de Fortaleza e a que tem uma estrutura de hospedagem composta por modestas pousadas, não recebeu os fluxos turísticos previstos e, com isso, não se geraram os empregos necessários à melhoria de vida dos moradores locais e não foram incentivadas as atividades tradicionais. O mesmo se

verificou em Paracuru, Cumbuco/Lagoa do Barro, Flecheiras e Lagoinha onde se verificaram altos registros, sendo exceção a comunidade de Pecém, com apenas uma pessoa que afirmou não ter havido alteração da renda no período.

• Uma parcela menor, porém um tanto considerável, de 23 pessoas que representam 12,78% do total geral, afirmou com muito desânimo que as condições de vida e renda gerada diminuíram um pouco, no período, fato que expõe uma contradição séria quanto aos propósitos desenvolvimentistas do PRODETUR-CE 1a fase que seria o da distribuição e não a concentração da renda na região elegida. O destaque ficou com Flecheiras, com 11 pessoas (ou 36,67% do total local), exatamente onde foi localizada uma área de extrema pobreza e em estado deplorável de abandono pelas autoridades. São as mesmas pessoas que foram expulsas de suas casas, na beira da praia, para morarem em um local conhecido como Barreiro, carente de todos os serviços básicos (uma verdadeira favela, numa área não urbana). Sua renda declina, por não estarem todos os pobres inscritos nos programas assistenciais do Governo Federal. A outra localidade é o Pecém, com 9 pessoas (ou 30% do total local), que reforça a contradição expressa nos dados iniciais (ou seja, os 17 que afirmaram que melhorou um pouco a renda), aliada à alienação da população sobre a real situação de renda da população, apesar das caríssimas obras do Porto do Pecém e do PRODETUR-CE 1a fase, construídas na localidade.

• Foram registradas por 12 pessoas que representam 6,67% do total geral, afirmações de uma grande piora na situação de renda e condições de vida da população de três de comunidades, como Cumbuco/Lagoa do Barro (com 5 pessoas ou 16,67% do total local), Paracuru (com 6 pessoas ou 20,00% do total local) e Pecém (com 1 entrevistado, ou 3,33% do total local). Esses números, quantitativamente, não são relevantes mas trazem um significado importante por ser uma situação diametralmente oposta ao prometido pelos gestores do PRODETUR-CE, qual seja, o de elevar o nível de renda das comunidades elegidas. No entanto, tem gerado a exclusão e perda da tão deprimida renda dessas pessoas e alto índice de desemprego já verificado.

• Por fim, foram feitos alguns registros de aumento da renda no período, por parte de 11 pessoas que representam 6,11% do total geral, estando espalhados de forma semelhante em quase todas as comunidades, exceto Baleia. Representam uma parcela que foi de alguma forma beneficiada com os investimentos do PRODETUR-CE 1a fase, ou se empregando em atividades ligadas ao turismo, ou em outras mais tradicionais que, dadas as vultosas somas aplicadas, mostram resultados bastante inexpressivos, no contexto geral. Se forem somados os resultados dos que afirmaram que melhorou um pouco e muito, totalizam-se 85 pessoas que equivalem a 47,22% do total geral. Por outro lado, se forem somados os que afirmaram que piorou muito, pouco e não se alterou (simbolizando a manutenção da situação de pobreza) totalizam-se 95 pessoas ou 52,88% do total geral; percebe-se, então, um quadro de crescimento da pobreza e desigualdade nessas localidades, uma verdadeira degradação sócio-ambiental e uma clara sinalização da insustentabilidade do modelo de turismo vigente no Estado.

Tabela 41 – A percepção sobre as mudanças na situação da Renda e das condições de vida, no período entre 1995 – 2001, das amostras das comunidades de Cumbuco/Lagoa do Barro, Pecém, Paracuru, Lagoinha, Flecheiras e Baleia.

Comunidade/ Situação da Renda Não mu dou % Piorou muito % Melhor ou muito % Piorou um pouco % Melhorou um pouco % Total Cumbuco/ Lagoa do Barro 12 40,00 5 16,67 1 3,33 1 3,33 11 36,67 30 Pecém 1 3,33 1 3,33 2 6,67 9 30,00 17 56,67 30 Paracuru 13 43,33 6 20,00 1 3,33 1 3,33 9 30,00 30 Lagoinha 10 33,33 - - 3 10,00 1 3,33 16 53,33 30 Flecheiras 10 33,33 - - 4 13,33 11 36,67 5 16,67 30 Baleia 14 46,67 - - - 16 53,33 30 Total e Média 60 33,33 12 6,67 11 6,11 23 12,78 74 41,11 180

FONTE: Pesquisa direta.

4.18. O GRAU DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DOS ENTREVISTADOS