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5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.4 Procedimentos de Coleta de dados

5.4.1 Análise documental

No caso da análise documental, tomamos como fonte de dados o projeto pedagógico de Letras-Português e “atas de reunião do colegiado do curso de graduação em Letras”, “atas de reunião do colegiado de Letras-Licenciaturas” e “atas da Comissão para a reforma”, bem como ofício de convocação37 para reuniões do colegiado do curso de Letras.

O PPC de Letras-Português é resultado das discussões para a construção de um novo currículo para a habilitação em licenciatura em língua portuguesa e suas literaturas. O uso desse documento se deu em razão de nele se congregarem dados importantes para este estudo, como: justificativa para a reformulação; objetivos do curso; perfil do profissional; campo de atuação competências, atitudes e habilidades do egresso, entre outros elementos que materializam verbalmente um ideal institucional oriundo do processo de reformulação curricular. Trata-se, portanto, de um documento que reúne as decisões tomadas para o currículo reformulado desse curso. Além disso, trata-se de um documento oficial cuja

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Encontramos nos Livros de Atas, poucos ofícios de convocação. Por situarem os lugares onde se deram algumas reuniões do Colegiado do curso que trataram da reforma curricular, fizemos uso de informações presentes nesses documentos, como elementos contextualizadores. Esses documentos foram usados como fonte secundária de dados.

elaboração requereu a participação do conjunto de professores e cuja aprovação passou pelo colegiado do curso, lugar de representação do corpo docente e discente.

Esse documento é composto por 20 capítulos e 3 anexos, os quais tratam de elementos referentes ao pleno funcionamento do curso de Letras-Português. São eles: 1. Identificação do curso; 2. Histórico; 3. Justificativa para a reformulação; 4. Marco teórico; 5. Objetivos do curso; 6. Perfil do egresso; 7. Campo de atuação profissional; 8. Competências, atitudes e habilidades; 9. Sistemática de avaliação dos aprendizes; 10. Organização curricular do curso; 11. Programas de cada componente curricular; 12. Projeto do estágio supervisionado; 13. Atividades complementares; 14. Normas relativas ao trabalho de conclusão de curso; 15. Corpo docente; 16. Condições de funcionamento do curso; 17. Sistemática de concretização do projeto pedagógico; 18. Sistemática de avaliação do curso; 19. Documentos comprobatórios; 20. Requisitos legais e normativos, e Anexos (que são compostos por quadro de equivalência de componente curricular; corpo docente; regulamentos de atividades complementares, estágio curricular obrigatório e trabalho de conclusão de curso).

Do projeto pedagógico cuja última atualização foi feita em 2013, selecionamos para análise os capítulos concernentes ao histórico do curso; justificativa para a reformulação; objetivos do curso; perfil do profissional egresso; campo de atuação profissional; competências, atitudes e habilidades e organização curricular do curso.

As atas de reuniões e ofícios foram selecionadas porque, a partir desse tipo de documento, que tem por finalidade textual registrar deliberações colegiadas e convocar a comunidade acadêmica (ou parte dela) para debates e decisões, é possível identificar elementos contextualizadores do processo de construção do novo currículo e de construção das representações sociais sobre a reforma curricular. A fim de ter uma visão geral do conteúdo das discussões sobre reforma curricular desse colegiado, analisamos inicialmente 08 livros de atas de reunião (os quais foram disponibilizados pela secretaria do curso a uma técnica em assuntos educacionais da universidade que nos acompanhou durante a nossa leitura e coleta de dados), sendo que desse total, excluímos 05 livros porque as discussões empreendidas não contemplavam o tema da “reforma curricular”, critério de seleção de nossa busca. Sendo assim, foi nos livros de atas intitulados “Livro de Atas”, “Colegiado 1994 a 1999” e “Atas Colegiado Letras Licenciaturas” que encontramos referências explícitas ao tema da reforma.

Quando fazemos uso de citações do conteúdo de atas de reunião e afins, para preservar a identidade dos participantes das reuniões naquele momento, optamos por usar apenas as iniciais de seus nomes.

