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CAPÍTULO III DO PLANEAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL À SUSTENTABILIDADE DAS ZONAS COSTEIRAS

3.3 ESTRATÉGIAS DE PLANEAMENTO E DE GESTÃO COSTEIRA , EM PORTUGAL 1 O período anterior a

3.3.2 Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira

Os POOC distribuem-se por toda a costa portuguesa (continental e insular) encontrando-

se regulamentados pelo DL n.º 309/9263, de 2 de Setembro, na redacção conferida pelo

DL n.º 218/94, de 20 de Agosto, cuja vertente inovadora diz respeito ao estabelecimento e sistematização de numerosos conceitos e critérios que não estavam presentes noutros instrumentos de planeamento e que são específicos da zona costeira (Alves 1998). Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira, tem natureza de regulamento administrativo e abrangem uma faixa ao longo da zona costeira, a qual se designa por zona terrestre de protecção, cuja largura máxima não excede os 500 metros, contados a partir do limite da margem das águas do mar, ajustável sempre que se justifique, e uma faixa marítima de protecção que tem com limite inferior a batimétrica dos 30 metros. Com os objectivos gerais de:

• Ordenar os diferentes usos e actividades específicas da orla costeira;

• Classificar as praias e regulamentar o uso balnear;

• Valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais

e turísticos;

• Enquadrar o desenvolvimento das actividades específicas da orla costeira;

• Assegurar a defesa e conservação da natureza,

estes planos preocupam-se, particularmente com a protecção e integridade biofísica do espaço, com a valorização dos recursos existentes e a conservação dos valores ambientais e paisagísticos.

É dentro deste espírito que as praias se tornam objecto privilegiado de intervenção conforme se pode verificar pela natureza dos Planos de Praia, os diversos graus de restrição das praias de acordo com as tipologias estabelecidas, com aplicação em toda a costa.

62DL nº 309/93, de 2 de Setembro, alterado em 1994, pelo DL nº 218/94, de 20 de Agosto.

63De acordo com este diploma os POOC eram considerados Planos Sectoriais, sendo posteriormente alterado pelo DL nº

Em 1995, é publicado o DL nº 151/95, de 24 de Julho que institui os Planos Especiais de Ordenamento do Território64 (PEOT). Este diploma surge da necessidade de colmatar uma lacuna existente que se prendia não só com o ordenamento jurídico, mas também, com a regulação jurídica dos procedimentos de elaboração e aprovação de Planos Especiais com incidência no ordenamento do território (Borrego et al. 1996 e Pinho et al.

1996 fidé Alves 1998) e onde surgem classificados os POOC como Planos Especiais.

Os PEOT são considerados instrumentos de natureza especial de acordo com a Lei de Bases de Ordenamento do Território e de Urbanismo (Lei nº 48/98, de 11 de Agosto) com regime jurídico definido no DL nº 380/99, de 22 de Setembro. A sua elaboração compete

à Administração Central65 e a sua aprovação é feita através de Resolução de Conselho

de Ministros. Estes planos estabelecem um meio supletivo de intervenção do Governo apto à prossecução de objectivos de interesse nacional, vinculando as entidades públicas e os particulares.

Nas regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, a situação encontra-se mais atrasada que no continente. Nos Açores estão aprovados os POOC da Ilha de S. Miguel (Feteiras e Fenais da Luz; Lomba de S. Pedro); Ilha Terceira e Ilha de S. Jorge.

Na ilha da Madeira, embora já estejam concluídos os quatro planos (Funchal – Ponta Delgada; Câmara de Lobos – Ponta do Pargo; Costa Norte e Porto Santo), foram na fase de consulta pública retirados do processo para reajustes técnicos, aguardando-se a continuidade do procedimento (Pinho 2003). Esta situação mantém-se actualmente, face a conflitos existentes e não resolvidos.

Em finais de 2005, encontram-se aprovados todos os POOC do continente66 (Figura 3.7).

64 De acordo com este diploma consideram-se Planos Especiais de Ordenamento do Território (PEOT), os Planos de Ordenamento da Orla Costeira, os Planos de Ordenamento das Albufeiras e Águas Públicas e os Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas.

65Dependendo da área abrangida poderá ser da competência do INAG ou do ICN caso englobe Áreas Protegidas de

âmbito nacional.

