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TIPOS DE ACORDOS DE UNITIZAÇÃO

4. O INSTITUTO DA UNITIZAÇÃO

4.2 TIPOS DE ACORDOS DE UNITIZAÇÃO

Genericamente, Asmus & Weaver (2006) apontam três fases para o Processo de Unitização e três tipos correspondentes de acordos:

a) Acordo Pré-Unitização, é assinado geralmente antes de a comercialidade ser declarada. Os agentes firmam esse acordo para regular a condução das operações conjuntas de avaliação da descoberta em que, eventualmente, a jazida pode se estender por blocos vizinhos onde atuem atores distintos. A necessidade de avaliação da descoberta deriva das incertezas inerentes ao processo de Exploração e Produção;

ainda as participações das partes que assinam o documento no início da fase de Desenvolvimento e Operação;

c) Redeterminação, que se constitui num mecanismo de revisão das participações de cada agente, que consideram novas informações obtidas a partir das operações efetuadas até a data da redeterminação. Esse mecanismo pode ser observado ao longo da Fase de Desenvolvimento e Operação até o abandono.

No caso de uma unitização entre blocos cujos concessionários são consórcios de empresas, em cada bloco haverá um documento específico regulando as relações entre as partes – o Joint Operating Agreement (JOA). Um novo documento conhecido como Unit Operating Agreement (UOA) deverá ser assinado entre as companhias integrantes das operações de desenvolvimento na área unitizada. Apesar de o JOA ser um documento padrão bastante conhecido na indústria do petróleo, vários dos seus termos, como as regras para contratação de bens e serviços pelo operador, os procedimentos contábeis, os procedimentos de voto entre os consorciados para aprovação das operações, entre outros, podem diferir significativamente entre JOAs de consórcios diferentes. Deste modo, ao se negociar um UOA pode ser necessário contemplar interesses de companhias que eventualmente detinham um poder de veto em seu consórcio original, mas na área unitizada terão uma participação diminuta; por outro lado, uma companhia que atuava sozinha, sem necessidade de prestação de contas a qualquer parceiro, se verá subitamente em uma parceria obrigatória em função do processo de unitização (PEDROSO & ABDOUNUR, 2008, p. 5).

Considerando o quadro apresentado no final do Capítulo 3, podem ser observadas questões complexas no âmbito do Foco Contratual. Todas as partes atuam de acordo com interesses próprios e potencialmente divergentes em relação aos seus investimentos. Um processo de negociação num ambiente que envolve muitas empresas poderá emergir conflitos de interesses que poderão inviabilizar um potencial acordo para o desenvolvimento das atividades conjuntas.

O alinhamento de incentivos e os mecanismos de revelação devem ser cuidadosamente desenhados pelo principal, com o objetivo de minimizar os problemas das restrições de participação dos agentes e estabelecer um mecanismo de compatibilidade de incentivos que viabilize as operações da unidade. A atribuição de direitos de propriedade configura-se em outra questão latente. As determinações das participações e a convergência de objetivos firmados oriundos de outros contratos vigentes poderão instaurar um longo processo de

negociação entre as partes. A escolha de um novo mecanismo de governança poderá trazer discussões acerca das obrigações de cada parte para o desenvolvimento unitizado, e deverão ser negociados, no âmbito da nova relação contratual, os mecanismos para a resolução de conflitos no interior da unidade.

Apesar de não existir um contrato ótimo, a literatura apresenta questões básicas que são tratadas, negociadas e contratadas de acordo com a fase do ciclo de vida de um CPR de petróleo e gás natural. Passaremos agora para uma análise dessa literatura.

4.2.1 ACORDO PRÉ-UNITIZAÇÃO

Devido à complexidade técnica, as incertezas inerentes ao processo de Exploração e Produção e o tempo necessário para a conclusão das negociações para se chegar ao Acordo de Unitização, firmou-se como uma prática usual a assinatura de Acordos Pré-Unitização. As partes que assinam o Acordo Pré-Unitização estabelecem o método pelo qual serão conduzidos os trabalhos de avaliação das descobertas, que ocorrem, fundamentalmente, nas fases iniciais do ciclo de vida de um campo. Este trabalho preliminar consiste em um conjunto de estudos técnicos destinados a determinar a extensão do campo a ser unitizado e o levantamento de estimativas de quantidades de petróleo e gás natural recuperáveis. Os Acordos Pré-Unitização podem designar um operador para atuar, inicialmente com a função de realizar estes estudos preliminares e centralizar e contabilizar os custos para o desenvolvimento do campo. Esses custos serão devidamente rateados entre as partes envolvidas nas negociações do Acordo de Unitização. A abrangência e o escopo do Acordo Pré-Unitização variam muito. Asmus & Weaver (2006) orientam que não existe um modelo padrão para redação desse instrumento contratual, porém destacam que, de acordo com as melhores práticas da indústria, alguns temas podem ser apontados como usuais em tais instrumentos:

