• Nenhum resultado encontrado

O PROBLEMA DA EFICIÊNCIA ALOCATIVA

3. ANÁLISE ECONÔMICA – REFERENCIAL TEÓRICO

3.2 O PROBLEMA DA EFICIÊNCIA ALOCATIVA

A questão da eficiência econômica é usualmente discutida no sentido de “eficiência alocativa”, ou seja, em função da alocação tanto da produção quanto do consumo de bens e serviços. Admitindo-se, por simplicidade, que se tem por objetivo maximizar a eficiência de um sistema econômico, teremos uma solução eficiente se conseguirmos uma alocação de recursos que maximiza o valor das utilidades de todos os agentes desse sistema econômico.

16 Como exemplo, podemos destacar o caso ocorrido na Bolívia, que decidiu nacionalizar a exploração dos

negócios de petróleo e gás no país. O presidente boliviano ordenou a ocupação pelo Exército dos campos de produção das empresas estrangeiras no país.

17 De acordo com Pinho & Sacramento (2009), “não existe um termo único em português que defina a palavra

accountability, havendo que trabalhar com uma forma composta. Buscando uma síntese, accountability encerra a responsabilidade, a obrigação e a responsabilização de quem ocupa um cargo em prestar contas segundo os parâmetros da lei, estando envolvida a possibilidade de ônus, o que seria a pena para o não cumprimento dessa diretiva.

Pelo Primeiro Teorema da Economia do Bem-Estar Social pode-se mostrar que em uma situação de concorrência perfeita o comportamento dos agentes conduz a uma situação de equilíbrio competitivo de mercado que maximiza a utilidade global e que é (Pareto) eficiente. Em síntese, a opção de mercado apresenta ganhos de eficiência, e por meio do seu postulado pode-se mostrar que o sistema de preços leva a um ponto ótimo alocativo.

Porém, os mercados não são perfeitos e apresentam falhas. Em uma série de situações reais podemos identificar falhas de mercado, ou seja, em situações que o mercado pode conduzir a soluções não eficientes.

Pindyck & Rubinfeld (2006) apontam como exemplos de falhas de mercado:

a) Poder de Mercado, situações em que há imperfeições na concorrência, como exemplo os casos de monopólio e oligopólio;

b) Bens Públicos, que pode ser disponibilizado por um custo menor para muitos consumidores, mas, uma vez disponibilizado, torna-se difícil evitar que outras pessoas o consumam;

c) Assimetria de Informação, fenômeno que ocorre quando dois ou mais agentes econômicos estabelecem entre si uma transação econômica com uma das partes envolvidas detendo informações qualitativa ou quantitativamente superiores às da outra parte;

d) Externalidades, que não passam pelo sistema de preços; como exemplo, podemos citar as externalidades dos CPRs. Na presença de externalidade, o custo de oportunidade social de um bem ou serviço difere do custo de oportunidade privado, fazendo com que haja incentivos não eficientes do ponto de vista social. Portanto, externalidades referem-se ao impacto de uma decisão sobre aqueles que não participaram dessa decisão.

Os itens acima são muito importantes quando analisados sob a problemática dos CPRs, e a justificativa tradicional para a existência da regulação econômica é a necessidade de corrigir essas falhas de mercado.

Libecap & Smith (1999) formularam um modelo teórico com o objetivo de avaliar os

resultados econômicos do Instituto da Unitização18. Os autores apresentaram três soluções

a) Desenvolvimento Competitivo: representa uma situação em que não há associação ou sequer algum acordo de cooperação entre os agentes. Estes assumem o desenvolvimento independente no âmbito de um determinado CPR. Em um jogo de barganha bilateral o desenvolvimento competitivo é essencialmente o ponto de desacordo entre as partes.

b) Desenvolvimento Partilhado: representa uma situação em que a produção se dá nos limites de um mesmo CPR. Existe um processo de negociação privada no qual as partes ratificam um acordo, em que a apropriação de cada substância disponível poderá ser atribuída a um ou a outro agente. Em outras palavras, poderá ser negociada a participação do petróleo para o agente A, e, em contrapartida, a participação do gás natural para o agente B. Cada parte terá direito ao resultado econômico produzido por sua determinada substância de interesse negociada no âmbito daquele CPR.

c) Desenvolvimento Unitizado: representa uma situação na qual existe acordo para o desenvolvimento de uma unidade independente da produção. A constituição da unidade parte de um processo negocial entre as partes, por meio do qual são determinados e fixados os respectivos direitos à apropriação das substâncias. De acordo com o processo, existe uma coordenação das atividades de exploração e produção, em que os lucros são distribuídos de acordo com os respectivos acordos de participação naquele CPR. Portanto, o desenvolvimento unitizado constitui-se numa solução indivisível, conduzida por um único operador indicado pelas partes, que detém o objetivo (social) de maximização da produção de petróleo e gás natural daquele CPR.

