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Capítulo 2 Dimensão Pessoal

2.3 Da expectativa à realidade

Sendo o Estágio Profissional a oportunidade dos futuros professores imergirem na cultura escolar nas suas mais diversas componentes, desde as suas normas e valores, aos seus hábitos, costumes e práticas, que comprometem o sentir, o pensar e o agir daquela comunidade específica (Batista e Queirós, 2013, p. 33), eram grandes as minhas expectativas no início do mesmo, não só por todo o significado agregado a este momento marcante da minha vida, por todas as novidades adjacentes, mas também por voltar “às minhas origens”, a uma escola que tanto me marcou durante todo o ensino secundário, pelos reencontros que tinha a certeza que iam acontecer, pelas novas pessoas que teria a oportunidade de conhecer, pelo meu Núcleo de Estágio, Professor Cooperante e Professora Orientadora, pela incerteza, pelo medo e pelo entusiasmo de conhecer as minhas turmas, pelo fascinante novo mundo que iria habitar durante todo o ano letivo, pela minha vontade de aprender, conhecer, desenvolver e evoluir.

Foram várias as questões que surgiram na minha cabeça quando finalmente me consciencializei que iria enfrentar um Estágio Profissional, que iria ser Professora. Como serão os meus alunos? Bem-educados, ariscos, indisciplinados, cumpridores e interessados? Será que estarei à altura de responder a todas as suas questões? Conseguirei manter-me imparcial quando

confrontada com as minhas preferências em relação aos alunos e às próprias modalidades? Serei capaz de defender a minha disciplina quando necessário, fazendo valer toda a formação que fui adquirindo ao longo dos últimos anos no ensino superior? E o núcleo de estágio, o professor cooperante e a professora orientadora? Será que terei a autoridade necessária para não ser confundida com uma aluna pelos meus alunos, colegas, pais e operacionais de ação educativa? Todas estas perguntas sem resposta, numa fase inicial deste processo, formavam, na minha cabeça, um ruído ensurdecedor que me angustiou, afligiu e despertou para o grande desafio que se avizinhada.

Embora faça um balanço positivo deste ano de aprendizagens e adaptações, reconheço que nem todas as expectativas se verificaram na realidade, ou não se concretizaram de forma tão marcante como expectei. Escrevi há uns meses, no âmbito do Projeto de Formação Individual (PFI): “Este ano não será um ano só de trabalho, está a ser e será um ano de reencontros, emoções, recordações e muitos momentos felizes, será um ano onde espero encontrar a mesma sabedoria, eficácia, o mesmo profissionalismo, carinho e aprendizagens que outrora senti e vivi”, e no final desta jornada não alteraria nenhuma palavra do excerto citado, pois sem dúvida foi um ano feliz, que me preencheu muito para além do trabalho que desenvolvi, foi um ano onde reencontrei pessoas por quem nutro uma grande consideração e carinho, foi um ano onde me emocionei e dei especial relevo às sensações e emoções, ao que sentia em cada dia, em cada conversa, em cada lugar, foi um ano em que percebi como é difícil manter todo o profissionalismo que reconheço à Escola Secundária de Rio Tinto e às pessoas que lá lutam, todos os dias, por um futuro melhor, por uma sociedade mais culta e alfabetizada.

Ainda nas minhas expectativas iniciais afirmei: “(…) conheci professores que admirei e dos quais retive modos de intervenção e de relacionamento com os alunos que poderiam funcionar comigo quando chegasse o momento de ser professora também”. Este é um aspeto que não consegui descortinar na totalidade ao longo do estágio, uma vez que reconheço uma identidade profissional muito própria na minha forma de ensinar e de me relacionar com os

alunos, que está intimamente relacionada com a minha personalidade modo de ser e estar. No entanto, considero que todos os Professores com quem convivi contribuíram de forma direta ou indireta para a clarificação da Professora que eu queria ser, moldando a minha imagem mental do que é ser um bom profissional e esclarecendo-me do que os alunos esperam e gostam de um Professor.

