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A questão norteadora nº11

5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS

5.1 Unidade de análise I, educação do surdo

5.1.3 A questão norteadora nº11

Professor, como você lida com a situação de ter um aluno surdo em sala de aula?

Um contingente de (73,33%) dos professores (11) apresentou uma fala direcionada à postura de normalidade em relação à indagação, no entanto, no tratamento em sala e a permanência do surdo em turmas de ouvintes, é possível aferir algo diferente da fala, pois há, sim, descontentamento e despreparo frente à postura adequada e flexibilização do trato e apoio ao aluno surdo.

Os professores apresentaram que

PR08AF “ ... não tenho nenhum problema com isso, acho uma pena ele ser

assim, não tem culpa, alguns são até bem espertos.”

PR01AA “ ... na minha aula tudo corre bem, nunca tive problema com ele, e ele

sempre foi um bom aluno, mas teve um certa vez que um outro aluno surdo me deu um trabalho danado. Nossa, acho que foi até expulso do curso, nossa esse era terrível.”

PR07ARH “...sinceramente eu fui descobrir de verdade que tinha surdo na

minha sala muito tempo depois.”

PR02AA “...eu nem percebo às vezes que ele está lá.”

PR15ATI “...em geral eles são quietos em sala, quase imperceptíveis, e só ficam

lá se o intérprete veio.”

PR03AM “...nossa, eu tenho uma que é muito inteligente, é inclusive a melhor

aluna, então eu não tenho o que reclamar, a situação é bem favorável, facilita tudo.”

No geral, a fala dos professores parece carregada de preconceito e visão estigmatizada do aluno, dificultando o trabalho docente frente à promoção da aprendizagem do aluno surdo; há, sim, uma particularidade, mas pouco se mostra presente para o grupo de professores. A fala dos professores nos parece similar ao que aponta Sassaki (1997), sobre a inclusão de alunos surdos no ensino regular, segundo o autor “a inclusão da criança com surdez na escola regular requer uma boa preparação tanto do aluno quanto da escola, para que ambos se sintam capacitados a participar dessa integração” (SASSAKI, 1997. p. 41), a escola aqui nós substituímos pela figura do professor.

Mesmo os professores que estão agrupados em respondentes que percebem os problemas, há uma carga negativa na fala de alguns deles, e evidencia-se que há uma dificuldade no trabalho docente, cobrança, entre outros. Eles afirmam:

PR14AE “...eu acho um bando de preguiçosos, nunca fazem nada, já dei aula

pra três (3), os trabalhos são muito ruins.”

PR08AF “...um dia me irritei com um deles, o aluno ficou fazendo deboche e eu

sei que era de mim, ele olhava pra mim e debochava; quando perguntei pro intérprete o que estava acontecendo ele disse que era uma dúvida, mas o surdo ficou roxo de vergonha e nervoso, tenho certeza que ele estava falando de mim e zombando de alguma coisa; se eu pudesse, esse aluno não frequentaria minha aula.”

PR07ARH “...tenho dificuldade de falar com ele, cobrar coisas dele, fazer

trabalho em sala é bem difícil, exigir dele também.”

PR15ATI “...os trabalhos de classe são sempre uma complicação, divisão de

tarefas e outras coisas, fico perdido sobre o que fazer, então, o grupo se vira, divide lá e apresenta.”

Em relação a esse questionamento, (73,33%) dos professores (11) informaram agir com naturalidade e que muitas vezes nem percebem que possuem aluno(s) surdo(s) em sala de aula, no entanto, (26,33%) dos entrevistados (4) disseram que acham complicado fazer alguns trabalhos, pois muitas vezes o aluno se exclui das atividades de sala de aula, e, como ele (professor) não sabe como falar com o aluno surdo, acaba repassando para o

intérprete a responsabilidade de fazê-lo interagir com o grupo e buscar os resultados esperados do trabalho.

Ainda segundo esse contingente, houve uma segunda divisão sobre o trabalho inicial e atual frente a esse desafio; os professores se reorganizam nas falas da seguinte maneira:

PR07ARH “...no início fiquei perdido, agora já tá diferente, eu sei o que fazer e

como fazer, outra coisa também é o aluno, conheço ele agora.”

PR02AA “...quando o coordenador disse que tinha um deficiente auditivo, fiquei

pensando como seria, que difícil! Disse até que não sabia como fazer pra aula ficar adequada, mas ele me informou que tinha intérprete, então fiquei mais tranquilo, mas mesmo assim entrar na aula era difícil, deu até pânico no início, ele me olhava e eu ficava pensando: nossa, deve ser muito difícil essa situação pra ele.”

PR06ARH “...nas primeiras aulas eu fiquei com muito receio... de vir um monte

de reclamações da aula, mas eu não tinha culpa, os outros não têm nada com isso; dei minha aula normal.”

PR08AF “...nossa... pensei.. .caramba, e você me fala isso agora, minutos antes

de entrar em sala (situação que o coordenador informou sobre o aluno surdo), acho que fiquei desconcertado em sala como estava iniciando as atividades acadêmicas ali naquele dia, achei que isso poderia me prejudicar, deu até vergonha, parecia que eu não era professor.”

PR09AP “...fiquei perdida, mas agora já sei como lidar, aprendi com eles como

lidar com a situação, mas leva tempo.”

Nesse sentido, (66,66%) dos professores (10), nas atividades acadêmicas iniciais não sabiam como lidar com a situação, nas atividades de ensino; no entanto, com o passar do tempo, muitos mudam essa concepção; isso significa que, ao se deparar com a nova realidade, os professores acabam se adaptando ao novo processo de aprendizagem e, depois de um ano de atividade, sua postura é a mesma em relação a turmas que possuem pessoas surdas.

Frente a esse desdobramento, informaram que

PR12AL “... mudei muito minha forma de ver a questão, era uma professora

capacidade, mas hoje vejo como estava errada, até mesmo na forma de trabalhar com eles”.

PR11AP “... no começo eu fazia de conta que não tinha nada de diferente, mas

isso foi ficando cada vez mais difícil, até chegar um ponto que eu senti necessidade de estudar sobre e entender melhor; ai sim, muita coisa mudou, acho que foi um grande aprendizado pra mim, mais do que pra ele. O tempo nesse sentido é um amigo, a questão é que muitas professoras não têm essa visão, acho que no final das contas prejudica o desempenho.”

PR09AP “... tudo no começo é mais complicado, hoje tiro de letra, nem me

abalo mais, mas no início ficava vermelha só de lembrar que ele estava lá e nem perguntar podia.”

PR07ARH “... deu muito trabalho, toda hora ele parava aula, acho que não

sabia fazer conta básica, então foi muito problemático tudo, a aula, minha paciência... o intérprete também que não ajudava porque não sabia nada, então parecia que estava num inferno, hoje tá melhor, mas longe do ideal.”

PR05ARH “... claro que muito melhor que antes, mas ainda dependendo do

contexto da disciplina fica complicado ensinar, tem muito termo técnico, acaba dificultando até pro intérprete.”