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Má administração dos fundos de pensão

FUNDOS DE PENSÃO (instituído no âmbito das

3.10 Má administração dos fundos de pensão

Apesar dos organismos mundiais declararem que a previdência em três pilares é o melhor sistema que um país pode ter até o momento, evidenciava-se, já nos anos 2000, o colapso do sistema privado de previdência. Nos Estados Unidos algumas empresas já não tem como pagar o benefício aos seus aposentados. No momento em que as empresas tiveram grandes lucros nas bolsas de valores, decorrentes dos ganhos obtidos com os investimentos dos empregados em papéis da própria empresa nos anos 1990, elas não aumentaram a contrapartida empresarial devida para a previdência dos funcionários, efetuando somente o pagamento mínimo necessário à manutenção do sistema.37 Com a queda do valor nominal das ações nas bolsas de valores, as empresas diminuíram o seu capital e também o que estava aplicado pelos empregados. Assim, não tiveram elas de onde obter recursos para pagar aos aposentados. Essa bola de neve levou a empresa General Motors a ter dificuldades em efetuar o pagamento dos benefícios previdenciários e a declarar, em 21 de novembro de 2005, a extinção de 30 mil postos de trabalho, além do fechamento de várias fábricas nos Estados Unidos.

37 A antiga lei ERISA dos EUA estabelece que a previdência privada será financiada com recursos dos empregados e empregadores e o valor dos benefícios será definido no ato da contratação do plano.

No Brasil, falhas na fiscalização permitiram que os fundos de pensão fossem mal geridos, ocasionando vários escândalos políticos e prejuízos de grande monta para as entidades de previdência fechada.

Analisando-se os dados fornecidos pela Secretaria de Previdência Complementar é possível observar que o montante acumulado pelos fundos de pensão, a exemplo da época dos IAP`s, despertam o interesse de grandes grupos de investidores e políticos. Por causa disso o papel do Conselho de investimentos de cada fundo de pensão é de suma importância. Dentro dos fundos de pensão estatais está o problema da composição desses conselhos e diretoria.

No Brasil, a Petros, a Previ e outros fundos de pensão estatais tiveram grandes prejuízos, mas os gestores não foram punidos. As instituidoras terminam cobrindo o déficit com recursos da própria estatal e efetuando o pagamento da diferença obtida do valor que o patrimônio deveria ter e o seu valor real.

Em dezembro/2005, a CPI dos correios apontou prejuízo de R$ 784 milhões em operações dos fundos de pensão junto à Bolsa de Mercadorias e Futuro38 (BM&F) entre 2000 e 2005. O presidente da Núcleos, um dos fundos de pensão envolvidos na denúncia, apesar de contestar a metodologia adotada pela CPI, admitiu que o fundo de pensão teve prejuízo de R$ 36,8 milhões na gestão da ex-diretoria do fundo, entre 2003 e 2005, sendo R$ 22,7 milhões somente com títulos públicos. O Núcleos acionou judicialmente os três ex-dirigentes para tentar reaver a quantia.

A CPI dos Correios analisou 630 mil operações após a quebra dos sigilos fiscais da Prece, Sistel, Real Grandeza, Núcleos, Postalis, Centrus, Geap, Serpros, Portus, Eletros, Funcef, Petros, Previ e Refer e concluiu que eles perderam R$ 729,2 milhões na BM&F. O restante foi perdido em operações com títulos públicos. Dentre os beneficiários das transações que prejudicaram os fundos de pensão estão os dirigentes da empresa Garanhuns, usada pelo Partido Liberal para receber recursos de Marcos Valério39, e a corretora Bônus – Banval que teve ligações com integrantes do Partido Progressista - suspeitos investigados na CPI.

38 Na BM&F são negociados contratos em que os investidores se dispõem a comprar ou vender mercadorias e ativos em datas futuras e com preços previamente combinados e intermediados por corretoras.

