• Nenhum resultado encontrado

4. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE CURRÍCULO

4.3 Níveis ou Fases do Significado de Currículo

4.3.1 A política curricular e o currículo prescrito

Entre as condições sociais e históricas que intervêm no currículo, estão as políticas curriculares, as quais direcionam/governam as decisões gerais sobre as instituições de ensino e se expressam jurídica e administrativamente. Trata-se de um campo ordenador decisivo que indica a atuação dos professores e alunos. Situa-se na realidade educativa não apenas como um dado da realidade curricular, mas como delimitador da atuação dos agentes dessa realidade (SACRISTÁN, 2000). As políticas curriculares, portanto, participam do contexto e das condições que fazem ser o currículo aquilo que ele é, visto que suas características, em boa medida, estão atreladas a esses condicionamentos políticos.

No tocante ao Estado, é inegável que as políticas desenvolvidas sobre o currículo expressam um projeto social, são uma forma de intervenção na organização da vida social, porque dizem respeito à forma de distribuição do conhecimento para as pessoas, influindo na cultura e na ordenação social e econômica da sociedade. O modo pelo qual as políticas interferem na vida social é condicionado segundo “as épocas e modelos políticos, que têm diferentes consequências sobre o funcionamento de todo o sistema” (SACRISTÁN, 2000, p. 108). A análise dessas políticas não somente favorece a compreensão de uma hegemonia

18

Para Sacristán (2000) o currículo se forma a partir do cruzamento de diferentes campos, que estão inter-relacionados.

cultural de um Estado em um dado momento histórico e social, mas também permite entender o que ocorre no interior de instituições escolares e universitárias, visto que as políticas incidem sobre as decisões e o desenvolvimento de currículos.

Dessa maneira, é por meio dessas políticas que certos mínimos curriculares e orientações são estabelecidos, como disserta Sacristán (2000). A política curricular é um das manifestações ou aspectos da política educativa, nela se estabelece a forma de ordenação, seleção e mudança do sistema educativo. É por meio da política curricular que se pode reconhecer o poder e a autonomia dos agentes que participam dos sistemas educativos, inclusive, estabelecendo, em certa medida, as margens de atuação dos subsistemas que atuam no currículo.

Essas prescrições ou orientações – que servem como referência para a ordenação do sistema curricular, operando sobre a elaboração de projetos pedagógicos, a avaliação das instituições educativas e outros elementos que constituem e orientam as instituições de ensino – configuram o significado do currículo prescrito.

Para alguns níveis de ensino ou por alguns agentes do sistema educativo, o currículo prescrito pode ser tomado como a sua própria definição. A função reguladora da política curricular pode acontecer de modo coercitivo ou de forma mais técnica e burocrática, visando a uma pretendida “melhoria” da prática educativa, mas sempre buscará ordenar o sistema educacional.

Os meios pelos quais essa forma de política atua podem se manifestar por: modos de imposição ou indicação da distribuição do conhecimento; estruturas de decisões centralizadas ou descentralizadas sobre o currículo, oferecendo ou cerceando a autonomia dos agentes da educação; aspectos de incidência do controle, tais como, carga horária, disciplinas, objetivos de aprendizagens considerados mínimos; mecanismos implícitos e explícitos de controle sobre a prática e a avaliação do sistema educativo e políticas de inovação do currículo, as quais podem visar à assistência às instituições e aos professores que nelas trabalham com a finalidade de melhorar a qualidade de ensino.

As prescrições curriculares podem ser dotadas de diferentes funções. O currículo prescrito, assim, pode fazer existir mínimos curriculares e diretrizes para currículo direcionados a um nível de ensino ou até mesmo para todo o sistema de educação. Quando isso acontece, é possível dizer que se defende um projeto de cultura comum para os membros de uma certa comunidade, o qual será viabilizado por meio de plano educativo balizado por

uma mesma fonte ou referência. Temos aí uma situação de normalização cultural, segundo o ponto de vista de Sacristán, a qual está atrelada, por exemplo, a uma opção de minimização das desigualdades sociais.

Sobretudo quando se trata da educação obrigatória, num país, como o nosso, onde ainda se verifica uma realidade de oportunidades educativas, sociais e culturais desiguais, oferecer um núcleo curricular mínimo é uma das alternativas possíveis para superar essa situação. Nesse sentido, a construção de um projeto curricular cujos mínimos sejam assegurados se vincula a um ideal de oferecimento de igualdade de oportunidades por meio da educação.

Por outro lado, ao unir ou separar conteúdos e saberes, ao escolher o momento de iniciação em uma certa prática ou componente curricular (como o estágio curricular obrigatório do curso por nós pesquisado, que a partir das DCN passou a ser feito na segunda metade do curso) ou ainda ao reger a ampliação e a distribuição de certos conhecimentos teórico-práticos da área educacional, o currículo prescrito também ordena a sequência do progresso no sistema de ensino, exercendo assim uma organização do saber. Outra maneira de fazer isso é diferenciar o que é obrigatório daquilo que é eletivo numa proposta de ensino.

As prescrições podem ter por finalidade a melhoria e o aprimoramento da prática escolar e acadêmica e, para alcançar esse objetivo, pode-se chegar a propor modelos definitivos de currículo. Apesar de ter um propósito de regulação e controle do processo de ensino, por meio de orientações precisas e de sugestões, as prescrições não são capazes de interferir plenamente no que acontece no interior da sala de aula. Uma outra razão atribuída ao estabelecimento de regulamentações, normas e regras em torno da elaboração e prática curricular é que a inspeção ou as avaliações internas e externas são um modo de controlar a qualidade de ensino.