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Capítulo 3 Enquadramento da prática profissional

3.5 Turma: 28 pedaços de mim!

“- Tens muito que fazer? - Não. Tenho muito que amar. (Não entendo ser Professor de outra maneira. E não me venham dizer que isto assim cansa e mata: morrer, sempre se morre; e à minha maneira tem-se a consolação de não ser em vão que se morre de cansaço)”

(Bento, 2008, p. 44)

Não foram fáceis os dias que antecederam o primeiro encontro com os meus alunos. A sensação de que deles poderia depender grande parte do sucesso ou insucesso do meu estágio, que eles poderiam ser a principal causa das minhas facilidades ou dificuldades e com eles poderia viver momentos muito felizes e bons ou, pelo contrário, momentos muito tristes e maus, consumiu-me e devorou todos os meus pensamentos e preocupações.

Chegado o tão aguardado dia, deparei-me com uma turma de décimo ano de escolaridade, do Curso Científico-Humanístico de Ciências

Socioeconómicas,constituída por trinta adolescentes, quinze do sexo feminino e quinze do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos. De todos estes alunos, dois não estavam inscritos na disciplina de Educação Física por frequentarem, pela segunda vez, este ano de escolaridade devido à opção de mudar de curso. Contudo, ao longo de todo o ano, estes alunos foram assistindo às aulas que lecionei e mantendo uma relação de respeito e curiosidade em relação ao meu trabalho e às aulas que lecionei, acabando por considerá-los parte integrante da turma que ficará na minha memória.

A turma desde logo me pareceu muito simpática e bem comportada. Observei grande curiosidade em todos os alunos na forma como olhavam para mim, alguns na forma como, envergonhadamente, se riam captando a minha atenção, outros pelos comentários (in)discretos que faziam, destacando apenas uma aluna que, naquele momento, me pareceu provocadora e bastante atrevida pela postura que adotara. Este momento realçou a aprendizagem que já tinha feito relativa ao erro de avaliar e, de certa forma, rotular as pessoas pelas primeiras impressões que se tem, pois esta aluna revelou-se muito querida, bem comportada, preocupada em ajudar durante todas as aulas e portadora de uma personalidade muito vincada e forte, o que na minha opinião é a grande justificação para a primeira abordagem relatada a cima.

Em conjunto com o meu núcleo de estágio e PC, foi construído um pequeno inquérito que, quando respondido, nos deu algumas informações relevantes para aumentar o conhecimento sobre os alunos da nossa turma, mas também para nos ajudar a prever aquelas modalidades onde poderíamos encontrar maiores dificuldades. O caso da Unidade Didática de Dança foi ótimo para entender como não me devo focar em demasia naquilo que está expresso neste tipo de documentos, pois a grande maioria da turma afirmou não gostar da modalidade, fazendo com que eu previsse um trabalho árduo, dificultado pela falta de motivação que poderia surgir por não ser uma modalidade de eleição. No entanto, esta modalidade foi aquela que mais gostei de ensinar, conseguindo, através do meu trabalho, envolver os alunos e mante-los motivados e participativos. Esta experiência fez-me acreditar que todas as

modalidades podem ser prazerosas e enriquecedoras para qualquer aluno, basta que o contacto que têm e as suas vivências estejam de acordo com os seus gostos, que todo o trabalho tenha em conta as diferenças entre os vários discentes evitando o enviesamento para o lado mais feminino, no caso específico da modalidade de Dança.

Com o passar do tempo, consegui perceber que o conhecimento que adquiri através deste documento foi realmente importante mas bastante superficial e reduzido comparativamente com aquilo que descobri e fiquei a saber através de conversas com os meus alunos, através das suas atitudes e posturas nas minhas aulas e sobretudo através das informações que ia recebendo do meu PC, uma vez que a minha turma era a sua direção de turma, sendo por isso uma grande privilegiada.

A nível motor a turma revelou-se bastante apta, tendo um aluno excecional, com um desempenho motor muito acima do normal em todas as modalidades ensinadas ao longo deste ano, e um caso que mereceu grande parte da minha atenção durante todo o ano letivo, por se tratar de uma aluna que em nada se identificava com a disciplina. Esta aluna apresentou-se com grandes limitações corporais, não só pela sua fisionomia mas também por ter vergonha de se expor perante os seus colegas de turma, pois encontrava-se consciente das suas dificuldades. Foi esta a grande motivação para a minha investigação contextualizada com a minha turma, ao longo deste ano letivo, sendo acompanhada e alvo do meu questionamento constantemente, pois mesmo com todas as dificuldades reais e notórias sempre acreditei que podia desenvolver um trabalho que marcasse a aluna e a fizesse viver de uma forma mais tranquila e proveitosa e me marcasse a mim também pelo simples facto de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de alguém.

Em termos comportamentais não poderia desejar uma turma melhor. Nunca me deparei com nenhum problema de indisciplina grave, tendo, ao logo dos nove meses de trabalho, me deparado com uma única situação que mereceu uma repreensão mais severa da minha parte, quando me senti desrespeitada com as intervenções de um aluno perante uma explicação minha, estando este problema resolvido mesmo antes do final da aula e não

sendo esta situação escandalosa ou incompreensiva tendo em conta a faixa etária dos meus alunos e todas as revelias que acontecem durante a mesma. Esta turma era bastante assídua e pontual, estando, quando algum aluno faltava, a sua ausência devidamente justificada. As dispensas das aulas não foram recorrentes, com a exceção das aulas da Unidade Didática de Ginástica Acrobática, altura em que me deparei com vários alunos que pediam dispensa da parte prática da aula regularmente, situação que me deixou desconfiada e atenta e mereceu a minha intervenção direta junto dos alunos tendo, através de uma conversa sincera, entendido o porquê desta atitude e conseguido inverter estes comportamentos.

Sem dúvida que todos os momentos que passei com esta turma foram de felicidade, sem dúvida que esta turma me ajudou durante esta minha aprendizagem e me guiou no sentido de ser uma melhor profissional, por isso posso afirmar que tive muito que fazer durante este ano de formação mas amei, amo e amarei cada um dos meus alunos pois só entendo ser Professora desta maneira!

3.6 Grupo de Educação Física: a descoberta mais