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4. O INSTITUTO DA UNITIZAÇÃO

4.1 A QUESTÃO DA UNITIZAÇÃO

A discussão acerca da Unitização surge quando uma jazida de petróleo ou gás natural se estende por dois ou mais blocos contíguos, cujos direitos de exploração e produção pertencem a concessionários diferentes [...] Devido à característica migratória do petróleo e do gás natural, os hidrocarbonetos inicialmente situados num bloco fluirão e serão produzidos através de um poço perfurado num bloco contíguo (BUCHEB, 2005, p. 204).

Pedroso & Abdounur (2008) ressaltam que os aspectos práticos da negociação de um Acordo de Unitização podem ser tão ou mais complexos que os aspectos teóricos de tal instituto, uma vez que as partes têm que chegar ao acordo, num ambiente de incertezas acerca dos valores e parâmetros aceitáveis para ambas as partes, dentro de um conceito de cooperação induzida, que visa à preservação de valor para cada agente e a exploração não predatória da(s) jazida(s) de petróleo e gás natural, que é o objetivo do principal.

Os autores salientam que um processo de Unitização não conduz a uma parceria de livre iniciativa entre dois ou mais concessionários, mas sim a uma parceria mandatória e incentivada pelo poder regulatório de um país, ao contrário dos processos tradicionais de joint ventures21 entre companhias de petróleo.

Esse fato resulta em escolhas extremamente complexas por parte dos agentes, cujas contingências são negociadas e acordadas entre as partes por meio de um documento formal, denominado Contrato, que institui as regras do jogo para todas as partes envolvidas no processo de Unitização.

21 Conforme definido na Wikipédia, a enciclopédia livre, “Joint venture é uma associação de empresas, que pode

ser definitiva ou não, com fins lucrativos, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. Difere da sociedade comercial (partnership) porque se relaciona a um único projeto cuja associação é dissolvida automaticamente após o seu término”.

A Figura 8 apresenta esquematicamente a motivação para Unitização. Concessionário A Concessionário B Jazida de Petróleo Visão em Perfil Bloco 1 Bloco 2 Campo

Figura 8: Jazida se estendendo por blocos vizinhos onde atuam concessionários distintos Fonte: David apud Bucheb (2009)

A principal característica do Instituto da Unitização constitui-se em atribuir a um operador os direitos de exploração e/ou produção de um campo de petróleo e gás natural. Todos os custos e receitas advindos das operações são distribuídos entre os atores, que de acordo com as suas respectivas prerrogativas de participação naquela unidade negociam seus direitos e obrigações, ratificando os seus objetivos por meio da assinatura de um instrumento contratual. Cada parte será motivada individualmente a implementar um plano comum para o desenvolvimento eficiente do campo, e somente se essa condição for satisfeita podemos considerar que os objetivos foram alcançados e que o problema inerente ao CPR foi equacionado.

Asmus & Weaver (2006) destacam que o Instituto da Unitização geralmente é reconhecido como a solução mais eficiente e justa para a produção de petróleo e gás natural, pelas seguintes razões:

a) Incentiva o desenvolvimento cooperativo, diminuindo, assim, os custos de

produção por meio de economias de escala e eficiências operacionais;

b) Evita perfurações desnecessárias e otimiza a infraestrutura para operação de

um campo petrolífero;

c) Maximiza a recuperação final de petróleo de um campo de acordo com as

d) Minimiza danos desnecessários à estrutura física dos poços;

e) Proporciona mecanismos para a proteção dos direitos correlatos.

A divisão da receita líquida é considerada uma questão sensível nas negociações dos

contratos de Unitização, pois determina o mecanismo de partilha dos resultados ao longo da

relação contratual. Constitui-se num mecanismo determinante para a instituição da unidade e extremamente sensível a conflitos de interesse.

A dinâmica dos reservatórios e o potencial de produção são fundamentalmente alterados de acordo com o plano de desenvolvimento e administração da unidade. Nenhuma produção concorrente ocorre a partir dessas alocações, e o petróleo oriundo dos reservatórios é extraído de acordo com a melhor estratégia de produção. Devido a estas alterações técnicas na dinâmica de produção, as ações desenvolvidas em unidade devem ser baseadas em estimativas comuns, que são desenhadas e acordadas previamente, por meio de negociações específicas que delimitam o instrumento contratual global.

Perez (2009) destaca que não há um único Acordo de Unitização que seja ótimo e independente das características políticas e geológicas do país. Nesse sentido, a autora aponta algumas características do ambiente econômico que afetam o processo de negociação, justificando as regras que regem a celebração dos Acordos de Unitização.

a) Assimetria de informação: as interpretações das empresas quanto às estimativas de petróleo e gás natural recuperáveis, pressão, dentre outras características, são variáveis estratégicas e determinantes ao processo de negociação. Essas informações são tratadas confidencialmente pelos agentes e podem ser utilizadas de forma a implementar estratégias oportunistas que objetivam maximizar as utilidades individuais desses agentes. A possibilidade de observação de tal comportamento estratégico conduz a um processo de negociação longo e oneroso, podendo reduzir consideravelmente os ganhos do desenvolvimento unitizado.

b) Timing da Operação: no Capítulo 2 foi abordado que uma solução para o problema do CPR de petróleo e gás natural, segundo Perez (2009), “passa pela necessidade de unitizar o reservatório antes do início da produção, por motivos de eficiência alocativa na exploração do reservatório, e mesmo antes de seu desenvolvimento, por motivos de eficiência produtiva na sua extração”. O timing para a formalização do Acordo de Unitização é fundamental por questões informacionais. Perez (2009) salienta que uma forma de mitigar os

efeitos da assimetria de informação entre as partes é permitir e incentivar que a unitização ocorra tão logo seja identificado um reservatório se estendendo por blocos vizinhos onde atuam concessionários distintos.

c) Hold up de investimentos: a possibilidade de observação de comportamentos oportunistas das partes também pode ser identificada no caso de negociações de Acordos de Unitização. Uma ameaça crível de saída pode desestabilizar o balanço de poder entre as partes, apresentando riscos potenciais para as outras partes que participam do Acordo. Um mecanismo que mitiga esse problema pode ser atribuído às cláusulas contratuais que definem penalidades e são negociadas ex ante a relação.

d) Número e heterogeneidade entre empresas: o número de empresas pode dificultar a negociação de um Acordo de Unitização. Quanto mais heterogêneas as empresas, maior a probabilidade de um impasse nas negociações.

O estabelecimento das regras do jogo por parte do principal torna-se uma questão- chave para mitigar tais problemas. No capítulo referente às experiências internacionais serão destacados os mecanismos adotados por países selecionados para minimização de problemas relacionados ao processo de barganha entre os agentes. A próxima seção tem como objetivo apresentar os instrumentos típicos que são utilizados nos processos de negociação de Acordos de Unitização.