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Loukas Tsoukalis, 1981:

A PRIORIDADE DAS PRIORIDADES

Após três governos indicados pelo Presidente da República, António Ramalho Eanes, o último dos quais de transição, incumbido de preparar eleições legislativas intercalares, cujo vencedor foi o PSD, liderado por Francisco Sá Carneiro, que formou uma aliança com o CDS e o Partido Popular Monárquico (PPM), formando o VI GC244, que iniciou funções em Janeiro de 1980, procurando logo começar a implementar reformas que liberalizassem a economia e afastassem Portugal do socialismo. Este governo iria ser, contudo, também de curta duração, com a realização de novas eleições intercalares a 5 de Outubro do mesmo ano e com a morte inesperada do Primeiro-ministro em Dezembro seguinte.

Diogo Freitas do Amaral, então vice Primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, é peremptório quanto à decisão do governo ao qual pertencia em “concentrar o principal esforço português no primeiro semestre de 1980, de modo a procurar conseguir que tudo possa ser concluído antes de a actual Comissão da CEE terminar o seu mandato” (AMARAL, 1981: 39), o que aconteceria no início de 1981. A aceleração das negociações era assim “a prioridade das prioridades”245 da política externa portuguesa, logo assumida aquando do debate parlamentar sobre o programa de governo como principal objectivo internacional do Governo246.

244

De 3 de Janeiro de 1980 a 9 de Janeiro de 1981

245

AHCE, BDT 147/1991 n.° 377, “Note à l'Attention de M. David Goodchild – Discours de M. Freitas do Amaral sur la politique extérieur ”, 18 novembre 80; AMARAL, Diogo Freitas (1985), Política Externa e

Política de Defesa, Lisboa, Cognitio, p. 18 246

AMARAL, Diogo Freitas (1980), A Política Externa Portuguesa – Intervenção do Vice-Primeiro-Ministro

e Ministro dos Negócios Estrangeiros, Prof. Diogo Freitas do Amaral, no Debate Parlamentar do Programa do VI Governo Constitucional, em 15 de Janeiro de 1980, Secretaria de Estado da Comunicação Social,

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Mas as negociações permaneciam lentas. A ilustrar isso está o facto de, abertas as negociações, a segunda reunião ministerial apenas se ter realizado com mais de um ano de intervalo, a 5 de Fevereiro de 1980, na qual se procedeu, entre as delegações, a uma troca de pontos de vista acerca do andamento das negociações, se passaram em revista os capítulos já abertos e quais as perspectivas para os próximos meses. O então presidente em exercício do Conselho, Attilio Ruffini, exprimiu o desejo de que fossem definidos rapidamente os principais problemas de modo a serem encontradas soluções concretas247, mas entre desejos e concretizações o caminho é longo e, por vezes, sinuoso.

Do lado português, foi reafirmado que os objectivos da política externa portuguesa estavam bem definidos e direccionados para Portugal assumir o seu lugar na Europa; que a adesão era a prioridade e que tinha o empenho político total por parte do governo, que pretendia, da sua parte, acelerar o ritmo das negociações248.

Aproveitando essa reunião, o ministro Diogo Freitas do Amaral visitou os representantes comunitários: com o vice-presidente Xavier Ortoli não foram discutidos detalhes acerca das negociações de adesão, tendo ambos, Ortoli e Freitas do Amaral, acordado que a adesão era uma maneira de subscrever a democracia; com Jenkins, o ministro referiu que o governo ao qual pertencia tinha uma abordagem diferente no que diz respeito quer ao alargamento, quer à política económica, estando preparado para legislar no sentido de uma economia de mercado livre249.

247

COMMISSION (1980), Bulletin des Communautés Européennes, n.º 2, Bruxelles, Commission des Communautés Européennes, p. 66; ANAPCE, CONF-P/2/80, “2nd meeting of the conference at ministerial level, Statement by Mr. Attilio Ruffini, President-in-office of the Council of the European Communities on the progress of the conference”

248

ANAPCE, CONF-P/4/80, “2nd meeting of the conference at ministerial level, Statement by Mr. Freitas do Amaral, Deputy Prime Minister and Minister for Foreign Affairs of Portugal, on the progress of the conference”, pp.1-2, 5

249

AHCE, BAC 250/1980 n.° 40, “Note for the attention of Mr. R. de Kergorlay – Meeting between the Portuguese Deputy Prime Minister Mr. Freitas do Amaral and Vice President Ortoli and President Jenkins yesterday”, 6 February 1980

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Nessa altura já haviam sido abertos os capítulos da união aduaneira industrial, movimento de capitais, fiscalidade e política regional. A Comissão recomendava que fosse aberto o capítulo relativo ao direito de estabelecimento e que se aguardasse a abertura dos capítulos da agricultura, questões orçamentais e recursos próprios. Salienta também que, quanto ao capítulo assuntos sociais, e especificamente à declaração portuguesa apresentada a 7 de Dezembro de 1979, este é um assunto muito sensível para a CEE9 e que os portugueses “não devem esperar milagres”250

.

