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A professora Estagiária: um turbilhão de emoções em constante

Capítulo 3 Enquadramento da prática profissional

3.9 A professora Estagiária: um turbilhão de emoções em constante

“Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.”

Foi com um simples sonho de ser Professora, como o meu Pai, que se iniciou toda a minha dedicação em contexto escolar, que se desenvolveu todo o carinho e afinidade que sempre criei com os meus Professores, que sempre respeitei todo o trabalho que desenvolviam comigo e no seio da minha turma. Foi por desejar ser como eles que ingressei na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, objetivando o ingresso no Mestrado de Ensino de Educação Física. É no âmbito desta fase da minha formação que me deparo com a mais bela provação experienciada, por mim, até aos dias de hoje: o Estágio Profissional.

No início, embora me sentisse orgulhosa, encarava com algum desconforto o facto de chamarem a minha atenção utilizando a palavra “Professora”, talvez por toda a responsabilidade e sabedoria que identifico sempre que me remeto à escola e a esta profissão, juntamente com alguma insegurança inicial relativamente à minha capacidade de ensinar, de transmitir conhecimentos e de promover aprendizagens nos meus alunos. Com o tempo, com o reconhecimento dos mesmos, com o respeito e harmonia que se criou entre Professora e alunos, tudo se tornou mais natural, satisfatório e confortante, desaparecendo toda a tensão que me assombrou durante todo o primeiro período. Nesta fase, encontrava-me assustadoramente dependente do meu Professor Cooperante, das suas indicações, sugestões e críticas, percebendo mais tarde como isso me estava a consumir, como estaria a exigir demasiado de mim, como me estaria a centrar e preocupar com coisas que aconteceriam com o tempo e de forma natural.

“São evidentes, para mim, as mudanças que sofri nestes meses de aprendizagem. As minhas prioridades mudaram, a forma como analiso, planeio e aplico todo o meu trabalho mudou, o acompanhamento que tive, que se apresentava de forma declarada no primeiro período, agora apresenta-se de forma mais despercebida, a minha autonomia mudou, os meus alunos mudaram e, com eles, eu também mudei.”

Foi com a perceção supracitada que entrei no novo ano civil e me dediquei ao segundo período letivo. Optei por fazer um planeamento mais aprofundado e global das minhas aulas, isto é, tendo em conta a dimensão das diferentes Unidades Didáticas (UD) que ensinaria, de forma a obter uma sequência e uma progressão correta e fundamentada dos conteúdos escolhidos e ensinados. Foi então que vivenciei o tão relatado “Choque com a Realidade”.

“Como deveria lidar com o facto de querer ensinar de forma coerente e progressiva, todas as fases do salto? Como é possível consolidar conteúdos se não existe tempo de exercitação? Deveria ter promovido uma competição dentro da minha turma sem transmitir os conceitos básicos do Salto em Altura? Num momento em que poucos eram os alunos que tinham alguma noção e competência para transpor uma fasquia? Todas estas perguntas surgiram na minha cabeça quando percebi que a expressão “progressão de ensino”, com o significado por mim apreendido, raramente se pode associar ao contexto escolar.”

(Reflexão da aula n.º 71 e 72)

Ao planear a modalidade de Atletismo tive a preocupação de reservar algum tempo para o entendimento dos meus alunos sobre os conceitos mais importantes da Corrida de Velocidade e do Salto em Altura, disciplinas do Atletismo que ensinei. Consciente de que esta seria uma UD curta, que é uma modalidade extremamente exigente do ponto de vista técnico, estando desde logo inflacionado o risco de acidentes e consequentes lesões, e por não ter qualquer referência do nível motor dos meus alunos na mesma, privilegiei a instrução e a exercitação analítica das diferentes fases da corrida e do salto em detrimento da ênfase e do tempo dedicado à competição descontextualizada entre os alunos.

Esta minha opção foi alvo de reparos por parte do PC, que me elucidou sobre a necessidade de ter a competição sempre presente em todas as aulas, mantendo, desta forma, os alunos motivados e envolvidos nas mesmas. Esta

chamada de atenção fez com que vivenciasse o choque com a realidade ao perceber a dissemelhança entre o que me foi transmitido ao longo de toda a minha formação na FADEUP e o que, enquanto Professora, aplico na realidade ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Enquanto Professora Estagiária consciencializei-me que o ensino em contexto escolar é bastante superficial, existindo poucos momentos de consolidação dos conteúdos ensinados, percebi também como é importante o acompanhamento a uma turma ao longo dos anos por parte dos Professores, uma vez que nem sempre os alunos têm a capacidade de reter o que lhes é ensinado, caindo na tentação de dizer que nunca aprenderam determinada modalidade, regra, ou posição no caso específico da disciplina de Educação Física, o que fomenta a repetição contínua dos mesmos conteúdos, das mesmas formas de jogo e a estagnação da evolução dos jovens.

Por outro lado, acredito que muitos alunos não possuam conhecimento das formas oficiais de prática das diferentes modalidades, pelos atletas, em contexto profissional, uma vez que nas aulas de Educação Física, raramente se consegue atingir a forma de jogo formal e oficial nos jogos desportivos coletivos, raramente se realizam provas de Atletismo nas dimensões e com o material existente no ambiente de alta competição, sendo por este motivo importantíssima a instrução, a partilha de informação e a incitação para o acompanhamento televisivo, por exemplo, de desporto por parte dos nossos jovens e alunos, podendo dai surgir uma curiosidade em experimentar determinada modalidade.

Sem dúvida que o terceiro período foi o mais gratificante de todo o ano letivo, onde consegui sentir a evolução que Professores e amigos descreviam e que, para mim, sempre foi encarada como algo que fica bem dizer depois de mais uma etapa de formação. Pura ingenuidade minha pensar que depois de um ano como este nada mudaria e as diferenças não se fariam notar. Foi neste período que tudo se tornou mais natural, mais genuíno e prazeroso, conquistando uma relação estável com os meus alunos, colegas de núcleo de estágio, Professor Cooperante, Professora Orientadora e Comunidade escolar. Todas as reflexões feitas eram encaradas como um processo enriquecedor e

não como uma atividade trabalhosa sem qualquer significado, pois através delas descobri vários meandros da Profissão que elegi.

“Sem qualquer conhecimento sobre as descobertas que ainda estão por vir, realço este segundo período como o mais marcante até ao momento, foram os meses onde verdadeiramente me comecei a descobrir enquanto Professora de Educação Física, foram os meses em que percebi como é muito difícil ser um bom Professor, um Professor justo e correto, pois as relações humanas que se constroem, tendem a influenciar a imparcialidade e a objetividade que deve estar sempre presente. Ah, como é difícil ser um bom Professor!”