a) Os princípios da determinação das respectivas participações das partes;

b) Os princípios para se alcançar o Acordo de Unitização;

c) Os princípios que regem as atividades exploratórias;

d) A formação de uma Comissão de Unitização para a definição de políticas,

aprovação de orçamentos, coordenação e acompanhamento da operação;

g) O tratamento a ser dado à previsão de reembolso dos custos de aquisição de dados e informações geológicas do campo;

h) A perfuração de poços para determinação da extensão do campo e pagamento

das despesas de alocação de recursos exploratórios;

i) O intercâmbio de dados e informações, conforme a evolução dos trabalhos de

avaliação do campo;

j) A confidencialidade, propriedade intelectual e mecanismos para a resolução de

conflitos.

Dadas estas características, pode ser observada uma situação em que existe potencial para que os participantes sejam inclinados a adotar comportamentos oportunistas ao longo das negociações para se estabelecer o Acordo de Unitização. Supondo um principal que não possui o conhecimento das preferências, tecnologias ou a credibilidade dos participantes, existirá uma preocupação adicional em mitigar tais tipos de comportamento estratégico. Considerando que um agente pode tentar “burlar” as regras do jogo, “fingindo” ser menos eficiente, ou menos interessado em determinada substância, esse principal terá que estabelecer mecanismos que induzam a revelação dos respectivos tipos por parte dos participantes.

Entretanto, a assinatura de tal instrumento tem como objetivo mitigar os problemas de assimetria de informação entre os participantes, uma vez que as reais características do CPR ainda não foram reveladas.

Por outro lado, caso o principal seja bem informado e conheça, em parte, algumas das características físicas do CPR e considerando, ainda, que este detenha algum conhecimento acerca da credibilidade dos agentes que participam do certame, poderá ser observada uma situação que contribuirá para a minimização do timing das negociações, uma vez que poderão ser estabelecidos os mecanismos necessários para se chegar a um acordo que seja vantajoso para todas as partes.

4.2.2 O ACORDO DE UNITIZAÇÃO

Após a execução desse plano de avaliação, as partes decidirão acerca da comercialidade ou não da área avaliada. A declaração de comercialidade poderá ser efetuada a qualquer momento até o final da fase de exploração. Porém, para se passar para a fase de Desenvolvimento e Operação unitizada, as partes deverão estar com o Acordo de Unitização definido e com a devida aprovação do órgão governamental competente. Asmus & Weaver (2006) orientam que embora haja uma vasta experiência internacional no desenvolvimento e

implantação desse instituto, os Acordos Unitização não apresentam um modelo que possa ser considerado como geral, um modelo padrão. Os autores realizaram uma pesquisa em vinte países e concluíram que apesar de não se poder contar com um modelo contratual padrão, as boas práticas da indústria remetem para uma lista de cláusulas comuns que foram observadas durante essa pesquisa:

a) A definição da unidade, incluindo, entre outras questões: (1) a delimitação da

área unitizada, profundidades e os produtos unitizados; (2) a repartição dos custos de produção e as respectivas participações das partes; (3) o planejamento dos custos operacionais dos ativos e a especificação do meio de troca de dados e compartilhamento da informação.

b) A forma de governança, incluindo, entre outras questões: (1) os mecanismos

para a redeterminação; (2) o compromisso de se sustentar o desenvolvimento unitizado (3) o tratamento de possíveis acordos privados que afetem as disposições do Instituto da Unitização formado entre as partes; (4) conduta das partes; (5) delegação para a tomada de decisão; (6) as responsabilidades financeiras do empreendimento.

c) O operador, incluindo, entre outras questões: (1) os direitos e deveres; (2) a

entrega das informações; (3) a divulgação de sinistros e fatos relevantes; (4) a representação das partes perante o governo.

d) A formação de um comitê operacional, incluindo, entre outras questões: (1)

função; (2) subcomissões, e (3) organização para tomada de decisão.

e) Planos de desenvolvimento, orçamentos anuais de exploração e prestação de

contas ao governo hospedeiro.

