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5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS

5.3 Unidade de Análise III, Política pública

5.3.1 Questão norteadora nº7

Professor, como você avalia as ações afirmativas empreendidas nos últimos anos a respeito dos surdos?

As ações afirmativas destacadas na entrevista foram direcionadas para as questões da educação e, consequentemente, sobre a inclusão do surdo na escola, no ensino e, por fim, na educação superior.

Não foi objetivo desta abordagem verificar as concepções, bem como o pensamento do professor sobre a escola como um todo, mas o percurso inclusivo que, ao longo da história, foi possível acompanhar como elemento de evolução dos direitos do aluno surdo.

Com vistas a verificar o conhecimento e reconhecimento desse caminho, foi abordada essa questão na entrevista com os professores, e, em termos gerais, o entendimento e o resultado foram consideravelmente satisfatórios do ponto de vista do incremento da lei e da evolução dos direitos do surdo.

Para (66,66%) dos entrevistados (10), a política pública tem essa finalidade e o ideal é que ela atenda aos grupos que são, em geral, excluídos da sociedade; consideram fundamentais tais grupos e o caminho percorrido por eles que culmina em avanços legais e sociais.

Destacam, ainda, o acesso à escola como um elemento importante no desenvolvimento da pessoa surda, sujeito da sociedade e detentor de tais direitos:

PR03AM “...há um ponto que eu acho fundamental nessa questão que é o

próprio direito em si; não estamos aqui falando de quem sabe ou mesmo que não sabe, mas sim de quem tem e de quem nunca teve direito e, com relação a isso, sem dúvida, houve grande avanço nesse sentido, a escola deve promover isso – a busca de direitos daqueles que nunca puderam se defender; o percurso educacional é um caminho que no futuro pode diminuir essas distâncias”.

PR02AA “...a lei tem essa força, não resolve imediatamente, mas obriga todos

nós a refletir sobre a questão e, nesse sentido, nos posicionarmos frente as mais diferentes frentes, uma coisa que hoje pra mim é evidente e com uma posição formada, até mesmo pela continuidade dos debates e reflexões torna-se, ao longo do tempo, diferente, não é diferente em relação ao surdo.”

PR10AP “...a lei que hoje obriga uma série de coisas...hoje existe, mas na

história foram muitos anos até os dias atuais, então, compreendo que, mesmo com eventuais falhas e pontos ainda conflitantes, em resumo, ela atende a muitos quesitos, ou seja, é fundamental para a sociedade e em particular para o surdo.”

PR01AA “...na história há questões pontuais sobre vários aspectos do ser

humano, os excluídos de ontem são os incluídos de hoje, há algumas ressalvas que são necessárias de serem feitas, mas inegavelmente o caminho legal torna esse processo mais concreto e menos sinuoso.”

PR12AL “...mesmo não sendo profunda conhecedora do assunto, posso avaliar

positivamente essa questão, acho que para os surdos em geral isso não deve ser tão bem avaliado, até porque eles estão querendo esses avanços há muito tempo, e só chegou ontem em uma linha histórica, mas a avaliação só pode ser positiva, pois está acontecendo e mudando o contexto social”.

Em relação a esse ponto, todos os entrevistados se mostraram favoráveis às questões e avanços sociais; no entanto, alguns professores fizeram considerações que se desdobraram frente à avaliação positiva e, então, não classificam como positivo esse avanço.

PR09AP “...na minha visão, as ações afirmativas devem se firmar com uma

propriedade em particular, que é sua abrangência, ou seja, deve estar pautada no direito de todos; nesse sentido, acho que a forma que foi realizada no contexto geral foi mais direta e menos planejada, porque há a lei que obriga a inserção, mas não capacita o corpo docente, diz que a escola tem que ter...mas as escolas estão sucateadas...então, eu não colocaria se tivesse um filho surdo em uma escola que eu não acredito que pode receber meu filho verdadeiramente, e isso é ainda muito presente no ensino...no superior nem tanto, pois há muito no ensino público o desejo das instituições se firmarem no mercado, e para isso, e devido à fiscalização, um ensino que tende a ser cada vez melhor em vários aspectos...mas, a escola, no geral, está na contramão disso.”

PR04AM “...minha avaliação não é positiva, claro que houve avanço, mas,

como todo avanço político no nosso país, é lento e pouco efetivo, a lei sempre vem primeiro e as regras depois e mais longe ainda as ações efetivas, um país de leis que não são cumpridas.”

PR07ARH “...minha crítica para colocar ou classificar os avanços como

negativos estão justamente na demora de todo o processo, pra mim, é inaceitável obrigar a inclusão sem a mínima condição de infraestrutura educacional e falta de capacitação profissional, evidente no mundo do trabalho hoje e que se desdobra no ensino superior, e isso está, no meu entender, em todas as esferas públicas e privadas.”

PR13AL “...minha crítica desse chamado avanço é a forma, normalmente ele é

imposto sem diálogo, isso não é respeito à diferença, todos os envolvidos deveriam trabalhar as diferentes políticas de uma forma mais ampla, o surdo deveria ser o primeiro a ser ouvido, me parece que ele sempre foi o último.”

Sobre as ações os professores, não revelam abertamente, mas sentem-se obrigados a abraçar uma causa que eles mesmos não internalizaram, então se sentem constrangidos em alguns momentos em posicionarem frente aos questionamentos, ou mesmo, tomam cuidado na fala, escolhendo os melhores termos, isso nos parece apontar para uma questão, bastante importante, a da verdadeira inclusão, ou seja, dos que defendem esses passos avanços e aplicações, quais estariam verdadeiramente preparados e dispostos a mudar para incluir.

A crítica do professorado nos parece relevante e tem pontos evidentemente importantes. Os caminhos que levaram a questão às diferentes frentes nacionais e internacionais são, sem dúvida, avanços significativos, no entanto, segundo os professores, os caminhos poderiam se desdobrar de maneira mais efetiva e próxima aos sujeitos que necessitam desse avanço, e que, historicamente, buscam e lutam em diversas frentes para tais direitos; a demora nesse processo é um elemento que nos chamou a atenção e que, de acordo com os professores, são pontos negativos.

De maneira geral, os entrevistados evidenciam que reconhecem os caminhos percorridos em prol do surdo na história, no entanto, salientam suas perspectivas e questões pontuais negativas nesse processo.

Entendidas essas particularidades, foi solicitado ao professor um olhar mais pontual de seu contexto de atuação.