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A Escola que marcou a minha vida: Escola Secundária de Rio Tinto

Capítulo 3 Enquadramento da prática profissional

3.3 A Escola que marcou a minha vida: Escola Secundária de Rio Tinto

O conceito de Escola sofreu grandes alterações ao longo das últimas décadas, passando da “escola-instituição em que se procura formar um sujeito autónomo, capaz de participar livremente na sociedade e de assim instituir os seus deveres e direitos de cidadania, para uma escola-serviço, em que os alunos e as famílias são vistos como consumidores de serviços que se compram num mercado, (…) que fez da relação professor-aluno uma relação cada vez mais próxima da existente em outros mercados de consumo” (Gomes, 2014, p. 292).

Esta mudança na escola acarreta consequências devastadoras nos professores e nos próprios alunos. Os professores perdem a motivação para ensinar pois a sua profissão está descredibilizada, e os alunos começam a ser tratados de igual forma, deixando de existir igualdade e a preocupação de interpretar as dificuldades e facilidades de cada um, adaptando o processo de ensino-aprendizagem.

Existem algumas metodologias que podem inverter o rumo da escola e da profissão docente, como afirma Martins cit. por Lopes (2014, p. 277) ao dizer que “a escola deve agora desenvolver sete “competências de sobrevivência” necessárias para que as crianças e os jovens possam enfrentar os desafios futuros: “pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e capacidade empreendedora, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação”. Contudo, “as escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores, e estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham. O desenvolvimento profissional dos professores tem de estar articulado com as escolas e os seus projetos” (Nóvoa, 1992, p. 28).

A escola é cada vez mais vista como uma “territorialidade própria onde a autonomia dos professores se pode concretizar” (Nóvoa, 1992, p. 29). Esta afirmação entristece-me um pouco, pois deixa no ar a ideia de que o professor não é reconhecido fora do seu estabelecimento de ensino, fora da sala de aula, e está seriamente condicionado a um local para exercer a sua função de formador de cidadãos cultos e educados.

Mesmo com toda a negatividade que hoje em dia envolve a escola, quero acreditar que “estamos a evoluir no sentido de uma profissão que desenvolve os seus próprios sistemas e saberes, através de percursos de renovação permanente que a definem como uma profissão reflexiva e científica” (Nóvoa, 1992, p. 31). Desta forma, “para ser capaz de cumprir a sua missão a Escola tem necessidade de (re) conhecer não apenas todos os elementos que a compõem, como os que nela incidem (…) vai-se fazendo, nunca está feita, nunca está concluída porque o que hoje serve é resposta ao desafio deste tempo. Amanhã, por ser outro tempo, terá de se rever, de se auto questionar em diálogo com o meio” (Projeto Educativo, 2013/2017, p. 4)3

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A Escola Secundária de Rio Tinto foi criada pela Portaria de 30 de Junho da 1982 e iniciou as suas atividades num edifício arrendado ao IANT, junto à

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Projeto Educativo 2013/2017 do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto n.º 3, consultado a 8 de Agosto de 2015, disponível em http://www.aert3.pt/index.php/documentos.

estrada nacional 15, no lugar de Chão Verde, onde se manteve durante dez anos. Atualmente encontra-se em funcionamento na Travessa da Cavada Nova, na Cidade de Rio Tinto, Concelho de Gondomar, Distrito do Porto, sendo a sede do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto Nº3, que foi criado a 4 de Julho de 2012. A área de abrangência é considerável, uma vez que acolhe alunos das freguesias de Rio Tinto, Baguim do Monte e Fânzeres. Para lá destas freguesias, a Escola Secundária de Rio Tinto recebe também alunos oriundos de outras freguesias do concelho.

Rio Tinto tornou-se cidade a 30 de agosto de 1995, com uma população de 47 mil habitantes e tem o seu nome ligado ao rio que a atravessa, pois junto a ele travou-se uma sangrenta batalha, ficando na memória do seu povo o sangue derramado que, de tão abundante, tingiu as cristalinas águas do rio, passando desde então a chamar-se Rio Tinto. Ocupa uma área de 9,5 𝐾𝑚2 e localiza-se a oriente da cidade do Porto, a poente de Pedrouços, a norte de Águas Santas, a nascente/sul de Baguim do Monte e Fânzeres e a sul de Campanhã (Site da Junta de Freguesia de Rio Junta de Freguesia de Rio Tinto, S. d.).

Figura 1 – Mapa das Freguesias do Concelho de Gondomar

Conhecer a Escola Secundária de Rio Tinto, algum do pessoal docente, dos operadores de ação educativa e algumas das rotinas implementadas nesta instituição, ajudou-me muito numa primeira fase do ano de estágio, uma vez que não senti necessidade de realizar um reconhecimento tão aprofundado do

meio onde o meu estágio se iria desenrolar. Contudo deparei-me com algumas diferenças, principalmente arquitetónicas, comparativamente com a altura em que pertencia a esta escola como aluna, uma vez que no ano letivo 2009/2010 a ESRT sofreu um processo de requalificação no âmbito do projeto Parque Escolar, ano em que ingressei no Ensino Superior.

