• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO V TIPOLOGIAS DE INDICADORES PARA A ZONA COSTEIRA

5.3 TIPOLOGIAS DE INDICADORES

5.3.1 Indicadores Ambientais

Muito tem sido o trabalho desenvolvido em torno da definição de indicadores ambientais para os vários sectores e que de algum modo contribuem para a gestão integrada das zonas costeiras, por exemplo, na poluição marinha, nas pescas, na biodiversidade, na qualidade das águas balneares, etc. Na pesquisa bibliográfica, efectuada nesta temática, verificou-se ainda que os níveis de abordagem deste tipo de indicadores cobrem uma extensa área geográfica que vai desde o nível global (internacional) ao nacional, regional, e local.

Como já foi referido no capítulo anterior são vários os organismos que ao nível internacional tem vindo a desenvolver iniciativas, no sentido de avaliar o estado do ambiente marinho e costeiro. As instituições com maior volume de trabalhos são: A Comissão do Desenvolvimento Sustentável (‘Commisson on Sustainable Development’ - CSD), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (‘Organization for Economic Co-operation and Development’ - OCDE), o Instituto Mundial dos Recursos (‘World Resources Institut’ - WRI), o Sistema de Observação Global dos Oceanos (‘Global Ocean Observing System’ - GOOS) e a Agência Europeia do Ambiente (‘European Environment Agency’ - EEA).

Em 1995 a CDS aprova o Programa de Trabalho sobre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável envolvendo as Nações Unidas, organizações intergovernamentais e não– governamentais no sentido de implementar os elementos-chave do programa, que incluía uma lista de avaliação de cento e trinta e quatro indicadores.

Essa lista elaborada pela CDS teve por base, os capítulos da Agenda 21 sob as dimensões básicas do desenvolvimento sustentável (social, económico, ambiental e institucional). Dentro destes temas, os indicadores foram classificados de acordo com a metodologia PSR (Pressure/ State/ Response).

No Capítulo 17 da Agenda 21, foram identificados três indicadores classificados como ‘forças direccionadoras’ e dois indicadores de ‘estado’ para avaliar o progresso na ‘protecção dos oceanos, todo o tipo de mares e áreas costeiras’.

A tabela 5.3 apresenta o resultado do conjunto de indicadores para os oceanos e zonas costeiras para os quais existe capacidade para quase todos os países desenvolverem a nível nacional, de acordo com o documento das Nações Unidas (UN 1992).

Tabela 5.3 – Indicadores específicos para a zona costeira, segundo a Agenda 21 (UN 1992)

Tema Sub-tema Indicador

Zona costeira

- Concentração de algas nas águas costeiras - Percentagem da população total que vive em

zonas costeiras Oceanos, mares e zonas

costeiras (Cap. 17)

Pesca - Captura anual de espécies maiores

Como facilmente se pode concluir da análise da Tabela 5.3, os indicadores sugeridos em 1992 são apenas três o que parece francamente pouco. Mesmo numa análise nacional, para informação comparativa mundial, estas variáveis são as mais comuns revelando muito pouco sobre a sustentabilidade e o desenvolvimento de uma determinada zona costeira.

Esta análise superficial sobre a zona costeira de um país não pode ser dissociada da época em que foi proposta. Estava-se no ano da Primeira Cimeira sobre Ambiente e Desenvolvimento e o alerta sobre a problemática das zonas costeiras estava dado, assim como estavam a iniciar-se os esforços de avaliação dos territórios.

Dez anos após esta Cimeira e, com o desenvolvimento de vários estudos, sobre esta temática, a que hoje em dia facilmente se acede via Internet, o documento da UNESCO

(2003) pode ser considerado um guia, uma vez que na sua base estiveram estudos de investigação internacionais e o caso europeu é tratado com particular relevância.

É apresentado um conjunto de indicadores ambientais de estado utilizado pelas instituições internacionais, mais relevantes neste domínio, e a sua utilização em níveis distintos de intervenção como o nacional, regional, local ou mesmo de um pequeno troço de costa.

A tabela 5.4 mostra essa comparação de indicadores, divididos pelos seguintes temas: estabilização da linha de costa, qualidade da água e biodiversidade, habitats, e paisagem. De referir que o tema pode, neste caso, ser considerado um índice se conseguir obter um determinado valor que represente as suas variáveis.

Como se pode observar a incidência territorial dos indicadores de estado do ambiente, pelos diversos organismos internacionais é, fundamentalmente, feita a nível nacional. Dos doze indicadores de estado do ambiente, onze são de caracterização nacional e apenas um possui ocorrência local. É o caso do parâmetro relativo à descarga de metais pesados. O indicador relativo à qualidade das águas balneares encontra-se implícito e, não em desuso, como pode ser observado este indicador decorre da aplicação da

Directiva Comunitária da Qualidade das Águas Balneares (76/40/CE, 05/12/1975)85, cuja

obrigatoriedade de análise dos parâmetros físicos, químicos, biológicos e microbiológicos da água permite avaliar a sua adequação para determinados usos directos ou potenciais.

