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A questão do gênero nos sistemas de pensão privados

FUNDOS DE PENSÃO (instituído no âmbito das

3.8 A questão do gênero nos sistemas de pensão privados

Um problema que se apresenta quando se estabelece o financiamento privado das aposentadorias diz respeito à participação feminina no mercado de trabalho. Trabalho realizado pela CEPAL revelou grandes diferenças32. De acordo com o levantamento, as mulheres que estão entre os economicamente ativos e que podem trabalhar/ocupar-se não contam com uma garantia do sistema previdenciário, no tocante ao ingresso e permanência nos mesmos. As principais discriminações estão na esfera da remuneração e do segmento de trabalho, sendo que o primeiro fator está diretamente relacionado ao segundo. A maior parte das mulheres está trabalhando em domicílios, em trabalhos temporários ou descontínuos e com baixos salários; real discriminação salarial entre homens e

32 V. MARCO, Flavia (coord.).

mulheres, que vem de muitos anos estando essas últimas sempre recebendo menos que os homens mesmo no século XXI.

Nos gráficos e tabelas extraídos do relatório da CEPAL em pesquisa publicada em outubro de 200433 constata-se que os perfis ocupacionais de homens e mulheres determinam a sua situação no sistema de pensões, seja ele público ou privado, estando o sexo feminino em desvantagem.

As ocupações nas quais as mulheres podem enquadrar-se são as que oferecem menos oportunidades de ascensão remuneratória, o que compromete significativamente a pensão futura. No caso das domésticas argentinas e colombianas, suas empregadoras estão obrigadas a contribuir para o sistema por meio de uma lei especial, mas inexistem pesquisas acerca da sonegação das cotizações neste tipo de trabalho.

No caso brasileiro, as empregadas domésticas34 não dispõem sequer de uma legislação trabalhista compatível com a de outras trabalhadoras nos setores da indústria, comércio e serviços.35

No gráfico 3 da evolução das taxas de participação no mercado de trabalho na AL, por sexo, vê-se que a participação masculina no mercado de trabalho sempre foi maior que a feminina e, em 12 anos de pesquisa realizada pela CELADE, a diferença de empregabilidade entre eles não superou 31,3% e atingiu 47% do mercado de trabalho. O Anexo 3 mostra a proporção de mulheres ocupadas em seis países da América Latina e a igualdade das baixas condições para o sexo feminino.

33 V. nota 32.

34 4,5 milhões de empregadas domésticas recebem o salário mínimo e 304 mil pessoas recebem até 1 salário mínimo. Jornal do Comércio, 25/01/2006.

35 De acordo com a Constituição Federal, as empregadas domésticas só tem direito a registro de CTPS, férias acrescidas de um terço e 13. salário. Até mesmo o seguro desemprego e o FGTS não lhes foi dado, sendo uma opção do empregador inserir/contribuir ou não com o sistema fundiário. Para ter direito ao seguro desemprego a empregada doméstica tem que trabalhar dezoito meses num intervalo de vinte e quatro meses para receber, no máximo, três parcelas do referido seguro. Os demais trabalhadores precisam trabalhar somente seis meses e recebem até cinco parcelas.

Gráfico 3 – EVOLUÇAO DAS TAXAS DE PARTICIPAÇAO POR SEXO

Fonte: CELADE – Centro Latino-Americano y Caribenho de Demografia apud Cepal – los sistemas de pensiones em América Latina. (v. Flávia Marco)

No gráfico 4, que traz a evolução das taxas de desocupação na AL, é possível observar que a taxa de desocupação feminina somente vem crescendo também nestes doze anos, passando de 5,1% em 1990 para 11,1% em 2002, o que coincide com o período de privatizações na América Latina e reformas trabalhistas em geral.

Gráfico 4 - EVOLUÇAO DAS TAXAS DE DESOCUPAÇÃO POR SEXO

Fonte: CELADE – centro latino-americano y caribenho de demografia apud Cepal – los sistemas de pensiones em América Latina. (v. Flávia Marco)

Os indicadores relevantes sobre a situação da previdência em países da América Latina estão representados no gráfico 5 e traz informações específicas acerca da situação previdenciária em seis países da AL, as mulheres que estão ocupando o mercado de trabalho não contam com a garantia previdenciária total.

Primeiramente, há a diferença em termos de acesso ao mercado de trabalho e, também, uma discriminação em matéria remuneratória diretamente resultante desta mesma diferença. No primeiro caso a oferta de trabalho dá-se nos empregos em domicílio, por tempo determinado ou trabalhos autônomos. No segundo a remuneração das mulheres é, em qualquer hipótese, inferior a dos homens. Com os dados contidos no gráfico abaixo também podemos concluir que o sistema de seguridade social, na forma brasileira, permite que um maior número de idosos com mais de 65 anos de idade receba a proteção estatal – 88,4 homens e 80,9 mulheres – ao passo que o Chile, com seu sistema privatizado oferece proteção a 73,5 homens e 58,8 mulheres com idade superior a 65 anos. A menor diferença entre o desemprego e a remuneração média/hora, paga por sexo, é encontrada na Colômbia.

Quadro 4 - Indicadores relevantes sobre a situação da previdência em países da América Latina

Indicadores relevantes sobre la situación previsional

Alrededor 2002 Argentina Bolívia Brasil b/

Chile c/

Colombia El Salvador d/

Mujer Hombre Mujer Hombre Mujer Hombre Mujer Hombre Mujer Hombre Mujer Hombre

Población economicamente activa (PEA) 48 75 57 77 53 79 42 73 57 79 51 75 Desempleo 19,5 18,5 7,9 5,2 13,4 8,7 11 9,9 20 14,8 5 8,8 Remuneración e/ 79 100 78 100 79 100 69 100 95 100 73,8 100 Cobertura de población mayor de 65 años f/ 66,8 73 22,1 33,6 80,9 88,4 58,8 73,5 21,5 34 15 29,3 Pensiones g/ 71,2 100 74,9 100 72,9 100 67,6 100 86,3 100 76,8 100

a/ = grande Buenos Aires; b/ = 2001; c/ = 2000; d/ = 2001; e/ = relação entre remuneração média/hora de homens e mulheres; f/ = porcentagem de ingressos por aposentadoria e pensões; g/ = relação entre a média de ingressos por aposentadoria e pensões de homens e mulheres com mais de 65 anos de idade

Fonte: CELADE – Centro Latino-Americano y Caribenho de Demografia apud Cepal – los sistemas de pensiones em América Latina. (v. Flávia Marco)

No próximo parágrafo veremos como está sendo a aplicação dos ativos de investimentos dos fundos de pensão no Brasil.

3.9 Aplicação dos ativos de investimentos das entidades de previdência