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“A quantidade de dinheiro no mundo é limitada”

No documento Os Mitos Do Dinheiro - Gabriel Torres (páginas 37-42)

Todo conceito de algo que existe em abundância ser limitado é criado para incitar medo nas pessoas. Para fazer uma analogia, é como dizer que o amor é limitado. Em algumas famílias os filhos podem acabar acreditando nisso, gerando ciúmes entre os irmãos, que acreditam que se a mãe (ou o pai) der mais atenção (e, consequentemente, amor) para outro irmão, não sobrará nada para ele. E como você sabe, amor de mãe e de pai é ilimitado.

No caso do dinheiro, este tipo de pensamento foi amplamente explorado pelos defensores do comunismo, que procuravam justificativas “plausíveis” para este sistema: se a quantidade de dinheiro no mundo é limitada, precisamos distribuir o dinheiro dos ricos entre toda a população para que todos possam ter dinheiro. Só que apesar dos regimes comunistas defenderem esta ideia em teoria – para convencer a população de que o comunismo seria a melhor alternativa para o país –, na prática a história foi completamente diferente: eles tornaram toda a população pobre e pegaram todas as riquezas do país para si. O que fez com que o sentimento de que a riqueza é limitada crescesse ainda mais entre a população de tais países e observadores internacionais.

Este pensamento é uma falácia. Se a riqueza do mundo fosse limitada, o mundo inteiro estaria hoje passando fome, pois nos últimos cem anos a população mundial quadruplicou e o número de ricos aumentou. Se a riqueza do mundo fosse limitada, países completamente destruídos na Segunda Guerra Mundial em particular o Japão e a Alemanha seriam hoje países em desenvolvimento e não as potências que são.

Ainda há pobreza no mundo? Com certeza, mas esta não é fruto da falta de riqueza no mundo, mas de outros fatores, como a ganância de ditadores que limitam o desenvolvimento de seu povo literalmente na base da porrada e de

governos que estimulam a multiplicação da pobreza em progressão geométrica pela falta de controle de natalidade e de benefícios financeiros casos os pobres tenham cada vez mais filhos. Felizmente há países que estão se destacando em erradicar a pobreza, como falaremos daqui a pouco.

Se a quantidade de riqueza no mundo fosse limitada, cada vez que alguém se tornasse rico (aqui estou falando daqueles que se tornam ricos honestamente, veja bem), alguém teria que imediatamente se tornar pobre. Mas é justamente o contrário que ocorre. Quando alguém fica rico ele só estimula a economia. Ele consumirá mais, o que ajudará direta e indiretamente outras pessoas. Se ele for empresário, criará mais empregos. Mesmo que ele tenha todo seu dinheiro em investimentos financeiros, estes investimentos estarão ajudando a economia na outra ponta, pois a cada título comprado o investidor está emprestando dinheiro ou ao governo ou às empresas, que estarão usando esses novos recursos para expandir a economia. Se não houver pessoas com dinheiro não haverá como a economia expandir.

Apenas enfatizando que estou falando daqueles que ficam ricos honestamente. Os que ficam ricos de maneira desonesta podem, com certeza, fazer com que pessoas fiquem mais pobres – por exemplo, se um camarada rouba o dinheiro da merenda escolar. Voltaremos a falar desses seres abomináveis em instantes. Hoje vivemos na era da informação. Faz-se dinheiro com o conhecimento (mas isso está longe de dizer que o trabalho “pesado” não é necessário; a “semente” do dinheiro é uma ideia, que existe somente na cabeça de quem a teve, mas colocar esta ideia em prática são outros quinhentos – invariavelmente demandará trabalho, esforço e dedicação). E este conceito é possivelmente o mais

importante que você saiba caso queira realmente ganhar dinheiro.

Se a riqueza do mundo fosse limitada, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial teria de ficar estável em um mesmo patamar, mas não é isso o que vemos.

