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A prova gravada especificidades 4 A não admissão e a rejeição do recurso

ACUSAÇÃO EM PROCESSO PENAL

3. O recurso da matéria de facto em Processo Penal – A impugnação ampla e a impugnação restrita 1 Enquadramento legal

3.4. A prova gravada especificidades 4 A não admissão e a rejeição do recurso

IV. Hiperligações e referências bibliográficas

I. Introdução

Como elemento fundamental do Estado de Direito Democrático, o direito ao recurso constitui uma garantia constitucional de defesa e um corolário da garantia de acesso ao direito e aos tribunais, que encontra acolhimento no artigo 32.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa1.

Como preceituado pelo artigo 399.º, do Código de Processo Penal, “é permitido recorrer dos acórdãos, das sentenças e dos despachos cuja irrecorribilidade não estiver prevista na lei.”. Este direito ao recurso, como garantia de defesa do arguido, é acautelado mediante a existência de um duplo grau de jurisdição, daí decorrendo que ao arguido é garantida a possibilidade de recorrer das sentenças condenatórias ou de quaisquer actos judiciais que restrinjam a sua liberdade ou quaisquer outros dos seus direitos fundamentais2.

O princípio do duplo grau de jurisdição em processo penal não se encontra consagrado, directamente, na Constituição da República Portuguesa, encontrando-se ali, antes, consagrado, indirectamente, através do direito ao recurso.

1 Conforme inúmeras vezes salientado pela jurisprudência do Tribunal Constitucional, o direito ao recurso constitui

uma das mais importantes dimensões das garantias de defesa do arguido em processo penal, cfr. entre outros, o Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 49/2003, disponível em www.dre.pt .

2 Cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 21 de Maio de 2009, proc. n.º 17/07.4SFPRT.S1, relatado por

Fernando Fróis, disponível em www.dgsi.pt.

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BOAS PRÁTICAS NA ELABORAÇÃO DE RECURSOS EM MATÉRIA DE FACTO 7. Boas práticas na elaboração de recursos em matéria de facto Tendo o presente trabalho como objecto de estudo o recurso sobre a matéria de facto, sendo esta a temática em todas as suas especificidades que procuraremos aprofundar, importa partir dos conceitos base a tal inerente.

Citando Ana Barata de Brito “o processo, como forma de realização da jurisdição – jurisdição entendida como poder de fixar os factos e de dizer o direito – tem como objecto o facto humano3”.

Cumpre, antes de mais, concretizar aquilo que entendemos por facto.

Ora, factos são “acontecimentos, circunstâncias, relações, objectos e estados, todos eles situados no passado, espácio-temporalmente ou mesmo só temporalmente determinados, pertencentes ao domínio da percepção externa ou interna e ordenados de forma natural4”. Contudo, e como ensina Castanheira Neves, “o objecto de uma determinada apreciação ou qualificação jurídica nunca é o facto puro, o acontecer fáctico em seu carácter imediato, mas uma imagem representativa já performada pela consciência, que se funda em percepções (do próprio julgador ou de outrem) mas que para além disso está já ordenada em categorias e interpretada em conformidade com a experiência. Só é recolhido no relato, e afinal na situação de facto a julgar, aquilo que na opinião do julgador ou relator, apresenta alguma relação com o núcleo do acontecimento e está submetido a uma apreciação jurídica56.

Como é consabido, o julgamento em primeira instância é aquele que se revela, indubitavelmente, mais habilitado para averiguar e apreciar a matéria de facto.

No entanto, sendo o erro intrínseco à natureza humana, e sendo certo que as decisões jurisdicionais proferidas nem sempre são as mais correctas ou as mais justas, é assegurada, através do direito ao recurso, a possibilidade de sindicar tais decisões.

Por tal motivo, a fundamentação da sentença assume um papel essencial7, na medida em que possibilita um controlo endoprocessual e extraprocessual8 – sendo esse controlo aquele que o recurso da matéria de facto viabiliza.

3 BRITO, Ana Maria Barata, Os poderes de cognição das Relações em matéria de facto em processo penal [retirado

de:http://www.tre.mj.pt/docs/ESTUDOS%20%20MAT%20CRIMINAL/O%20conhec_Relacoes_materia%20de%20fact o.pdf].