250

AHCE, BAC 250/1980 n.° 40, “Briefing for Vice-president Natali, Meeting with Mr. Freitas do Amaral on 5 February – State of Progress in the Accession Negotiationsˮ, 31 January 1980

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Tabela VIII: as negociações reunião a reunião (1978-1980)

Tipo de reunião Data Dossiers

1 reunião a nível ministerial (ministerial)

17/10/1978 abertura das negociações 1 reunião a nível de

suplentes (suplentes)

01/12/1978 definição dos procedimentos a seguir nas negociações e organização dos trabalhos 2 suplentes 27/02/1979 união aduaneira e relações externas

3 suplentes 04/04/1979 CECA, relações externas

4 suplentes 06/06/1979 EURATOM, CECA

5 suplentes 19/10/1979 relações externas, fiscalidade, movimento de capitais, transportes, política regional e CECA 6 suplentes 07/12/1979 relações externas, fiscalidade, transportes e política regional, união aduaneira, CECA,

EURATOM, movimento de capitais, assuntos sociais

2 ministerial 05/02/1980 troca de pontos de vista acerca do andamento/avanço das negociações

7 suplentes 20/02/1980 CECA, EURATOM, direito de estabelecimento, movimento de capitais, direito derivado, agricultura, direito de estabelecimento, questões orçamentais, questões económicas e financeiras

8 suplentes 30/04/1980 união aduaneira, CECA, EURATOM, fiscalidade, movimento de capitais, política regional, direito derivado

9 suplentes 06/06/1980 união aduaneira e livre circulação mercadorias no sector industrial, relações externas, transportes, questões económicas e financeiras, e recursos próprios

10 suplentes 27/06/1980 assuntos sociais

3 ministerial 22/07/1980 declarações sobre o avanço dos trabalhos 11 suplentes 19/12/1980 agricultura, movimentos de capitais

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No início do ano, visitam Lisboa o vice-presidente Lorenzo Natali (29 de Fevereiro) e o presidente da Comissão, Roy Jenkins (6-7 de Março). A visita do primeiro permitiu, após conversações com as autoridades portuguesas, estabelecer algumas orientações relacionadas com as negociações e também com as acções comuns que antecedem a integração; e a do segundo, manifestar o interesse do governo português por um auxílio comunitário, com vista a preparar a economia do país para a integração na economia comunitária, num montante de 250 milhões de UC, dos quais 47 milhões foram já propostas para auxílio às pequenas e médias empresas (PME), e as restantes atribuídas à formação profissional e às infra-estruturas agrícolas e rodoviárias.

Entretanto, as negociações foram prosseguindo251. No Conselho Europeu do Luxemburgo (27-28 Abril de 1980), não se chegou a acordo quanto ao principal assunto da ordem do dia, a contribuição britânica, sendo evidente a falta de coesão comunitária nesse conselho europeu. Mesmo assim, faltasse o entusiasmo, mas não o andamento regular dos trabalhos, realiza-se a 22 de Julho a terceira reunião ministerial, presidida por Gaston Thorn, ministro dos Negócios Estrangeiros luxemburguês que, em breve, deixaria de representar os interesses do Conselho, passando a presidir a Comissão. Na sua declaração252, Thorn falou sobre o avanço dos trabalhos, referindo que os únicos capítulos ainda não iniciados eram a agricultura e as pescas, precisando a CEE de trabalhos preparatórios nessa matéria antes de definir a sua posição, mantendo-se o ritmo de identificação dos problemas.

Em representação de Portugal, estava, pela segunda vez, o ministro Diogo Freitas do Amaral, que se dizia convencido quanto ao progresso feito nas negociações, a nível de ritmo e de troca de posições253. Nesta altura, ainda não estava concluído nenhum capítulo,

251

Com reuniões a nível de suplentes (20 de Fevereiro, 30 de Abril, 6 e 27 de Junho, e 19 de Dezembro), nas quais tanto a CEE, como Portugal, apresentaram declarações sobre vários capítulos. In COMMISSION (1980), Bulletin des Communautés Européennes, n.º 2, Bruxelles, Commission des Communautés Européennes, p. 67; COMMISSION (1980), Bulletin des Communautés Européennes, n.º 6, Bruxelles, Commission des Communautés Européennes, p. 90; COMMISSION (1980), Bulletin des Communautés

Européennes, n.º 12, Bruxelles, Commission des Communautés Européennes, p. 77 252

ANAPCE, CONF-P/38/80, “3rd meeting of the conference at ministerial level, Statement by Mr. Gaston Thorn, President-in-office of the Council of the European Communities on the progress of the conference”

253

ANAPCE, CONF-P/39/80, “3rd meeting of the conference at ministerial level, Statement made by Mr. Freitas do Amaral, Portuguese Deputy Prime Minister and Minister for Foreign Affairs, on the progress of the conference”

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mas já estavam 12254 em discussão, o que permitia uma reflexão mais esclarecida e também que se começasse, a partir de então, a sanar diferenças e a negociar compromissos.

À margem desta sessão ministerial, é revelada a segunda255 boa notícia para a candidatura portuguesa: a concessão de ajudas de pré-adesão.