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CAPÍTULO III: A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL: PAPÉIS E INSTRUMENTOS

3.1. O Papel do Poder Central

Ao Governo compete, de acordo com a Lei de Bases do Ambiente (LBA)26, E em conformidade com o Artigo 7º al.k) da CRCV,27 que determina como tarefas fundamentais do Estado «Proteger a paisagem, a natureza, os recursos naturais e o meio ambiente, bem como o património histórico-cultural e artístico». A condução da política global nos domínios do Ambiente, da qualidade de vida e do ordenamento do território (...) e a adopção das medidas adequadas à aplicação dos instrumentos criados pela LBA.

Além de mecanismos legislativos, compete ainda ao Governo, a criação de instituições, departamentos, mecanismos de políticas nacionais e locais que permitam a garantia de um ambiente sadio e que promova a qualidade de vida.

A prossecução desta acção legislativa, tanto para promoção da boa qualidade ambiental como para punir os prevaricadores, é feita, através da administração directa28, ou da administração indirecta29 do Estado, um e outro, em articulação com o Poder Local, tendo em

25 -V. Art. 73º CRCV (Constituição da República de Cabo Verde) 26 -Lei nº 86/IV/93, de 26 de Junho.

27 -CRCV, foi revista em 1995, 1999 e 2010.

28 -Integra todos os órgãos, agentes e serviços integrados na pessoa colectiva do Estado, de modo directo e

imediato e sob dependência do Governo, desenvolvem uma actividade tendente à satisfação das necessidades colectivas.

29 -Integra as entidades públicas, distintas da pessoa colectiva “Estado”, dotadas de personalidade jurídica e

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conta as importantes atribuições dos Municípios no domínio do ambiente, saneamento básico e salubridade do meio.

De notar que, na actual estrutura orgânica do Governo existe um Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos o qual abrange, entre outras, as matérias referentes ao ambiente e o ordenamento do território.30

De acordo com Ramos, 200331 o diploma orgânico do actual Governo,32 numa demonstração clara da importância atribuída ao ambiente, enfatiza precisamente este aspecto ao criar o Ministério do Ambiente Agricultura e Pesca (MAAP), “como órgão nacional responsável pela política do Ambiente e do ordenamento do território” LBA (art. 3º.e)).

Segundo ele, foi atribuído a este sector governamental, no sector do ambiente e recursos naturais, um conjunto de incumbências enquanto entidade responsável para propor, coordenar e fiscalizar a execução da política de ambiente, um leque grande de competências que perpassam todos os componentes ambientais naturais e humanos. A sua criação vem dar sequência ao cumprimento do estabelecido na LBA (Artigo 2º.2), segundo o qual a Política do Ambiente tem por fim optimizar e garantir a continuidade de utilização dos recursos naturais, qualitativa e quantitativamente, como pressupostos básicos de um desenvolvimento auto – sustentado.

Além disso, como órgão nacional responsável pela Política do Ambiente e do Ordenamento do Território, quer a nível global ou sectorial, deve participar na prevenção dos riscos naturais e industriais; fomentar a participação dos cidadãos e das instituições na protecção do ambiente, incluindo estímulos à constituição de associações de defesa do ambiente; propor normas para a protecção e utilização de águas; apresentar soluções para os resíduos sólidos e efluentes líquidos; promover e coordenar a elaboração do Plano Nacional da Política de Ambiente e outros Planos Sectoriais.

O MAAP como órgão Nacional, dispõe de amplas atribuições, e em coordenação com as autarquias Locais, incentiva e apoia as Associações ou Organizações Não Governamentais do Ambiente.

30- V. Artigo 33º do decreto-lei n.º 30/2002, de 30 de Dezembro. 31 - Consultor jurídico, na elaboração do PANAII, 2003

