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3.8 A QUELAS C OISAS T ODAS música: Toninho Horta

ESTRUTURA FORMAL

A forma desta música divide-se nas partes: Introdução, A, A’, Coda e Vamp64, onde ocorrem os improvisos. Antes da Introdução há um improviso, livre de forma, de piano elétrico dialogando com o saxofone, com efeitos sonoros na percussão.65

• Introdução: compassos 1 a 4 • A: compassos 5 a 20 • A’: compassos 5 a 26 • A: compassos 5 a 20 • A’: compassos 5 a 26 • Coda: compassos 27 a 37 • Vamp: compassos 38 a 41 Forma:

Intro | A | A’ | A | A’| Coda ||: Vamp :||

número de compassos: | 4 |16 | 20 |16 | 20 | 11 ||: 4 :||

A parte A é organizada regularmente em frases melódicas de quatro compassos de duração. Na parte A’ essa regularidade é quebrada pelas duas frases finais que duram respectivamente seis e dois compassos. Esta forma é repetida durante o improviso de piano elétrico, na parte A e com a volta do tema no A’. Na Coda, repetem-se os seis últimos compassos do A’; esta seção conduz ao Vamp, que consiste em uma base harmônica de três

64 “vamp (Ing., “acompanhar de improviso”) Verbo que significa improvisar o acompanhamento simples de um solo vocal ou instrumental. Na música popular, a instrução “vamp till ready” (“improvisar até estar pronto”) indica que uma passagem simples e curta deve ser repetida pelo acompanhante até o solista estar pronto para começar” Cf. SADIE, 1994, p. 978.

acordes que se repetem durante os improvisos de piano elétrico, trombone, saxofone alto e guitarra. A música termina com o volume diminuindo gradativamente, em fade out.

PROGRESSÃO HARMÔNICA

A Introdução e os cinco primeiros compassos da parte A apresentam um baixo pedal na nota Mi. Na harmonia deste trecho destaca-se um movimento de condução de vozes cromático que altera o modo de cada acorde. Este movimento tem início na quarta justa do primeiro acorde E7sus4, que descende em seguida meio tom para a terça maior do acorde subseqüente E7. Por sua vez, a terça maior de E7 descende meio tom e o acorde passa a ser um Em7. Por fim, a terça menor deste acorde ascende meio tom, tornando-se um E7 novamente.

Fig.I.35. Movimento cromático da voz intermediária.

A tonalidade de AQUELAS COISAS TODAS é Lá Maior até o décimo segundo

compasso. A partir da segunda metade da parte A ocorre uma modulação para a tonalidade de Sol Maior. No Vamp a harmonia transita para a tonalidade de Lá menor. Nesta música o uso de acordes não-diatônicos se dá principalmente em meios de preparação subdominante – dominante secundárias:

1. | Am7 D7sus4 D7 | | IIm7/VIIb V7sus4/VIIb V7/VIIb |. Estes acordes situam-se no décimo segundo compasso da parte A, que é o momento em que ocorre a transição para a tonalidade de Sol Maior. Portanto, podem ser ao mesmo tempo IIm7/I, V7sus4/I e V7/I. Estão inseridos em um meio de preparação subdominante – dominante secundárias, que se direciona ao acorde G7M. Este, na tonalidade Lá Maior, é um sétimo grau bemol, maior com sétima maior, e após a modulação passa a ser o primeiro grau. O acorde de D7sus4 desempenha a função de subdominante, já que ocorre a resolução da quarta justa em direção à terça maior do acorde

seguinte, D7. Segundo Ian Guest, em uma modulação, os acordes não-diatônicos familiares ao novo tom funcionam como uma ponte entre as duas tonalidades. O autor os denomina acordes comuns ou acordes pivôs entre os tons (GUEST, 2006, p. 93).

