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CAPÍTULO V TIPOLOGIAS DE INDICADORES PARA A ZONA COSTEIRA

5.3 TIPOLOGIAS DE INDICADORES

5.3.3 Indicadores de Governança

Os indicadores de governança são, segundo o documento que está na base desta análise (UNESCO 2003), indicadores de avaliação da execução da Gestão Integrada das Zonas Costeiras, maioritariamente por parte das entidades com influência na gestão dos territórios costeiros. Estão englobados, nesta tipologia, os habituais indicadores institucionais considerados, por diversos autores como indicadores de resposta (DGA/ MAOT 2000; Partidário 2001; EEA 2005).

Estes indicadores ajudam a medir o desempenho das respostas dadas pelas diversas entidades no sentido de minimizar os efeitos da pressão humana sobre o ambiente na zona costeira, auxiliando a melhorar o seu estado, bem como, apoiam a promoção da melhoria das condições socioeconómicas das populações costeiras (UNESCO 2003). As respostas legislativas assumem nesta tipologia, particular destaque uma vez que estas são a face legal da resolução de alguns dos problemas existentes, revelando a capacidade institucional existente ou não das entidades que tutela a zona costeira.

A Tabela 5.8 apresenta a síntese dos indicadores de governação, onde se destaca a elevada existência de indicadores referidos pelas Nações Unidas mas que actualmente já não aparecem, por se encontrarem implícitos noutras variáveis. No entanto a OCDE, por razões de objectivos ainda os utiliza. A Agência Europeia do Ambienta apenas considera o Indicador de Progresso em Estratégias e Planos de GIZC. Esta metodologia será retomada mais à frente, pois constituiu um programa específico da AEA que importa

analisar com mais detalhe. Na Tabela 5.9 encontram-se listados os indicadores de governança seleccionados, com base no estudo referido.

Tabela 5.8 – Síntese dos indicadores de governação (UNESCO 2003)

Tema Indicador Nível UN OECD WRI EEA BP Outros

Percentagem de população servida por estações de tratamento de

águas residuais Nacional Existência de programa de

monitorização de poluentes

perigosos Nacional

Qualidade da água

Relação de equipamentos portuários

para limpeza de navios Nacional Áreas costeiras protegidas

Nacional Local Lugar Paisagem e

biodiversidade

Áreas marinhas protegidas Nacional Número de stocks pesqueiros

regulados por cotas Nacional Pescas

Despesa na monitorização dos

stocks de peixe Nacional Preparação de perfis costeiros Nacional Uso de indicadores costeiros Nacional Mecanismos de participação pública

em questões relacionadas com o

ambiente costeiro e marinho Nacional Informação e

participação

Importância das questões costeiras

no relatório de estado do ambiente Nacional Recursos

humanos

Educação e programas de treino para casos problemáticos costeiros

e marinhos Nacional

Mecanismos de coordenação para casos problemáticos costeiros e marinhos

Nacional Local Politicas e legislação específica

visando a gestão de zonas costeiras e marinhas

Nacional Local Implementação de planos de Gestão Integrada, e politicas de uso do solo e água

Nacional Local Uso dos procedimentos da AIA e

AEA nas áreas costeiras

Nacional Local Uso de incentivos económicos para

a aplicação de tecnologias limpas e implementação do princípio do poluidor-pagador

Nacional Capacidade

institucional

Aplicação das preocupações com GIZC nas estratégias e planos a desenvolver

Nacional Local Legenda: explícito e em uso/ implícito e em desuso

Poder-se-á verificar ainda que, os aspectos ligados à implementação de programas se encontram na tipologia dos indicadores de governança Esta circunstância decorre da determinação do esforço financeiro que as instituições tiveram ou têm de efectuar para a resolução ou minimização dos problemas.

Tabela 5.9 – Lista dos indicadores de governação (UNESCO 2003)

Área central Indicadores

Acesso público

• Prazo de utilização legal (mecanismos legais que assegurem o acesso público) • Áreas por tipos (tipos de solo que podem ser acedidos)

• Pontos de acesso (lista de tipos de acessos e áreas de pontos de acesso)

• Qualidade da vivência (tipos de uso dos pontos de acesso público e o estado do ambiente envolvente)

Habitats costeiros/ biodiversidade

• Tamanho (área ou abundância da população)

• Condição (tipos de composição, estrutura e interacções bióticas das populações) • Contexto da paisagem (tipos de regimes ambientais dominantes com influência na

composição das populações e nos interrelacionamentos entre populações e ecossistemas) Desenvolvimento

das comunidades costeiras

• Ambiente e uso do solo (lista dos tipos de desenvolvimento territorial nas áreas costeiras) • Económico (tipo de diversidade económica e pontos fortes e fracos do desenvolvimento

económico)