Anteriormente, no início do ano de 2005, outro escândalo foi noticiado no Brasil envolvendo três dos maiores fundos de pensão do país – PETROS, FUNCEF e PREVI. Os três Fundos firmaram contrato com a Brasil Telecon obrigando-se a comprar ações do Citigroup, pagando um sobrevalor com 240% de acréscimo sobre os valores reais dos papeis no mercado. O contrato foi contestado na Justiça e no Tribunal de Contas da União. O valor real de cada lote de mil ações no mercado da bolsa de valores de São Paulo é de R$ 23,50, mas eles pagaram R$ 32,00, em julho de 1998. Quando o contrato foi assinado em 09/03/05, os mesmos fundos de pensão obrigaram-se a pagar R$ 90,00 por cada lote de mil ações. Se o pagamento do contrato fosse realizado hoje seria no importe de R$ 1,045 bilhões, quando vale R$ 340 milhões.

Outro fato importante relacionado ao negócio é que, nesta contratação, está previsto que a correção dos valores deve dar-se pelo IGP-DI mais 5%. Transações desse tipo costumam ser premiadas no futuro por se tratar de uma promessa de compra em que ao vendedor está garantido um negócio futuro com preço estipulado no presente. Por isso, o vendedor costuma pagar ao comprador um percentual fixado contratualmente em contraprestação ao cumprimento do acordo. No caso em apreço, não há essa previsão em nenhuma cláusula contratual e os Fundos de pensão saíram perdendo cerca de R$ 150 milhões - especulam os investidores. Uma última observação: a cláusula 3.02 deste contrato prevê que os fundos de pensão se obrigam a assumir o compromisso mesmo que o contrato venha a ser considerado ilegal pela ANATEL, CVM, SPC ou BACEN.

A questão diz respeito a uma antiga peleja que se travou em função do comando da Telecon, que detém R$ 3 bilhões. O grupo Opportunity tenta, desde 2003, obter o controle da empresa disputando com a Telecon Itália. Com a assinatura do contrato entre os fundos de pensão e o Citigroup, a empresa italiana desistiu de concorrer alegando que o contrato era “imoral e escandaloso”. Se o contrato for mantido a Telecon será re-estatizada através dos fundos de pensão que passará a deter a maioria acionária.

Acompanhe, no apêndice 1, o quadro extraído do jornal “O valor Econômico”, em data de 23 de dezembro de 2005 acerca das fraudes nos fundos

de pensão na última década. Até 1997 a multa máxima que o órgão administrativo responsável – Comissão de Valores Mobiliários (CVM), atualmente – poderia aplicar pela má-administração dos bens alheios era de R$ 3.681,00. Para que fosse possível uma penalização maior era (e ainda é) necessário intervenção judicial para quebrar o sigilo bancário e provar-se a má-fé dos envolvidos, o que não era feito por demandar muito tempo. Os processos administrativos julgados pela CVM Absolveram muitos administradores dos fundos. As informações obtidas a partir da reportagem, entretanto, são que alguns foram absolvidos pelo benefício da dúvida e outros por falta de provas. Após a CVM os acusados podem recorrer ao Conselho de Recursos administrativos – o Conselhinho – e por fim, à justiça. Observa-se que a apuração das irregularidades ainda é bastante ineficaz e morosa o que causa sérios danos ao patrimônio dos trabalhadores e também das empresas públicas patrocinadoras de planos de previdência fechada.

No Chile, os fundos de pensão são auditados semestralmente e se a rentabilidade mínima determinada pelo governo federal não for alcançada, o fundo será extinto e os participantes (futuros pensionistas) poderão, livremente, migrar para outro fundo de pensão. Isso leva a crer que, no caso brasileiro, se as estatais não cobrissem os “buracos” dos seus fundos de pensão, a fiscalização poderia ser mais eficaz.

- intervenção estatal no pagamento das pensões privadas

Para suprir as deficiências de administração e garantir o pagamento das aposentadorias complementares aos contratantes, as empresas americanas recorrem à uma agência federal de seguros de pensão. Conforme noticiado pela a revista New York Times, em 16 de novembro de 2005, no artigo intitulado pension board says déficit is steady for now de Mary Williams Walsh, o déficit, até 30 de setembro de 2005 é de US$23,1 bilhões, enquanto em todo o ano de 2004 foi de US$ 23,5 bilhões.