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CAPITULO IV: PROBLEMAS E DESAFIOS AMBIENTAIS EM CABO VERDE

4.2. O Ambiente e os Problemas Sociais

4.2.2. A Pobreza como factor de degradação Ambiental

A pobreza em Cabo Verde é um fenómeno estrutural que está estritamente ligada à fraqueza da base produtiva, bem como às características da economia. A pobreza está intimamente ligada ao acesso aos recursos, ao emprego, ao sexo, e ao nível de alfabetização dos chefes de família, dos quais 38% são mulheres, Relatório da PNUD (2001), cit. Relatório

da FAO (2009:15).

Na verdade, é um país extremamente frágil, detentor de um povo vocacionado para a agricultura, num país onde apenas 10% da sua superfície tem condições para a prática de uma agricultura que é permanentemente ameaçada pelas condições climatéricas.

A falta ou ausência de precipitação provoca secas cada vez mais longa, como consequência “um deficit hídrico” permanente e o avanço da desertificação. “Nestas condições excepcionalmente difíceis a produção alimentar é constantemente deficitária (IDEM).

A agricultura é praticada em condições precárias (vide, CAP.II), por isso o rendimento agrícola é baixa e varia de ano para ano. Nos últimos 30 anos não há registo de “um ano em

que a produção ultrapassou os 40% das necessidades em cereais”. Esta produção agrícola deficitária, sendo imprevisíveis, constitui um risco enorme para as populações rurais no plano alimentar e contrasta com um crescimento de população de (2,4% segundo dados dos anos 90), o que aumenta a pressão sobre a situação alimentar do país, colocando em conflito os objectivos da produção agrícola e as disponibilidades em solos e água.

A reduzida dimensão da base produtiva deixa o país fortemente dependente do exterior não somente em relação às exportações, mas também em relação ao impacto dos preços das importações sobre a procura interna (IDEM).

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Esta situação é antiga, ora, “historicamente, a relação entre a população cabo- verdiana e o seu ambiente natural foi sempre difícil desde o inicio da formação desta sociedade”, segundo o citado relatório, esta dureza de relação com a natureza costuma

culminar em doenças, fomes devastadoras e emigração de centenas de milhares de cabo- verdianos.

Se ainda hoje, o país tem dificuldades na superação do seu desenvolvimento económico e social é devido á fragilidade do seu ambiente. Por exemplo a escassez de solos, coloca muitas pessoas na situação de pobreza, “estas para sua sobrevivência, exercem enorme pressão sobre o ambiente, explorando os terrenos nas encostas, que constituem mais de 60% dos terrenos cultiváveis”. (Censo 2000), agravando por seu lado o fenómeno da erosão dos solos e acelera a desertificação.

Para além da insularidade do país, é a dispersão das ilhas que constitui o maior constrangimento económico. Esta obriga à multiplicação das infra-estruturas (transporte marítimo, aéreo, entre as ilhas, produção e distribuição de energia e água, etc.), e das “instalações necessárias para a prestação de serviços sociais, administrativos e de segurança”

Relatório da FAO (2009:116). Esta situação dificulta a aplicação de qualquer Programa de luta contra a pobreza e a população procura recuperar em serviços como práticas inadequadas de agricultura até á extracção de inertes, que por além de serem de rendimentos efémeros, são também danificadoras do ambiente. Por outro lado, dificulta ao Estado, implementar a nível nacional, um programa de desenvolvimento sustentado, que permita uma educação de qualidade, que prepara as pessoas para obtenção de actividades rentáveis e com qualidade de vida.

Segundo, o documento “Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza” (DCRP), no centro do processo de desenvolvimento de Cabo Verde, estão, a redução da pobreza, a melhoria das condições de vida da população e a protecção ambiental, mas, para isso, é necessário, uma “articulação e integração da conservação da natureza”, com outras actividades que tem estado no centro da existência da pobreza e da degradação do ambiente, tais como: Agricultura, silvicultura, actividades extractivas, turismo e energia, o que mostra que, “a preservação do ambiente, deve estar a par com o desenvolvimento e o bem-estar das populações, exige interligação entre eles, não se podendo conceber políticas ou actividades que não levem em conta essa simbiose” Lopes (2010:53), aliás, os documentos estratégicos de

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Desenvolvimento de Cabo, como as Grandes Opções do Plano (GOP), incluem prioritariamente, os programas de protecção do ambiente como (Luta Contra a Desertificação, Protecção das Espécies, Educação ambiental entre outros), como principal meio de combate à pobreza e propõe em alternativa, actividades geradoras de rendimento e com respeito para o ambiente. Associam também, os problemas ambientais ao desordenamento do Território, isto explica-se pelo facto que, na prática quanto maior for o nível de desordenamento do território maiores são os problemas ambientais e maior é a pobreza e vice-versa.

Um dos objectivos da A21 Local, seria “contribuir para um desenvolvimento que, a um só tempo, integre as necessidades de viabilidade económica, defesa do ambiente e promoção das condições de vida das populações” (CNUAD, 1993, cit. por GUERRA;

NAVE&SCHMIDT, 2005:14). No” capítulo 28 deste documento defende-se que, “como nível

de governação mais próximo das pessoas, elas «as administrações locais» desempenham um papel vital na educação, mobilização e preparação dos cidadãos para promover o desenvolvimento sustentável” (CNUAD, 1993:333). Neste sentido o Poder Local tem um papel relevante na luta contra pobreza dado às suas proximidades aos problemas e às culturas das populações. Podem facilmente identificar as bolsas de pobreza, fazer todo o trabalho de sensibilização, envolvendo-as, através de uma política de proximidade, na procura da melhoria de suas qualidades de vida sem prejuízo para o ambiente.

Contudo, não é fácil, num país como Cabo Verde, conciliar o desenvolvimento humano e a protecção ambiental porque pode originar situações complexas e muitas vezes contraditórias, especialmente, quando põe em jogo as necessidades e os desejos dos mais pobres, cujas medidas de protecção ambiental no quadro dos compromissos assumidos pelo Governo chocam com as suas tradições sociais e culturais. Por exemplo a criação de zonas protegidas teve resistência das populações, pobres, das redondezas pelo facto destas áreas sempre servirem de local de exploração agrícola ou pastorícia e extracção de lenhas como meio de sobrevivência.