• Social (tipo de compromisso entre governo e privados)

• Infraestruturas e Investimento público (tipo da coordenação entre investimentos e formas de incentivos de crescimento e valores das comunidades)

Perigos costeiros

• Uso do solo e planeamento de transportes (listas das zonas costeiras de modo a evitar desenvolvimentos inapropriados zonas perigosas)

• Mitigação, resposta e recuperação (do governo e proprietários privados aos perigos) • Vulnerabilidade (das propriedades aos perigos costeiros)

Qualidade da água costeira

• Entrada de poluentes (tipos de alterações nas fontes e quantidades de poluentes emitidos para os sistemas costeiros)

• Condições da qualidade da água (inclusão de medições directas e indirectas de qualidade da água)

• Efeitos nos ecossistemas (tipos de consequências das alterações na qualidade da água em termos de recursos costeiros)

Usos costeiros dependentes

• Mecanismos de planeamento e gestão (tipo de autoridades capazes de decretar leis e regulamentos que protejam a saúde pública, a segurança e o bem-estar)

• Saúde económica (medição dos tipos de usos e tendências no desenvolvimento económico) Preocupação

pública e participação

• Programas de educação pública para necessidades específicas • Mecanismos de participação pública de uso alargado

Estrutura/ capacidade institucional

• Evolução das iniciativas nacionais de GIZC (e.g., planos de gestão formulados/ adoptados/ implementados)

• Capacidade e obrigações dos governos nacionais e locais • Estruturas institucionais

• Sustentabilidade Politicas de

desenvolvimento

• Legislação nacional para GIZC • Politicas internacionais

• Regras e regulamentos transpostos para a leis locais Monitorização e

avaliação

• Sistema de avaliação e monitorização

• Participação dos actores envolvidos em monitorização e avaliação • Uso dos resultados da monitorização e avaliação

Esta tipologia de indicadores merece uma análise mais pormenorizada uma vez que os temas centrais e os indicadores recomendados constituem elementos determinantes da avaliação. Não que o grau de importância seja maior do que os indicadores listados nas tipologias ambiental e socioeconómica, mas porque os desenvolvimentos futuros da investigação em matéria de avaliação e gestão, deverão relacionar-se também com a escolha dos indicadores de governança no sentido de avaliar o desempenho institucional, em Portugal.

Neste sentido, destacam-se as quatro áreas centrais da lista:

• Preocupação e participação pública;

• Estrutura e capacidade institucional;

• Políticas de desenvolvimento;

• Monitorização e avaliação.

No que se refere à área ‘preocupação e participação pública’, os indicadores a utilizar relacionam-se com a criação e desenvolvimento de programas de educação e mecanismos de participação pública. Os mecanismos de participação pública começam a existir, com destaque para os mecanismos previstos na diversa legislação, em matéria de instrumentos de ordenamento e gestão territorial, mas também pela importância que o exercício da participação assume no desenvolvimento das Agendas 21 Locais, instrumentos informais de participação.

A Agenda 21 é um processo de mudança no modo de participação onde é basilar o envolvimento activo de toda a população local e visitantes, agentes económicos,

associações e colectividades.A aprovação da Convenção de Aarhus, em 1998, teve por

objectivo estabelecer a regras básicas para promover a participação dos cidadãos em assuntos ambientais apoiando-se em 3 pilares fundamentais: a) direito de acesso à informação; b) direito a participar nos processos de tomada de decisão e, c) acesso à justiça. O acesso à informação é requisito prévio e imprescindível para o exercício efectivo da participação, onde a administração pública tem a incumbência de garantir a difusão activa da informação e garantir o acesso por parte do público à informação que solicite.

Este processo começa a tomar forma nas zonas costeiras onde se destaca o trabalho desenvolvido na Costa Noroeste da Província de Cádiz, em Espanha (DPC/UC 2004), ou mesmo na freguesia costeira do Mindelo, em Portugal (IDAD 2004). A sua aplicação poderá variar desde o nível administrativo local, como é o exemplo do Mindelo, ao nível intermunicipal da costa noroeste de Cádiz, ou ainda, o nível transfronteiriço, tendo como exemplo a caso da Região do Mar Báltico (Agenda Local 21 para o Mar Báltico86).

Relativamente à área da ‘estrutura/ capacidade institucional’, pode-se considerar a estrutura organizativa da(s) instituição(ões) com responsabilidade directa na gestão da zona costeira, bem como as competências técnicas, humanas e financeiras na implementação e gestão das acções necessárias.