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O Grau de Conscientização Ambiental dos Entrevistados,

CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS

4.18. O Grau de Conscientização Ambiental dos Entrevistados,

A conscientização ambiental das pessoas, vivendo em uma determinada localidade, que passa por rápidas transformações, como as que se sucederam nessas comunidades em foco, requer um esforço coletivo para ensejar um processo participativo de resgate ou fortalecimento da auto-estima coletiva, no sentido de possibilitar aos habitantes do lugar

um sentido de pertença e fortalecimento dos vínculos de afeto e cuidado, como se estivessem cuidando da própria casa. Essa conscientização é função precípua do poder público local que deveria ser articulada com o estadual e até o federal, já que estes financiam o Programa, com ampla gama de intervenções públicas e privadas que se projetaram para as localidades inseridas naqueles ecossistemas costeiros extremamentes frágeis. Estes foram afetados por um processo de dinâmica costeira bastante entropisante e acelerado como o é da zona costeira cearense, que para lograr êxito, deveria haver a colaboração de toda a comunidade. Requer-se assim a realização de campanhas, treinamentos e até contratação de pessoas para desenvolverem ações permanentes que venham garantir a preservação ou conservação ambiental das áreas mais vulneráveis às ações dos agentes degradadores os quais agem à surdina e, na maioria das vezes, recebem ajuda das autorizadas públicas locais e das outras esferas de poder.

A pesquisa buscou detectar se houve mudanças no grau de conscientização ambiental das pessoas escolhidas nas amostras de cada comunidade, na tentativa de correlacionar a problemática ambiental ao PRODETUR-CE 1a fase, no decorrer do período 1995-2001, exatamente quando aconteceram as intervenções públicas e privadas nos geoambientes costeiros. Foi uma tentativa de entender o trabalho de educação ambiental com a população local e os agentes públicos (estes últimos seriam considerados os multiplicadores do aprendizado ambientalista) que receberam treinamento para interagirem de forma consciente no acompanhamento das transformações que iriam ocorrer nesses lugares. O resultados recolhidos foram os seguintes (ver Tabela 42):

• Para a maioria simples, representada por 91 entrevistados ou 50,56% do total geral, houve um aumento do grau de consciência das pessoas das comunidades elegidas pelo PRODETUR-CE 1a fase, mas o que se verificou, no caso do lixo gerado, por exemplo, foi o fato de terem sido instalados sistemas simples de coleta do lixo nas praias. Não se promoveu uma conscientização, no sentido de se menos sujar, pois não foram tomadas providências simples como a colocação de vasilhames coletores de lixo em nenhuma das 6 praias analisadas, e ao contrário, tem-se uma maior produção e o descarte do lixo nas praias, principalmente nos finais de semana e na alta estação turística quando os fluxos se

intensificam mais. Se forem considerados os impactos ambientais gerados sobre os ecossistemas costeiros, como as dunas, os manguezais, rios, lagoas e o mar, além do próprio processo de crescimento urbano dessas localidades litorâneas, representado pelo melhor acesso das estradas, hotéis, pousadas, casas de veraneio e loteamentos, tais pressões não foram citadas e observadas por nenhum dos 91 entrevistados que afirmaram ter havido um aumento da consciência ambiental da população dessas comunidades, coisa que só é possível com uma maior articulação social e surgimento de entidades ambientalistas e comunitárias para se organizarem e lutarem contra os abusos contra o meio ambiente, mas isto não se verificou na prática, pois se assim o fosse, eles(as) teriam citado nas entrevistas. A comunidade destaque foi Paracuru, com 19 pessoas (ou 63,33% do total local), número este que reflete a condição de sede municipal e a maior escolaridade média da sua população. Outra comunidade destaque foi Flecheiras, com 18 pessoas (ou 60,00% do total local), sendo que nesse caso a alta conscientização verificada está associada à maior presença do Instituto Terramar na localidade, traduzida pela implementação de projetos de cultivo de algas, mariscos, artesanato, formação de lideranças e educação ambiental, que certamente elevou o nível de conscientização ecológica daqueles que estão diretamente envolvidos nesses projetos e que já se tornaram multiplicadores dessa conscientização ambiental (apenas um entrevistado estava diretamente vinculado aos projetos do Terramar). Nas outras localidades, o número dos que afirmaram esse aumento da conscientização ambiental foi muito aproximado. Onde se registrou a menor incidência foi em Lagoinha, com 12 pessoas (ou 40,00% do total local) um dos locais onde o turismo mais cresceu no período e isso é preocupante, pois, antes desse período, o acesso à praia era difícil e a quantidade de turistas era pouco significante. Na época em que foi feita a pesquisa (abril/2002), estava em fase final de construção um hotel voltado a publico GLS, em uma duna reliquiar na linha de praia, e não se falou da problemática ambiental. As pessoas de Lagoinha preferiram se voltar para os possíveis problemas de ordem sócio-cultural, relacionados ao explícito preconceito com as supostas alterações nos hábitos e costumes sociais locais que a vinda de pessoas com preferências sexuais diferentes dos costumes e valores morais locais poderia vir gerar.

