• Nenhum resultado encontrado

6. Análise da Literatura dos Componentes do Modelo de Investigação

6.1. Estilos de Aprendizagem

6.1.2. A Pesquisa Internacional em Estilos de Aprendizagem

6.1.2.3. Comparação entre o Modelo de Regulação dos Processos

Aprendizagem no Trabalho e suas Implicações para a Prática e a Pesquisa

O modelo de interação de comportamento de aprendizagem no trabalho tem como base teórica os estudos sobre a aprendizagem informal no trabalho e as diferenças individuais nos processos de aprendizagem (Berings et al., 2005). Tais fundamentos se refletem na visão de estilos de aprendizagem que é relacionada às preferências por atividades específicas do cotidiano de trabalho. O modelo de interação está sintetizado na segunda coluna da Tabela 11 e é comparado com o de regulação, sintetizado na primeira coluna.

Segundo a concepção deste modelo de regulação, os estilos de aprendizagem referem-se às dimensões subjacentes da aprendizagem. Trata- se de uma visão ampla e flexível sobre esses estilos que abrange a interação entre influências contextuais e do indivíduo. Há menção aos domínios de aprendizagem descritos por Bloom, Engelhart, Furst, Hill e Krathwohl (1979). A esses domínios são acrescentadas as atividades autorregulatórias. Supõe-se

que o conhecimento que o indivíduo detém sobre os processos de aprendizagem, sobre os mecanismos de controle executivo e de autorregulação podem resultar em melhores desempenhos (Vermunt, 1996; 1988).

Tabela 11

Síntese dos Modelos de Estilos de Aprendizagem de Vermunt (1998) e de Berings et al. (2005)

Modelo de Regulação dos Processos de Aprendizagem Modelo de Interação de Comportamento de Aprendizagem no Trabalho (Vermunt, 1996; 1998; 2004; 2005) (Berings et al., 2005) Base teórica

Cognitivismo Aprendizagem informal (Eraut,

2004)

Construtivismo Diferenças individuais (Grasha,

1983; Poell et al., 2004) Diferenças individuais

Pressupostos

Combina atividades cognitivas, afetivas e regulatórias com ênfase nos ambientes de ensino e de aprendizagem.

O contexto de trabalho é definidor dos estilos de aprendizagem. Dimensões 1. Estratégias de processamento de informação; 1. Atividades interpessoais expostas 2. Estratégias regulatórias de aprendizagem; 2. Atividades intrapessoais expostas

3. Modelo mental (concepções) de aprendizagem 3. Atividades interpessoais mentais 4. Orientações para a aprendizagem 4. Atividades intrapessoais mentais (continua)

Modelo de Regulação dos Processos de Aprendizagem Modelo de Interação de Comportamento de Aprendizagem no Trabalho (Vermunt, 1996; 1998; 2004; 2005) (Berings et al., 2005) Estilos de aprendizagem

Conjunto coerente de atividades de aprendizagem que os

indivíduos utilizam

frequentemente, de acordo com a orientação e as concepções individuais de aprendizagem.

Tendência a usar uma combinação particular de atividades implícitas e explícitas, que uma pessoa pode e gosta de desempenhar.

Instrumento Inventory of Learning Styles (ILS)

On-the-job Learning Style Questionnaire for the Nursing Profession (OLSQN)

Área de

aplicação Educação Trabalho

Limitações O ILS foi aplicado somente no contexto educacional.

Inventariar as situações e as atividades de aprendizagem para que se possam medir as preferências de aprendizagem de cada segmento profissional particular.

OLSQN foi aplicado em um só estudo.

Observa-se que esses dois modelos se referem às atividades de aprendizagem que são preferencialmente utilizadas pelo indivíduo para aprender. São essas preferências por determinadas atividades, que podem variar de acordo com o contexto de aprendizagem (e.g., trabalho, meio acadêmico), que definem os estilos de aprendizagem de cada indivíduo.

