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CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Determinação da Amostra

O levantamento preliminar das comunidades a serem pesquisadas se voltou para aquelas vinculadas diretamente com a alocação dos investimentos do PRODETUR-CE e que tiveram recebido ou perdido um maior fluxo turístico nos últimos anos, segundo informações da SETUR, censitárias e do IBGE sobre as cidades e, também, do Perfil Básico Municipal (do IPLANCE), que são fontes secundárias, com dados e datas de coletas das informações diferentes (anos de 1997, 1998, 1999, 2000 e 2001).

Desta forma, estimou-se uma PEA dos nativos das comunidades praianas em termo de 5.000 pessoas e se escolheu uma amostra razoavelmente representativa de 3,6%, significando a escolha de 180 pessoas, tendo-se aplicado a cada uma questionário. A pesquisa foi desenvolvida nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro de 2001 e em Janeiro, Fevereiro, Março e Abril de 2002 e abrangeu todos os 6 municípios elegidos para receberem os investimentos do PRODETUR-CE. Foi escolhida uma comunidade praiana,

em cada um dos 6 municípios, para se aplicarem os questionários com pesquisa semi- estruturada e também entrevistas abertas e participantes, de livre e espontânea, expressão com outras 24 pessoas (sendo 4 em cada comunidade), para se captar o olhar de uma parcela representativa de atores sociais que estão vivenciando diretamente os efeitos da implementação da política de desenvolvimento do turismo expressa no PRODETUR-CE.

Foram aplicados, também, mais 180 questionários (sendo 30 em cada comunidade) em épocas de baixa e alta estação turística, no intuito de se analisarem os impactos sócio- ambientais e sócio-econômicos provocados pelos diferentes fluxos, se verificarem in loco as relações entre esses novos elementos, no interior do sistema turístico estadual como um todo, e, mais de perto, – em cada subsistema, que são as comunidades praianas.

4.1.2. DEFINIÇÃO DAS AMOSTRAS PARCIAIS

Definido o tamanho da amostra segundo a metodologia do IPLANCE, passa-se ao problema de distribuição desta nas categorias profissionais (formais, informais e circunstanciais) existentes no mercado de trabalho das comunidades. Basicamente, optou-se pela escolha de variáveis relevantes, uma que observava apenas a importância de cada categoria dentro da população estimada, ou seja, calculou-se:

Pi = PEi x 100

PT

Onde Pi representava a percentagem da população alocada na categoria i.

PEi representava a população estimada na categoria i. PT representava a população total estimada.

Já que, apenas uma variável, poderia gerar distorções estatísticas, escolheu-se a utilização de uma outra variável, que pudesse medir o grau de heterogeneidade de cada categoria. Para isto, tomou-se uma amostra preliminar de cada categoria, onde seria inquirido o valor da renda de cada indivíduo, de modo que, de posse desses dados, se pudesse calcular o desvio padrão estimado para cada categoria, através da fórmula:

Si = √∑(Xij - X*i)2

nai - 1

Onde Si – Desvio-Padrão da categoria i;

Xij – Renda do indivíduo j pertencente à categoria i;

X*i – Renda média da amostra preliminar da categoria i;

nai – Tamanho da amostra preliminar da categoria i.

Com base nestas duas componentes, definiu-se, a variável auxiliar fi que, no caso, representaria o fator de multiplicação que permitiria, então, a determinação do tamanho das amostras parciais. Ou seja, o cálculo de fi obedeceu à seguinte fórmula:

fi = Pi Si

∑Pi Si

Onde fi - fator de multiplicação para a categoria i

Pi e Si já são conhecidos. Determinando-se o fator de multiplicação, o tamanho da

amostra parcial seria logo delimitado e ter-se-ia: Ni = fi N

Onde Ni - amostra a ser selecionada da categoria i

N - tamanho da amostra global.

