CAPITULO V: DOIS MUNICÍPIOS, DOIS CAMINHOS: O CASO DE ESTUDOS
6.2. Cooperação Municipal e Parcerias
Segundo a Revista, Villes en devenir (2010) “A noção de cooperação descentralizada, que surgiu em 1989 na Convenção de Lomé IV, traduz o compromisso da Comissão Europeia em favor de formas de governança local e de uma maior participação da sociedade civil”.
A ideia é retomada na Cimeira das cidades realizadas em ISTAMBUL pelas Nações Unidas em 1996, durante a qual, as Cidades foram reconhecidas como principais desafios da comunidade internacional em matéria de desenvolvimento económico e social como para o “futuro” do Planeta.
O processo conheceu avanços a ponto que “actualmente as nações Unidas dialogam directamente com as autoridades locais para o cumprimento dos ODMs”.
O mesmo documento continua dizendo que “Esse clima político tem feito com que as
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promovendo, paralelamente, a constituição de redes de cidades em todas as regiões do globo”
Em Cabo Verde, a nova configuração municipal instalada com a lei nº 77/VII/2010 que eleva a condição de cidade todas as sedes dos municípios, coloca os municípios em situação de igualdade pelo menos em termos estatutário e criou condições de implementar novos vínculos de cooperação descentralizada, isto é, “diplomacia municipal” ou das cidades.
Essas diplomacias poderão criar novas chances e oportunidades para o desenvolvimento e gestão nos municípios, e contribuir para a consolidação do poder local, porque através de cooperação podem fazer a transferência de know-know e ganharem influência junto das autoridades nacionais e internacionais.
A França foi um dos principais impulsionadores desta cooperação Local em Cabo Verde, na sua 9ª Comissão Mista76, definiu a descentralização como eixo de cooperação (apoio institucional aos municípios e desenvolvimento urbano), agua, energia, saneamento, ensino e difusão da língua francesa. Em 2008, criou uma linha de crédito para financiamento de projectos municipais em diversos sectores e tomaram como principais parceiros a DGAL77 e a ANMCV78.
Sabe-se que essas instituições de cooperação local, tem passado por dificuldades financeiras tão complicadas que por vezes põe em causa a aplicação de resoluções da própria Instituição. A parceria é a única via através da qual se tem conseguido resolver muitos desses problemas. Ultimamente, a ANMCV, assinou um acordo de parceria com a rede “Euro
africana”79 de municípios que poderá ser crucial no desenvolvimento da “diplomacia
municipal” em Cabo Verde. Trata-se de uma Instituição que prioriza a elaboração de planos de desenvolvimento económico, de governação electrónica e mobilidade através da qual os municípios caboverdianos poderão fazer troca de experiências e polar para outros patamares.
76 -Realizada em 1997
77 -Direcção Geral de Administração Local
78 -Associação Nacional dos Municípios Cabo-verdianos.
79 - Engloba as “associações e Federações de municípios das Canárias, das regiões Autónomas da Madeira e dos
126 A nível local é a Lei nº 134/IV/95 de 3 de Junho, nos seus art.ºs 15.2; 21 e 22, que regula a possibilidade de cooperação entre os municípios e/ou municípios e Estados.
Através desses artigos do Decreto - Lei nº 134/IV/95, ficam com poderes acrescidos
de “participar nas negociações de acordos de cooperação internacional”, “associar-se para a defesa e realização de interesses comuns (…) numa base regional ou internacional (…)”.
Portanto na base desta lei, Praia e PSSM, poderão accionar várias iniciativas de cooperação dentro do campo de suas competências específicas, trocando conhecimentos na implementação de políticas públicas – como descentralização, gestão de serviços urbanos e ordenamento territorial. Desenvolver projectos e programas que visam reforçar as capacidades de gestão e desenvolver a autonomia dos parceiros. Criar um sistema de reciprocidade, por meio de intercâmbio cultural, de apoio às associações locais, da promoção de competências locais e de aposta no desenvolvimento de pólos de excelência.
De mãos dadas, os dois municípios poderão até à semelhança de alguns países criar uma “Comissão de Cooperação Descentralizada” vinculada ao Ministério das relações
exteriores ou da Direcção Geral de Administração Local (DGAL), exigindo destes que sejam o porta-voz dessas iniciativas locais. Assim tem maior capacidade de mobilização de recursos para ambos os municípios e contribuir para realização de projectos operacionais envolvendo esferas municipais, nacionais até internacionais.
A nível de ambiente, pode-se, realizar actividades conjuntas que permitam encontrar parceiros para financiamento de projectos de protecção ambiental, o que já se denomina de “Forum de Cooperação Ambiental” que permita passar alguns “slogan” como “Cidades verdes” “Cidades Limpas” “A floresta é de todos”água é a vida” que poderão chamar atenção da sociedade para a protecção do ambiente, ou seja, daquilo que é mais precioso para a vida.
Incentivar e premiar projectos de investimentos e vendas de produtos ambientais dos Concelhos, relacionados com a poupança de energias, tratamento de águas residuais e cuidados higiénicos.
Para os grandes eventos chamar as empresas a expor os seus produtos ligados à eficiência energética, poupança da água e protecção ambiental e criar prémio para o pavilhão “mais verde”.
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Em conjunto poderão promover a cooperação a nível das ilhas na área de protecção ambiental, dando oportunidades de negócios às produções locais e servir de plataforma de intercâmbio entre o Governo e stakeholders dos respectivos concelhos na implementação de suas políticas ambientais a nível nacional, o que permite abrir o debate público com objectivo de promover a consciencialização ambiental, escolhendo temas elucidativos, como o desenvolvimento das cidades ecológicas, o turismo sustentável, energias renováveis, água e saneamento etc.
Podem ainda, elaborar um plano conjunto de habitação social, de abastecimento de água potável e Turismo, sabendo que Praia tem mais experiência nestas áreas e os hotéis da capital poderão criar no aeroporto um “pavilhão” de propaganda do concelho congénere e um centro de guia turístico com sede nos Picos.
No fundo esta cooperação deve passar, em primeiro lugar, pela elaboração de um documento que permite a autarcas, entre outras coisas, promover pesquisas e desenvolver projectos comuns, a fim de padronizar algumas acções para em conjunto solucionar problemas dos municípios.