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CAPÍTULO V TIPOLOGIAS DE INDICADORES PARA A ZONA COSTEIRA

5.2 A ESPECIFICIDADE DA ZONA COSTEIRA

Como já foi referido organizações internacionais como a UNEP, FAO e em particular a UE têm vindo a desenvolver um conjunto de orientações para uma Gestão Integrada das Zonas Costeiras, sublinhando a importância da utilização de indicadores para monitorizar e avaliar as alterações dos ambientes marinhos e costeiros, estabelecendo orientações sobre as pressões socioeconómicas e as condições das zonas costeiras, bem como, na avaliação da eficácia dos esforços de implementação de uma gestão integrada.

A vasta literatura técnica e científica aliada à experiência prática realçaram a necessidade do desenvolvimento de indicadores para avaliar o desempenho dos esforços desenvolvidos aos mais diversos níveis. Este assunto reveste-se de grande importância tanto mais que se tem verificado um elevado nível de investimento em iniciativas de GIZC quer dos fundos nacionais quer dos fundos internacionais.

Com o objectivo de desenvolver um grupo comum de indicadores para a gestão integrada das zonas costeiras e dos oceanos, Cicin-Sain & Knecht (1998), referem a necessidade de, em primeiro lugar, identificar objectivos comuns de desenvolvimento sustentável para estas áreas. Estes autores apresentam os seguintes objectivos principais:

• Desenvolvimento sustentável das áreas costeiras e marinhas;

• Redução das áreas costeiras vulneráveis e dos seus habitantes aos fenómenos naturais;

• Bem-estar sustentável dos ecossistemas costeiros;

• Qualidade de vida sustentável nas comunidades costeiras;

• Melhoria dos processos de governança.

Ainda segundo, estes autores, há um conjunto de funções típicas para obtenção destes objectivos e que importa referir. São elas:

• O planeamento - planear os usos presentes e futuros das áreas marinhas

e costeiras e fornecer uma visão a longo–prazo;

• A promoção do desenvolvimento económico: promover os usos

apropriados das áreas marinhas e costeiras;

• A protecção dos recursos: proteger a base ecológica das áreas costeiras e

marinhas, preservar a diversidade biológica e assegurar a sustentabilidade dos usos;

• A resolução de conflitos: harmonizar e equilibrar os usos existentes e potenciais entre as zonas costeiras e marinhas;

• A protecção à segurança pública: proteger a segurança pública nas zonas

costeiras e marinhas tipicamente propensa para o seu significado natural, humanizado, perigos e;

• A propriedade das terras e águas públicas submersas: papel dos governos

em proporcionar um retorno económico ao público.

As seis principais funções identificadas são inerentes ao território costeiro, considerado de interface ente o ambiente terrestre e marítimo, onde as acções naturais e antrópicas se fazem sentir com acuidade. As relações existentes na zona costeira são diversas e complexas, fruto das várias funções que desempenham. A eficácia na gestão do uso, ocupação e transformação deste espaço é fundamental, na óptica do seu desenvolvimento sustentável.

Assim, a avaliação do desempenho dos programas de gestão integrada da zona costeira pode ser desenvolvida em termos da capacidade de atingir os objectivos e as funções a que se propuseram inicialmente.

Neste sentido é fundamental definir a causa das relações entre as diversas fases de implementação e resultados obtidos. Por essa razão, o processo de gestão integrada da zona costeira pode ser definido como um processo de governança, baseado no modelo DPSIR actuando de acordo com a força integrada e coordenada de respostas, com o propósito de gerir as pressões exercidas no sentido de que estas melhorarem o estado das comunidades costeiras e dos seus ambientes.

Os Estados Unidos da América, através da Lei de Gestão da Zona Costeira83, publicada

em 1972 são uma referência internacional, do exemplo onde a gestão integrada das zonas costeira aparece associada aos seguintes grupos: zonas húmidas costeiras, riscos naturais, acessos públicos, deterioração das frentes ribeirinhas urbanas, portos e, participação pública.

Na Europa, o Governo do Reino Unido apresentou em 1999, a Estratégia para o Desenvolvimento Nacional, onde identifica cinco objectivos para os mares, oceanos e zonas costeiras. São eles:

• A redução ou eliminação dos riscos e da radioactividade;

• O encontro com as especificações da Directiva Europeia das Águas

Balneares;

• A protecção das espécies e habitats marinhos;

• A promoção da gestão e da conservação dos stocks pesqueiros;

• O trabalho em conjunto, com outros países, para levar a cabo uma gestão

e conservação efectiva dos stocks pesqueiros.

