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música: Toninho Horta/ letra: Ronaldo Bastos

ESTRUTURA FORMAL

Esta canção é composta por duas seções: Introdução e parte A. Os quatro compassos de Introdução antecedem a parte A, constituída por dezesseis compassos. Esta seção é repetida cinco vezes seguidas, com variações melódicas e rítmicas, sempre respeitando esta métrica. Na quinta exposição do A, o volume diminui gradativamente e assim a música termina antes do final desta parte54.

• Introdução: compassos 1 a 4 • A: compassos 5 a 20 • A: compassos 5 a 20 • A: compassos 5 a 20 • A: compassos 5 a 20 • A: compassos 5 a 13 Forma: número de compassos: 4 | 16 | 16 | 16 | 16 | 16 |

A forma de DONA OLÍMPIA é regular, assim como a organização fraseológica de sua

melodia, que se dá em frases de quatro compassos de duração. Podemos comparar sua estrutura formal à da música PEDRA DA LUA. Ambas possuem uma introdução de quatro

compassos seguida de uma curta seção que se repete algumas vezes.

54 Ver Apêndice p. 195.

PROGRESSÃO HARMÔNICA

A tonalidade desta canção é Mi menor e o uso de acordes diatônicos em sua harmonia é predominante. Há apenas três acordes que não fazem parte do Campo Harmônico de Mi menor:

1. E7(b9): dominante secundário, V7/IV, que resolve em Am7, IVm7.

2. G#7(#9): precede o terceiro grau do Campo Harmônico, G7M, com função tônica, é um subV7/III55, dominante. Este acorde substitui o V7/III (D7) pois ambos possuem o mesmo intervalo de trítono (três tons) presente entre a terça maior e a sétima menor.

Fig.I.10. Trítono do acorde D7, V7/III - fá# e do.

Fig.I.11. Trítono do acorde G#7, subV7/III - si# (enarmonicamente igual a dó) e fá#.

3. F#7(11): este é um acorde dominante secundário, V7/V. Sua resolução é deceptiva, pois não dirigi-se ao acorde esperado, B7, quinto grau, resolvendo no segundo grau do Campo Harmônico, F#m7(b5). O uso da décima primeira, ou quarta justa é pouco comum em acordes maiores com sétima menor. Esta tensão, que aparece também na melodia, provoca um intervalo de segunda menor entre a terça maior e a décima primeira deste acorde:

55 Segundo Sérgio Freitas, deve-se atentar para o uso do termo “substituta” que adjetiva o acorde subV. Este é, na realidade, uma configuração diferente de um mesmo acorde, em uma determinada posição, acrescido de tensões. FREITAS, 1995, p. 65.

Fig.I.12. Intervalo de segunda menor entre a terça maior e a décima primeira do acorde.

Na Introdução e nos oito primeiros compassos da parte A de DONA OLÍMPIA

acontece o movimento harmônico tônica - subdominante - tônica: I I IV IV I I IV IV

| Em7 | Em7 | Am7 | Am7 | Em7 | Em7 | Am7 | Am7 | T T S S T T S S

Nos dois últimos compassos da parte A há uma seqüência de acordes que pode ser vista de duas maneiras:

1) | F#m7(b5) Am/G | Am9 B7sus4(b9) | |IIm7(b5) IVm | IVm V7sus4(b9)|

2) | Am/F# Am/G | Am9 Am/B | - Neste caso, ao invés de estabelecermos as relações entre os acordes e a tonalidade de Mi menor, ressaltamos o acorde de Am que permanece enquanto o baixo percorre um caminho melódico em graus conjuntos ascendentes.

Fig.I.13. Movimento do baixo sob o acorde de Am.

ESTRUTURA MELÓDICA

A frase melódica dos quatro primeiros compassos da parte A é formada por dois motivos que traçam uma linha descendente/ascendente. Esta mesma melodia é repetida nos quatro compassos seguintes:

Fig.I.14. Movimento melódico descendente/ascendente.

No último compasso da parte A, há uma melodia que não é tocada na primeira exposição do tema:

Fig.I.15. Melodia do último compasso do A.

Na gravação do disco CLUBE DA ESQUINA II (Milton Nascimento, 1978), onde DONA OLÍMPIA é gravada com letra, o mesmo acontece no último compasso da parte A

devido ao número menor de versos da primeira estrofe; esta possui cinco versos enquanto as demais possuem seis.

No terceiro A, há uma variação melódica, que também ocorre no disco CLUBE DA ESQUINA II, e no quarto A há um improviso de violão de aço, com vocalises ao fundo, funcionando como um background.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES

DONA OLÍMPIA é a única canção do disco TERRA DOS PÁSSAROS que possui

fórmula de compasso ternária, em 3/4. As demais canções do disco são binárias ou quaternárias. O ritmo é pouco marcado e a interpretação da melodia usufrui de liberdade rítmica. Neste disco é apresentada como música instrumental cantada em vocalize.

Esta canção faz parte da trilha sonora do documentário curta-metragem “Dona Olímpia de Ouro Preto” (1970), do cineasta mineiro Luiz Alberto Sartori. A primeira exposição do tema na gravação do disco TERRA DOS PÁSSAROS, traz para um primeiro plano o depoimento desta personagem que povoou as ruas da cidade de Ouro Preto de 1940

a 197656. Foi gravada no disco CLUBE DA ESQUINA II (Milton Nascimento, 1978) com orquestração e regência de Toninho Horta, que também participou tocando guitarra, piano e cantando. Nesta versão é cantada com a letra de Ronaldo Bastos. Toninho Horta também compôs para a trilha deste documentário as canções AQUELAS COISAS TODAS,SERENADE e

IGREJA DO PILAR.

No arranjo a dinâmica tem direção crescente até o quatro A, quando começa a decrescer. A liberdade rítmica faz com que seja difícil definir seu estilo, que ora parece balada, ora rock progressivo.

Foi regravada por Horta nos discos DURANGO KID II (1995) e SOLO AO VIVO (2007).

Ficha Técnica:

violões (cordas de aço), guitarras, órgão, percussão e voz: Toninho Horta baixo elétrico: Novelli

bateria: Airto Moreira

percussão: Laudir de Oliveira

depoimento: Dona Olímpia de Ouro Preto

56 “Figura folclórica, conhecida em toda a região e também pelos turistas, que a tornaram famosa no exterior, Olympia Angélica de Almeida Cotta nasceu em Santa Rita em 1889 e morreu em Ouro Preto em 1976 (...). Personagem singular, mesmo possuindo referências familiares e condição econômica privilegiada (dizem que foi rica e linda na juventude), aos 40 anos resolveu fazer da rua o seu espaço de vida. Lendária por sua forma de receber os turistas com casos que mostravam sua grande capacidade de imaginação e sensibilidade, Sinhá Olympia misturava dados históricos de várias épocas numa linguagem que demonstrava cultura e educação. Gostava de falar também sobre política e ciência. Retratada por fotógrafos e pintores, tornou-se constante nos periódicos da imprensa nacional e internacional e inspirou músicas de importantes compositores.” Fonte: Programação do Festival de Inverno de Ouro Preto - Fórum das Artes, 2006.