• Uma boa parte dos entrevistados, representados por 49 pessoas (ou 27,22% do total geral), afirmou que houve uma diminuição do grau de conscientização da população das localidades, sendo está situação um grande contra-senso que vai comprometer os objetivos de sustentabilidade ambiental, contidos na concepção do programa. Pois, uma colaboração da comunidade, no sentido do acompanhamento atento de todas as ações dos agressores ambientais, exigiria uma maior conscientização e não o inverso. Deste modo alguns entrevistados se referiram se joga mais lixo, desmontam-se dunas, se aterram os mangues, poluem-se as praias com esgotos e se colocam pedras que funcionam como molhes de contenção das energias erosivas das marés. A localidade destaque foi Pecém, com 11 pessoas (ou 36,67% do total local), onde todos as agressões ambientais acima citadas se verificaram de forma acentuada, o que infelizmente poderá se agravar com a instalação do complexo petroquímico calcado em grandes indústrias altamente poluentes, como uma refinaria, sendo que lá funciona o grupo operativo do PRODETUR-CE e do CIPP. A menor incidência se verificou em Paracuru, com 5 pessoas (ou 16,67% do total local),que reforça a situação da maior atenção da população e proximidade da sede onde estão os gestores públicos;

• Algumas pessoas afirmaram que a situação da conscientização ambiental, nas localidades, não se alterou durante o período em estudo, representadas por 40 entrevistados (ou 22,22% do total geral). Isto significa uma espécie de congelamento mental (ou, mesmo, alienação coletiva) dessas populações, no tocante à questão ambiental, um fato de importância para se identificar a inconsistência do componente educação ambiental, contido nas metas e estratégias do programa em foco.

• O destaque ficou com Lagoinha, com 11 pessoas ou 36,67% do total geral, um número relevante que coloca em xeque o crescimento do turismo na região, pois a questão ambiental é a chave definidora de uma nova racionalidade ecológica que deveria permear todos as fases do programa, sob pena do comprometimento do futuro dessas comunidades, assentadas em ecossistemas frágeis e sujeitos a um intenso processo de transformação das feições das paisagens. Tais transformações são decorrentes da erosão marinha, movimentações das dunas e do carreamento de sedimentos, provocadas pela intensificação

da deriva costeira, e da interrupção ou diminuição dos fluxos de sedimentos e águas dos rios e manguezais localizados nas planícies flúvio-marinhas onde se inserem as bacias hidrográficas, que se processa no sentido leste-oeste.

“A capacidade de resistência de muitos ecossistemas vem sendo supercarregada, sendo de prever-se, como conseqüência disso, um prejuízo irreversível. Por conseguinte, devemos estar preparados para uma penosa transição para uma relação mais equilibrada entre a humanidade e a ecosfera. O que se pretende é chegar a uma verdadeira simbiose, fazendo o melhor uso possível do fluxo de recursos renováveis, reduzindo, ao mínimo, o desgaste do estoque de capital da natureza.

Neste contexto, uma gestão ecologicamente equilibrada das bases de recursos renováveis – solos, água, florestas e climas – torna-se condição sine qua non de um desenvolvimento sustentável. Não se pode confiar a gestão desses recursos ao irrestrito jogo de forças do mercado, entregues a si mesmas, as empresas tendem a internalizar os lucros e externalizar os custos” (SACHS, 1986-a:184).

Tabela 42 – Grau de Conscientização sobre a preservação ambiental no período entre 1995 - 2001 das amostras das comunidades de Cumbuco/Lagoa do Barro, Pecém, Paracuru, Lagoinha, Flecheiras e Baleia. Comunidade/ Grau de consciência Aumentou o grau consciência % Diminuiu o grau Consciência % Não se Alterou o grau de consciência % Tota l Cumbuco/ Lagoa do Barro 13 43,33 7 23,33 10 33,33 30 Pecém 14 46,67 11 36,67 5 16,67 30 Paracuru 19 63,33 5 16,67 6 20,00 30 Lagoinha 12 40,00 7 23,33 11 36,67 30 Flecheiras 18 60,00 10 33,33 2 6,67 30 Baleia 15 50,00 9 30,00 6 20,00 30 Total e Média 91 50,56 49 27,22 40 22,22 180

FONTE: Pesquisa direta.