Figura 3.7 – Divisão da zona costeira nacional e situação dos respectivos planos de ordenamento (INAG 2006)

O acompanhamento na elaboração e aprovação dos Planos é feito, de acordo com a legislação em vigor, por comissões próprias com procedimento idêntico ao de acompanhamento de outros instrumentos de gestão territorial. As actuais Comissões Mistas de Coordenação67 dos Planos são compostas por diversas instituições com interesses directos de gestão na área de intervenção, bem como por instituições não governamentais com significado na região podendo ainda integrar estas comissões, sob convite, outras instituições de nível académico e ainda as administrações portuárias68. A figura 3.8 mostra a diversidade de organismos que habitualmente integravam as ex- Comissões Técnicas de Acompanhamento destes planos, no continente português.

Figura 3.8 – Articulação institucional do POOC (INAG 1993)

A diversidade de instituições com jurisdição na área de intervenção é um facto, assim como é um facto a complexidade que esta circunstância provoca em termos de gestão. Também não é apanágio de Portugal, pois esta conflitualidade geográfica existe em diversos países e tem sido recorrente a tentativa de encontrar soluções para a sua resolução ou minimização dos conflitos.

67As Comissões Mistas de Coordenação (CMC) vieram substituir as Comissões Técnicas de Acompanhamento (CTA) de

acordo com o DL n.º380/99, de 22 de Setembro, com funções de acompanhamento e de concertação.

68As áreas portuárias estão excluídas da área de intervenção do POOC, de acordo com o DL 302/93, de 22 de Setembro.

DRARN

Assegurar a gestão do licenciamentoe fiscalização do Domínio Hídrico. Assegurar o cumprimento das normas

de qualidadeda água. Acompanhar e conduzir o processo de

delimitação da REN.

INAG

Promover os POOC. Gerir as utilizações do Domínio Hídrico numa perspectiva de protecção ambiental, de valorização dos recursos

naturais e sustentabilidade dos diferentes usos.

ICN

Assegurar a gestão das Áreas Protegidas. Promover os POOC em articulação

com o INAG.

DGP

Assegurar a protecção, conservação e gestão dos recursos vivos

marinhos e promover o desenvolvimento da aquicultura.

Municípios

Garantir a prossecução dos objectivos do desenvolvimento

sustentado do Concelho.

CCR

Articular propostas do plano com os objectivos e orientações de desenvolvimento estabelecido ou previsto em termosde planos ou programas de âmbito regional e

nacional.

DGPNTM

Articular com as intervenções e projectos, em curso e previstos, nomeadamente das áreas portuárias.

DGM

Articulação com as acções de fiscalização e licenciamento das

actividades sob a sua tutela.

Outras Entidades DGT

Assegurar a articulação com os projectos e programas em curso, no

âmbito do planeamento e turismo.

Embora os POOC possam ser considerados como instrumentos fundamentais de ordenamento e gestão dos territórios costeiros, em termos de instrumentos legais na zona costeira nacional, são vários os diplomas a que se deve atender, particularmente os que se referem aos usos privativos do domínio hídrico, em que se insere o Domínio Público Marítimo (DPM).

Seguidamente apresenta-se uma breve síntese aos principais diplomas legislativos nesta matéria.

O DL. 468/7169, de 5 de Novembro revê, actualiza e unifica o regime jurídico dos terrenos do domínio público hídrico aplicável às áreas de jurisdição portuária. O DL nº 46/9470, de 22 de Fevereiro, que estabelece o regime de licenciamento das utilizações do domínio hídrico, sob jurisdição do Instituto da Água, e o DL nº 47/9471, de 22 de Fevereiro, que estabelece o regime económico e financeiro da utilização do domínio público hídrico sob jurisdição do INAG.

Ao referir zona costeira, está-se automaticamente a fazer referência a terrenos do domínio hídrico cuja jurisdição está dispersa por diversas entidades. Consultando o Plano Nacional da Água72 (INAG 2005) verifica-se, por um lado, as entidades portuárias, que exercem a sua jurisdição nas zonas com interesse portuário, por outro o INAG, que detém a jurisdição no restante domínio hídrico, isto é, genericamente, no domínio marítimo, sem interesse portuário, e em todo o domínio fluvial e lacustre com excepção daquele que se encontra afecto à jurisdição restrita do Instituto de Navegabilidade do Douro.

Às actuais Comissões de Coordenação do Desenvolvimento Regional (CCDR Norte; CCDR Centro; CCDR Lisboa e Vale do Tejo; CCDR Alentejo e, CCDR Algarve), a quem estão cometidas, nas áreas do domínio hídrico sob jurisdição do INAG, atribuições na área da fiscalização e do licenciamento dos usos privativos do domínio hídrico, entre outras.

