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5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS

5.3 Unidade de Análise III, Política pública

5.3.3 Questão norteadora nº10

Professor, em que efetivamente as ações favorecem a inclusão do surdo no ensino superior ou mesmo na educação brasileira?

Em linhas gerais, os entrevistados destacaram alguns pontos que são a grande contribuição à inclusão do surdo no ensino superior. O quadro a seguir foi construído com base nas respostas dos professores que tiveram a oportunidade de apresentar de maneira aleatória os pontos que destacariam sobre o favorecimento que as ações afirmativas promovem ao aluno surdo.

Ressaltamos que não havia uma relação de opções, e a construção da tabela foi resultado das falas dos professores; é possível também aferir o percentil dos docentes frente ao ponto destacado por eles.

Tabela nº 6 ações de favorecimento ao aluno surdo

Ações de favorecimento ao aluno surdo

Favorecimento Percentil dos entrevistados Entrada do surdo no ensino superior 93,33% - 14 professores Formação profissional 66,66% - 10 professores Direito a educação 73,33% - 11 professores

Mudança social 46,66%- 7 professores

Direito a educação em Libras 33,33% - 5 professores

Fonte: elaborado com base nas entrevistas dos professores da IES-A

Segundo destaque realizado pelos professores, as ações se resumem efetivamente em:

Entrada do aluno surdo no ensino superior brasileiro, com (93,33%) dos professores

(14) destacando esse ponto, considerado um elemento efetivo de ganho em relação às políticas públicas; Formação profissional, com (66,66%) dos professores (10) enfatizando como um item muito importante para a autonomia e valorização do surdo; Direito à

educação, com (73,33%) dos professores (11) evidenciando esse item como norteador das

políticas públicas emergentes; Mudança social, com (46,66%), foi outro destaque pontuado pelos professores (7) e, por fim, (33,33%) dos entrevistados (5) enfatizando que a própria prática com a utilização do tradutor intérprete, ou seja, o ensino ocorrendo na língua materna do surdo torna-a status de língua. Esses foram os pontos levantados pelos professores em relação ao Direito à educação em Libras.

5.3.4 Questão norteadora nº12

Professor, quais as ações que a instituição vem fazendo que você destaque no reconhecimento dessa preocupação de inclusão e promoção da aprendizagem do aluno surdo?

O intuito dessa questão foi de perceber qual era o contingente de entrevistados que estavam cientes das ações que a instituição desenvolve para fomentar a entrada e a permanência do aluno surdo no ensino superior.

Os professores apresentaram algumas reflexões sobre o ajuste de provas para o surdo (tabela nº7):

PR08AF “...o grupo de trabalho é algo novo pra mim, nunca vi isso em outra

instituição.”

PR10AP “...trabalhar a prova em uma outra perspectiva é um cuidado que

favorece muito a questão específica do surdo.”

PR07ARH “...na primeira vez que me solicitaram fazer a prova 15 dias antes e

entregar ao coordenador, achei que era outra coisa, algo do tipo ver a dificuldade, organização da prova ou algo assim, nunca imaginei que fosse pra transformá-la e adaptá-la para o aluno surdo; isso é novidade pra mim.”

Os relatos sobre a bolsa de estudos para o aluno surdo são também um ponto destacado pelos entrevistados.

PR01AA “...na minha época de faculdade, fazer faculdade era muito difícil, hoje

há uma serie de auxílios, programas de inclusão do governo que atendem às mais diferentes demandas; ver isso partindo da faculdade definitivamente atrai cada vez mais alunos surdos.”

PR10AP “...fica mais fácil entender por que há tantos alunos surdos aqui, desde

a escola até a universidade há alunos procurando a instituição para estudar e pagar menos...isso acontece, eu acho, em grande parte porque há esse programa de bolsas.”

PR03AM “...um programa específico atrai mais alunos, é uma estratégia que dá

certo.”

O curso de Libras fornecido para o professor também foi lembrado:

PR12AL “...é um curso bom, quero fazer no semestre que vem, acredito que na

nossa área isso é um diferencial.”

PR06ARH “...esse curso pode me aproximar das questões do aluno surdo, acho

que é um bom começo, não sei se haverá turma dentro da minha disponibilidade, mas estou estudando esse assunto.”

PR04AM “...não vou fazer o curso de Libras, mas é uma ação válida da

instituição que aproxima de alguma forma os alunos surdos e os professores desses alunos.”

Os professores também apresentaram de uma a três ações de fomento realizadas pela instituição. Estão destacadas no quadro abaixo, onde é possível visualizar que (46,66%) dos professores (7) mencionaram o uso do grupo de trabalho para a confecção de provas

para o aluno surdo; (33,33%) dos professores (5) que a própria instituição dá bolsas de estudos ao aluno surdo, ou seja, incentivam a entrada do aluno no ensino superior; e (33,33%) dos professores (5) destacaram o curso gratuito disponível na instituição para a capacitação introdutória de Libras para o professor.

Tabela nº 7 ações de favorecimento e inclusão ao aluno surdo realizado pela IES

Destaques das ações da IES

Favorecimento Percentil dos entrevista-dos Grupo de trabalho para ajuste de prova para Libras 46,66%- 7 professores Bolsa de estudos para aluno surdo 33,33% - 5 professores Curso de introdução a Libras 33,33% - 5 professores

Fonte: elaborado com base nas entrevistas dos professores da IES-A

Embora as ações sejam bem definidas, segundo os professores pesquisados, nós entendemos que não há difusão efetiva das ações inclusivas realizadas pela IES, pois, poucas ações desenvolvidas na instituição são conhecidas pelos professores.

