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CAPÍTULO IV INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEITOS E MÉTODOS

ESTADO RESPOSTA Pressão Indirecta Pressão Directa

4.3.5 Outros métodos de avaliação

Há no entanto outros métodos de avaliação utilizados que se revestem de algum significado seja pelo seu permanente aparecimento em diversos documentos técnicos e

82Decisão n.º 182/1999/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Dezembro de 1998, relativa ao quinto

programa-quadro de acções da Comunidade Europeia em matéria de investigação, de desenvolvimento tecnológico e de demonstração (1998-2002) [Jornal Oficial L 26 de 01.02.1999].

científicos, seja pela importância que tiveram numa determinada época e que de algum modo contribuíram para a reflexão em torno desta temática.

De acordo com o Relatório do Balaton Group, que contou com o contributo de Donella Meadows, a complexidade encontrada na definição de IDS, levou a que fossem sugeridos três requisitos fundamentais para a sua definição. Os requisitos eram:

• A identificação dos principais sistemas que são relevantes no contexto do desenvolvimento sustentável;

• O desenvolvimento de uma abordagem para identificação dos

indicadores da viabilidade e sustentabilidade desses mesmos sistemas; e

• “Pensar” no modo como se vai usar essa informação para avaliação da

viabilidade e sustentabilidade do desenvolvimento humano nos

diferentes níveis das organizações sociais.

Subjacente a estes requisitos encontrava-se uma lista de princípios orientadores (‘The Bellagio Principles’), para uma avaliação prática do progresso “rumo a um desenvolvimento sustentável”.

Segundo este relatório, tornava-se necessário na definição de indicadores, o profundo conhecimento das diferenças e relevância dos diferentes sectores ou subsistemas da sociedade. Devendo estar incluídos os sistemas que integram a sociedade bem como aqueles que dependem da própria sociedade. Os diferentes subsistemas podem-se distinguir da seguinte forma:

Desenvolvimento individual (liberdades e garantias, direitos humanos, igualdade, autonomia individual e autodeterminação, saúde, direito ao emprego, integração social e participação, qualificação, especialização, educação adulta, planeamento familiar, lazer e recreio, artes)

Sistema Social (desenvolvimento da população, composição étnica, estrutura de classes e distribuição económica, grupos sociais e organizações, segurança social sistemas de saúde apoio à terceira idade).

Governamental (governo e administração, finanças públicas e taxas, participação política e democracia, resolução de conflitos (nacional e internacional), política de direitos humanos, política de população e emigração, sistema legal, controle do crime, política de assistência internacional, política tecnológica).

Infra-estruturas (residência e cidades, transportes e distribuição, sistemas de abastecimento (água, energia, comida, bens, serviços), tratamento de lixos, serviços de saúde, comunicação e media, acesso à educação e treinos, ciência, investigação e desenvolvimento).

Sistema económico (produção e consumo, moeda, comércio e negócio, negócios inter-regionais, trabalho e emprego, rendimentos, mercado).

Recursos e Ambiente (ambiente natural, atmosfera e hidrosfera, recursos naturais ecossistemas, espécies, esgotamento dos recursos não renováveis, regeneração dos recursos renováveis, material reciclado, poluição, degradação, capacidade de carga).

Há no entanto outras formas de subdividir os sistemas. Contudo, torna-se importante referir que, para que a totalidade do sistema seja viável, é essencial que cada um dos subsistemas seja também viável. A viabilidade da totalidade do sistema depende do adequado funcionamento de cada subsistema que o compõe. Neste sentido, os indicadores a definir devem providenciar informação acerca da contribuição de cada subsistema para a exequibilidade do sistema em geral.

Para além de outras classificações serem possíveis, não é possível alhear de que os vários subsistemas são partes essenciais de uma ‘esfera’ que é afectada e afecta a sociedade humana. As relações existentes entre estes diversos subsistemas podem ser observadas na figura 4.5, apresentando-se seguidamente uma breve explicação de cada um deles (Bossel 1999).