Conforme pode ser observado na Tabela 11, os instrumentos têm finalidades distintas: um foi desenvolvido para avaliar estilos de aprendizagem em ações formais de educação e o outro é voltado para a aprendizagem

informal no trabalho. Foram testados exclusivamente nesses contextos. Apesar dessa diferença de finalidade, a redação dos itens mostra convergência entre as dimensões teóricas do OLSQN e do ILS no que se refere, por exemplo, às preferências por atividades individuais, ou em contato com outras pessoas.

Na Tabela 12 estão alguns exemplos desses itens. Incluiu-se o instrumento de Salles (2007) que, conforme relatado anteriormente, utilizou o referencial teórico do modelo de Berings et al. (2005) e é, como esse último, voltado para a aprendizagem informal no contexto de trabalho.

Tabela 12

Exemplo de Itens dos Instrumentos de Estilos de Aprendizagem propostos por Vermunt (1998), Berings et al. (2005) e Salles (2007)

Itens Instrumentos ILS OLSQN Estilos de Aprendizagem no Trabalho (Vermunt, 1998) (Berings et al., 2005) (Salles, 2007)

Eu prefiro fazer trabalhos em conjunto com outros alunos

Nos últimos dois anos, tenho melhorado minhas habilidades técnicas de enfermagem perguntando aos meus colegas.

Para aprender no trabalho, eu prefiro trabalhar com outras pessoas. Se eu não entendo um conteúdo, tento encontrar outra literatura sobre o tema em questão.

Nos últimos dois anos, tenho melhorado minhas habilidades técnicas de enfermagem pesquisando em livros, artigos, TV, ou na internet. Para aprender no trabalho, eu prefiro procurar informações em publicações e documentos. Quando eu tenho escolha, eu opto por cursos que sejam úteis para minha profissão.

Nos últimos dois anos, tenho melhorado minhas habilidades técnicas de enfermagem participando de reuniões informativas e de programas de treinamentos. Para aprender no trabalho, eu prefiro participar de treinamentos, cursos, seminários ou congressos.

Ao comparar o conteúdo dos itens dispostos em cada linha da Tabela 12, pode-se observar certa semelhança entre eles. Por exemplo, os itens da primeira linha se referem às preferências por aprender com outras pessoas. Na segunda linha se encontram itens relacionados às preferências por aprender por iniciativa pessoal, por meio de pesquisa.

Além dos modelos de Vermunt (1998) e de Berings et al. (2005), foram analisados outros 13 modelos de estilos de aprendizagem e respectivos instrumentos de pesquisa (Apêndice A). Todos esses 13 modelos, direta ou indiretamente, usam o termo preferências para se referir aos estilos de aprendizagem. Usam rótulos para descrever indivíduos a partir de estilos de aprendizagem (e.g., reflexivo; ativo) e não possuem abrangência para o perfil do indivíduo inserido na modalidade a distância. Portanto, há a necessidade de desenvolvimento de uma medida para a verificação dos estilos de aprendizagem para o contexto do treinamento a distância.

Uma das características desta modalidade é a de ser adaptável, uma vez que é planejada, normalmente, para ser usada por uma grande variedade de indivíduos com diferentes habilidades, preferências ou estilos de aprendizagem (Brusilovsky & Peylo, 2003). Os benefícios de treinamentos a distância podem ser melhorados por meio de orientação ajustada aos diferentes tipos de treinamentos e às diferenças individuais (Aguinis & Kraiger, 2009). Assim, as características e funcionalidades dos sistemas instrucionais para treinamentos a distância podem vir a apoiar diferentes estilos de aprendizagem.

Em muitas teorias de design instrucional, as práticas de ajudas didáticas são os meios mais comuns para tentar influenciar os aprendentes no processamento de informação (Pupo & Torres, 2010). Em treinamentos a distância estes recursos auxiliares constam nos materiais de aprendizagem entrelaçados com os conteúdos tratados, de modo a privilegiar o diálogo, a interação e a autonomia intelectual (aprender a aprender). Tais recursos pretendem cumprir a função de ampliar as competências das pessoas, com ênfase no processo metodológico. Trata-se, em última análise, de um processo regulatório externo da aprendizagem que, de acordo com Vermunt (1996),

pode ser fundamental para determinados participantes de treinamentos, além de contribuírem para os resultados imediatos da aprendizagem.

