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Capítulo 3 Enquadramento da prática profissional

3.1 Enquadramento Concetual

“O Estágio Profissional entende-se como um projeto de formação do estudante com a integração do conhecimento proposicional e prático necessário ao professor, numa interpretação atual da relação teoria prática e contextualizando o conhecimento no espaço escolar. (…) Visa a integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada, através da prática de ensino supervisionada em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências da profissão.”

(Matos, 2014a, p. 3)1

O estágio profissional pode ser encarado sob dois pontos de vista: o primeiro diz respeito ao momento em que realmente me confronto com a realidade escolar, com o ato de dar aulas, com todas as aprendizagens, com a felicidade que todo este cenário me proporciona e com a perceção de que é esta a profissão que quero exercer. “Trata-se de um período vivido com emoção e entusiasmo” (Flores, 1999, p. 171). Por outro lado, o segundo ponto de vista está associado ao final de um ciclo onde, de certa forma, estive protegida, onde tinha um objetivo e sabia o que faltava fazer e o que me esperaria no ano seguinte, está associado à consciencialização do ambiente que se vive numa escola, às dificuldades e angústias sentidas pelos professores e à remota esperança de dar aulas, a curto prazo, depois do estágio profissional. Estas primeiras experiências têm influência direta sobre a decisão de continuar ou não na profissão, estando este período marcado por sentimentos contraditórios que desafiam quotidianamente o professor e a sua prática docente. De certa forma, este estágio profissional demonstrou-me que

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Matos, Z. (2014). Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP – 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

“mais do que uma profissão desprestigiada aos olhos dos outros, a profissão docente tornou-se difícil de viver do interior” (Nóvoa, 1992, p. 23).

Focando-me apenas neste ano decisivo na minha formação enquanto Professora de Educação Física, afirmo que não consigo olhar para ele como algo dissociado de todos os anos que lhe antecedem. Conforme afirma Tamagnini cit. por Nóvoa (1992), a formação de professores está associada à “necessidade de equilíbrio entre as três dimensões (…): preparação académica, preparação profissional e prática profissional”. A preparação académica diz respeito à licenciatura e ao primeiro ano de mestrado, a preparação profissional, relaciona-se com todas as didáticas vivenciadas ao longo do primeiro ano de mestrado, e a prática profissional, é o momento que vivo atualmente por ter uma turma a meu cargo, sendo responsável pelas aulas de Educação Física da mesma. É devido a estes três fatores que ocorre o “choque com a realidade” “resultante das diferenças encontradas entre a formação inicial e o que de facto acontece na realidade” (Simões cit. por Queirós, 2014, p. 68), uma vez que “é no contacto com os espaços reais que o estudante estagiário conhece os contornos da profissão, tornando-se, pouco a pouco, um membro dessa comunidade educativa” (Lave e Wengwe cit. por Queirós, 2014, p. 68).

Depois de nove meses envolvida na escola onde estagiei, depois de várias interações com os professores que nela exercem a profissão docente, com os meus colegas de estágio que partilharam alguns dos meus sentimentos e opiniões, com os alunos que nela estudam e com os funcionários que nela desempenham o seu trabalho eficazmente, consigo perceber que o Estágio Profissional é mais do que a prática de ensino supervisionada (PES), as atividades de observação e colaboração em situações de educação e ensino, as atividades letivas e não-letivas realizadas na escola, as atividades de ensino-aprendizagem, as atividades incluídas nos ciclos de formação realizados na FADEUP e o Relatório de Estágio, é “mais do que um lugar de aquisição de técnicas e de conhecimentos, (…) é o momento-chave da socialização e da configuração profissional” (Nóvoa, 1992). Fui percebendo, ao longo deste tempo, que o estágio não se restringe ao meu Professor

Cooperante, à minha Professora Orientadora, ao meu núcleo de estágio, às minhas turmas e aos espaços destinados às aulas de Educação Física. O estágio é muito mais do que isto, e trouxe-me a perspetiva de que “a noção de experiência mobiliza uma pedagogia interativa e dialógica” (Dominicé cit. por Nóvoa, 1992), isto porque através de conversas informais, de várias observações, percebi que se estiver disposta a aprender com todos os intervenientes em contexto escolar, consigo evoluir e assimilar vários comportamentos que me beneficiarão na minha própria prática.

Através do contacto com o meu Professor Cooperante apercebi-me que “a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando” (Nóvoa, 1992, p. 26), uma vez que eu, enquanto Professora Estagiária aprendi imenso com o meu Professor, mas, por outro lado, fui alertada por ele para o facto de também eu poder transmitir e partilhar conhecimentos, enriquecendo a sua própria experiência profissional.

Mas não só desta vertente social e interativa vive o estágio profissional. Este ano “implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional” (Nóvoa, 1992, p. 25). Esta Identidade trata-se de um processo aberto, contínuo, dinâmico e negociável, possuí um caráter pessoal e um caráter social, baseia-se nos valores, nas representações, saberes, angústias e medos de cada um e no modo como cada um se vê no mundo e resulta das múltiplas socializações e da interpretação e construção da nossa história (Dubar, 1997). Isto é, não pude acreditar que tudo conseguiria apenas com os relatos de outros professores, com as observações feitas ao longo deste ano, com as orientações do Professor Cooperante e da Professora Orientadora, muito pelo contrário, tudo isto é perspetivado por mim como uma base para o meu desenvolvimento próprio e singular, uma vez que “a formação está indissociavelmente ligada à «produção de sentidos» sobre as vivências e sobre as experiências de vida” (Finger; Ball e Goodson cit. por Nóvoa, 1992, p. 26).

Por fim, concordo com o triplo movimento sugerido por Schön cit. por Nóvoa (1992), que engloba o conhecimento na ação, a reflexão na ação e a reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação, isto porque a prática profissional docente levanta problemas que não são meramente instrumentais, comportando, todos eles, situações problemáticas que obrigam a decisões no terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de valores. Estas ocorrências, do meu ponto de vista, empregam pertinência ao aspeto reflexivo que todo e qualquer professor deve ser capaz de aplicar na sua prática pedagógica, uma vez que só através da reflexão conseguimos pensar sobre os aspetos positivos e negativos da nossa atuação, e definir estratégias de melhoria. Por este motivo, a reflexão, torna-se um aspeto crucial ao longo de todo o Estágio Profissional, na busca incessante pela competência profissional. Esta competência assenta no desenvolvimento de competências pedagógicas, didáticas e científicas, associadas a um desempenho profissional crítico e reflexivo que se apoia igualmente numa ética profissional em que se destaca a capacidade para o trabalho em equipa, o sentido de responsabilidade, a assiduidade, a pontualidade, a apresentação e a conduta adequada na Escola.