• Nenhum resultado encontrado

FUNDOS DE PENSÃO (instituído no âmbito das

3.6 A gestão dos fundos de pensão

A gestão dos fundos de pensão pode ser terceirizada ou gerida pela própria empresa através de executivos bem remunerados para elevar os ganhos das mesmas e, por conseguinte, o seu valor no mercado. Mas os Fundos de pensão, instituídos por sindicatos, associações ou outras similares deverão terceirizar a gestão dos recursos dos planos de benefícios mediante contratação de instituição especializada e autorizada pelo BACEN.

Embora possa parecer estranho, a elevação dos lucros de uma empresa está ligada ao trabalho dos fundos de pensão através dos critérios impostos pelos investidores institucionais, para a maximização dos ganhos da empresa. A composição do Conselho do Fundo de Pensão é paritária. Portanto, há representantes dos empregados e dos empregadores. Estes, por sua vez, na condição de empregadores, provavelmente darão preferência ao investimento em ações de sua própria empresa, a fim de diminuir a oferta e cumprir com as determinações dos investidores – shareholder value. Por exemplo, a AMBEV pagou R$ 274,90 milhões em salários e em bonificações em 2004 mesmo com queda no lucro líquido, mas após atingir as metas. O valor das vantagens individuais não é publicado pelas empresas, mas o seu montante sim, em virtude de imposição da lei das S/A, ao determinar que as empresas estabeleçam em Assembléia o montante global ou individual da remuneração de seus participantes, incluindo os benefícios. Em 31 companhias brasileiras de capital

aberto, a remuneração dos administradores e conselheiros foi 173% superior ao ano anterior (2003). Estudos de HayGroup verificados em 1.960 empresas mostra que a parcela fixa não é mais do que a metade dos valores pagos à presidência da Companhia.28

Outro fenômeno que acontece em paralelo à elevação da remuneração dos executivos e dos conselhos de administração das empresas é a alta rotatividade dos executivos nos cargos de direção e presidência destas empresas. Pesquisa realizada pela consultoria americana Booz Allen29 revelou que em 2004 houve substituição dos executivos-chefes em mais de 14% (catorze por cento) das 2.500 companhias pesquisadas. A maior alternância acontece nas empresas européias e asiáticas.

A justificativa para as demissões não são as regulares disputas de poder ou normas de governança, mas a não entrega dos resultados pretendidos pelos acionistas, ou o choque com os conselhos de administração. A pesquisa ainda mostrou que a prerrogativa de permanência no cargo está relacionada a uma concepção econômica de curto prazo, bem como a retração diante da possibilidade de fusões ou aquisições pela empresa. A fusão mal sucedida entre a HP e Compaq foi o motivo da demissão de Carly Fiorina. Exemplificadamente, na Europa, os executivos demitidos estavam na administração das empresas há apenas dois anos e meio, metade do tempo tido por necessário para um novo executivo produzir resultados. Outra novidade na administração das empresas é a divisão das funções de chairman, presidência e presidência do conselho. A justificativa é que o poder desconcentrado facilita a fiscalização pelo Conselho, melhorando o desempenho da empresa. Ocorre que os piores resultados em 2004 remontam às empresas que aderiram ao novo esquema de repartição de poder, de acordo com a pesquisa da Booz Allen. Em resumo, nas 2.500 empresas pesquisadas, houve 350 demissões em 2004; destas 111 foram motivadas pelo não cumprimento das metas e resultados pretendidos, ou pela discordância com o Conselho de Administração. Os Conselhos de Administração tornaram-se mais fortes por causa dos escândalos, por exemplo, a Enron e WorldCom.

28 Jornal O Valor Econômico, p. B2, 28 de setembro de 2005 29 Publicado na Revista Exame, em 03.06.2005.

Os fundos de pensão das empresas podem ainda ser administrados por elas mesmas. De acordo com dados coletados, algumas empresas investem o capital em suas próprias ações, a exemplo da General Electric que tem 75%; o da Coca-Cola 78% em ações de seus empregados por meio dos Fundos de Pensão; a Enron – empresa comerciante de gás e eletricidade nos EUA – aplicou 60% das ações de seus empregados nela própria e faliu.

A figura dos acionistas-investidores, que são particulares responsáveis por administrar os ativos financeiros através de empresas especializadas, chamados de investidores institucionais, tornou-se mais importante do que a figura dos diretores de empresas. Estes investidores, em sua maioria estranhos à empresa, impõem critérios de gestão às carteiras de ações como forma de igualar-se à condição dos diretores das mesmas30. Os critérios comumente adotados por elas para que o valor de suas ações seja maximizado são:

Qualidade da informação administrada aos acionistas; proteção dos acionistas minoritários por meio da garantia de direitos e obrigações oriundas da quantidade de ações - uma ação, um voto; conselho de administração devidamente remunerado, separando as funções de presidente e diretor geral; ausência de medidas anti-OPA31; definição da forma de remuneração dos diretores incentivando a maximização das ações.

Os instrumentos utilizados para elevar o valor das ações das empresas (shareholder value) são classificados por Dominique Plihon em:

I. Fusões e aquisições de empresas – importando quase sempre em demissões de empregados;

II. Retorno para as atividades básicas da empresa – reduzindo o quadro de empregados da empresa;

III. Re-engineering de processos concentrando a atividade da empresa nos seguimentos mais rentáveis – com o reenquadramento das atividades os empregados são destinados às chamadas empresas terceirizadas. Tais

30 O diretores detém todas as informações necessárias sobre o desempenho da empresa. Os acionistas exigem transparência como forma de reduzir as “assimetrias na informação” (Dominique Plihon, in Las trampas de las finanzas mundiales)

31 Medidas destinadas a impedir a compra de uma empresa através da bolsa seguindo o procedimento da oferta pública de aquisição. (Dominique Plihon, in Las trampas de las finanzas mundiales)

empresas normalmente precarizam as condições laborais e comumente, no Brasil, infringem as leis trabalhistas;

IV. Redução do capital – redução da quantidade de títulos ofertados na bolsa de valores como forma de valorizar a procura pelos mesmos.

Em meio à globalização, fusões e incorporações multinacionais, reformas previdenciárias e capital de empregados aplicados em bolsas de valores, algumas observações podem ser colocadas até o momento:

• O capital de um país pode terminar no estrangeiro através das bolsas de valores;

• Os investidores-diretores podem ditar regras direcionadas à exploração do trabalhador para maximizar os ganhos;

O problema de o capital do país terminar no estrangeiro está relacionado ao fato de que, se não houver limites, empresas estrangeiras poderão influenciar significativamente no desenvolvimento e aplicação de políticas governamentais, através do controle de determinadas empresas importantes para o país, como àquelas ligadas à siderurgia, telefonia e energia.

Essa observação não é válida somente para as empresas dos países desenvolvidos em relação aos países em desenvolvimento, uma vez que o risco é assumido por todos. Mas as empresas sediadas ou originadas nos países desenvolvidos têm mais chance de gerar o ativo necessário à compra de ações ofertadas à venda.