Há de se ressaltar que, utilizando este método, chegou-se a exatamente 180 indivíduos, conforme anteriormente definido, a soma das amostras parciais é exatamente o montante da amostra global, pois, obviamente,

∑Ni = ∑fi N = ∑ Pi Si x N = N ∑ Pi Si = N

∑ Pi Si ∑Pi Si

Tabela 25 – Cálculo da amostra estabelecida Categorias de Atores Locais Universo Estimado Pi (%) Si PiSi Fi Amostra 3,6% Pescadores (as) 1.250 25 24,22 605,59 0,2111 38 Artesãos (ãs) 500 10 20,71 207,12 0,0722 13 Serviços turísticos 600 12 27,89 334,78 0,1167 21 Caseiros (as) 250 5 25,53 127,65 0,0445 8 Estudantes 1.500 30 31,87 956,17 0,3333 60 Desempregados (as) 900 18 35,41 637,43 0,2222 40 Total 5.000 - - 2.868,74 1 180

A metodologia da pesquisa de campo utilizada baseou-se na busca da percepção, pelo atores sociais locais, das transformações econômicas, sociais, culturais e ambientais proporcionadas pela implementação do PRODETUR-CE. A pesquisa visou saber quais as visões que se tem a respeito do Programa; qual a compreensão da sua dinâmica; se existe alguma relação daqueles atores com os gestores do Programa; em que nível de interlocução ela se desenvolve ou não; qual o grau de organização comunitária e se existem resistências e obstáculos sócio-culturais que possam ameaçar a continuidade do PRODETUR-CE naquelas localidades.

Nas entrevistas espontâneas que foram gravadas, procurou-se ouvir os testemunhos de vida de moradores(as) mais idosos(as) que, pela sua própria vinculação com o lugar, relataram, de seu próprio jeito e de acordo com suas informações, as maneiras de perceberem a realidade a sua volta; contaram como ficou sua situação e a da comunidade depois da realização das intervenções do PRODETUR-CE 1a fase, na sua região, e seus desdobramentos em termos de melhoria ou da qualidade de vida da população, e a compreensão coletiva sobre os efeitos dessas transformações nos processos ecológicos existentes antes de se promoverem tais intervenções em cada geoambiente. Buscou-se, ademais, detectar as expressões acima citadas, também dos jovens e das mulheres que, historicamente são os mais esquecidos pelos gestores públicos e pelos órgãos fomentadores dos projetos de desenvolvimento, revelados como fortemente centralizadores e machistas.

Em termos concretos, foram entrevistadas, na coleta semi-estruturada de cada comunidade, 30 pessoas, sendo que na comunidade de Cumbuco (que quase não recebeu investimentos do PRODETUR-CE, mas se beneficiou muito com a construção da Rodovia Sol Poente e já se beneficiara com um maior número de turistas decorrente dos fluxos de Fortaleza) foram aplicados, no seu núcleo principal, 17 questionários e 13, no seu núcleo satélite (a comunidade de Lagoa do Barro) ocupado pela inexistência de terras disponíveis para os filhos dos antigos moradores que ficaram adultos e constituíram família. Tal escassez de terra se deu em função da ação nefasta promovida, há 26 anos atrás, por um grande especulador imobiliário chamado João Bosco, que habilmente construiu casas

próximas umas das outras numa área que era baixa e tinha forma de Cumbuco (daí o nome Cumbuco), oferecendo-as aos moradores de todas as áreas antigas da comunidade. Assim, se apropriou indevidamente de todas as áreas em volta desse núcleo, para loteá-las, o que causou uma voraz e predatória ocupação do lugar pelas segundas-residências, pousadas e hotéis. A Lagoa do Barro fica isolada do mundo pelos imensos cordões de dunas que também já vêm sofrendo a ação da irresponsável e ilegal ocupação daqueles geoambientes.

Os dados colhidos nessa parte do estudo, que se deu de forma estruturada em termos de opções por categorias profissionais ou atores sociais específicos, e também de forma espacial, pela dispersão maior possível no interior da comunidade, sendo percorridas várias ruas, vielas e áreas de ocupação as mais diversas, como as próximas a rios, mangues, dunas e morros, atingindo em média, em cada comunidade, de 10 ruas ou similares, que serão a partir daqui relatadas. As falas de parte dos 24 entrevistados(as) da entrevista livre expressão (pesquisa participante), com pontos de destaque serão ligadas com a estruturada.