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Frank Schimmelfennig & Ulrich Sedelmeier, 2009:

O PAPEL DO PARLAMENTO EUROPEU

Além da Comissão e do Conselho, interlocutores principais nas negociações, não queremos, nesta fase, negligenciar também a participação do Parlamento Europeu que, embora não tivesse participado nas negociações directamente, não ignorou o tema.

Com excepção da Assembleia Nacional francesa, os parlamentos nacionais, inclusive o dos Estados candidatos, “permaneceram fundamentalmente indiferentes” ao alargamento (TSOUKALIS, 1981: 156). Por sua vez, o PE, cujos poderes eram muito limitados e não tinha capacidade real para influenciar as negociações, debateu várias vezes e amplamente o assunto.

O seu papel será o de debate, de acompanhamento e de sugestões, sendo que à data o Tratado de Roma não contemplava a ratificação dos tratados de adesão pelo PE. O Acto Único Europeu, em 1986, introduziu algumas alterações sobre o envolvimento da instituição na política do alargamento e, com o Tratado de Lisboa (2009), o PE adquiriu o poder formal de se pronunciar sobre os tratados de adesão, o que acontecerá, em breve e pela primeira vez, com o acto de adesão da Croácia.

Se, para a CEE, em geral, o alargamento colocava algumas dificuldades e desafios, no caso do PE, tanto o terceiro como os alargamentos anteriores e mesmo o seguinte “não ameaçavam o funcionamento do Parlamento” (NEUNREITHER: 2000), o que lhe conferia ainda mais liberdade para reflectir imparcialmente e para acompanhar todo o processo.

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AAVV (2001), Adesão de Portugal às Comunidades Europeias – História e Documentos, Lisboa, Parlamento Europeu/Assembleia da República/Comissão Europeia, documentos 90 e 92, pp. 338-339 e 341

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No que diz respeito a Portugal, ainda este não era formalmente candidato, e já o PE, na sessão no Luxemburgo (22 a 26 de Setembro de 1975), se pronunciou favoravelmente a uma ajuda comunitária directa a Portugal, instigando a Comunidade a concretizar rapidamente esta ajuda434.

O Parlamento Europeu pronunciou-se várias vezes sobre o alargamento e as negociações. Inicialmente, convida a Comissão a enviar-lhe um relatório sobre o progresso das negociações, ao mesmo tempo que lamenta que estas não progridam mais rapidamente435. Meses mais tarde, volta a solicitar à Comissão o mesmo relatório, bem como as suas posições acerca do aprofundamento das políticas comuns, dos instrumentos financeiros necessários a assegurar a solidariedade comunitária, e dos domínios mais sensíveis a serem acautelados436. Ainda em 1982, a 17 de Novembro, explora a questão da agricultura mediterrânica e a sua relação com os problemas do alargamento437 e, mais tarde, debruça-se sobre o sector das pescas438. Posteriormente, recomenda ao Conselho Europeu de Estugarda que tome as decisões políticas necessárias para uma conclusão rápida das negociações439; lamentando, de seguida, que no CE de Bruxelas os Estados-membros não tenham sido capazes de acordar certas questões importantes, apelando ao surgimento de vontade política capaz de resolver os problemas existentes440. Depois de Fontainebleau insiste no respeito do calendário acordado para o fim das negociações441.

434

HAEU, CPPE-000090, “Le Parlement Européen pour une Aide Immédiateˮ, Le Figaro, 25 de Setembro de 1975 ; HAEU, CPPE-000090, “EEC Sees Aid to Portugal as Way to Save Democracy”, The Times, 25 de Setembro de 1975

435

CONSILIUM, file 1420, “Résolution vers l'élargissement de la Communauté vers le Sud adopté par l'Assemblée lors de sa séance du 19 novembre 1981ˮ

436

CONSILIUM, file 1420, “Résolution vers les négociations avec l'Espagne et le Portugal adopté par l'Assemblée lors de la séance du 9 juillet 1982ˮ