4 Karl Engish apud LOPES, José Mouraz, A fundamentação da sentença no Sistema Penal Português, Legitimar,

Diferenciar, Simplificar, Almedina, 2011, p. 233.

5 NEVES, António Castanheira, A Distinção entre a Questão-de-Facto e a Questão-de-Direito e a Competência do

Supremo Tribunal de Justiça como Tribunal de Revista, Digesta, vol. I, 2011, p. 483.

6 Também neste sentido, afirma IBAÑEZ, Andrés Perfecto, Sobre a Formação Racional da Convicção Judicial, Revista

Julgar n.º 13, Coimbra Editora, 2011, p. 161, que “a matéria-prima da sentença não é, afinal, constituída por factos mas antes por enunciados linguísticos relativos a acções, que podem ou não ter ocorrido e que por isso importa saber se são verdadeiros ou falsos”, mais explicando que “os factos, como parte do passado, não são constatáveis por alguém que, como o juiz, opera no presente e não pode experienciá-los”.

7 Assim, conforme referido por POÇAS, Sérgio Gonçalves, Da sentença penal Fundamentação de facto, Revista

Julgar, n.º 3, 2007, p. 23, “A fundamentação é um verdadeiro acto de transparência, de verdade. Ao fundamentar, o juiz, após séria e serena reflexão, elabora um texto (…) claro, enxuto, conciso e completo (…) onde em discurso argumentado (…) expondo-se, expõe a decisão e as suas razões.”.

8 Assim, e aprofundando esta temática vide POÇAS, Sérgio Gonçalves, ob. cit., 2007, p. 23, “de modo pacífico na

doutrina e na jurisprudência, entende-se (…) que a fundamentação das decisões jurisdicionais cumpre duas funções: a) uma de ordem endoprocessual, afirmada nas leis adjectivas, e que visa essencialmente: impor ao juiz um momento de verificação e controlo crítico da lógica da decisão; permitir às partes o recurso da decisão com perfeito conhecimento da situação; colocar o tribunal de recurso em posição de exprimir, em termos mais seguros, um juízo concordante ou divergente com o decidido; b) E outra, de ordem extraprocessual, que apenas ganha evidência com referência, a nível constitucional, ao dever de motivação e que procura acima de tudo tornar possível o controlo externo e geral sobre a fundamentação factual, lógica e jurídica da decisão”.

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BOAS PRÁTICAS NA ELABORAÇÃO DE RECURSOS EM MATÉRIA DE FACTO 7. Boas práticas na elaboração de recursos em matéria de facto Conforme legalmente exigido, em obediência ao disposto no n.º 2 do artigo 374.º do Código de Processo Penal, a decisão proferida pelo Juiz deve ser sempre fundamentada através “da enumeração dos factos provados e não provados, bem como de uma exposição tanto quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos, de facto e de direito, que fundamentam a decisão, com indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do tribunal”.

Tal dever de fundamentação encontra também consagração constitucional no artigo 205.º, nos termos do qual todas as decisões dos tribunais, que não sejam de mero expediente, são fundamentadas.

Com efeito, “a fundamentação dos actos é imposta pelos sistemas democráticos com finalidades várias. Permite a sindicância da legalidade do acto, por uma parte, e serve para convencer os interessados e os cidadãos em geral acerca da sua correcção e justiça, por outra parte, mas é ainda um importante meio para obrigar a autoridade decidente a ponderar os motivos de facto e de direito da sua decisão, actuando por isso como meio de autodisciplina9”. Assim, “através da fundamentação da matéria de facto da sentença há-de ser possível perceber como é que, de acordo com as regras da experiência comum e da lógica, se formou a convicção do tribunal”. Devendo, para tal, “o exame crítico (…) indicar no mínimo, e não tem que ser de forma exaustiva, as razões de ciência e demais elementos que tenham na perspectiva do tribunal sido relevantes, para assim se poder conhecer o processo de formação da convicção do tribunal” 10.

II. Objectivos

O presente trabalho tem como objectivo fundamental tratar e desenvolver o recurso sobre a matéria de facto em processo penal, sendo aquela, em matéria de recurso, a que mais discussão gera no quotidiano dos tribunais.

Procuramos proceder a um desenvolvimento teórico sobre o tema, buscando tocar todas as especificidades que lhe são inerentes, mas, sobretudo, abordar de uma forma eminentemente prática o modo como deve ser efectuado o requerimento de recurso.