Entendemos que as ações, sejam pontuais ou não, favorecem de alguma maneira o reconhecimento da questão da surdez, o avanço no que tange à inclusão do surdo no ensino e um ambiente favorável para a crítica e a evolução em todos os aspectos da atividade docente.

Esse ambiente favorável consiste em saber que aluno o professor tem; sua identidade; os saberes necessários para descobrir com ele, o surdo a melhor maneira de promover a educação e aprendizagem; compreender sua particularidade linguística a Libras e respeitar sua identidade surda, sua cultura e sua língua materna.

É valido ressaltar a preocupação com a prova do aluno surdo. Esse ponto nos faz repensar a docência, pois se todos reconhecerem que há particularidades da própria língua, seria possível entender que existe uma diferença entre o português e a Libras; são línguas distintas e é ainda muito presente o desconhecimento frente a essa questão.

Com a utilização do grupo de trabalho para a adaptação necessária da prova para o aluno surdo, entendemos que há o devido respeito à questão e particularidade da língua do aluno surdo – a Libras passa a ser reconhecida e entendida como língua própria.

Incluímos no quesito prova para o aluno surdo, que a instituição poderia avançar para realizá-la totalmente em Libras; hoje isso ocorre nos cursos da UFSC, no curso de Letras Libras, metodologias, questões técnicas de aplicação e correção; referencial, hoje, é o que não falta.

Salientamos os avanços no atendimento à questão inclusiva, mas há como implementar, se esse for o desejo da instituição.

5.4 Unidade de Análise IV, Acessibilidade na Educação

Na unidade IV de análise procurou-se evidenciar o entendimento e reconhecimento que o professor tem sobre as dificuldades da entrada do aluno surdo no ensino superior, sua permanência e também sobre a questão da educação a distância, EAD.

Enfatizamos que a EAD nos chamou a atenção sobre a questão levantada pelos professores sobre a dificuldade do aluno surdo em acompanhar os conteúdos, desenvolver-se e também em relação à sua reprovação nessa modalidade de ensino.

Entendemos que há um contraponto entre prática e os acontecimentos vivenciados pelos professores da IES–A, pois os professores enfatizaram a dificuldade do aluno surdo em acompanhar e se desenvolver em cursos a distância, no entanto, os cursos preparados com o cuidado técnico necessário para a formação têm se mostrado eficazes na formação e desenvolvimento do surdo; o curso de Letras Libras da UFSC atende não somente o surdo mas o ouvinte também, desmistificando e se contrapondo às percepções e relatos dos entrevistados.

Salientamos que isso se deve porque o curso inicialmente foi pensado, planejado, articulado e aplicado na perspectiva do surdo, e, consequentemente, isso faz a grande diferença no atendimento, reconhecimento e sua aplicabilidade. Os cursos em EAD normalmente são produzidos na perspectiva do ouvinte, e isso deixa, em certo ponto, de atender a algumas questões relativas à particularidade do surdo, dificultando seu acesso, uso e aprendizagem como um todo.

5.4.1 Questão norteadora nº14

Professor, em geral os vestibulares garantem o acesso do aluno surdo no ensino superior?

Para (73,33%) dos professores entrevistados (11), os vestibulares garantem a oportunidade de entrada para o aluno surdo. No caso específico da entrada do aluno na instituição que o professor trabalha, na IES-A, o mesmo grupo de respondentes não sabe dizer se isso ocorre em outros vestibulares públicos e privados.

Segundo esse grupo de professores, além de fazer o vestibular com a preocupação particular da surdez, a instituição incentiva a procura dos alunos surdos, oferecendo bolsa de estudos aos que apresentarem bom desempenho no vestibular.

Salientamos que a bolsa de estudos a esse aluno não é um quesito obrigatório, no entanto, as unidades da instituição distribuem essas bolsas conforme a procura e desempenho do vestibulando.

Para (26,33%) dos professores (4), não há essa garantia, pois muitos alunos surdos não procuram os vestibulares por acreditarem que não estão preparados para o ensino superior. Há também outro ponto destacado pelos professores que está relacionado à autoestima; segundo os professores, o ambiente é tão excludente que os surdos têm muito receio de procurar uma instituição de ensino superior, muitas vezes pela vergonha de sua deficiência ou mesmo pelo receio de virar motivo de brincadeiras.

Outro fator destacado pelos professores foi que a educação que dá o acesso ao ensino superior é atualmente muito ruim; então, os resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) nas escolas públicas já evidenciam essa fragilidade que se enfatiza mais pontualmente o aluno surdo.

Compreendemos que o acesso é sem dúvida muito mais abrangente hoje do que em épocas passadas, e que algumas instituições têm uma postura proativa frente à questão da inclusão. Grande parte das instituições tem uma postura reativa no que diz respeito a esse acesso, ou seja, preferem esperar uma ação efetiva do ponto de vista legal para posteriormente iniciarem suas atividades inclusivas e promotoras da entrada do aluno surdo e/ou com deficiência na educação superior.