Por último, ao Instituto da Conservação da Natureza (ICN), que exerce as competências do INAG, nas áreas do domínio (público) marítimo transferidas para a jurisdição do INAG pelo Decreto-Lei nº 201/92, de 29 de Setembro e que se encontrem classificadas como áreas protegidas.

69Com alterações introduzidas pelo DL nº 53/74, de 15 de Fevereiro, pelo DL nº 89/87, de 26 de Fevereiro, e pela Lei nº

16/2003, de 4 de Junho.

70 Com as alterações introduzidas pelo DL nº 234/98, de 22 de Julho. 71 Com as alterações introduzidas pelo DL nº 113/97, de 10 de Maio.

Existem ainda outras entidades às quais, também estão atribuídas competências no âmbito do domínio hídrico, particularmente no domínio público marítimo. O Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos em conjunto com as já referidas Administrações Portuárias, com competências ao nível da navegação e da actividade portuária, e para as entidades que compõem o Sistema da Autoridade Marítima (Direcção geral da Marinha, Capitanias dos Portos, Comissão do Domínio Público Marítimo). Estas últimas responsáveis nas áreas da segurança marítima, preservação do meio marinho e preservação e protecção dos recursos do leito do mar e do subsolo marinho e do património cultural subaquático. Englobam ainda funções de segurança, fiscalização, manutenção da ordem e defesa do domínio público marítimo.

Poder-se-á ainda acrescentar a esta lista, entidades como as autoridades policiais e a Guarda Republicana e outras entidades às quais estão atribuídas competências aos mais diversos níveis: de protecção e conservação de recursos naturais (fauna, flora, etc), protecção e conservação do património (arquitectónico e arqueológico), licenciamento do exercício de um vasto número de actividades quer económicas, quer de recreio e lazer (pesca e aquicultura, salicultura, turismo, etc.).

Importa ainda clarificar, no seio do actual quadro legislativo de gestão da zona costeira, as matérias respeitantes quer à atribuição dos usos privativos quer à titularidade dos terrenos do domínio público marítimo, uma vez que os Planos de Ordenamento da Orla Costeira vêm trazer novas regras e usos a estas zonas, particularmente ao nível das praias balneares.

É ao nível das praias, particularmente, no que diz respeito ao licenciamento dos apoios de praias que actualmente existe alguma discussão. A discussão aborda à transferência de competências para as autarquias, em matéria de DPM (licenciamento dos apoios de praia), e à possibilidade de se proceder à transferência de receitas para as autarquias, provenientes da taxa de ocupação do DPM por apoios de praia73.

A actual legislação em matéria de competências relacionadas com o licenciamento das estruturas balneares imputa às autarquias a responsabilidade na limpeza das praias, bem como nos licenciamentos de obras de construção dos apoios de praia.

Estas atribuições e competências para as autarquias locais foi-lhes dada através da Lei n.º 159/99, de 14 de Setembro, que na alínea 11) do n.2, do artigo 26º, refere que

73As taxas cobradas são repartidas com o INAG, na proporção de 60% para a CCDR e 40% para o INAG, de acordo com

compete aos órgãos municipais “assegurar a gestão e garantir a limpeza e a boa manutenção das praias e das zonas balneares.”

Esta circunstância levanta alguma conflitualidade institucional, no sentido em que as autarquias face às despesas que têm com a limpeza das praias e de algumas das áreas envolventes de estacionamentos reclamem uma revisão das competências e, particularmente da distribuição das verbas que advêm das concessões e licenciamentos e que actualmente ficam na posse do INAG e das CCDR.

Esta matéria é pertinente e deve ser vista à luz de uma eventual alteração no âmbito das competências de atribuição dos usos privativos do domínio hídrico. Contudo esta alteração fará sentido num âmbito mais alargado onde se deverão avaliar as competências das entidades com jurisdição sobre a zona costeira e onde seja definido um novo modelo de gestão do domínio público marítimo.

As bases do regime jurídico aplicável à zona costeira, que poderá passar por uma Lei de Bases da Zona Costeira, conforme proposto no Programa do XVII Governo Constitucional e por diversos autores, como já foi referido anteriormente, deve ser acompanhada de um conjunto de alterações legislativas que abordem o planeamento da zona costeira no âmbito da revisão dos instrumentos de gestão territorial, dado o seu carácter supletivo e regulador.

A redefinição das áreas de jurisdição das diferentes entidades públicas com competências na gestão da zona costeira, por exemplo das autoridades marítimo - portuárias, o que inclui um novo modelo de gestão do DPM e das responsabilidades de cada instituição.

A figura 3.9 mostra a diversidade de instituições com competências na zona costeira nacional.