“Só existem ricos porque existem pobres” e

“Os ricos tornam-se ricos às custas dos pobres”

Historicamente, essas afirmações são, infelizmente, corretas. Mas não precisam continuar sendo. O problema é usar essas afirmações como desculpa para

justificar os problemas do Brasil e não contribuir para que o país mude, e justificar a sua opção de permanecer no mesmo lugar e não melhorar sua saúde financeira. Na minha opinião, o grande problema do Brasil são os próprios brasileiros, e não fatores externos. Nós não precisamos da ajuda dos imperialistas para destruir o país; nós já fazemos isso muito bem sozinhos. Basta ver o “Petrolão” e centenas de outros escândalos que não vem de agora.

Quando você pensa em um país no Oriente Médio, árabe, com monarquia absolutista (ou seja, a palavra do rei está acima das leis – no popular: ditadura), no que você pensa? Pense novamente. Você já ouviu falar no Qatar? De acordo com o FMI6, em 2014 ele era o país com a maior Paridade do Poder de Compra

(PPC) per capita7 do mundo: Int$8 143.427. Luxemburgo, o segundo lugar, teve

um PPC per capita de Int$ 92.049, seguido por Singapura (Int$ 82.762). O PPC per capita do Qatar é duas vezes e meia maior que o da Suíça (Int$ 58.087) e bateu com folga o dos EUA (Int$ 54.597). Outros países árabes estão seguindo o mesmo modelo e subindo ano após ano na escala, com destaque para os Emirados Árabes Unidos e sua estrela internacional Dubai (PPC per capita em 2014: Int$ 64.479 – valor similar ao da Suécia, um país governado por uma monarquia socialista). A título de comparação, o PPC per capita do Brasil em 2014 foi de Int$ 16.096, ficando na posição 74 da lista.

Esses dados nos mostram algumas coisas interessantes que muita gente não para para refletir. Primeiro, não é necessariamente a forma de governo (monarquia, democracia, comunismo, socialismo, etc.) que determina a riqueza do povo, mas como aqueles que estão no comando resolvem distribuir a riqueza da nação.

6http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(PPP)_per_capita, acessado em 05 de julho de 2010. 7 A Paridade do Poder de Compra leva em consideração a diferença de preços de produtos em diversos países,

sendo um indicador mais justo.

8 Int$ é uma moeda hipotética que indica o poder de compra em dólares americanos nos EUA de uma determinada

Alguns podem fazer como os países árabes citados, onde os sheiks progressistas sentem prazer em tornar toda a população rica. Em outros, como nos antigos países do bloco Soviético, os governantes podem decidir ficar com todas as riquezas do país para si e não darem nada ao povo.

Em segundo lugar, os cinco países atualmente mais ricos do mundo de acordo com a metodologia empregada acima – Qatar, Luxemburgo, Singapura, Brunei e Kwait – possivelmente não estão em nenhuma lista de países considerados “exploradores” ou “imperialistas”.

Portanto, a riqueza ou pobreza de uma nação depende, em parte, dos governantes locais e de suas políticas fiscais e de distribuição de riqueza. A “culpa” da existência de países miseráveis não é do dinheiro em si, mas de uma meia dúzia de seres humanos que carregam consigo a “ganância ruim”, o “tudo pelo dinheiro” sem qualquer escrúpulo, o “que se dane o povo, eu quero é o meu”.

Em muitos países em desenvolvimento, a problemática é puramente local, e não um “fator externo”.

Um excelente exemplo é a China. Até mesmo a mídia Norte-Americana cai de pau em empresas conterrâneas por estarem “explorando os pobres trabalhadores chineses”, pois eles ganham menos de US$ 1 por hora de trabalho (em 2015 o salário mínimo nos EUA variava entre US$ 7,25 e US$ 9,00 por hora, dependendo do estado9) para fabricarem produtos que são vendidos por centenas de dólares

nos EUA. Agora, pense comigo: quem é que está realmente explorando os trabalhadores chineses? As empresas americanas, que estão jogando o jogo dentro das regras, ou o governo chinês, que permite um salário mínimo tão baixo e não impõe qualquer tipo de lei trabalhista?