Entre as vantagens e características do uso da análise documental em pesquisas na área de Educação, Lüdke e André (2013) citam o fato de o documento ser uma fonte estável e rica de consulta, além de servir como meio de evidenciar e/ou confirmar constatações feitas pelo pesquisador. A partir de documentos também se pode recuperar a natureza do contexto em que eles foram produzidos. Para a presente pesquisa, os documentos consultados, como as atas de reunião, permitem nos apropriar, em certa medida, do contexto de discussão para a mudança do curso de Letras.

Além disso, como dissertam as referidas autoras, dos documentos podem ser retiradas evidências que fundamentam a problematização feita pelo pesquisador, eles também podem servir como complemento de outras técnicas de coleta de dados, no nosso caso, a entrevista. Guba e Lincoln (1981, apud Ludke e André, 2013) admitem que uma fonte repleta de informações como o documento não deve ser ignorada. No nosso caso, o projeto político- pedagógico do curso Letras-Português reúne concepções sobre a formação docente do professor de língua portuguesa elaboradas no seio do corpo docente do curso em questão; tal elemento nos ajuda a compreender a conjuntura histórica, pedagógica e institucional em que se constroem as representações sociais da reforma do curso. A seguir, apresentamos o quadro 07, que explica os critérios de análise dos documentos coletados e analisados neste estudo.

Quadro 07– Critérios de análise dos documentos

Fonte: Marcela Monteiro (2015).

5.4.2 Entrevistas semiestruturadas

Com roteiros diferenciados para os dois grupos de sujeitos participantes da investigação, realizamos entrevistas semiestruturada; atendendo a propósitos específicos. Partimos de alguns questionamentos elementares e fizemos acréscimos ou supressões de perguntas conforme o desenvolvimento das sessões, já que se tratar de entrevistas semiestruturadas, permitiram a retirada ou a adição de indagações não elaboradas previamente, resultantes das respostas dadas pelo informante. No caso do uso desse instrumento de coleta, o sujeito entrevistado participa da elaboração do conteúdo da pesquisa,

Análise documental

Fonte de coleta: Atas de reuniões e ofícios de convocação Critérios de análise:

 Exame dos conteúdos das discussões sobre a reforma curricular durante as reuniões que tiveram a reconfiguração do currículo como pauta.

 Identificação dos elementos que sinalizam o contexto em que se debateu a reforma do curso de Letras.

Fonte de coleta: PPC Letras-Português Critério de análise:

 Identificação de decisões didático-pedagógicas referentes à formação do professor de português resultantes da recente reforma do curso no currículo prescrito, observando: histórico do curso; objetivos do curso (geral e específico); justificativa para a reformulação; perfil do egresso; campo de atuação; competências, atitudes e habilidades; distribuição de carga horária.

uma vez que segue sua linha de pensamento, orientado pelo foco principal da pesquisa (TRIVIÑOS, 1995, p. 46).

Além disso, “entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que conflitos e contradições não estejam claramente explicitados” (DUARTE, 2004). Os depoimentos, que são individuais e subjetivos, permitem ao pesquisador extrair o que se refere nesses registros ao coletivo. Ou seja, as informações colhidas na entrevista “nos permitem compreender a lógica das relações que se estabelecem (estabeleceram) no interior dos grupos sociais dos quais o entrevistado participa (participou, em um determinado tempo e lugar).” (DUARTE, 2004, p. 219).

Pelos atributos da entrevista ela é um recurso de coleta de dados amplamente usado em estudos de representações sociais, sendo, aliás, um dos instrumentos usados por Moscovici no seu estudo sobre a representação da Psicanálise.

