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5.6 L ETRAS DAS C ANÇÕES

Através da escuta apurada da discografia autoral de Toninho Horta, notamos que tanto nas letras escritas pelo compositor, quanto naquelas escritas por outros autores, prevalecem temas cujo conteúdo apresenta características sentimentais, familiares, lúdicas e oníricas. Observamos que a produção de Horta, assim como a do “Clube da Esquina” de forma geral, é de difícil classificação, sendo impossível nomeá-la através de um único estilo. Devemos lembrar que esta é uma necessidade mercadológica e que a produção deste grupo de artistas identificava-se com uma postura alternativa, crítica às leis do mercado e à classificação segmentada da música popular massiva. No entanto, não se apresentava como vanguarda e tampouco propunha rupturas às linguagens existentes, pelo contrário, foi capaz de absorver tanto elementos da tradição cultural brasileira e da cultura popular, quanto as influências do pop e do rock norte americano e de empregar recursos tecnológicos disponíveis em suas gravações. A produção de Toninho Horta e do grupo de artistas do qual fazia parte buscou saídas criativas, misturando diferentes estilos e linguagens, permitido-se conciliar elementos da cultura popular com improvisações jazzísticas, com o rock internacional, com o samba e a bossa nova. A temática de suas canções se identifica com o caráter lúdico, coletivo e diverso que permeia toda a produção do grupo.

Assim como na obra ligada ao “Clube da Esquina”, os temas predominantes das canções de Toninho Horta fazem referência a um mundo idílico e sentimental. A realidade simbolizada em suas canções faz alusão à vida familiar, cotidiana, figurando uma representação nostálgica da vida, que pode ser percebida em todas as composições do disco TERRA DOS PÁSSAROS, como abordaremos brevemente, a seguir93:

-CÉU DE BRASÍLIA (Toninho Horta e Fernando Brant)

Nesta canção prevalece uma imagem onírica de um personagem que sobrevoa a cidade de Brasília, deixando de lado a cidade grande e o mundo do trabalho e valorizando a vida bucólica, como é possível observar nos versos “lá vou eu pelo ar”, “me esquecendo da solidão/ da cidade grande/ do mundo dos homens”.

-DIANA (Toninho Horta e Fernando Brant)

A letra da canção DIANA transporta o ouvinte, de maneira lúdica, para o ambiente da

casa, tomada pelo vazio causado pela morte de uma cachorra estimada: “já não te encontro à espera ao pé da porta”, “tanto vazio por todo o lugar/ tanto silêncio sinto ao chegar/ ao nosso território de brincar”.

-DONA OLÍMPIA (Toninho Horta e Ronaldo Bastos)

Na versão do disco TERRA DOS PÁSSAROS foi gravada sem a letra de Ronaldo Bastos. No arranjo, Horta coloca em primeiro plano o discurso nostálgico da personagem das ruas de Ouro Preto, D. Olímpia, no qual esta explica porque saiu às ruas como uma mendiga, buscando cumprir uma promessa com a qual pretendia “socorrer os pobres” e “fazer valer” a sua pessoa. No final de seu depoimento emociona-se e chora.

-PEDRA DA LUA (Toninho Horta e Cacaso)

Seu conteúdo poético imprime cenas simbólicas e subjetivas que remetem à figura da mãe e à infância do interlocutor, como observamos nos versos “minha mãe calma e serena”, “minha mãe no seu piano”, “menino levante cedo/ menino não chegue tarde”.

93 Não comentamos sobre o conteúdo das composições VIVER DE AMOR (Toninho Horta e Ronaldo Bastos) e AQUELAS COISAS TODAS (Toninho Horta) por apresentarem-se como músicas instrumentais no disco

-SERENADE (Toninho Horta e Ronaldo Bastos)

Esta é uma canção sentimental, na qual o enunciador faz um convite para o amor impulsivo e livre: “vem comigo/ você pode até se arrepender”, “deixa o coração bater”, sugerindo, ao final da letra, uma dança ao som de “Moonlight Serenade”, que é originalmente uma balada instrumental de Glenn Miller, gravada em 1939.

- FALSO INGLÊS (Toninho Horta e Fernando Brant)

A letra desta canção apresenta um personagem cantor, que, incapaz de compreender o idioma inglês, inventa à sua própria maneira palavras que imitam o som desta língua, para conseguir cantar.