Figura 4.5 – Esquema representativo das inter-relações existentes entre os diversos subsistemas (Bossel 1999). Desenvolvimento Individual Sistema de Infra- estruturas Sistema Económico Sistema Governamental Sistema Social Sistema Ambiental e Recursos SISTEMA HUMANO SISTEMA DE SUPORTE SISTEMA NATURAL

Assim, o Potencial Individual descreve o potencial da competência da acção individual como produto (e produzindo) as possibilidades do desenvolvimento individual. Traduz o resultado acumulado de uma tradição e cultura, bem como das condições socio-políticas e económicas.

O Potencial Social significa algo menos tangível, isto é, a capacidade para lidar construtivamente com processos sociais e com a sua utilização em benefício da globalidade do sistema. Esta tipologia de potencial tem uma forte componente cultural, determinando a coerência social e as suas relações, incluindo aspectos como: honestidade, confiança, competência e eficiência.

O Potencial Organizativo manifesta o standard do ‘know-how’ e o desempenho do governo, das administrações, do negócio e da gestão, sendo vital para o uso efectivo dos recursos (natural ou humano) para benefício da totalidade do sistema.

O Potencial de Produção do sistema económico inclui o ‘stock’ de oportunidades de produção, distribuição e marketing. Providencia os meios para toda a actividade económica.

O Potencial Natural representa o ‘stock’ dos recursos renováveis e não renováveis dos

materiais, da energia e biomassa incluindo, a capacidade para absorção e regeneração dos resíduos /lixos.

Como se pode comprovar para cada subsistema mencionado, é necessário um número de indicadores, de forma a captar todos os aspectos da sua viabilidade e sustentabilidade e a forma como eles contribuem para a viabilidade e sustentabilidade do sistema global. Como é de prever, quantos mais subsistemas existirem para análise, maior é a probabilidade de haver mais indicadores para manusear. Assim, podem-se agregar os subsistemas da seguinte forma (Bossel, 1999).

Sistema Humano = Sist. Social + Desenv. Individual + Sist. Governamental

Sistema de Suporte = Sist. Infra-estruturas + Sist. Económico

Sistema Natural = Recursos + Ambiente

Esta agregação reflecte os três fundamentais subsistemas que correspondem às três categorias essenciais de capital, usualmente utilizados na análise do sistema global: capital humano, capital estrutural (construído) e capital natural.

Outro método de avaliação difundido e aplicado cientificamente é o conceito de capacidade de carga, frequentemente associado à temática da zona costeira, referindo- se particularmente à área de praia.

O termo capacidade de carga pode ser definido como: o número de pessoas que a Terra pode suportar. Este conceito já não é recente podendo o seu aparecimento relacionar-se com as teorias de Malthus, em 1798 (WRI 1998). Malthus dava conta de que era inevitável que o crescimento populacional, da forma como se estava a verificar, ultrapassaria, em pouco tempo, as reservas de alimentos e de água disponíveis no planeta. É precisamente nesta altura que se iniciam diversos estudos conducentes à definição de metodologias de avaliação de suporte ao planeamento, ordenamento e gestão territorial.

Em 1972, o Clube de Roma afirmava a necessidade de se acautelarem a utilização dos recursos naturais, pois a rapidez com que eles desapareciam da face da Terra, levaria ao crescimento zero (Meadows 1993).

De acordo com Silva (2002) o conceito de capacidade de carga surge pela primeira vez ligado à criação de gado, com objectivos precisos de calcular o número de cabeças de gado que uma determinada área de pastagem poderia suportar sem que ficasse destruída.

O mesmo autor refere ainda que este termo tem sido frequentemente considerado como subjectivo e vago, sendo usual a sua incorrecta utilização o que tem levado a uma procura obsessiva do número “mágico” que exprima a capacidade de carga de um local. Portugal tem, ao nível do ordenamento e gestão das zonas costeiras feito um esforço nesta matéria ao incorporar a definição de capacidades de praias nos seus instrumentos de gestão territorial, através dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira.