Visando a atender aos critérios da abordagem processual de estudo das representações sociais (JODELET, 2001), entre outros pontos, questionamos sobre (cf. o apêndice A): significado da reforma para os professores; sugestões de revisão para currículo atual; mudanças provocadas pela reforma no curso de um modo geral; habilidades e competências desenvolvidas e esperadas do egresso; objetivos da reforma; ganhos e perdas advindos da reforma conteúdos ensinados; materiais usados para o planejamento de aulas; mudanças na prática de ensino advindas da reforma; dificuldades e facilidades trazidas pela reforma à prática de ensino.

No grupo 1, quisemos identificar elementos caracterizadores das representações sociais desses sujeitos a respeito da reforma curricular empreendida e os seus reflexos na prática de ensino desse conjunto de docentes.

Em relação ao grupo 2, quisemos entender mais profundamente como aconteceram as reuniões para a reformulação dos cursos de Letras, visando a identificar, entre outras questões, as demandas que se apresentaram; a pauta de discussão; os dissensos e consensos relacionados ao novo currículo (cf. apêndice B).

Quadro 08 – Critérios de análise para as entrevistas semiestruturadas por grupos de informantes

Entrevistas semiestruturadas

Grupo 1

Critério de análise:

Identificação de elementos caracterizadores das representações sociais de professores que praticam o currículo Letras-Português. Para isso, observamos: a) as relações entre as representações sociais da reforma e a prática de ensino no curso de Letras-Português e b) a relação entre a formação pedagógica e a formação específica no atual currículo de Letras- Português.

Grupo 2

Critérios de análise:

 Identificação de elementos caracterizadores das representações sociais de professores que participaram das discussões para a construção do novo currículo de Letras-Português.

 Exame do contexto e conteúdo de discussão para a construção do novo currículo.

No quadro 09, demonstramos como os instrumentos de coleta de dados se articulam aos objetivos da pesquisa.

Quadro 09 - Procedimentos de coleta de dados e objetivos da pesquisa

Objetivos da pesquisa

Procedimentos de coleta de dados

Entrevista Análise documental

Analisar o conteúdo geral das representações sociais da reforma do curso por parte dos professores que participaram da redefinição e/ou prática do novo currículo dessa licenciatura.

X X

Identificar como é entendida a relação da formação pedagógica e da formação específica no currículo reformulado.

X X

Identificar as relações entre as representações sociais da reforma e a prática de ensino no curso de Letras- Português.

X

Fonte: Marcela Monteiro (2015).

O uso do instrumento questionário38 se deu em momento anterior ao momento de cada entrevista e teve a exclusiva função de auxiliar o mapeamento de informações que caracterizaram o perfil de nossos sujeitos (tais como o seu tempo de experiência de ensino, área de atuação, experiência na educação básica etc.). Dessa maneira, esse instrumento de coleta de dados foi pouco explorado em suas possibilidades, uma vez que demos preferência às entrevistas semiestruturadas (por permitirem o aprofundamento nas questões tratadas pelos informantes) e à análise documental para a obtenção do corpus desta pesquisa.

Interessa observar que, a princípio, conjecturamos o uso do instrumento de entrevista de grupo focal, a qual seria feita com o grupo B, já que os docentes desse grupo teriam participado de forma ativa de um evento em comum. O uso do grupo focal pareceu-nos

adequado porque esse recurso permite a interação entre os membros entrevistados, além de que o fato de ser um grupo composto por pares poderia causar a sensação de maior segurança aos participantes. O debate poderia aumentar a qualidade das informações que emergiriam da situação de grupo. Contudo, a aplicação desse instrumento demonstrou-se inviável no nosso campo de pesquisa, visto que nossos informantes, em sua maioria, não tiveram horários compatíveis, de modo que reuni-los em uma ou mais sessões de entrevista revelou-se muito difícil; os professores têm muitos compromissos, como eventos científicos, orientações de mestrado e doutorado, além de aulas, e os horários disponíveis não se articulavam com os de seus pares. Dessa maneira, a partir de nossa entrada no campo e dos encontros e desencontros com os sujeitos, foi necessário mudar a estratégia de coleta de dados do grupo 2; optamos, pois, pelo uso de entrevistas individuais semiestruturadas, como já havia sido feito com o grupo 1.