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A proposta europeia de um sistema de planeamento das zonas costeiras

CAPÍTULO III DO PLANEAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL À SUSTENTABILIDADE DAS ZONAS COSTEIRAS

3.2 A DIMENSÃO INTERNACIONAL DO ORDENAMENTO , PLANEAMENTO E GESTÃO

3.2.1 A proposta europeia de um sistema de planeamento das zonas costeiras

Segundo diversos autores (Sandersen 1998; Sagdalh 1999), o planeamento das zonas costeiras pode ser considerado como um ‘campo de batalha’, no sentido em que é suposto que com a prática do planeamento territorial se resolvam ‘problemas’. No entanto, esta prática coloca muitas vezes ‘outros problemas’ sendo mesmo provocativo para alguns sectores, como o das instituições que defendem uma forma tradicional de funcionamento em vez de mudarem para uma postura de resolução de problemas comuns.

A abordagem espacial do planeamento, a organização do processo de planeamento, a criação de ‘encontros de comunicação’ e de aprendizagem é, um dos aspectos vitais do modo de gerir o planeamento da zona costeira. Esta é uma das principais conclusões retiradas dos Programas de Demonstração de Gestão Integrada das Zonas Costeiras, efectuado ao abrigo do Programa LIFE Ambiente (CE 1999).

Efectivamente, este foi um dos objectivos dos programas de demonstração em Gestão Integrada das Zonas Costeiras, lançado pela CE em 1996, onde Portugal teve participação através de alguns projectos já referidos no capítulo anterior, com destaque para os Projectos desenvolvidos na Região Centro do continente, particularmente na Ria

de Aveiro51, com objectivos específicos de demonstração de novas práticas de

50 Objectivos Específicos – Anexo à Carta Europeia do Ordenamento do Território (DGOT 1988).

51 Projecto Life MARIA: Programa de Gestão Integrada para a Ria de Aveiro e Projecto Life ESGIRA – Maria: Estrutura de Gestão Integrada da Ria de Aveiro.

comunicação, construção de consensos, criação de parcerias informais face a um objectivo comum: a gestão integrada (Coelho et al. 2003).

Entende-se um modelo de GIZC como um processo de transferência e integração de conhecimentos em diversas áreas, e ainda como um processo de diálogo constante entre os diferentes actores intervenientes, sejam eles institucionais e sociais. Reconhece ainda a necessidade de existência de uma estrutura de coordenação seja ela formal ou informal (Coelho et al. 2003), onde as acções são integradas e integradoras.

Reforçando o que foi afirmado, dever-se-á admitir que o “processo de GIZC começa com

a tomada de consciência sobre questões de interesse comum, o que facilita a manutenção de um diálogo e da troca de impressões entre as partes interessadas e afectadas, que, por seu turno, servem de apoio à cooperação entre as partes, sendo essa a base para a coordenação da acção, que – a prazo – promove a integração da gestão.”

(CE 1999).

O conceito integração está largamente referido na bibliografia disponível sobre esta temática mas também no discurso político e técnico mais recentemente. A dimensão territorial que o planeamento e gestão das zonas costeira têm requer a existência de um contexto onde coexistam os seguintes factores (CE 1996):

• integração horizontal das políticas, planos de desenvolvimento, investimento e de gestão;

• integração vertical entre os níveis de governação;

• integração e adaptação através do tempo;

• participação efectiva das populações.

Alves (1998) refere que uma gestão integrada assentará forçosamente num modelo de planeamento territorial (integrado) devendo ser vista como um instrumento de gestão do território. Considerando que o processo de GIZC envolve todos os níveis de autoridade e administrações de diferentes níveis e com diferentes funções, impõe-se por esse motivo, como elemento basilar nessa gestão, a cooperação nos diferentes níveis de intervenção. A figura 3.1 apresenta um esquema do sistema de planeamento de GIZC discutido e proposto pela CE, em 1996, para os Programas de Demonstração de Gestão Integrada das Zonas Costeiras. Constata-se a inclusão dos princípios da gestão integrada nos diferentes níveis de intervenção: quer ao nível da Administração Central traduzidos nas

políticas, e nos próprios organismos, quer ao nível do sector privado, quer da administração regional e local.

Figura 3.1 - Proposta europeia de um sistema de planeamento de GIZC (CE 1996)

Esta proposta, largamente divulgada nos documentos de reflexão da CE (CE 1996), surge como resultado das posições assumidas pela EU, na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD 1992) indo de encontro a um dos seus objectivos principais, no âmbito do Capítulo 1752(…) criar um processo integrado

52Capítulo 17º - Gestão Integrada e Desenvolvimento Sustentável das Zonas Costeiras (incluindo as Zonas Económicas

Exclusivas)

ADMINISTRAÇÃO CENTRAL

ADMINISTRAÇÂO

REGIONAL Planeamento Acções Estratégicas Acções Prioritárias POLÍTICO Departamentos de Planeamento Estratégia Económica Social Ambiental Objectivos Prioridades Consequências espaciais (Espacial) SECTORIAL (privado) Planeamento ADMINISTRAÇÂO

LOCAL Planeamento Acções

de políticas e de tomada de decisões, incluindo os sectores envolvidos de forma a fomentar a compatibilidade e um equilíbrio de utilizações.” (Martins 1997).

De acordo com Sagdahl (1999), os oceanos e as águas costeiras sempre foram vistos como áreas de acesso aberto, tal e qual como está no conceito do Mare Liberum. A crescente ameaça aos recursos marinhos e o reconhecimento de que estes são limitados e vulneráveis à sua exploração, bem como, o aumento da competição pela exploração dos recursos disponíveis do mar, alicerçaram o caminho para que as nações expandissem a sua capacidade de governação e de território.

As origens da governação institucionalizada são antigas e cada vez mais complexas (Sagdalh 1999). Referindo-se ao sistema institucional da Noruega relativamente ao desenvolvimento e gestão da zona costeira, este autor, classifica-o como sendo um mundo complexo e empírico das instituições, constituindo ambos as bases de governação dos recursos costeiros, mas também reconhecendo-o como principais obstáculos a uma gestão integrada.

A paisagem política e institucional é heterogénea e, muitas vezes rígida, tornando-se contraditória. Talvez por isso, a gestão integrada da zona costeira defendida na vasta literatura, parece contudo ainda constituir um objectivo ambíguo a atingir (Sagdalh 1999) mesmo através de politicas coordenadas, parece difícil de conseguir quer no contexto, quer na formulação de políticas.

Portugal poderá integrar-se nesta explicação, no que diz respeito ao que actualmente se passa em matéria de gestão da zona costeira e que será bordado com maior detalhe nos capítulos seguintes.