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CAPITULO V: DOIS MUNICÍPIOS, DOIS CAMINHOS: O CASO DE ESTUDOS

5.2. Os Principais Problemas Urbanos

5.2.3 Saneamento do Meio

Actualmente um dos maiores problemas que a “Praia Urbana” enfrenta, relaciona-se com a “evacuação de excretas, drenagem e tratamento de águas residuais, a recolha e tratamento dos resíduos, bem como outros parâmetros com ligação estreita a questão do saneamento, nomeadamente as práticas de higiene e outros comportamentos da população” (POLITICA DE SANEAMENTO, 2003:5). Como é natural trata-se do principal centro económico e comercial e alberga o maior número de habitantes do país. Trata-se de um problema que preocupa os poderes públicos, privados e não só, toda a sociedade porque é uma questão que poderá pôr em causa a segurança de pessoas e a saúde pública.

A Cidade da Praia produz cada vez mais lixos e carece não só de meios necessários, mas também de estratégias e políticas para sua recolha tratamento e eliminação. Não há uma incineradora, nem um aterro sanitário, não se faz reciclagem nem existe contentores de separação de lixos, tem apenas uma “lixeira”(Fig:5), onde são depositados os lixos de forma

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indiscriminada (Resíduos domésticos, comerciais, industriais e hospitalares),66 o método de tratamento é a “queima” que não é a mais adequada, na medida em que é prejudicial ao ambiente (provoca poluição do solo e da atmosfera), e poderá atingir os lençóis freáticos.

A Lixeira pública não oferece a mínima de segurança, não é controlada por ninguém (CMP, Serviços de Saúde) nem está vedada, é um verdadeiro “labirinto de doenças”. No seu interior encontra-se, além de «animais á procura de alimentos, mas também cerca de 60 pessoas (homens mulheres e crianças) a “catar”67 diariamente, incluindo o domingo» (Dados da CMP, Fev:2011).

Figura: 6 - Lixeira Essas pessoas estão á procura de algum objecto de

valor como dinheiro telemóveis, roupas e outras coisas, mas também produtos alimentares como laranja, maçã,

bolacha que vem normalmente nos lixos das casas comerciais. A chegada dos carros de lixos representa uma verdadeira batalha para o resgate dos objectos (Fig:6). Alguns catadores vêm todos os dias, outros têm a sua pequena moradia no interior da lixeira (Fig:5) para não perder nenhuma oportunidade.

Eles conhecem bem os camiões de lixos e sabem que tipos de lixo trazem cada camião, qual pode trazer objectos de valor ou produtos alimentícios. É uma situação complicada na medida em que no interior da lixeira, existe por além de um calor infernal as pessoas são atacadas, pela fumaça das queimas e por quantidade de mosca impressionante.

66 - Decreto-Lei nº 31/2003, de 1 de Setembro

67 - Procurar de forma selectiva, ou seja, colher no lixo

Fonte: Autor, Fev. 2011

Fonte: Conselho Nacional de águas, Figura: 5 - Lixeira da Praia

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Junto da Câmara Municipal, sabe-se que está em curso um projecto de curto prazo,68 que consiste em vedar a lixeira com rede, deixando apenas uma porta de entrada, vigiada por um guarda, evitando assim, que essas pessoas vivam em permanente riscos de saúde. Mostram a sua preocupação com este caso e dizem ter feito muito para evitar este drama mas sem sucesso porque podem também “catar” á noite.

Os responsáveis pela área do ambiente e saneamento, mostram-se preocupados com a situação do lixo, mas dizem não ter meios suficientes para este combate, tem 5 Camiões, 4 dinas (2 na recolha porta a porta, 2 na recolha dos montuários (recolha ao pé dos contentores). “Estamos num concelho com muito lixo e com poucos recursos, ás vezes somos obrigados a

trabalhar á noite e quando um camião sofrer avaria torna-se ainda mais difícil”(IDEM).