f) As contrapartidas financeiras, a contabilidade e auditoria da Unitização.

g) O plano para comercialização e venda da produção.

h) A orientação para a declaração de abandono.

i) Cláusula de confidencialidade e propriedade intelectual.

j) Cláusula de previsão para casos de força maior.

k) O foro e a forma de resolução de litígios.

l) Cláusula de default.

regras para tomada de decisão, procedimentos de arbitragem para conflitos de interesse entre as partes, as formas de compensação para a utilização de bens de capital, tipicamente poços, oleodutos e, eventualmente, plantas de injeções utilizadas no desenvolvimento da unidade. Esses contratos apresentam características de contratos de longo prazo, tipicamente com duração entre dez e vinte anos (KIM & MAHONEY, 2002, p. 230).

A problemática atribuída ao risco moral torna-se uma variável muito importante. Os Acordos de Unitização devem ser desenhados com o objetivo de induzir níveis de esforço aos operadores compatíveis com as boas práticas da indústria. As relações de autoridade devem ser bem especificadas, com o objetivo de conferir um tratamento adequado à questão da imperfeição dos contratos e prover os incentivos necessários à gestão eficiente desses recursos. Os Acordos de Unitização são por natureza complexos, e por essa característica, a assinatura de tal instrumento pode ser onerosa para as partes. O principal deverá estar sempre atento para o estabelecimento de regras claras que buscam minimizar os custos de transação inerentes ao processo. A racionalidade limitada dos agentes exige que alguns líderes tenham autoridade para tomar decisões em circunstâncias não previstas pelos contratos.

Libecap & Smith (1999) salientam que, além desses riscos e incertezas, a magnitude exata para o aumento esperado na produtividade da extração do petróleo sob produção unitizada é muito incerta. As estimativas da produção de petróleo no caso de Unitização de operações não são uma questão trivial e envolvem muitas variáveis técnicas. Na prática, os Acordos de Unitização não são completos, deixando um potencial enorme para a observação de um comportamento competitivo entre as partes, e que acabam por levar a um resultado inferior ao desejado.

4.2.3 REDETERMINAÇÃO

Asmus & Weaver (2006) esclarecem que qualquer ajuste subsequente ao Acordo de Unitização é denominado Redeterminação. A previsão para a operacionalização da Redeterminação deriva exatamente do fato da observância do alto grau de incerteza desses contratos. A Redeterminação pode ajudar a balancear os interesses ao Acordo original, uma vez que dados e informações foram obtidos ao longo do processo de produção.

O acordo de Unitização poderá prever que as participações de cada concessionário serão revistas periodicamente por meio de redeterminação. A redeterminação é o mecanismo pelo qual, em intervalos regulares, por exemplo, a cada cinco anos, as participações de cada concessionário serão revistas, de acordo com o critério

previamente ajustado entre as partes (volume de hidrocarbonetos in place, volume recuperável etc.), levando-se em conta os dados e as informações acerca da jazida acumulados nesse período (BUCHEB, 2005, p. 331).

O objetivo da Redeterminação, basicamente, trata do reequilíbrio dos interesses das partes, e normalmente não faz muito sentido em se estabelecer o mecanismo da Redeterminação até que informações mais acuradas das operações sejam incorporadas. A Redeterminação poderá ser prevista após um período adicional de produção de um histórico da produção, ou como resultado da aquisição de novos dados geológicos do campo.

O operador da unidade normalmente coordena o processo de Redeterminação, conforme orientam Asmus & Weaver. O operador apresenta uma proposta de Redeterminação, juntamente com dados que suportam tal orientação. Se alguma das partes discorda da proposta apresentada pelo operador, essas devem submeter propostas concorrentes e a fundamentação técnica do requerimento. Um prazo para a negociação dos termos é estabelecido e acompanhado pelo operador, e caso as partes não cheguem a um acordo no prazo determinado, a Redeterminação é normalmente mediada por terceiros. O terceiro pode ser um perito, um árbitro ou árbitros, ou um tribunal. Asmus & Weaver (2006) relatam que, em termos práticos, a arbitragem é a solução preferível por ser menos custosa.

Devido à complexidade do negócio e aos custos que envolvem os processos de Redeterminação, alguns Acordos de Unitização são negociados sem cláusulas de Redeterminação. Essa decisão pode ser razoável quando se tem acesso a estudos sísmicos de qualidade no momento em que o Acordo de Unitização é negociado. A não observância de cláusula de Redeterminação apresenta riscos significativos para as partes numa situação em que existem poucos dados no momento da negociação do Acordo de Unitização, que se configura num caso clássico da assimetria de informação.

