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4. Persistência/Evasão em Treinamento a Distância

4.1. A Pesquisa sobre Persistência/Evasão em Treinamento a

A análise da produção de conhecimentos sobre persistência/evasão realizada por Abbad, Zerbini e Souza (2010) mostrou que esse tema não figura

entre os mais pesquisados no Brasil, ainda que os índices de abandono de cursos a distância cheguem a superar em 23% os presenciais (ABED, 2010) e se constitua como um dos principais questionamentos da área.

O panorama das pesquisas em evasão relatado por essas autoras sugere que fatores ligados ao aluno e ao seu contexto, tais como a falta de habilidade para administrar o tempo de estudo e para conciliar as atividades concorrentes, a falta de suporte de outros alunos para atingir bons resultados de aprendizagem, as percepções equivocadas sobre a natureza e a complexidade do curso podem estar relacionados com o abandono de treinamentos a distância. Há ainda fatores como, por exemplo, a frustração de expectativas pessoais quanto ao curso e à tutoria, fornecimento de poucos informativos aos alunos ou o atraso no envio de feedbacks.

No que se refere à categoria de estudos com variáveis explicativas de persistência/evasão, os cinco estudos localizados apontam um conjunto de fatores que vêm sendo descritos pelos pesquisadores brasileiros como influentes para a explicação do abandono em cursos dessa natureza. Esses estudos são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5

Pesquisas Nacionais sobre Persistência/Evasão

Autoria Objetivo do estudo

Características

metodológicas Principais resultados Vargas (2004) Investigar as relações existentes entre as barreiras pessoais para conclusão de cursos e a persistência no mesmo. 344 participantes de curso de especialização Técnica para Agentes e Assistentes Administrativos responderam a questionários sobre satisfação, barreiras pessoais e aprendizagem em cursos a distância. Os dados foram

analisados por meio de regressão linear

múltipla padrão.

Os indivíduos que menos acreditavam que seus esforços para aprender iriam ter resultados positivos foram os que mais persistiram no curso; as mulheres formaram o grupo mais persistente e os homens o grupo menos persistente.

Autoria Objetivo do estudo

Características

metodológicas Principais resultados Walter (2006) Analisar a influência das características da clientela, das características do curso e dos comportamentos e atitudes do aluno em relação a cursos a distância com a variável critério evasão. Tomaram parte do estudo 435 participantes de cursos a distância que responderam aos questionários sobre valor instrumental do treinamento e de comportamentos e atitudes em relação a cursos a distância. Os dados foram analisados por meio de regressão logística.

Indivíduos que já haviam participado

anteriormente de cursos a distância e que tiveram reações mais favoráveis à modalidade foram os que menos evadiram; e indivíduos que mais indicaram fatores desfavoráveis

relacionados aos cursos foram os que mais evadiram. Sales (2009) Estudar a relação entre as características do curso, da clientela e do contexto de estudo e a evasão em treinamentos a distância. Egressos de treinamentos a distância oferecidos pela Embrapa. Os dados foram analisados por meio de regressão logística.

Os resultados

encontrados sugerem que quanto mais favoráveis forem as autoavaliações em relação à disciplina e ao interesse pelo curso e as reações ao desempenho do tutor, mais chances o participante tem de concluir o treinamento. Brauer, Abbad e Zerbini (2009) Analisar o relacionamento entre sexo, idade, escolaridade e região geográfica e as barreiras à conclusão do curso (regularidade de acesso ao curso, falta de tempo e dificuldades com interface e pessoais). Participaram do estudo 451 egressos de curso gratuito ofertado pelo SEBRAE que

responderam ao questionário de Barreiras Pessoais à Conclusão do

Curso. Os dados foram analisados por meio de regressão múltipla padrão.

A idade e a região geográfica explicaram uma pequena parte da variabilidade de barreiras à regularidade no acesso à internet; mulheres apresentaram maiores barreiras relacionadas a dificuldades com interface e dificuldade pessoais para conclusão de treinamentos a

distância. O sexo contribuiu muito pouco para a explicação dessa variável.