85Directiva comunitária (76/160/CEE de 05/12/1975), relativa à qualidade da água onde se incluem as águas balneares,

transposta para o direito interno pelo Decreto-Lei 236/98 de 01/08. Está em discussão uma revisão à directiva comunitária em vigor que se pretende que venha racionalizar e optimizar a gestão da qualidade das águas balneares, introduzindo novos instrumentos e parâmetros mais sólidos e sobretudo prestar uma melhor informação ao público. O INAG dá já cumprimento às propostas adiantadas nesta revisão (nomeadamente nos planos de melhoramento desenvolvidos), que irão integrar uma futura directiva da qualidade da água balnear.

Tabela 5.4 – Síntese dos indicadores de estado do ambiente (UNESCO 2003)

Tema Indicador Nível UN OECD WRI EEA BP

Estabilização da Linha de Costa Percentagem de linha de costa sujeita a processos erosivos Nacional Eutrofização Nacional Local Lugar Concentração de

algas nas águas costeiras Nacional Local Lugar Descarga de metais pesados Nacional Lugar Poluição por óleo na

linha de costa e no

mar Nacional

Descarga de componentes

halogenados Nacional Poluição fecal Nacional Qualidade das águas balneares Nacional Local Lugar Qualidade da Água Resíduos sólidos nas praias Nacional Local Perda de habitats prioritários Nacional Local Faixa Espécies extintas ou ameaçadas em relação com a % de espécies conhecidas Nacional Biodiversidade, habitats e paisagem Perda de zonas húmidas Nacional

De destacar a sua utilização a nível nacional, havendo indicadores que já se encontram em desuso ou que não sendo tratados pelas instituições poderão estar implícitos noutros. A organização das Nações Unidas, de quatro indicadores iniciais, passou a utilizar apenas um, a eutrofização. A AEA utiliza actualmente nove indicadores tendo abandonado os indicadores da Qualidade das Águas Balneares por estar implícito nos outros indicadores utilizados.

A tabela 5.5 apresenta uma selecção trinta e dois indicadores ambientais que surgem como resultado da análise feita anteriormente, tendo por base os objectivos da Gestão

Integrada da Zona Costeira, dividido em quatro grandes áreas temáticas: extensão da linha de costa e características; biodiversidade; turismo e, pescas.

Tabela 5.5 – Lista dos indicadores ambientais seleccionados (UNESCO 2003)

Características dos ICM Indicador

População costeira: % de população a viver em zonas costeiras; população residente na faixa de 100 km para o interior da linha de costa; densidade populacional costeira, crescimento populacional em áreas costeiras, etc.

Habitats costeiros de relevo: área (e.g., praias/dunas, recifes interditos, charcos de lama e areia interditos, mangais, moliço, sapal, estuários, bancos de algas, recifes de coral, etc.) e perda de áreas de habitat

Extensão da linha de costa

Uso do solo natural vs alterado na faixa de 100 km para dentro da linha de costa Erosão da linha de costa

Área de solo de propriedade pública e áreas de acesso público Extensão da Linha de Costa e

Características

Área das zonas costeiras protegidas e áreas marítimas protegidas

Percentagem de cobertura dos habitats costeiros (e.g., vegetação dunar, recife de coral, recifes interditos, sapal, mangais, etc.)

Inventário de espécies dos principais habitats costeiros Distúrbios das comunidades bênticas

Espécies marinhas e costeiras ameaçadas e/ou protegidas, raras e em perigo Ameaças aos habitats e às estruturas de ecossistemas

Biodiversidade

Outras espécies

Turismo Intensidade turística: número de turistas por km de linha de costa; chegadas de turistas; dias utilizados para actividades recreativas costeiras Captura anual das espécies de peixe mais importantes (recreativa e comercial): tamanho e quantidade

Nível de captura ou incidentes mortais

Mudanças na composição trófica dos peixes capturados Nível de pesca excessiva

Moluscos de concha: captura comercial ou recreativa Pescas

Qualidade do marisco (contaminação): contaminantes no peixe e moluscos Parâmetros físicos: salinidade, turbidez, sedimentação, pH

Parâmetros de resíduos sólidos: acumulação nas praias, densidade, disposição no mar

Parâmetros de metais pesados e POP: acumulação nos organismos, descargas de metais pesados

Parâmetros de eutrofização: eventos de florescimento de algas, ocorrência de zonas de hipoxia, níveis de nutrientes, oxigénio dissolvido, níveis de clorofila

Compostos orgânicos halogenados: níveis e descargas Poluição fecal: níveis e descargas

Qualidade da Água

Elementos patogénicos, bio toxinas e agentes de doença: níveis e descargas Quantidade de tráfego marítimo

Navegação Marítima

Taxa de equipamentos portuários Níveis de tráfego de petroleiros Óleo e Gás

Frequência e volume dos derrames de petróleo Variação da temperatura da superfície marítima Processos Globais

Alteração no nível da água do mar

Esta lista de indicadores ambientais poderá ser considerada exaustiva. Contudo representa a integração de todas as componentes cujas características importam avaliar caso se pretenda analisar o seu comportamento. Refira-se ainda que todos estes indicadores são mensuráveis. Os dados existem espalhados por diversas instituições nacionais.