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3.4 O TRABALHO DE CAMPO

3.4.1 A Pesquisa de Campo em Findhorn

No período entre 09 de maio e 09 de junho de 2014, estive imersa na Ecovila Findhorn para a pesquisa de campo, participando do ritmo pré-estabelecido pela Ecovila e das atividades comunitárias, em parte do tempo, e em outros momentos dedicando-me à pesquisa, compilação e análise dos dados coletados.

Minha primeira semana em Findhorn foi intensa. Agenda cheia com a Ecovillage

Experience Week, me reconectando com o lugar, com as pessoas que conheci quando

estive lá em 2010, atualizando as conversas com as amigas brasileiras e aprendendo a ser oficialmente pesquisadora. Acordava às 6:30h da manhã para participar do Taize (cantos meditativos) e da meditação principal no Santuário, e seguia no ritmo do programa, chegando em casa por volta de 22/22:30h, quando ia fazer minhas anotações finais.

O grupo da Ecovillage Experience Week era bastante eclético, com pessoas oriundas de diversos países como: Índia, Nova Zelândia, Espanha, Reino Unido e Brasil. Éramos dez, ao todo, incluindo os focalizadores, Craig e Christine. Craig é australiano, permacultor e vive em Findhorn há 46 anos. É o responsável pela Ecovillage Experience

Week e reconhecido como um dos elders da comunidade. Christine é jovem, nascida no

Reino Unido, e está na comunidade há 4 anos. Foi a primeira vez que co-facilitou com Craig a semana com foco na Ecovila.

Fomos acomodados em duas casas comunitárias. Na que fiquei, denominada Diane‟s, éramos cinco, cada um em um quarto individual. O grupo era formado por pessoas maduras e interessadas, com faixa etária entre 25 e 75 anos, aproximadamente. Cada um estava ali por um motivo diferente. Chris (inglês) teve uma visão de que deveria vir para Findhorn, e veio. Joanne (irlandesa) está morando em Cluny há cerca de 2 anos e trabalha na Fundação com captação de recursos. Estava interessada em conhecer melhor o Park e aprender mais sobre a Ecovila. Já Elena (espanhola), veio aprimorar seu inglês. Ibtisam, uma psicóloga indiana, foi com quem mais me identifiquei. Abaixo uma foto do grupo da Ecovillage Experience Week.

Figura 15: Foto oficial do grupo da Ecovillage Experience Week. Fonte: Findhorn Foundation. (Da esquerda para a direita: Elena, Jennie, Christine, Taisa, Joanne, Chris, Sarah, Craig, Ibtisam e Claudia).

Durante a semana de experiência, tivemos conversas com os focalizadores e outros convidados, dinâmicas de grupo, tours pela comunidade, trabalhamos juntos no plantio, colheita e preparo de alimentos, e também fomos conhecer Cluny Hill, a outra sede da Fundação, e passear pela região. No período da manhã, dividimo-nos em duplas para integrar as atividades comunitárias. Alguns permaneceram no Park e outros foram trabalhar em Cluny. Meu departamento foi a cozinha do Park.

Figura 17: Em sala de aula com o grupo da Experience Week. Findhorn. Foto: Taisa Mattos

Figura 18: Conselho ao redor do fogo. Grupo da Experience Week. Findhorn. Foto: Taisa Mattos

Tivemos ainda a oportunidade de participar de um Community Meeting, reunião interna da comunidade com os gestores, que acontece duas vezes ao ano, quando é feita uma avaliação do período nos mais diversos aspectos. Nesse momento, estava apenas como observadora. Foi de extrema importância para compreender como o grupo se organiza, as principais questões que merecem a atenção comunitária e principalmente os desafios que enfrentam no momento. Trarei as considerações a respeito desse encontro ao longo do capítulo de resultados.

A participação na Experience Week e o fato de ser introduzida à comunidade através do programa foi bastante relevante. Com isso pude compreender como os programas impactam na vida dos participantes, fazendo-os rever hábitos e valores.

Nas demais semanas, estava com um cronograma mais flexível, enquanto formalmente realizava o meu Independent Study pelo Findhorn College. Esta foi a maneira que encontraram para que eu pudesse estar formalmente ligada à instituição para conduzir a pesquisa. Segui participando dos cantos e meditação da manhã e geralmente me voluntariava para colaborar com o trabalho comunitário no período da manhã. Estive principalmente em Cullerne Garden, onde é realizado o plantio de alimentos. Durante a primavera e o verão, recebem voluntários para colaborar com as atividades de plantio, colheita e preparo do solo, já que o clima favorece e a demanda é maior. A equipe do departamento é bastante animada e a cada pausa para o lanche (Tea

Break), havia muita conversa, música e celebração.

Figura 21: Tea Break. Cullerne Garden, Findhorn. Foto: Taisa Mattos

Figura 22: Tea Break. Cullerne Garden, Findhorn. Foto: Taisa Mattos

As entrevistas semi-estruturadas, em profundidade, foram encaixadas a partir da disponibilidade das pessoas ao longo de todo o período em que estive na comunidade, concentrando-se mais na segunda e terceira semanas. Na última semana dediquei-me ao aprofundamento de algumas entrevistas e a conversas informais, além da análise dos documentos comunitários, para a complementação dos dados da pesquisa. Mantendo a observação participante, o registro no diário de campo e o registro fotográfico ao longo de toda a minha permanência na Ecovila.

Um fato relevante a ser mencionado é que a cada semana tive a oportunidade de me hospedar em um local diferente na Ecovila, o que me possibilitou ter perspectivas diversas em relação à vida na comunidade. Na primeira semana, fui acomodada em uma

das casas que a Fundação utiliza para receber os visitantes. Na semana seguinte, alojei- me em um dos B&B (bed and breakfast – hospedagem no estilo cama e café) particulares que fica dentro da comunidade. Na terceira semana, fui recebida na casa de um amigo, antigo morador de Findhorn e, na última semana, voltei ao B&B para uma troca, já que a proprietária estava viajando e precisava de alguém para cuidar da casa, do jardim e receber os demais hóspedes.

O fato de ser acolhida pela Fundação, por moradores ou pela comunidade do entorno faz muita diferença em relação à inserção na comunidade e a forma como a vivenciamos. Ao participar de um programa da Fundação, tem-se um cronograma repleto de atividades, além de todo o cuidado por parte de uma equipe que se dedica a acolhida dos hóspedes. Estando entre amigos, uma outra esfera da vida comunitária se revela, diferente daquela permeada por visitantes. Hospedar-se de forma independente, na comunidade do entorno já proporciona uma outra experiência, menos integrada à vida comunitária.