De realçar ainda o reconhecimento que Silva (2002) apresenta, ao afirmar na sua análise que a determinação da capacidade de carga de uma área deverá resultar de objectivos de gestão claramente explicitados, permitindo afirmar que nenhum local possui uma capacidade de carga intrínseca, mas sim ele poderá apresentar várias capacidades de carga consoante os objectivos de ordenamento e gestão definidos.

Em 1997, durante o período de avaliação das condições do desenvolvimento sustentável após o Rio 92, a equipa de investigação liderada por Mathis Wackernagel, da Universidade do México, surgiu com o conceito de Pegada Ecológica (PE), explicando que “todos provocam um determinado impacto na Terra, porque consomem produtos e

serviços da natureza. O seu impacto ecológico corresponde ao total do “capital natural” que ocupam / consomem para continuarem activos e a desenvolver as suas actividades.”

Este termo tem por base a noção de capacidade de carga e o de “MIPS”, já apresentados anteriormente. Em termos gerais, a pegada ecológica permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o actual estilo de vida da população.

Com base neste conceito, desenvolveu-se uma metodologia de avaliação de cálculo da Pegada Ecológica para cinquenta e duas nações contendo 80% da população global e responsáveis por 95% da Produção Mundial. Os investigadores concluíram que a população mundial estava a utilizar cerca de um terço mais da produtividade biológica da Terra, do que aquilo que podia regenerar. Contudo a noção de PE pode ser aplicado a um edifício, a um conjunto ou a uma cidade inteira, conforme refere Roseta fidé

Wackernagel & Rees (Roseta 2003; Wackernagel & Rees 1996).

De acordo com Correia e Ferrão (Correia & Ferrão 2003), a determinação da PE consiste numa ferramenta de avaliação que permite estimar o consumo de recursos e os requisitos de assimilação de resíduos de uma determinada população humana ou, de uma economia em termos de área correspondente de solo produtivo, i.e., pretende-se avaliar as condições de utilização do ‘capital natural’ e assim medir os desvios em relação às condições que possam considerar-se de equilíbrio ou de auto-sustentação. A pegada ecológica das maiores cidades do mundo ocidental já atinge duas vezes a superfície do planeta. O que significa ter de alterar, profundamente, a nossa forma de usar o espaço e os recursos, sob pena de estarmos a construir um futuro deserto de vida (H Roseta 200383.

4.4 SÍNTESE

Pode-se-á afirmar ser consensual a utilização de indicadores para avaliar o desenvolvimento ambiental, social, económico e institucional de determinadas estratégias, programas, políticas e projectos.

Os modelos internacionalmente conhecidos de indicadores ambientais são o Modelo PSR da OCDE (Pressure/ State/ Response), o modelo PSR da EPA (Pressure/ State/ Response/ Effects), seguido do modelo PSIR da UNEP (Pressure/ State/ Impact/ Response), e ainda o DPSIR (Driving Forces/ Pressure/ State/ Impact/ Response), da EEA.

Os indicadores são actualmente considerados como instrumentos recorrentes para caracterização de determinados sistemas, nas mais diversas áreas do conhecimento. Há contudo, uma consciência clara que não existe um indicador de desenvolvimento sustentável que possa ser definido como único, nem um determinado número de indicadores que possam ser aplicáveis a todos as comunidades, cidades, regiões ou países que possam ser considerados como suficientemente eficazes para medir o progresso do desenvolvimento sustentável.

A especificidade do local ou região, as suas características próprias e os objectivos que estão na base do que se quer medir, são fundamentais e podem variar consoante os objectivos definidos. Uma avaliação nacional não implica necessariamente a utilização dos mesmos indicadores para uma escala regional, assim como duas, ou mais regiões de um mesmo país deverão ser avaliadas com grupos de indicadores que retratem de forma inequívoca e realista a especificidade do território e da sua dinâmica.