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CAPITULO IV: PROBLEMAS E DESAFIOS AMBIENTAIS EM CABO VERDE

4.1.2. As políticas públicas do Ordenamento do Território

O ordenamento do território é um dos domínios da política pública mais complexos, uma vez que afecta questões fundamentais para o ambiente, mas que condicionam, igualmente, todos os restantes sectores,(LOPES, 2010:50). Segundo ele é no ordenamento do

território que se reflecte a capacidade de cada sociedade desenvolver uma visão de longo prazo, criar consensos, envolver os agentes públicos e privados em compromissos conjuntos, enfim, a capacidade administrativa, nos seus vários níveis, de integrar e concertar as visões diferentes, relativamente ao uso do território e dos seus recursos.

Cabo Verde dispõe de vários instrumentos, de políticas públicas, que enquadram e promovem um correcto Ordenamento do território. Contudo não dispõe de mecanismos de conexão que de acordo com (LOPES 2010), “possibilite identificar claramente uma hierarquia entre os vários instrumentos, que integre nele os objectivos ambientais, sociais e económicos, que articule as equipas e promova a circulação e o tratamento cruzado da informação na sua elaboração”. Por falta de concertação, coordenação e diálogo a vários níveis (Central e Local), poderá até haver sobreposição de competências e de decisões. Por outro lado, essas instituições e seus actores estão completamente dependentes dos orçamentos das autarquias municipais, e marcadas por uma forte escassez de recursos humanos qualificados e materiais adequados. Além disso, estão sob uma pressão constante, para o alargamento da área urbana através de novas construções como forma de aumentar os recursos financeiros das autarquias deixando para o 2º plano o ordenamento sustentável, ocupando áreas impróprias para as construções, dificultando ainda mais a planificação urbana.

61 -Esta Lei veio revogar a Lei nº 79/VI/2005.

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Nota-se ainda que a legislação cabo-verdiana no tocante aos riscos naturais e ambientais revela-se insuficiente, com destaque para a componente preventiva, mesmo sabendo que o país pela sua situação geográfica com influência do deserto, características orográficas e suas actividades económicas que desenvolve está sujeito a riscos específicos e com causas directa na natureza. Riscos como chuvas torrenciais, alagamento de terras das encostas, tremores de terra, incêndios florestais, cheias e inundações, fenómeno de erosão do litoral, com destaque para as consequências das secas, ventos esporádicos e outros.

O problema da imigração, tanto interna como externa, e o crescimento do turismo na economia cabo-verdiana, mostra uma tendência para o aumento do sector terciário, o que implica alterações das necessidades de ocupação de espaços e dos padrões de consumo, impulsionando o desenvolvimento imobiliário e urbano em alguns Concelhos ou Ilhas como Sal, Maio, Boavista, S.Vicente, Santiago.

Este facto tem motivado um conjunto de questões sobre o Ordenamento do território e, com profundas consequências ambientais. Por exemplo, tem provocado a expansão desordenada dos centros urbanos e peri-urbanos, invadindo e fragmentando certos espaços ecológicos e produtivos, tudo, porque o crescimento das cidades aumenta as agressões ao meio ambiente, “ligados basicamente ao uso e ocupação informal do solo, ao crescimento da malha urbana sem o acompanhamento de recursos, infra-estrutura e a expansão imobiliária….” (LOPES& MOURA, 2006). O processo de crescimento da Cidade da Praia

“reforçando os problemas de ordem ambiental” ilustra bem o exemplo.

É neste contexto que, depois de um longo período de vazio em termos de “regulamentação sobre o Ordenamento do Território e Urbanismo” foi publicado o D.L. Nº 85/IV/93, de 16 de Julho, cujo art.º 5º.2al.b) é dedicado à definição do ordenamento do território, como processo integrado da organização do espaço biofísico, para, no artigo 27º.1al.d), apontar o ordenamento integrado do território como um instrumento de Politica de Ambiente e do Ordenamento do território. Pela primeira vez no período pós-independência o Ordenamento do território aparece em documento legislativo e em partes, adaptado às novas situações.

Em 2004, o Fundo da Nações Unidas para o Agricultura e Alimentação «FAO» apoiou a elaboração de Planos Ambientais, com destaque para os planos intermunicipais, num conjunto de nove planos integrantes do PANAII (2º Plano de Acção nacional para o

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Ambiente) para um período de 10 anos (2004-2014), durante a qual se detectou a necessidade de adoptar medidas institucionais, legislativas e de programação com base no diálogo e concertação a vários níveis decisórios, desde o Central, e à própria sociedade civil, de acordo com aquilo que se apelidou de “Governança Social” (UNDP, 1999).

Assim, a 13 de Fevereiro de 2006, através do Decreto - Legislativo nº 1/2006, foi aprovada, a lei de Bases do Ordenamento do Território e Planeamento Urbanístico (LBOTPU) que definiu os instrumentos de gestão do Território como DNOT, EROT, PDM, PDU e PD, que de acordo com MASCARENHAS (2007:138), “alguns municípios já dispõe deste instrumento embora alguns tem necessidade de uma revisão e outros encontram-se em fase de elaboração”. Apresenta ainda o ordenamento do território como instrumento de luta contra a pobreza e a exclusão social, maistarde foi alterado pelo Decreto - Legislativo nº 6/2010 de 21 de Junho, corrigindo algumas ambiguidades e no seu artº 1º, al.1, foi concedido aos cidadãos o direito e o dever de participar na definição, elaboração, execução e fiscalização do cumprimento dos instrumentos de gestão territorial.

Mesmo havendo normas reguladoras, a grande preocupação das autoridades continuam estar centradas numa política de resolução de casos pontuais ligado á inclusão social deixando comprometido as aspirações dos técnicos que pretendem os seus nomes ligados a uma proeza do Ordenamento do Território cabo-verdiano.

Numa política correcta de Ordenamento do Território deve-se encontrar mecanismo correcto de distribuição das populações e das actividades económicas de forma a defender os interesses gerais das comunidades, mas, para sua efectivação, é necessário criar uma “cultura

organizacional” que concilie as medidas legislativas com as medidas políticas e acções dos

governantes, de forma, a conseguir uma articulação entre os instrumentos de gestão e os Planos de desenvolvimento.

Segundo o PAIS (2003), o ordenamento do território só estará em condições de dar essa contribuição para a solução do problema e contribuir para o desenvolvimento económico e social se os constrangimentos institucionais forem ultrapassados, sobretudo no tocante à ausência de Planos de Ordenamento do Território e à insuficiência de Planos Urbanísticos Municipais.

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