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Os educadores consideram que a comunicação com o surdo apresenta um fator de risco para o desenvolvimento psicológico, intelectual, cognitivo dos sujeitos, principalmente se na relação com os pais e professores não houver condições dialógicas e educacionais construídas e interativas em Libras.

A surdez, ou deficiência auditiva, como muitas pessoas preferem chamar, se caracteriza por uma dificuldade na recepção, percepção e reconhecimento de sons. Esta dificuldade pode ocorrer em diferentes graus, indo do mais leve (perda auditiva que interfere na aquisição da fala, mas não impede o indivíduo de se comunicar por meio da linguagem oral), ao mais profundo (perda auditiva que

impede o indivíduo de adquirir linguagem oral) (Lima, 1997 apud SME / DOT, 2007, p. 14).

Diante do apresentado, destacamos os limites para entendimento das classificações. A classificação da perda auditiva quanto ao grau é baseada na média dos limiares das frequências da fala de 500, 1000e 2000 Hz.

Silman e Silverman (1991) apresentam a seguinte classificação: – Normal ... até 25 decibéis(dB)

– Leve ... de 26 a 40 dB – Moderada ... de 41 a 55 dB – Moderadamente severa ... de 56 a 70 dB – Severa ... de 71 a 90 dB – Profunda ... maior que 91 dB

Nesta classificação, considera-se que o surdo é aquele que tem perda auditiva profunda, e que, portanto, dificilmente adquirirá linguagem oral sem um treinamento específico para utilização da audição residual e da fala. O uso do termo deficiência auditiva, assim como a classificação das perdas auditivas, está relacionado à concepção de surdez conhecida na literatura como clínico-patológica (SME / DOT, 2007).

Nesta concepção, a surdez é considerada como incapacidade, uma vez que as condutas e valores da maioria ouvinte são tomados como “norma” e o surdo se diferencia como alguém que foge a esta “norma” (Tabith Junior et al., 2003).

Então, aqui apresentada essa concepção, de acordo com Skliar (1997), a surdez é tida como patologia, como deficiência, e precisaria ser tratada, o que se poderia conseguir por meio da colocação de aparelho de amplificação sonora individual, seguida de treinamento auditivo. O aproveitamento dos restos auditivos conduziria a uma fala melhorada e afastaria o surdo do grupo dos deficientes.

Salientamos que, na tese, separamos os grupos específicos, e, então, no nosso entendimento, se há língua (Libras) e comunicação, não há deficiência. Uma mudança na concepção de surdez consiste em vê-la não como uma deficiência, que impõe inúmeras

restrições às pessoas surdas, mas como uma diferença na forma como o sujeito vai ter acesso às informações do mundo, captá-las e interagir (SME / DOT, 2007).

Conhecida como sócioantropológica, esta nova concepção da surdez pressupõe considerá- la não como uma deficiência a ser curada, mas, sim, como uma diferença a ser respeitada, e ao sujeito surdo como pertencente a uma comunidade minoritária que partilha uma LS, valores culturais, hábitos e modos de socialização próprios (Skliar, 1997).

O favorecimento do processo comunicacional se dá em diferentes aspectos. Os pesquisadores destacam principalmente os sociais, afetivos, atitudinais e familiares.

Quando não há essa relação favorável, podem acontecer discrepâncias no processo de ensino e aprendizagem, dificultando o desenvolvimento ao longo do tempo educacional do aluno surdo.

Segundo Solé (2005) apud Falcão (2012), o processo comunicacional adequado se dá quando as relações estabelecem aprendizagens significativas para a formação do sujeito e que garantam emancipação e autonomia do sujeito surdo.

Se não houver orientação técnica adequada, não raro, surgem, nos pais, estados depressivos e desagregadores. “a falta de audição impossibilita um espaço transicional sonoro entre a cama da criança surda e de seus pais, criando uma ansiedade de separação sempre que há corte da visão” (SOLÉ, 2005. p. 16).

Para Sanz (2008) apud Falcão (2012), os pensamentos emergem com mais rapidez do que as emoções e são muito mais poderosos, definindo sentimentos que se manifestam mais rapidamente e com maior força.

Em crianças com perdas auditivas em nível profundo ou severo, os pais e cuidadores conseguem identificar alguma alteração durante o primeiro ano de vida, principalmente comparando as reações de interação e socialização da criança na relação com outras crianças do convívio familiar. Assim como as crianças ouvintes aprendem a falar, a oralizar, crianças surdas precisam aprender a conhecer, conviver e controlar seus sentimentos e emoções. Aprender a falar e a pensar em sinais, sobre o mundo, as pessoas, sobre sua existência pessoal, social, energética, espiritual e cósmica. Também aprender a expressar suas emoções positivas como felicidade, amor, alegria, prazer, entusiasmo, e acima de tudo, aprender com naturalidade que outros sentimentos são também normais como raiva, ódio, angústia, mágoa, ressentimentos, desprezo, vergonha, culpa. (SANZ, 2008, p. 34).

Esse olhar amplo que leva em consideração e traz a relevância do potencial cognitivo, criativo, crítico, reflexivo, multidimensional, valoriza e contextualiza o sujeito surdo em todas as suas potencialidades e esferas, distingue-o como sujeito producente a interagir e construir a sua própria subjetividade, entre outros, favorece a vivência e o conhecimento, bem como sua amplitude.

Há que se aprimorar nesse contexto macro a família e a sociedade, pais e professores, pois devem estar atentos a esse diferente processo de comunicação e educação a se tornar dialógico pela comunicação com o sujeito surdo, o que transforma toda a relação do cotidiano familiar, social, escolar e profissional, reorganizando todo o contexto de vida do surdo.

O entendimento que se tem é que diante do sujeito surdo a LS atende aos requisitos linguísticos necessários e primordiais no que se refere à relação do surdo com o seu entorno, principalmente nos aspectos educacionais, sociais e profissionais.

De acordo com Ciccone (2007) apud Falcão (2012), a criança surda, no ambiente familiar onde a língua de sinais se apresenta comum entre os pais e filhos num diálogo saudável e educacional, adquire a língua da maneira natural e espontânea, como se todos fossem surdos, ou mesmo como uma criança ouvinte adquire a língua oral com os pais oralizados ouvintes.

Ao garantir que os familiares como um todo e os professores oralizem com os alunos surdos e ouvintes e se comuniquem com os surdos por meio de intérpretes, as informações e o conhecimento do mundo tornam-se mais significativos; ocorre diálogo com interação e reflexividade entre os sujeitos aprendentes, destaca-se a importância que se dá à comunicação da Libras para o surdo, como já acontece com o ouvinte.

As relações atingem um nível qualitativamente saudável para a vida na perspectiva de respeitar as diferenças, de incluir e compartilhar saberes com exemplos e experiências, resultando em valores como afetividade, respeito e colaboração em defesa da dignidade humana.