A negociação e a implementação de um Acordo de Unitização podem se tornar muito difíceis. Questões complexas como a perspectiva de revisão dos interesses econômicos, a coordenação das partes durante a vigência do contrato e a ausência de diretrizes regulatórias são questões não triviais que podem criar situações que desviem do objetivo principal do Instituto da Unitização, a maximização do valor econômico da unidade (WIGGINS & LIBECAP, 1985).

A Tabela 2 foi elaborada com o objetivo de comparar questões relevantes do processo de negociação de Acordos de Unitização e suas correlações em relação às principais Teorias das Organizações e Contratos.

Teoria dos Contratos e Desenho de Mecanismos

Teoria dos Direitos de

Propriedade Teoria de Custo da Transação

Unidade de análise

- País (Principal) x Empresas (Agentes) - Empresas (P) x Operador (A)

- Unitização como Instituição - Operações da unidade - Transações contratuais

Dimensão focal

- Incentivo do Operador (Agente) pode divergir dos objetivos do Principal

- Direitos de propriedade sobre petróleo não são bem especificados

- Especificidade dos ativos

Interesse de custo focal

- Custo de monitoramento da unidade operadora - Perda residual - Alinhamento de incentivos - Externalidades negativas (extração competitiva) - Rent-seeking (influência das políticas públicas)

- Especificidade física - Ativos dedicados - Especificidade humana

Foco contratual - Alinhamento de incentivos - Mecanismos de controle

- Maximizar o Bem-Estar Social - Problema de recursos comuns: Tragédia dos Comuns

- Escolha do modo de

gorvenança eficiente - Hierarquia como mecanismo de coordenação

Orientação teórica

- Teoria do contrato “Second

Best”

- Assimetria de informação - Problemas de Seleção Adversa e Risco Moral

- Avaliação comparativa - Mudança nas Instituições

- Avaliação comparativa - Escolha entre formas de governança

Intenção estratégica - Visão do acionista (maximizar

payoffs do principal)

- Visão do acionista (controle dos vários grupos de interesse, comportamentos oportunistas)

Visão do acionista (minimizar os custos de transação, a fim de criar valor para os acionistas) Fontes de fricção no mercado - Problemas de Seleção Adversa

e Risco Moral - Regra de Captura - Externalidades - Informação assimétrica - Comportamento oportunista - Informação assimétrica na avaliação da produtividade - Especificidade dos ativos - Problemas de Hold Up Unitização, comparação das Teorias – Organização e Contratos

Tabela 2: Unitização, comparação entre teorias selecionadas Fonte: O autor, adaptado de Kim & Mahoney (2002)

Uma contribuição importante para o entendimento e implementação de acordos que governam os interesses de agentes econômicos que se defrontam com a problemática dos CPRs tem sido estudada por Elinor Ostrom. Ostrom (2005) em sua obra “Understanding Institucional Diversity” ressalta a importância do conhecimento dos fundamentos das instituições, como e por que elas se sustentam no longo prazo e suas consequências em termos de resultados, após a interação dos diversos agentes engajados nas negociações das relações num CPR.

Para Ostrom, as instituições são mecanismos pelos quais os agentes econômicos se utilizam para organizar suas formas de interação, que são dinâmicas e complexas. Em determinadas circunstâncias, a autora observa que os agentes interagem em situações cooperativas, com regras bem definidas. O objetivo principal é o de maximizar o resultado final do grupo por meio de escolhas estratégicas e ações coordenadas em um determinado CPR, visando alcançar resultados justos para todas as partes que participam desse jogo.

As oportunidades, as restrições de participação, a compatibilidade de incentivos, a informação que os agentes detêm, os benefícios por direito ou a subtração de resultados, afetam diretamente as regras do jogo caso os agentes não interajam de forma coordenada. As regras do jogo, ou seja, as normas legais são construídas de forma dinâmica, e a não observação das suas diversas combinações por parte dos agentes também poderá afetar os resultados desse jogo. Os Acordos de Unitização são exemplos clássicos de implementação desse instituto no contexto do segmento de Exploração e Produção de petróleo.

Neste capítulo, foram destacados os três tipos de acordos associados às principais fases do processo de Unitização. Nos próximos capítulos abordaremos a experiência da estruturação dessas interações, e como o problema se apresenta e é abordado no âmbito de países produtores de petróleo e gás natural.