437

CONSILIUM, file 1420, “Résolution sur l'agriculture méditerranéenne confrontée aux problèmes de l'élargissement au Sud de la Communauté adopté par l'Assemblée lors de la séance du 17 novembre 1982ˮ

438

CONSILIUM, file 1420, “Résolution sur le secteur de la pêche au Portugal dans la perspective de son adhésion à la CEE adopté par le Parlement européenne lors de sa séance du 16 novembre 1984ˮ; CONSILIUM, file 1420, “Résolution sur les problèmes de l'adhésion de l'Espagne et du Portugal en matière de pêche adopté par le Parlement européenne lors de sa séance du 14 mars 1985ˮ

439

CONSILIUM, 07 151 PT file 1414, “Résolution à l'adresse du Conseil européen de Stuttgart sur l'adhésion du Portugal et de l'Espagne à la Communauté européenne adopté par le Parlement européenne lors de sa séance du 9 juin 1983ˮ

440

CONSILIUM, file 1420, “Résolution sur la session du Conseil européen des 19 et 20 mars 1984 adopté par le Parlement européenne lors de sa séance du 29 mars 1984ˮ

441

CONSILIUM, file 1420, “Résolution sur l'élargissement de la Communauté à l'Espagne et au Portugalˮ,adoptado na sessão de 13 de Setembro de 1984

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Logo no início do último ano de negociações, a 4 de Janeiro, o PE divulga um relatório442, redigido por Roberto Formigoni, no qual consta uma proposta de resolução, cujos pontos principais apontam para que o Conselho deva consultar o PE antes de efectivar a adesão, sobretudo nas questões directamente relacionadas com o PE, como é o caso da eleição dos deputados europeus, e também nas que afectem o processo de decisão comunitário; que dará o seu parecer entre a conclusão das negociações e a assinatura dos tratados, e organizará um debate de “ratificação” sobre o assunto.

Já depois de concluídas politicamente as negociações, o PE prossegue o seu trabalho de análise, com mais dois relatórios sobre a questão, nos quais saúda a conclusão das negociações, faz votos para que a adesão seja vantajosa para os futuros Estados- membros e seus cidadãos, e que fortaleça a Comunidade interna e externamente443; e propõe uma resolução, na qual aprova os termos e as condições dos tratados de adesão, e recomenda a sua ratificação444.

Em Maio de 1985, o Conselho consultou o PE sobre a conclusão das negociações pela primeira vez, o que constituía um facto novo e único, inserido no âmbito da Declaração de Estugarda445.

No seu parecer sobre a adesão, saúda o fim das negociações e reconhece os esforços feitos por todos os nelas envolvidos e espera que a adesão seja proveitosa para todas as partes446; concluindo a sua intervenção neste processo com uma resolução sobre a

442

CONSILIUM, file 1428, PARLEMENT EUROPÉEN (1984), “Rapport au nom de la commission politique sur la consultation du Parlement européen sur l'adhésion de l'Espagne et du Portugal aux Communautés Européennesˮ, in Documents de Séance 1984-1985

443

CONSILIUM, file 1429, PARLEMENT EUROPÉEN (1985), “Report drawn up on behalf of the Political Affairs Committee on the enlargement of the Community to include Spain and Portugal, Section I: Report on the conclusion of the negotiations with Spain and Portugalˮ, in European Parliament Working Documents

1985-1986 444

CONSILIUM, file 1429, PARLEMENT EUROPÉEN (1985), “Report drawn up on behalf of the Political Affairs Committee on the enlargement of the Community to include Spain and Portugal, Section II: Report on the ratification of the Treaties of Accession with Spain and Portugal ˮ, in European Parliament Working

Documents 1985-1986 445

“Solemn Declaration on European Union”, in Bulletin of the European Communities, No. 6/1983, pp. 24- 29, ponto 2.3.7

446

CONSILIUM, file 1420, “Résolution avis du Parlement européenne sur la conclusion des négociations avec le Portugal et l'Espagne adopté lors de sa séance du 8 mai 1985ˮ

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ratificação447 dos tratados, na qual concorda com os termos dos mesmos e recomenda a sua ratificação aos parlamentos nacionais e aos Estados contratantes.