Credita-se aos recursos e aos meios do treinamento a distância importante papel em relação ao respeito às diferenças individuais de aprendizagem. As tecnologias hoje disponíveis permitem aos indivíduos percorrer distintos caminhos, fazendo conexões entre informações disponíveis em textos, hipertextos e imagens, em ritmo próprio e de acordo com as suas preferências pessoais (Dagger, Wade, & Conlan, 2005). As investigações sobre os estilos de aprendizagem, por outro lado, fornecem informações para o aperfeiçoamento desses métodos instrucionais e para mudanças de comportamento dos que aprendem (Vermunt, 2005).

As pesquisas relacionadas ao processo de aprendizagem a distância têm demonstrado que indivíduos com lacunas nos processos autorreguladores de aprendizagem aprendem pouco em ambientes virtuais de aprendizagem (Azevedo & Comley, 2004). Estes autores mostraram que, uma vez identificadas essas lacunas nos processos reguladores de aprendizagem, as pessoas poderiam ser treinadas resultando em níveis maiores de aprendizagem. Esses achados apoiam o modelo teórico de estilos de aprendizagem de Vermunt (1998), cujas relações preveem que atividades cognitivas, afetivas e regulatórias, com ênfase nos ambientes de ensino e de aprendizagem, podem determinar a qualidade dos resultados alcançados no processo de aprendizagem dos indivíduos (Vermunt, 1996; 1998).

Neste estudo, pretende-se analisar a influência dos estilos de aprendizagem sobre o impacto do treinamento no trabalho e sobre a evasão em treinamentos oferecidos na modalidade a distância. Supõe-se que os comportamentos preferidos de aprendizagem podem influenciar esses resultados finais (impacto e evasão). Para a consecução desse objetivo, foi desenvolvida a medida dos estilos preferenciais de aprendizagem para o contexto do treinamento a distância, pois, conforme argumentação anterior, foi constatada a necessidade de um instrumento para acessar esse construto.

Utilizou-se como base teórica o Modelo de Regulação dos Processos de Aprendizagem de Vermunt (1998). Tal escolha foi pautada nas seguintes razões: (i) trata-se de uma visão ampla e flexível sobre os estilos de

aprendizagem que abrange a interação entre influências contextuais e do indivíduo; (ii) as dimensões de aprendizagem presentes nesse Modelo podem ser adaptadas para uso em todos os contextos de aprendizagem, inclusive o organizacional; (iii) o conceito de estilos proposto pelo autor abrange os processos regulatórios de aprendizagem, considerados especialmente relevantes na área de treinamento a distância. As etapas de desenvolvimento e de busca de evidências de validade desse instrumento são apresentadas no capítulo 9.

Na próxima seção será analisado o escopo da pesquisa nacional e estrangeira sobre outra característica individual que pode ser tão importante quanto os estilos de aprendizagem: as crenças sobre o sistema de treinamento a distância. As percepções dos indivíduos sobre as reais contribuições do sistema de treinamento estão relacionadas às hipóteses que aceitam como verdadeiras sobre esse sistema (Freitas & Borges-Andrade, 2004). Em outras palavras, essas percepções estão relacionadas às crenças individuais sobre os processos de ensino e de aprendizagem, às crenças sobre os resultados que podem produzir e à importância atribuída àquele sistema nas organizações que os mantêm.

Destaca-se que foram localizados poucos estudos específicos sobre as crenças do indivíduo em relação ao treinamento a distância. Dessa forma, optou-se por realizar um estudo amplo sobre crenças com o objetivo de compreender as bases teóricas que fundamentam esse construto e conferir visibilidade à natureza das pesquisas empreendidas com essa variável dentro do contexto do trabalho e não exclusivamente na área de treinamento a distância.