Com as alterações inerentes ao processo anteriormente citado, a escola apresenta excelentes condições físicas, para suportar, servir e apoiar toda a população escolar, contemplando uma secretaria, um PBX, uma biblioteca e um centro de recursos, um bar, um refeitório, uma loja escolar, uma zona polivalente, dois auditórios, vários pavilhões com salas preparadas para ensinar os alunos em cada um dos seus cursos, uma zona destinada à Direção da escola, uma sala de trabalho de Professores, uma sala de descanso dos Professores, uma sala dos alunos, várias casas de banho espalhadas pelo recinto escolar para população dita normal e portadores de deficiência, uma entrada principal e um amplo espaço exterior que rodeia todos os edifícios escolares.

Todos estes espaços permitiram, que ao longo de todo o ano letivo convivesse com os restantes Professores, pois todos os espaços são tão agradáveis que onde quer que estivesse encontrava sempre algum colega com quem conversar e partilhar experiências, não existindo, como acontece em muitas escolas, um espaço onde todos os Professores se reunissem nos intervalos das suas aulas. Consegui também acompanhar a vida dos alunos fora do contexto de aulas, nomeadamente no tempo destinado aos intervalos, pois cruzava-me regularmente com os mesmos sempre que me deslocava de um local para o outro, fomentando com breves conversas, ou uma simples troca de palavras momentânea, a boa relação que atingi no final deste ano. Estes encontros inesperados revelaram-se muito úteis no meu conhecimento dos alunos. Ao encontrá-los durante o convívio com os seus amigos, num ambiente de maior descontração e naturalidade identifiquei pormenores que muitas vezes, em contexto de aula, passam despercebidos como é o caso das relações entre pares, do quão introvertidos ou extrovertidos os alunos são, quais as atividades que elegem para ocupar o seu tempo de descanso. “Tal

como o “espaço na aula”, o “espaço de escola” também parece constituir um laboratório de experiências de vida, de certa forma transferíveis para outros espaços sociais” (Cunha, 2008, p. 49).

Destinado à prática desportiva, a escola conta com sete espaços: dois pavilhões cobertos (G1, G2, G3 e G4), um deles com bancada, uma sala com espelhos (G5), um campo exterior multiusos (G6) e dois campos de ténis (G7). Estes são, na minha opinião, espaços que possibilitam a realização de sete aulas, de turmas distintas, em simultâneo, num dia em que as condições climatéricas sejam favoráveis, ou seja não esteja muito frio, nem muito calor, ou que não chova ou troveje. Caso as turmas distribuídas, no roulement (Anexo II), pelos espaços exteriores não possuam as condições necessárias para a concretização das suas aulas pode, eventualmente, verificar-se aquela que será a única situação menos funcional, do meu ponto de vista, uma vez que o terço central de um dos pavilhões, ou seja, o espaço G2, tem de ser dividido por duas turmas, sendo quase impossível, nesta condições rentabilizar algum tipo de trabalho.

Relativamente ao material disponível para as aulas, considero que a Escola está bem equipada para a maioria das modalidades, quando as aulas acontecem em espaços interiores e fechados, o que não se verifica nos espaços exteriores, pois tive a oportunidade de vivenciar esta limitação em modalidades como o Andebol, o Voleibol e o Futebol, onde podia utilizar um número muito reduzido de bolas já muito desgastadas e deterioradas. Na modalidade de Atletismo penso ser importante a utilização de blocos de partida quando se ensinam as partidas de blocos, material que não tive acesso tendo de adaptar através da utilização de um pequeno degrau onde os alunos fincavam um dos pés, simulando a resistência que o bloco de partida ofereceria no momento da impulsão para a frente e para cima. A utilização do material oficial das várias modalidades é também um motivo de interesse e motivação para os alunos aumentando, através do contacto com o mesmo o seu conhecimento sobre o Desporto na sua vertente real. Ao ensinar Ginástica Acrobática constatei que a escola deveria investir na compra de mais colchões, pois em determinados momentos da Unidade Didática senti falta de uma maior

quantidade dos mesmos. Mas nem só a quantidade é insuficiente, a qualidade de algum material não é a melhor também, tendo verificado uma situação que pode ser o grande fator de deterioração dos colchões: em dias chuvosos, a arrecadação do pavilhão antigo é brindada com água que cai do teto e incide sobre os colchões, molhando-os, sendo esta situação desagradável para os alunos que têm de estar preocupados para não trabalharem na zona húmida dos colchões.

Tendo como referência alguns relatos de outros Professores Estagiários afirmo que tive condições de trabalho muito boas, conseguindo ensinar tudo a que me propus, incentivando a experiência formal, na maioria das modalidades.

3.4 Núcleo de estágio: a improvável amizade, o reconfortante