É possível refletir sobre o exemplo acima sob outro ângulo: o governo chinês, se sentindo pressionado pelo governo americano, mantém inalterado o sistema atual, caso contrário as empresas americanas procurarão a mão de obra de outro

país. A decisão de se submeter ao poderio econômico americano e suas consequências continua sendo da própria China.

Em tempo. Em julho de 2015 o salário mínimo no Brasil estava por volta de US$ 1,27 por hora10. A quantidade de impostos que pagamos (mas que não vemos,

pois todos estão embutidos nos preços dos produtos e serviços) é comparável à da Suécia, mas o sueco médio tem três vezes mais grana do que o brasileiro médio, além de ter escolas e hospitais de alta qualidade de graça, infraestrutura, segurança pública... Então, quem está explorando quem? Como disse, no Brasil está muito claro que não é uma nação externa qualquer que explora o Brasil: o Brasil vem sendo explorado desde a sua colonização pelos próprios brasileiros. Um exemplo real para exemplificar o assunto: uma dentista faz prova para uma instituição pública e é aprovada. O salário é razoável para alguém que está começando a carreira, mas é preciso dedicar 40 horas semanais, o que significa que ela não terá tempo para se dedicar ao seu consultório particular. Logo na primeira semana, ela descobre que os dentistas de lá fazem uma espécie de rodízio entre eles. Desta forma, não precisam cumprir as 40 horas, pois o esquema de revezamento garante que sempre há alguém de plantão. Então, a dentista pensou: problema resolvido! Terei meu salário integral aqui e de quebra terei alguns dias da semana para trabalhar no meu consultório particular. Agora pense no cidadão de baixa renda que depende de tal instituição para tratar dos dentes. Em vez de ter cinco dentistas disponíveis para atendimento todos os dias da semana, apenas dois profissionais estão disponíveis, fazendo com que o número de pessoas atendidas por dia seja reduzido drasticamente. No final das contas, é o que acontece: brasileiro explorando brasileiro. E o pior: achando que está “fazendo certo”.

Infelizmente, há muita gente que ainda vê “teorias da conspiração” onde elas não existem. Fantasias deste tipo são fáceis de detectar, pois em geral começam com uma generalização do tipo “os americanos”, “os ingleses”, “os franceses”, etc.

10 Ao câmbio oficial de 03 de julho de 2015 (R$ 3,14) e a um salário mínimo bruto de R$ 788,00 e jornada de

Um exemplo curioso que escutei outro dia de um acadêmico: “Os ingleses

instalaram estradas de ferro com bitolas diferentes no Brasil de propósito, só de sacanagem”. A frase já começa errada porque coloca todos os ingleses em um mesmo saco, como se todos os ingleses contratados para instalar estradas de ferro no Brasil se conhecessem e estivessem trabalhando com um plano secreto de sacanear o Brasil. Engraçado é que esse mesmo tipo de gente depois fica “p” da vida quando viaja para a Inglaterra e escuta algo como “fazer política no Brasil é fácil: basta botar um trio elétrico na rua e roubar enquanto o pessoal está sambando”. Aí eu pergunto: foi sacanagem dos ingleses ou do governo brasileiro que contratou empresas sem o menor planejamento e sem estipular qualquer norma técnica para que as ferrovias fossem compatíveis? Quem gerou o problema, os ingleses ou os próprios brasileiros? Em outras palavras: você contrataria um pedreiro para abrir uma porta em sua casa sem indicar

exatamente o local da instalação, as dimensões da porta e o modelo da porta a ser instalada? O pior é que eu conheci um camarada que fez isso. Acabou com uma porta que só dava para passar um anão. A culpa foi do pedreiro ou do dono da casa?

“Como você pode pensar em ter x quando

No documento Os Mitos Do Dinheiro - Gabriel Torres (páginas 37-42)