O desenvolvimento partilhado constitui-se como uma alternativa entre os opostos, desenvolvimento competitivo e unitizado. Mesmo que as partes não concordem com uma negociação por suas dotações iniciais para se estabelecer um objetivo único e indivisível, os agentes podem implementar uma solução de coordenação limitada, por meio do alcance de acordos que mitiguem os desperdícios e melhorem a performance de produção daquele CPR. Por exemplo, as partes podem acordar com a divisão total dos interesses, ou seja, um agente A, assume sua posição em petróleo e um agente B em gás natural, estabelecendo a repartição dos lucros da produção do CPR de acordo com os lucros advindos das respectivas substâncias. Esta solução, entretanto, pode gerar externalidades negativas, pois pode haver um potencial conflito de interesse entre os agentes, uma vez que a parte que detém direitos sobre

o gás natural pode ter incentivos em acelerar a extração do produto, mesmo que a solução mais rentável, do ponto de vista social, seja à manutenção da pressão no reservatório para estimular a produção de petróleo. Assim, o desenvolvimento partilhado pode ser considerado uma solução intermediária em relação à solução ótima, que por hipótese, constitui-se na Unitização.

A ênfase da análise econômica concentra-se efetivamente na questão da eficiência alocativa devido à impossibilidade de se comparar adequadamente níveis de utilidade distintos dos agentes econômicos.

Libecap & Smith (1999) destacam alguns pontos que foram observados em um estudo empírico conduzido por ambos os pesquisadores. Os autores apontam que o desenvolvimento partilhado foi verificado com maior frequência em sua amostra de casos. Os autores destacam um outro aspecto que pode contribuir para a escolha entre a solução do desenvolvimento unitizado e o desenvolvimento partilhado e está relacionado com questões regulatórias do país. A modelagem sugerida por Libecap & Smith (1999) trabalha por uma outra perspectiva observada na literatura americana, que trata das questões que envolvem o Instituto da Unitização. Os resultados observados pelos autores são significativamente divergentes da literatura tradicional, pois consideram a introdução de uma segunda substância na análise da problemática dos CPRs, o gás natural. Essa abordagem abstrai-se de questões inerentes aos problemas de barganha entre as partes e as questões referentes aos custos de transação, que dificultam a implementação de acordos entre os agentes. Os autores buscam pontuar teoricamente as pressuposições de que uma vez ratificado o desenvolvimento unitizado, este seja (Pareto) superior em relação a outras soluções.

A literatura tradicional que trata dos benefícios do Instituto da Unitização concentra-se na questão da homogeneidade da substância encontrada no CPR. Uma vez que uma segunda substância é introduzida no processo, a modelagem conduzida pontua que existem soluções mais desejadas; no caso em tela, o desenvolvimento partilhado é apontado como mais favorável do que a Unitização para o desenvolvimento das operações, mesmo com o relaxamento das hipóteses de barganha e custos de transação.

Libecap & Smith demonstram que a coordenação entre agentes para se alcançar uma estrutura de desenvolvimento unitizado é muito complexa. Enquanto que a Unitização compulsória tenha sido vista como uma solução útil, incentivada por mecanismos regulatórios

Finalmente, os resultados da modelagem sugerem que nem todos os resultados podem ser motivados por questões equitativas. Os autores destacam que é comum se verificar na indústria de petróleo e gás natural algumas referências de que caso o desenvolvimento unitizado seja implementado, é essencial que as negociações finalizem o mais breve possível, com objetivos bem alinhados. Porém, isto não significa que o CPR foi completamente unitizado.

Questões remanescentes dessa análise ainda ficam em aberto: como e quando um planejador central deve incentivar a implementação do Instituto da Unitização? Qual o impacto dos custos de transação para a implementação de tais acordos? Como as instituições reagem aos incentivos regulatórios? Para os autores, essas respostas estão muito distantes de serem óbvias, e envolvem claramente um vasto potencial para novas abordagens e desenvolvimento teórico sobre o assunto.

3.3 A TEORIA DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE E OS CUSTOS DE