Como já foi referido, muitos são os documentos internacionais que sugerem a criação de um sistema de indicadores específicos para a Gestão Integrada da Zona Costeira, no sentido de monitorizar e avaliar o desempenho dos esforços realizados para verificar o estado em que esta se encontra.

O documento pioneiro nesta matéria é, sem dúvida, o Parágrafo 17.8, da Agenda 21, que refere: “Os Estados costeiros, quando necessário, devem promover a capacidade de recolha, análise, avaliação e uso da informação para o uso sustentável dos recursos, incluindo o impacte ambiental das actividades que de algum modo afectam as áreas marinhas e costeiras.” (UN 1992)

A informação para as propostas de gestão devem receber apoio prioritário de acordo com a intensidade e magnitude das alterações que ocorram nestas áreas. Assim, torna-se necessário:

• Desenvolver e manter bases de dados de avaliação e gestão das áreas costeiras, mares e seus recursos;

• Desenvolver indicadores ambientais e socio-económicos;

• Conduzir regularmente a avaliação ambiental do estado do ambiente das

áreas marinhas e costeiras;

• Preparar e manter os perfis das áreas costeiras, recursos, actividades, usos, habitats e áreas protegidas baseado em critérios de desenvolvimento sustentável;

• Promover a troca de informação e dados.

Em 1995, as Nações Unidas desenvolveu um conjunto de linhas orientadoras para o Mediterrâneo em que os indicadores eram parte da base de dados para a gestão integrada da sua zona costeira (UNEP 1995). As linhas orientadoras mencionavam também a utilização de indicadores ambientais e socio-económicos para o

desenvolvimento ambiental de cenários para o Programa de Gestão da Área Costeira (‘Costal Area Management Programme’ - CAMP). De uma forma semelhante, as orientações mestras definidas para as Caraíbas pela, Nações Unidas (UNEP/CEP 1996) incluíam vários tipos de indicadores utilizáveis na GIZC:

• Indicadores da condição ambiental (indicadores de estado);

• Indicadores do impacto no ambiente (indicadores de pressão);

• Indicadores de investimentos de programas governamentais (ind de

resposta);

• Indicadores de desempenho dos programas governamentais;

• Indicadores não–críticos ou medidas de substituição das condições

ambientais;

• Acontecimentos ou fenómenos episódicos que possam ser indicativos das

alterações das condições ambientais;

• Indicadores económicos de riqueza;

• Indicadores de população e de habitação;

• Outros indicadores sociais.

Em complemento a estes indicadores um programa de gestão integrada da zona costeira deve basear-se em indicadores, mais específicos desenvolvidos, com objectivos precisos de acordo com a iniciativa e também de acordo com a realidade geográfica.

No final da década de noventa, a UNEP (UNEP/MAP/PAP 1999) desenvolveu um conjunto de orientações para uma Gestão Integrada das Áreas Costeiras e dos Rios (‘Integrated Coastal and River Area Management’ – ICRAM) onde constam recomendações sobre o uso de indicadores para uma gestão integrada das zonas costeiras. De salientar: i) alterações nos indicadores de estado, são considerados como referência para ii) os efeitos que podem produzir em várias funções de usos, incluindo o valor do “uso” e do “não-uso”, enquanto iii) que a resposta e o controle por indivíduos, públicos e privados são avaliados em termos dos efeitos das suas intervenções.

Em 1998, a FAO apontou como urgente a necessidade de monitorizar os indicadores de GIZC, incluindo os parâmetros físicos, biológicos e químicos, para além dos parâmetros económicos e sociais. Este organismo sublinhou ainda, a necessidade de proceder à avaliação do desempenho dos programas de GIZC, focalizando essa avaliação nos objectivos inicialmente propostos e nos atingidos.

Em 1999, Doody (Doody et al. 1999), num documento emanado da UE salienta que os indicadores de GIZC devem ser utilizados para conduzir uma investigação em indicadores e do sistema de apoio à decisão (‘Decision Support System’ – DSS), devendo estes ser mais claros nas suas ligações às necessidades dos utilizadores e, os resultados testados através da sua aplicação a casos concretos. Isto poderá ser conseguido envolvendo os diversos actores desde o início do processo, no sentido de decidir qual o resultado/ objectivo/ parâmetro a monitorizar e, estabelecer os indicadores para avaliação e monitorização da eficácia das acções tomadas desde o início do projecto, em termos de políticas e de gestão.