Nos estudos nacionais sobre persistência/evasão essa variável foi abordada sob duas perspectivas: (i) barreiras para a conclusão do curso; e (ii)

situação do participante ao final do treinamento, concluinte ou não. Com essa última operacionalização, predomina a técnica de regressão logística para análise de dados. Existem indícios de que o sexo, as crenças, os processos regulatórios de aprendizagem e a satisfação com o curso influenciam a decisão de persistência.

Dentre esses estudos nacionais não foram localizadas pesquisas que analisassem a influência de fatores contextuais relacionados à empresa, tais como o suporte de pares e de chefia, ou a orientação cultural da organização como preditores de evasão. Porém, pesquisadores da área de treinamento a distância destacam a necessidade de um ambiente organizacional de apoio à aprendizagem e ao uso de novas habilidades no trabalho (Abbad, 2009; DeRouin et al., 2005).

Os estudos sobre persistência/evasão em cursos a distância até aqui mencionados se referem todos a treinamentos oferecidos por organizações visando a capacitação de seus funcionários, exceção ao estudo de Walter (2006) que foi ofertado para empresários, estudantes e profissionais da área de métodos extrajudiciais para a solução de controvérsias.

Outros estudos nacionais sobre a persistência/evasão realizados em ambientes não corporativos de aprendizagem mostraram a relevância de variáveis psicossociais (de apoio ou de restrição) na explicação de evasão, resultados de aprendizagem e impacto do treinamento no trabalho. Esse é o caso, por exemplo, do trabalho de Abbad, Carvalho e Zerbini (2006) e, mais recentemente, da pesquisa de Almeida, Abbad, Meneses e Zerbini (2013).

A partir de dados secundários de egressos de um curso sobre Elaboração de Plano de Negócios, realizado totalmente a distância, foi analisada a influência de dados demográficos e de uso dos recursos eletrônicos como antecedentes da evasão (Abbad, Carvalho, & Zerbini, 2006). Os resultados da regressão logística sugeriram que os participantes não concluintes foram aqueles que tenderam a não utilizar os recursos eletrônicos de interação (mural de notícias, chats, troca de mensagens eletrônicas). A pesquisa indicou também que os alunos que concluíram o curso via internet têm características demográficas (idade) bastante diferentes daqueles alunos que se evadem. Contudo, as autoras do estudo alertaram que os resultados

obtidos devem ser interpretados com cautela, pois detectaram um possível erro tipo I nas análises realizadas com a população pesquisada.

A análise de conteúdo de depoimentos de 170 participantes em dois cursos a distância oferecidos pelo Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília apontou como causas de evasão: (a) fatores situacionais; (b) falta de apoio acadêmico; (c) problemas com a tecnologia; e d) falta de apoio administrativo (Almeida, Abbad, Meneses, & Zerbini, 2013). Esses autores ainda destacaram que, mesmo sendo apontada como um dos mais relevantes problemas no campo da educação e do treinamento a distância, os estudos sobre a evasão ainda são relativamente pouco numerosos e pouco conclusivos.

Outro fator mencionado em alguns estudos sobre persistência/evasão é a influência das crenças de participantes sobre esse sistema de treinamento (e.g., Comarella, 2009; Sanchez, 2007). De acordo com esses autores há a crença, por parte dos estudantes, de que os cursos, por serem a distância, serão mais fáceis. Nesse caso, essa crença pode vir de encontro com as atividades requeridas para o engajamento e para a conclusão do curso e determinar a desistência.

Nas pesquisas sobre a evasão em treinamento a distância, a definição dos fatores a serem estudados é influenciada pelos pressupostos que sustentam o modelo de educação utilizado pela instituição (Laguardia, 2007). Por exemplo, nos modelos de curso com forte apoio da tutoria, as pesquisas justificam a evasão utilizando fatores relacionados às tecnologias de informação e de comunicação. E quando o modelo enfatiza a aprendizagem independente e flexível sem, ou com pequeno apoio da tutoria, as pesquisas geralmente mencionam como fatores da evasão os aspectos pessoais: nível socioeconômico, personalidade, estilos de aprendizagem.