2. | Em7 Em(7M) | A7(#11) | A7(#11) Am7 D7sus4 D7 | | IIm7/V IIm(7M)/V | V7/V | V7/V IIm7 V7 |. Nestes dois compassos ocorre o meio de preparação subdominante – dominante secundárias, segundo e quinto graus de D7, V7, do Campo Harmônico de Sol Maior. Sua resolução no quinto grau é entremeada pelo acorde Am7, segundo grau, subdominante. Nesta situação, Am7 é um acorde “interpolado”. Sérgio Freitas utiliza-se coloquialmente deste termo para referir-se ao acorde de segundo grau, subdominante que se localiza entre dois acordes de quinto grau; o segundo grau é precedido por uma dominante estendida ou secundária e resolve em um dominante com função secundária ou principal, quinto grau do Campo Harmônico66.

3. Db7. Este acorde tem a função de dominante substituta, subV7/IV, ocupando o lugar do V7/IV, G7, já que ambos possuem o mesmo de intervalo de três tons entre a terça maior e a sétima menor. Sua resolução ocorre no quarto grau, C7M.

4. | Bm7 | E7sus4 E7(b9) | | IIm7/II | V7sus4/II V7/II |. Os acordes desta seqüência integram o meio de preparação subdominate – dominante secundárias, que se direcionam ao segundo grau do Campo Harmônico, Am7. O acorde E7sus4 desempenha o papel de subdominante secundária, visto que ocorre a resolução da quarta justa em direção à terça do acorde seguinte, E7.

ESTRUTURA MELÓDICA

A melodia de AQUELAS COISAS TODAS é caracterizada por antecipações rítmicas de

notas dos acordes subseqüentes. Esse recurso é muito utilizado por Toninho Horta em todas

66 “Essa preparação que salta o acorde imediatamente subseqüente e se direciona para o segundo acorde subseqüente, redunda então na aparição intermediária de um acorde “II” de função S, que se posiciona entre dois pólos dominantes: entre um V7 de função D Estendida ou Secundária, e sua resolução em um outro V7 de função D Secundária ou Principal. Esse acorde interposto de “II” de função S é designado coloquialmente aqui de acorde “interpolado”. FREITAS, 1995, p. 114.

as músicas do disco TERRA DOS PÁSSAROS. O compositor explorou o uso de notas longas que permanecem enquanto os acordes se movem, fazendo com que esta nota apresente novas nuances sonoras, conforme o exemplo abaixo:

Fig.I.36. Nota si da melodia sobre a mudança de acordes nas partes A e A’.

Mais adiante na música, o mesmo acontece porém, desta vez, um mesmo motivo melódico (marcado com a linha pontilhada) se repete sobre diferentes acordes:

Fig.I.37. Repetição do mesmo motivo melódico sobre diferentes acordes.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES

Esta é a única música do disco instrumental. Tanto DONA OLÍMPIA, quanto VIVER DE AMOR possuem letra apesar de terem sido gravadas como músicas instrumentais no

álbum TERRA DOS PÁSSAROS. Sua fórmula de compasso é quaternária (4/4), no entanto, poderia ter sido escrita em pulsação binária, já que trata-se de um samba. Notamos que nas partituras de samba ou bossa nova escritas por Toninho Horta, o autor aplica a fórmula de compasso quaternária.

No arranjo deste samba instrumental, os instrumentos entram aos poucos, criando interesse e chamando a atenção do ouvinte. A bateria entra somente no A’ e o saxofone tenor, tocado por Nivaldo Ornelas, encarrega-se do tema. As cordas tocam apenas durante o improviso de piano elétrico, em um segundo plano, fazendo o background. Ao final da música abre-se maior espaço para improvisos.

Toninho Horta regravou esta música em seus discos LIVE IN MOSCOW (1992) e DURANGO KID II (1995).

Ficha Técnica:

violão, guitarras, voz: Toninho Horta baixo acústico: Luis Alves

piano elétrico: Hugo Fattoruso bateria: Rubinho

sax tenor e soprano: Nivaldo Ornelas trombone: Raul de Souza

caxixi: Georgiana de Moraes percussão: Zé Eduardo Nazário

orquestração e regência: Toninho Horta Orquestra B (Rio de Janeiro)