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Formas de Financiamento e diretrizes da reforma do Sistema Previdenciário Brasileiro

ORGANOGRAMA 1 – O sistema previdenciário brasileiro atual SISTEMA DE

2.3 Formas de Financiamento e diretrizes da reforma do Sistema Previdenciário Brasileiro

No início deste trabalho ficou esclarecido que a seguridade social é gênero da qual a previdência é espécie. Por isso, as contribuições sociais comportam a receita da seguridade como um todo. A Emenda Constitucional n. 20/98 introduziu uma exceção à regra, adicionando o inciso XI ao artigo 167 da Carta Magna. Esta alteração vedou a utilização dos recursos oriundos da arrecadação das contribuições devidas ao INSS com a realização de despesa diferente do pagamento de benefícios do RGPS. A CPMF também quando foi instituída destinava-se somente à saúde, mas as EC ns. 22/98, 31/00 e 37/00 declararam que o aumento que a referida alíquota estava sofrendo seria destinado ao custeio da Previdência Social e ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza.

Em resumo, é possível sistematizar o financiamento da seguridade social com recursos provenientes dos orçamentos dos entes federativos, das contribuições sociais dos segurados e empresas, e de outras fontes, como por exemplo, a receita obtida de concursos de prognósticos (ex.: megasena) e recursos do importador de bens e serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar 9.

As disposições contidas na Constituição de Federal brasileira, em seus primeiros artigos, afastam a idéia de que a Previdência Social deve ser edificada sobre bases constituídas de contribuições de seus próprios beneficiários. Aliás, por definição, o seguro social foi criado para afastar a concepção e o clima de pobreza, insatisfação e insegurança social em sentido amplo em que vivia o trabalhador. Ademais, os objetivos da República Federativa do Brasil baseiam-se na erradicação da pobreza, desenvolvimento e construção de uma sociedade livre e solidária (art. 3, inciso 4, CF/88).

Contudo, a Emenda 20/98 foi editada na contramão dos princípios fundamentais do Estado brasileiro, ao declarar o caráter contributivo dos sistemas previdenciários do servidor público e do trabalhador da iniciativa privada. Enquanto a CF/88 ampliou os direitos e universalizou o acesso à previdência através da instituição do sistema de repartição, a reforma realizada em 1998 limitou os aportes de recursos públicos para a previdência, substituindo a repartição por um regime financeiro misto, predominando a lógica da capitalização individual.

Após a reforma, o sistema diminuiu sua característica redistributiva. Assim, o Brasil, um país reconhecido por suas desigualdades na distribuição de renda10, tenderá a acentuar tais diferenças, ao condicionar o acesso à aposentadoria e, o valor dos benefícios à condições que prejudicam ainda mais o trabalhador.

Essas reformas estão centradas nas seguintes diretrizes:

1 - A contagem do tempo deixou de ser por anos de trabalho e passou a ser por tempo de contribuição, respeitado o tempo mínimo de aposentadoria integral de 25 anos para mulheres e 30 aos para os homens.

A partir dessa mudança, a fiscalização das contribuições efetivamente realizadas para a previdência passou para os empregados, tornando, aparentemente, a aposentadoria mais difícil para os trabalhadores. O judiciário, entretanto, está obrigando o INSS a reconhecer, como tempo de serviço, os registros na Carteira de trabalho, ficando sob responsabilidade do INSS a execução de uma eventual dívida do empregador.

2 – Idade mínima de 48 anos para as mulheres e 53 anos para os homens, sem necessidade de tempo de contribuição, para aposentadoria proporcional.

3 – Para aqueles que ainda não tinham se aposentado, até 16/12/1998, foi acrescentado, para os atuais segurados, 40% sobre o tempo que lhes faltava para a aposentadoria proporcional; e, 20%, para a aposentadoria integral.

4 – Fixação de um teto nominal para os benefícios e desvinculação destes do salário mínimo.

Nessa alteração também não restou previsto qual seria a forma de reajuste das aposentadorias. A propósito do tema, o DIEESE fez os seguintes comentários: “a passagem do critério anterior – dez salários mínimos – para um valor nominal já comportou uma redução do teto dos benefícios, equivalente hoje a apenas 8,8 salários mínimos.” 11Com a introdução das novas medidas a maioria dos benefícios de aposentadoria pagos enquadrou-se no valor do teto.

5 – Extinção das aposentadorias especiais, permanecendo somente as hipóteses das áreas de educação infantil, ensino médio e fundamental, assim como as dos trabalhos desenvolvidos em condições prejudiciais à saúde, com agentes nocivos à saúde, denominados insalubres ou perigosos.

6 – as contribuições para os fundos de pensão mantidos por entidades de natureza pública ou de economia mista passaram a ser paritários e o empregador público não poderá mais fazer contribuições superiores a dos empregados.

Os servidores públicos também tiveram o seu regime previdenciário modificado pela EC 20/98, havendo, como conseqüência, reduções significativas e, muitas vezes, extinções de direitos antes consagrados, como Idade mínima para aposentadoria integral ou proporcional, sendo 60 anos para homens e 55 para a mulheres e, ainda:

1 - Acréscimo de 40% sobre o tempo de contribuição necessário para a aposentadoria proporcional, e de 20% para a aposentadoria integral;

2 - Permanência de cinco anos, no mínimo, no cargo público, no ato do requerimento da aposentadoria;

3 - Extinção das aposentadorias especiais, permanecendo somente as hipóteses dos trabalhos desenvolvidos em condições prejudiciais à saúde e à integridade física, denominados insalubres ou perigosos.

4 - Não haverá mais contagem em dobro para os períodos das licenças prêmios. Aposentadoria compulsória aos 70 anos de idade, com benefícios proporcionais ao tempo de contribuição.

5 - Regime de previdência complementar para os servidores públicos federais, estaduais e municipais.

11 A situação do trabalho no Brasil. DIEESE, 2001, pág 250.

Houve, ainda, alteração no cálculo das aposentadorias, sendo introduzido um fator previdenciário, que é definido por três variáveis: tempo de contribuição, idade e expectativa de vida no momento da aposentadoria (este último é atualizado anualmente).

A inserção do Fator Previdenciário – FPR nos critérios atuarias permitiu que a base de arrecadação do sistema fosse mantida à medida que os benefícios concedidos fossem reduzidos, obtendo-se saldo positivo para a previdência social. Outras leis decorrentes da EC 20/98 autorizaram o Estado a instituir fundos previdenciários semelhantes aos fundos de pensão aqui tratados, igualando as regras do regime previdenciário do servidor público com as regras do regime previdenciário da iniciativa privada, para os novos servidores públicos que ingressaram após a reforma. O valor máximo a ser pago ao aposentado da iniciativa pública equivalerá ao valor pago pela previdência da iniciativa privada e o restante será pago pelo fundo integrado (similar ao fundo de pensão).

O valor da aposentadoria será pago em função do tempo que o INSS terá que pagar o benefício ao aposentado. Quanto maior for a expectativa de vida do cidadão, menor será o valor recebido, obrigando o trabalhador a trabalhar cada vez mais tempo para receber mais.

O Governo brasileiro, no instante em que alterou as regras do cálculo para aposentadoria, declarou tacitamente tentar obter um equilíbrio orçamentário à custa dos mais carentes, mais uma vez segundo as premissas estabelecidas pelo BM e FMI.