Para aumentar o poder explicativo de modelos de avaliação da persistência/evasão, recomenda-se que esses incluam, dentre as características individuais, as de natureza cognitiva (e.g., estratégias, estilos de aprendizagem) (Abbad, Carvalho, & Zerbini, 2006).

Os participantes de treinamentos a distância precisam ter em seu domínio as competências de autorregulação da aprendizagem, de gestão do

tempo, de controle de ansiedade. Tais características podem distinguir estilos de aprendizagem que supostamente podem ser atendidos pela diversidade de recursos das tecnologias de informação e de comunicação. Considera-se, também, que as opções de meios e de recursos oferecidos pelas tecnologias de informação e de comunicação favorecem o desenvolvimento de sistemas instrucionais adequados às diferenças individuais no processo de aprendizagem. Além disso, os modelos explicativos dessa variável devem considerar os fatores contextuais (trabalho ou acadêmico) e as características do próprio treinamento (Abbad, Zerbini, & Souza, 2010).

O conjunto de estudos nacionais analisados, apesar de muitos deles não terem sido realizados nos contextos de trabalho, sugere que, embora sejam necessárias pesquisas adicionais, as características individuais, do contexto e do próprio treinamento podem influenciar a decisão de permanência ou de evasão em treinamentos a distância. Dentre as características individuais, as variáveis demográficas e as de natureza cognitiva parecem ser especialmente relevantes. No que se refere às características contextuais, suporte da organização parece ser um fator influente na decisão de permanência ou de abandono nessa modalidade de treinamento.

Na próxima seção são apresentados os estudos publicados em periódicos internacionais sobre a variável persistência/evasão.

4.2. A Pesquisa sobre Persistência/Evasão em Treinamento a Distância em Periódicos Internacionais

De maneira semelhante aos resultados de busca por pesquisas publicadas em periódicos nacionais sobre a variável persistência/evasão, as demais pesquisas específicas da área de treinamento a distância são também encontradas em pequeno número. Utilizando-se os critérios de busca descritos anteriormente, foram localizados em periódicos internacionais apenas quatro estudos com variáveis explicativas de persistência/evasão. Argumenta-se que uma das principais razões para o número reduzido de estudos empíricos sobre o treinamento a distância pode ser causada pela falta de desenvolvimento teórico próprio desta área de pesquisa (Wang, 2010).

Com o objetivo de investigar os fatores relacionados à persistência em treinamentos a distância, esse autor testou um modelo que incluía características individuais (motivação, estilos de aprendizagem, autoeficácia); características do treinamento (atratividade do ambiente de aprendizagem, interação entre participantes); da organização (suporte de chefes, nível de exigência da empresa para a conclusão do treinamento, incentivos para a conclusão, mudanças no horário de trabalho durante o treinamento) e do ambiente (percepção do participante sobre os níveis de conclusão em treinamentos a distância em sua organização).

Os resultados desse estudo sugerem que, dentre as características individuais, somente os estilos de aprendizagem influenciaram positiva e significativamente a persistência. O autor destacou a importância desse resultado, pois a variável estilos de aprendizagem é estudada basicamente na área de educação e os resultados nesse campo de pesquisa são inconclusivos. Dentro da área de treinamento a distância, considerar os estilos de aprendizagem pode ter implicações importantes para o design instrucional, para melhorar os níveis de persistência e para a transferência do que se aprende para o contexto do trabalho. Ele sugere que outras pesquisas analisem a influência dos estilos de aprendizagem sobre os níveis de evasão em treinamentos a distância.

No que se refere às características do treinamento, somente a interação influenciou a persistência, sugerindo a importância de projetar experiências interativas de aprendizagem. Em relação às características da organização, as políticas de incentivo (incentivos para a conclusão, mudanças no horário de trabalho durante o treinamento) influenciaram positivamente a persistência. No entanto, não foi encontrada relação significativa entre o suporte de chefes e os níveis de conclusão.