Questionados sobre quais as medidas inovadoras para resolver a situação. Responde, “ a CMP contratou uma empresa para cuidar dos serviços de saneamento; reforçou a limpeza nas Praias; promove campanhas de limpeza nos fins-de-semana; comissão de limpeza para épocas festivas, recolha de sucatas e limpeza dos pardieiros (que são verdadeiros ninhos de mosquitos), vedação das principais valas nas ribeiras (barreiras artificiais metálicas) que são autênticos depósitos de lixo á noite; criou equipas de limpeza nocturna, accionou “contrato de recolha com as casas comerciais”69 etc.)

Há que salientar, que essas investidas só terão sucesso com a colaboração da população “grande parte da população tem ainda comportamento dos meios rurais, onde os lixos e águas residuais são deitados nos arredores das casas, defecam-se a céu aberto, criam animais em casa e muitos nem sequer tem casas de banho” são comportamentos que não ajudam o trabalho de saneamento.

É preciso alertar a população sobre as novas iniciativas para combater o lixo; alertá-la para o cumprimento da lei; da legislação urbanística do Município; leis que regulamentam as condições de licença, e de recolha de lixos - é preciso uma política de ambiente, saneamento e lixo (afirma um dos responsáveis do Saneamento, Fev: 2011).

Na realidade, “ é basta chover para ver que algo está errado na política de meio ambiente e de saneamento nesta cidade. Não há um sistema de drenagem que consegue dar vazão às águas pluviais, quando chove, quase que formam rios e lagos nas principais artérias

68 -Porque o Governo tem em curso um projecto de construção de um Aterro Sanitário em Achada S.Filipe. 69 -V. Código de Postura Municipal, B.O. Nº 12/08/2009

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da cidade com proliferação de mosquitos e a consequente perturbação da população. A artéria principal, que dá acesso ao estádio de futebol, á Biblioteca Nacional e ao Palácio do Governo fica literalmente debaixo da água, porque o sistema de drenagem não é contemplado com acções regulares de limpeza e manutenção. Casas de pessoas são invadidas na Várzea, os veículos desaparecem por vezes nas águas encalhadas nessa rua, o saneamento precisa de revisão e de uma política assente na realidade da Praia” (Fonte oral, Fev. 2011).

As Autoridades (Centrais e Municipais) devem rever a política de saneamento e do meio ambiente, em especial do lixo, apresentar uma solução imediata para o lixo. O que tem feito, são acções pontuais que alcançaram apenas áreas localizadas com obras pontuais e descontínuas, isto, não pode ser classificada de política de saneamento ou de ambiente – Praia, Carece de medidas de fundo para ganhar a imagem de uma Cidade limpa, saudável e com qualidade de vida, (IDEM).

Essas preocupações têm razão de ser, já que a cidade tem sido muito vulnerável às epidemias. Como cólera na década de 90, dengue na década de 2000 e outros que tem causado verdadeiros surtos, ceifando muitas vidas humanas. Estas doenças desenvolveram-se a partir das humidades nocivas por falta de escoamento de águas pluviais e do esgotamento sanitário.

A cidade cresceu sem um planeamento, várias ruas estão inclinadas para uma única artéria e esta não tem inclinação suficiente, por isso, quando chove, as valas transbordam, inundando as ruas de imundices e detritos de toda a sorte, o escoamento das águas se dá lentamente e muitas vezes só se desaparece depois de evaporados pelo calor do sol (de acordo com um técnico da CMP, Fev.2011).

Na verdade há muitas falhas, tanto no ordenamento do Território como nas políticas sanitárias e do próprio comportamento da sociedade. O certo, é que é preciso requalificar a cidade, criando um novo sistema de drenagem de água e uma nova política pública que se adequa a esta realidade de forma a ter um ambiente sã e saudável.

As condições sanitárias são preocupantes e as criticas aos serviços de saneamento da CMP são frequentes; a qualidade de serviços apresentados não são satisfatórias e deixa a entender que os serviços de saneamento não conseguem acompanhar o ritmo de crescimento da Cidade, apoiada por um desordenamento de território que dificulta a concretização de determinadas decisões camarárias.

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