Pretende-se, assim, dar um pequeno contributo para a elaboração do recurso a todos os recorrentes, Auditores de Justiça e Magistrados do Ministério Público, de forma a que o destino daquele não seja decidido por formalidades, dando razão a quem, efectivamente, a tem, assim se fazendo JUSTIÇA.

III. Resumo

Tendo como objecto de estudo os recursos sobre a matéria de facto em processo penal e pretendendo ser um instrumento de auxílio na sua elaboração, o presente trabalho foca, essencialmente, quatro pontos.

Assim, partiremos de um pressuposto fundamental no que à interposição do requerimento de recurso diz respeito, o prazo ordinário de recurso, procedendo à análise das alterações em matéria de legislação que lhe são inerentes.

9 SILVA, Germano Marques, Curso de Processo Penal, III, 2.ª Edição, Verbo, 2000, pp. 293 e 294.

10 Cfr. Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 27 de Maio de 2015, proc. 1/10.8GASJP.C1, relatado por

Fernando Chaves, disponível em www.dgsi.pt.

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BOAS PRÁTICAS NA ELABORAÇÃO DE RECURSOS EM MATÉRIA DE FACTO 7. Boas práticas na elaboração de recursos em matéria de facto De seguida, aprofundaremos a questão fundamental e central da matéria em apreço concernente à elaboração da motivação e das conclusões do recurso, à sua estruturação bem como às exigências legais que devem ser respeitadas, com vista à procedência daquele.

Após, debruçar-nos-emos sobre as duas vias de sindicância da matéria de facto – a impugnação restrita através da invocação dos vícios previstos no artigo 410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, e a impugnação ampla, nos termos do disposto no artigo 412.º, n.º 3, do mesmo diploma legal.

Neste capítulo centraremos a nossa atenção na análise e distinção dos vícios mencionados, tecendo algumas considerações sobre eventuais situações de confusão com outros vícios, procurando, sempre, dar exemplos práticos ilustrativos.

Seguidamente e de forma semelhante, procederemos ao estudo dos pressupostos da impugnação ampla da matéria de facto.

Faremos, também, referência, ainda que de forma sumária, a algumas especificidades em matéria de prova gravada, nos termos do n.º 4 do artigo 412.º.

Por fim, no último capítulo e estando já em condições para abordar tal matéria, terminaremos com as consequências legais que advém do não cumprimento dos requisitos legalmente exigidos, e que conduzem, necessariamente, à não admissão e à rejeição dos recursos sobre a matéria de facto.

1. O prazo de interposição

A Lei n.º 20/2013, de 21 de Fevereiro, veio estabelecer um prazo único para a interposição de recurso de 30 dias, independentemente de ser ou não impugnada a matéria de facto, conforme resulta do disposto nos artigos 404.º, 411.º e 413.º, do Código de Processo Penal. No regime que antecedia, vigorava o prazo de 20 dias, o qual era elevado para 30 dias nos casos em que se fosse pedida a reapreciação da prova gravada.

Com a revogação do n.º 4 do artigo 411.º do Código de Processo Penal, deixou, então, de existir um prazo supletivo de 10 dias para tal, passando a aplicar-se o prazo de 30 dias independentemente de tal reapreciação.

O termo inicial do prazo depende, necessariamente, da natureza da decisão e do modo da notificação. Assim, nos termos do artigo 411.º, n.º 1, alíneas a), b) e c), do Código de Processo Penal, tal prazo conta-se a partir da notificação da decisão; tratando-se de sentença, conta-se a partir do respectivo depósito na secretaria e tratando-se de decisão oral reproduzida em acta, a partir da data em que tiver sido proferida, se o interessado estiver ou dever considerar- se presente.

Relativamente ao recurso de decisão proferida em audiência este pode, ao abrigo do disposto no n.º 2, do mencionado preceito, ser interposto por simples declaração na acta. Contudo, o recorrente deve apresentar a respectiva fundamentação no prazo de 30 dias, cuja contagem se inicia na data da interposição de recurso, sob pena de não admissão do mesmo, nos termos do n.º 3, do artigo 411.º, do Código de Processo Penal.