O estudo, já descrito na seção 3.2, analisou a influência da motivação e da manipulação experimental de dificuldades técnicas sobre a persistência. Conforme relatado, níveis mais altos de motivação influenciou a decisão de permanência no treinamento a distância (Sitzmann et al., 2010). As causas da evasão em dois treinamentos a distância foram analisadas por Henke e Russum (2002). Os resultados indicaram que a razão principal para a não

conclusão dos treinamentos foi o conflito com os horários de trabalho e a falta de tempo para realizar as atividades de treinamento.

As causas de desistência de ações de treinamento em universidades corporativas foram avaliadas por Sener e Hawkins (2007). Os resultados sugeriram que os conflitos de tempo com compromissos de trabalho, nível de suporte organizacional e experiência anterior dos participantes afetaram negativamente as taxas de conclusão nos cursos online.

Considerando-se que foram localizados em periódicos internacionais, tal como nos periódicos nacionais, poucos estudos sobre persistência/evasão na área de treinamento a distância, procurou-se por revisões de literatura sobre o tema na área educacional. Encontrou-se a revisão de 35 pesquisas publicadas no período entre 1999 a 2009 (Lee & Choi, 2011). Esses autores relataram que a maioria desses estudos eram pesquisas correlacionais (77%) com dados coletados em apenas um curso (29%) e realizados com pequenas amostras de estudantes universitários (26%).

Foram identificados, na mencionada revisão, 69 fatores relacionados à persistência/evasão, os quais foram classificados de acordo com três categorias: (i) fatores relacionados às características do aluno; (ii) fatores relacionados às características do curso; e (iii) fatores relacionados ao ambiente. Os fatores de evasão mais distintivos em cursos online foram as características de entrada do aluno, incluindo experiências acadêmicas, profissionais e de desempenho anteriores, habilidades de aprendizagem e atributos psicológicos. Isto é, estudantes com níveis mais baixos de desempenho acadêmicos (notas), menos experiência profissional e nenhuma participação anterior em outros treinamentos a distância foram aqueles que mais evadiram.

O fator atributo psicológico é definido por Lee e Choi (2011) como lócus de controle, autoeficácia, satisfação com o curso e com o sistema instrucional. De acordo com esses autores, os estudantes com lócus de controle interno são mais motivados e utilizam mais frequentemente mecanismos autorregulatórios de aprendizagem. Esses mecanismos autorregulatórios estão positivamente relacionados à persistência. Níveis mais elevados de autoeficácia e de

satisfação com o curso também estão positivamente relacionados à persistência.

O desenho do curso (programa, valor instrumental do curso e níveis de interação proposto pelo curso e exercida pelo estudante) e o apoio institucional (suporte familiar, de colegas e da organização onde o aluno trabalha) se mostraram positivamente correlacionados com as decisões de permanência em curso a distância. Por outro lado, esses autores relatam que dados demográficos, tais como a idade e o sexo, têm mostrado resultados discrepantes ou inconclusivos dentro da área educacional.

No que se refere às estratégias para evitar o abandono em cursos online, os achados sintetizados por Lee e Choi (2011) sugerem que os estudos sobre essas estratégias estão concentrados nas características do curso. Esses autores propõem a realização de outras pesquisas que analisem a influência de fatores ambientais e de características de alunos sobre a variável persistência/evasão, visando a um maior nível de retenção de alunos nesse tipo de curso.

Outros estudos realizados com estudantes do ensino superior têm mostrado que as variáveis: satisfação com o curso, motivação, lócus de controle, autoeficácia, nível socioeconômico e sexo se relacionam positivamente com a persistência em cursos a distância (e.g., Holder, 2007; Levy, 2007).

Esse conjunto de estudos publicados em periódicos internacionais sugere que, embora sejam necessárias pesquisas adicionais, as características individuais, do contexto e do próprio treinamento podem influenciar a decisão de permanência ou de evasão em treinamentos a distância. Dentre as características individuais, as variáveis demográficas e as de natureza cognitiva parecem ser especialmente relevantes.

5. Aprendizagem no Trabalho, Efetividade e Persistência/Evasão em