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Na sua execução directa das Políticas definidas pelo Governo Central, conta com o apoio de outros órgãos criados para o efeito. É o caso da DGA e outros Ministério que por transversalidade tem também funções ambientais (os problemas ambientais constitui uma problemática que toca todos os sectores de actividades e áreas de governação). Por exemplo, o Ministério da Educação que de acordo com o art. 4º.l) da LBA, deve participar com «A inclusão da componente ambiental e dos valores herdados na educação básica e na formação profissional, bem como o incentiva à sua divulgação através dos meios de comunicação Social, devendo o Governo produzir meios didácticos de apoio aos docentes (livros,

brochuras, etc.)». É nesta perspectiva que foi implementado o Programa de Formação e Informação para o Ambiente (PFIE), no ensino formal a partir de 1990, com o objectivo de sensibilizar e preparar os professores para o ensino de matérias ligadas ao ambiente “este programa desenvolveu, durante 10 anos, acções de sensibilização, comunicação, formação, animação nas escolas e elaboração de materiais didácticos, tendo escolhido como público alvo prioritário a comunidade educativa do ensino básico” ; o Ministério da Defesa com o controlo

nas alfândegas de produtos importados, aplicação de taxas ecológicas e até na realização de actividades práticas de saneamento, últimamente no quadro da luta contra o mosquito “Dengue” os militares deram grande contributo na campanha de desinfecção das casas de

pessoas; na limpeza das ruas, das ribeiras, das Praias etc. o Ministério do mar na sensibilização contra a captura de certas espécies em extinção, como tartaruga e na fiscalização das praias contra a apanha de inertes etc. Ministério de saúde, orienta e sensibiliza o saneamento do meio, com divulgação na comunicação social e com cartazes sobre a melhor forma e prática de higiene e combate a certas doenças. Convém, salientar que, “as funções do ambiente são dispersos entre diversos sectores e instituições da administração

pública”, e em muitos serviços sectoriais que se relacionam com o ambiente, tem na sua orgânica de forma explícita ou implícita tarefas ambientais, pelo que, o Ministério responsável pela política deve colaborar com todos os sectores e actores envolvidos na questão ambiental. Cabe ainda, ao Poder Central, coordenar os serviços de ordenamento do território, das indústrias e do turismo33, através da criação de normas de licenciamento e de certificação dos impactes ambientais.

33 -“O Estado e os Municípios devem assegurar que a actividade turística se desenvolva com respeito pela

exigência de protecção do meio ambiente, das reservas naturais, do equilíbrio ecológico e do património cultural” artº 23, da Lei nº 21/IV/91, de 30 de Dezembro.

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Antes de 1994, “apesar de algumas acções desenvolvidas a nível da Secretaria de Estado da Agricultura, o ambiente não figurava como um dos componentes da estrutura governamental”, RAMOS, (2003). Não existia um órgão que coordenava os serviços de execução de políticas ambientais, apesar da aprovação da LBA34 em 1993, cujo art. 39º apontava para a necessidade de criar um organismo destinado a promover a qualidade ambiental. Contudo, este artigo muito importante para resolver as fraquezas do Direito Ambiental em Cabo Verde, com destaque para a informação e fiscalização, não foi dado um tratamento que merece.

A Referida LBA (artº 4º, al. a), b) e c); conjugado com o artº 4.2) foi fundamental na definição do papel do poder Central, ao associar explicitamente o ambiente ao Ordenamento do Território e ao Planeamento económico e propõe a existência de um órgão nacional responsável pela política do ambiente e do território a fim de garantir a integração da problemática do ambiente, do ordenamento do Território e do Planeamento económico, quer a nível global quer sectorial.

Em conclusão, o Poder Central em representação do Estado, cria instrumentos de política que sirva como guia para execução de suas actividades na tomada de decisões, adoptando medidas de contenção e fiscalização que possam contribuir para a danificação do ambiente. Estas políticas e medidas além de estarem adequadas aos problemas actuais devem também ser tomadas em sintonia com outros actores, também, com responsabilidades na área, é o caso dos Poderes locais e outros, como única forma de garantir a perenidade e sustentabilidade.

Sintetizando o artº3º da LBA “O papel do Poder Central nesta área não é de

execução, mas de dinamização, de coordenação e de supervisão”. Desenvolver políticas públicas em articulação com as dinâmicas sectoriais do ambiente, dinâmicas do sector privado, das autarquias locais, das ONGAs e da sociedade civil em geral, o que implica existência de critérios rigorosos na selecção de capacidades humanas tanto em quantidade como em qualidade.

34 - Lei nº 86/VI/93 de 26 Julho define as bases da Politica do ambiente e o Decreto legislativo nº 14/97 de 10 de

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