BOAS PRÁTICAS NA ELABORAÇÃO DE RECURSOS EM MATÉRIA DE FACTO 7. Boas práticas na elaboração de recursos em matéria de facto Tal prazo é prorrogável nos termos do artigo 107.º, n.º 6, do Código de Processo Penal, segundo o qual “quando o procedimento se revelar de excepcional complexidade, nos termos da parte final do n.º 3 do artigo 215.º, o juiz, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do arguido ou das partes civis, pode prorrogar os prazos previstos nos artigos (…) n.ºs 1 e 3 do artigo 411.º, até ao limite máximo de 30 dias”.

De realçar que, quando o Ministério Público recorre, o recurso pode ser apresentado dentro dos três dias subsequentes ao termo do prazo ordinário, nos termos do n.º 5, do artigo 139.º, do Código de Processo Civil, devendo ser feita expressa menção a tal no seu requerimento, não sendo necessário que a emita, previamente, à interposição do recurso1112.

2. A motivação do recurso e as conclusões

Diz o artigo 412.º, n.º 1, do Código de Processo Penal que “a motivação enuncia especificamente os fundamentos do recurso e termina pela formulação de conclusões, deduzidas por artigos, em que o recorrente resume as razões do pedido.”.

O preceito em análise configura o cerne da temática sobre que nos debruçamos, sendo consabido que a motivação e as respectivas conclusões determinam, inevitavelmente, a procedência ou improcedência do recurso.

Importa, assim, que o recorrente na elaboração da motivação de recurso proceda de acordo com o supra citado preceito legal, devendo especificar de forma clara e esclarecedora as razões da sua discordância, isto é, os motivos pelos quais considera que o tribunal a quo decidiu erradamente.

Mais importa que o faça de forma cabal e completa, abordando a totalidade das questões que fundamentam o seu recurso.

A segunda parte do artigo 412.º, n.º 1, do Código de Processo Penal diz respeito às conclusões, enunciando que o recurso termina pela formulação de conclusões, deduzidas por artigos, em que o recorrente resume as razões do pedido.

É jurisprudência corrente e pacífica dos nossos tribunais superiores que o âmbito e o objecto do recurso é delimitado pelas conclusões extraídas pelo recorrente da respectiva motivação, 11 Neste sentido, Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 5/2012, processo n.º 667/08.1GAPTL.G1-A.S1,

disponível em www.dre.pt: “O Ministério Público, em processo penal, pode praticar acto processual nos três dias úteis seguintes ao termo do respectivo prazo, ao abrigo do disposto no artigo 145.º, n.º 5, do Código de Processo Civil, sem pagar multa ou emitir declaração a manifestar a intenção de praticar o acto naquele prazo” e Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 355/2001, processo n.º 774/2000, disponível em www.dre.pt,na medida em que não julgou inconstitucional “(…) a dimensão normativa que resulta do artigo 145.º, n.ºs 5 e 6, do Código de Processo Civil, segundo a qual o Ministério Público está isento da multa aí prevista, devendo, contudo, e nos termos do artigo 80.º , n.º 3, da Lei do Tribunal Constitucional, o tribunal a quo fazer aplicação de tal preceito, no sentido de exigir que o Ministério Público, não pagando a multa, emita uma declaração no sentido de pretender praticar o acto nos três dias posteriores ao termo do prazo.”.

12 Assim, “tendo em conta as funções do Ministério Público no processo penal, com o inerente dever de defesa da

legalidade e procura objectiva e imparcial de concorrer para a realização da justiça, esta faculdade da prática do acto nos três dias subsequentes ao termo de prazo peremptório não poderia deixar de abranger os actos praticados pelo Ministério Público, uma vez que, também relativamente a ele, podem ocorrer circunstâncias que imponham justificadamente o seu uso, no interesse da justiça, independentemente da verificação de justo impedimento. Contudo, por força da sua natureza de órgão da administração da justiça penal, a lei, compreensivelmente, isenta-o genericamente de quaisquer custas ou multas. É o que resulta expressamente da letra da lei - artigos 107.º, n.º 5, e 522.º, n.º 1, do Código de Processo Penal e artigo 145.º, n.ºs 5 a 7, do Código de Processo Civil”, cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 5/2012, processo n.º 667/08.1GAPTL.G1-A.S1, disponível in www.dre.pt: “

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BOAS PRÁTICAS NA ELABORAÇÃO DE RECURSOS EM MATÉRIA DE FACTO 7. Boas práticas na elaboração de recursos em matéria de facto sendo apenas as questões aí sumariadas aquelas que o tribunal de recurso tem de apreciar (cfr. o mencionado artigo 412.º, n.º 1, in fine, do Código de Processo Penal), sem prejuízo das questões de conhecimento oficioso, designadamente os vícios indicados no artigo 410.º, n.º 2, do Código de Processo Penal13, das quais nos ocuparemos posteriormente.