Numa fase inicial do estágio ambicionava “relacionar-me da melhor forma possível com toda a comunidade educativa, desenvolvendo relações de respeito e simpatia com todos”. É certo que respeitei e fui simpática com todas as pessoas com que me cruzei ao longo destes meses, no entanto, guardo o sentimento de que a relação com alguns elementos da escola poderia ter sido melhor, mais desenvolvida e explorada. O Grupo de Educação Física, por exemplo, ficou aquém das minhas expectativas, pois não me senti integrada, pouco falava com outros Professores de Educação Física em contextos informais, esperava desenvolver uma relação onde a troca de experiências e conhecimentos fosse privilegiada e o espírito de entreajuda estivesse presente, que estes Professores, talvez por reverem nos Estagiários o seu passado, a sua construção profissional, fossem mais preocupados e mais presentes no meu percurso na escola, contava aprender através de observações das aulas destes docentes, retirando ideias que considerasse boas para implementar na minha turma, o que não se verificou na maior parte dos casos. As atividades que seriam desenvolvidas pelo Grupo de Educação Física foram por diversas vezes alteradas, canceladas, tendo neste momento a sensação que não contribui satisfatoriamente para a realização das mesmas e que a escola poderia ser mais dinamizada através da realização efetiva de todos os torneios e tarefas que no início do ano letivo se previu.

Relativamente ao núcleo de estágio afirmo que foi uma boa e agradável surpresa, sendo efetivamente “o meu grande pilar ao longo deste ano”. Com os meus colegas de núcleo consegui alcançar um ano mais tranquilo, recheado de trocas de impressões e opiniões, onde o enriquecimento pessoal e profissional foi o mais importante e a grande prioridade. Reconheço que a minha evolução e a minha aprendizagem teriam ficado um pouco diminuídas se não tivesse a

ajuda, as chamadas de atenção e as críticas construtivas que os meus companheiros sempre me dirigiram, possibilitando que o companheirismo e amizade crescessem ao longo de cada semana.

Outro grande pilar foi o meu Professor Cooperante tendo-o imaginado como uma pessoa que me faria evoluir ao longo das minhas aulas, através de todos os conselhos e correções que me fizesse, de toda a motivação e disponibilidade que demonstrasse, pois reconheço nele um grande profissionalismo e encaro-o não só como Professor mas também como um amigo que me acompanhou desde o Ensino Secundário até aos dias de hoje, demonstrando constantemente uma preocupação em me manter confiante e motivada. Sem dúvida que os meus pensamentos e desejos se verificaram na realidade, pois ao longo de todo o ano letivo o Professor Cooperante esteve disponível e envolvido na minha formação e evolução, disponibilizando, de forma direta ou indireta, todas as ferramentas necessárias para o meu sucesso. A Professora Orientadora significa para mim toda a tranquilidade e sabedoria indispensáveis para um ano tão atribulado e emotivo como é o ano de todas as descobertas, de todos os embates com o bom e o mau de ser Professor. Através das reuniões e contactos que fui estabelecendo com a mesma, verifiquei que me incitou sempre a refletir sobre a minha ação, sugeriu novos e melhores caminhos que me ajudaram a encontrar as respostas que precisava em cada momento e situação. Tinha elevadas expectativas relativamente à sua orientação do meu Relatório de Estágio, por já conhecer, em parte, o trabalho que desenvolve neste âmbito, e por lhe reconhecer grandes competências e conhecimentos, tendo desde cedo o desejo de poder trabalhar com a Professora Paula Queirós neste importante ano da minha formação.

Por fim, mas não menos importantes, surgem os meus alunos, aqueles com quem vivi experiências incríveis, aqueles que me fizeram perder o medo de ensinar e me animaram a cada dia. Trabalhei para proporcionar aulas interessantes, motivantes e com conteúdo aos meus alunos, dotando-os de ferramentas que os fizessem evoluir para um patamar onde os seus saberes e as suas competências fossem mais satisfatórias. Fomentar conceitos básicos

indispensáveis na vida em comunidade, como o respeito, a entreajuda, a igualdade, a responsabilidade e a boa educação sempre foi um dos pontos fortes da minha atuação, pois considero que para além de ensinar as regras do jogo de Andebol, as ajudas na Ginástica, as vozes de partida no Atletismo e a cadência na Dança, devo intervir e atuar no sentido de formar cidadão competentes e responsáveis, capazes de viver em sociedade e de respeitar as diferenças existentes na mesma. Penso ter alcançado muito bons resultados ao nível da assiduidade, participação e empenho dos meus alunos, contribuindo para que gostassem mais de praticar exercício físico e se interessassem pelas atividades relacionadas com o Desporto. Além disso, considero que soube adaptar-me, lidando e relacionando-me da melhor forma com cada aluno, tendo em conta as suas particulares, facilidades e dificuldades.