-BEIJO PARTIDO (Toninho Horta)

Esta é outra canção ligada ao sentimentalismo. Seu conteúdo poético trata da desilusão amorosa e será abordado mais cuidadosamente ao final deste capítulo, assim como o conteúdo da canção FALSO INGLÊS.

- NO CARNAVAL (Caetano Veloso e Jota)

Nesta letra de Caetano Veloso, a temática se volta para a história de um amor efêmero de Carnaval, relacionado ao samba: “no coração, meu tamborim/ o amor cresce em samba assim”, e quando o amor chega ao fim, modifica os versos para: “no coração, meu tamborim/ o amor chora um samba assim”.

Além das canções do disco TERRA DOS PÁSSAROS, encontramos o mesmo tipo de conteúdo característico em canções gravadas em outros discos de Horta, como MANUEL, O AUDAZ (Toninho Horta e Fernando Brant), uma homenagem a um jipe, ou em MEU

CANÁRIO VIZINHO AZUL (Toninho Horta),sobre a morte de um canário, e em várias outras

canções como YARABELA (Toninho Horta),MINHA CASA (TONINHO HORTA), CASO ANTIGO

(Toninho Horta, Ronaldo Bastos e Fernando Brant), dentre outras. Como mencionamos, os temas abordados nas canções de Horta pertencem a um universo comum e ligado ao cotidiano. Luiz Henrique Garcia observa em sua dissertação sobre o “Clube da Esquina” o caráter que demarca a produção destes artistas:

O personagem musical que sintetiza o caminho do Clube não é nem o abstrato homem do “povo”, nem tampouco o “poeta moderno”, mas o próprio músico da rua, o “artista” que ocupa um lugar

definido e determinado, mas não está alheio às pessoas comuns, está sempre entre elas (GARCIA, 2000, p. 144).

Toninho Horta considera Fernando Brant o letrista que melhor dialogou com sua música:

(...) acho que o Fernando Brant foi o que atingiu mais profundamente a minha música. (...) Nossas parcerias aconteceram todas entre 1968 e 1976: “Aqui Ó!”, “Manoel, o Audaz”, “Diana”, “Falso Inglês”, “Céu de Brasília”. (...) Minhas composições são muito de vez em quando. Mas quando resolvo fazer, parece que cada uma tem uma referência especial, com influência mais pop, outra com mais igreja, outra com mais bossa nova, balada. Então acabei fazendo poucas músicas, mas bem marcantes. E acho que o Brant tem um papel importante nessa marca, suas letras conseguiram captar e exprimir muito bem essa característica particular de cada uma das minhas músicas. Foi o perfeito entendimento das palavras dele com a minha linha melódica. (...) O que admiro nele é que para cada compositor ele tem uma linha de trabalho diferente, de acordo com a música de cada um. Para o Milton ele trabalha temas que remetem ao passado, ao trabalhador braçal, escravo, aos cantos de trabalho, à raça negra, e também elementos políticos da nossa realidade. Para mim, ele criou personagens muito bacanas: o jipe dele virou “Manoel, o Audaz”; a cachorrinha virou “Diana”; eu que cantava um inglesinho fuleiro, virei “Falso Inglês” (Toninho Horta in: VILARA, 2006, p. 364). O próprio letrista corrobora a colocação de que em seu processo criativo costuma diferenciar a temática das letras como resultado do conteúdo musical apresentado. Ao comparar as canções de Milton Nascimento às canções de Toninho Horta, Fernando Brant atribui ao conteúdo das composições deste último uma atmosfera juvenil, diferente daquela encontrada nas canções de Milton Nascimento:

Tanto que as letras que faço para o Toninho Horta não tem nada a ver com as que faço para o Milton. Porque as músicas são muito diferentes. “Aqui Ó!”, “Durango Kid”, “Manoel, o Audaz” têm um clima juvenil, completamente diferente do clima das músicas do Bituca (Ibidem, p. 60).

Estes aspectos indicam que, ao criar letras para canções, Fernando Brant se inspira tanto no universo musical destas quanto na própria personalidade dos compositores, adaptando-se, assim, ao caráter diverso dos autores com quem colabora.