Como é ensinado por Simas Santos e Leal-Henriques14, as conclusões consistem “num apanhado conciso de quanto se desenvolveu no corpo da motivação”, ou seja, num verdadeiro resumo da fundamentação, na síntese essencial do corpo motivador.

Importa alertar que as conclusões não podem, de modo algum, ser a reprodução integral do corpo motivador, sob pena de conduzirem à rejeição do recurso, como oportunamente analisaremos.

Devem, antes, referir de forma clara, nítida e concisa os fundamentos que levaram a que se recorresse de determinada decisão judicial, “as razões definitivas da discordância expostas na motivação, no seu arrazoado15”.

Nas palavras de Ana Barata Brito “o recorrente selecciona e escolhe os pontos de facto que considera incorrectamente julgados, assim formatando e confinando os poderes de cognição da relação16”.

Deve, então, o recorrente, na elaboração do recurso, procurar estruturar o mesmo em duas partes, abordando e fundamentando, cabalmente, as razões que o levaram a interpor tal recurso, a razão pela qual considera que aquela decisão deve ser sindicada e, tratando, posteriormente, das conclusões, que, como se referiu, se pretende que sejam um apanhado daquela fundamentação.

Assim, deverá o recorrente certificar-se que os argumentos que utilizou no corpo motivador do recurso são, também, abordados, ainda que, como se deseja, de forma resumida, no corpo das conclusões. Caso contrário, se o recorrente os expuser na motivação e os esquecer nas conclusões, corre o risco de o tribunal superior não os apreciar uma vez que, como acima referido, as conclusões delimitam o objecto do recurso.

Deve, ainda, o recorrente assegurar-se de que não introduz fundamentos nas conclusões que não tratou, previamente, em sede de motivação, uma vez que é precisamente nessa sede que se desenvolve e aprofunda, fundamentadamente, aquilo que se vai, de seguida, concluir. Neste sentido, como bem ensina Sérgio Poças, “as conclusões não trazem nada de novo, os fundamentos têm de estar no corpo motivador e são aqueles e só aqueles que são resumidos nas conclusões”17.

Importa, ainda, alertar para o facto de as conclusões não serem a formulação de qualquer pedido ao tribunal superior. De facto, e conforme resulta, expressamente, da letra do artigo 13 Cfr. SILVA, Germano Marques, ob. cit., p. 347, jurisprudência uniforme do STJ (cfr. Acórdão do Supremo Tribunal

de Justiça, de 28 de Abril de 1999, CJ/STJ, ano de 1999, p. 196 e jurisprudência ali citada) e ainda, Acórdão Uniformizador de Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça n.º 7/95, de 19 de Outubro de 1995, processo n.º 46580, disponível em www.dre.pt.

14 SANTOS, Simas, LEAL-HENRIQUES, Manuel, Recursos em Processo Penal, 7.ª edição, Editora Rei dos Livros, 2008,

p. 107.

15 POÇAS, Sérgio Gonçalves, Processo Penal - quando o recurso incide sobre a matéria de facto, Revista Julgar, n.º

10, 2010, p. 23.

16 BRITO, Ana Maria Barata, ob. cit., pp. 6 e 7. 17 POÇAS, Sérgio Gonçalves, ob. cit., 2010, p. 24.

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BOAS PRÁTICAS NA ELABORAÇÃO DE RECURSOS EM MATÉRIA DE FACTO 7. Boas práticas na elaboração de recursos em matéria de facto 412.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, as conclusões não são um pedido mas as razões do pedido, ou seja os fundamentos que o recorrente pretende que sejam apreciados pelo tribunal de recurso18.

3. O recurso da matéria de facto em processo penal – a impugnação ampla e a impugnação